O menino na Lua escrita por Amanda Rocha


Capítulo 1
A Lua brilha


Notas iniciais do capítulo

"As estrelas são lindas, mas elas não podem se envolver em nada, precisam sempre ficar só olhando. É um castigo que receberam por causa de algo que fizeram há tanto tempo que nenhuma delas lembra mais o que foi."
— Peter Pan



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Ok, o que as pessoas precisam saber sobre a Lua (além do fato dela não ser feita de queijo, acreditem) é que ela já foi o lar de um menino, há muito tempo atrás. Mais ou menos no tempo em que todas as crianças eram ensinadas a se juntar próximo ao parapeito da janela à noitinha, para fazerem suas orações de agradecimento ao dia. E, enquanto todas elas faziam manha para dormir, apenas uma podia ficar acordada até tarde, sem se preocupar com o Bicho Papão ou com o Papai Noel observando quem estava sendo mal criado. Ninguém conseguia lembrar o seu nome e, para dizer a verdade, há quem diga que nem o próprio garoto fora avisado de que possuía um.

Tudo o que se sabia era que assim que anoitecia e as nuvens deixavam que a luz da Lua chegasse às nossas casas, se você olhasse com atenção e tivesse muita sorte (ou fosse uma criança, crianças sempre têm muita sorte) veria a silhueta de um pequeno pescador, escorado na ponta de sua pequena e única companheira, a Lua Minguante. Não se sabia muito sobre o que exatamente o garoto estava a pescar, alguns diziam que eram Estrelas porque ele gostava de coleciona-las, outros que eram meteoros para que não machucassem as Estrelas, outros, ainda, gostavam de pensar que ele caçava pesadelos, para que as crianças pudessem dormir em paz e só tivessem sonhos bons. Eu gosto de pensar que, o que quer ele que estivesse a caçar, fazia como nas pescarias esportivas: dava uma olhada e depois jogava de volta no espaço, afim de que tal coisa voltasse a transitar livre pela galáxia. Imagino isso porque ele era o tipo de pessoa que gosta de fazer o bem aos outros mesmo que não esteja bem. E, em seu caso particular, tinha a necessidade de proporcionar esse sentimento de liberdade, uma vez que ele próprio estava condenado a ser o guardião dos céus.

Por que ele estava lá? Bom, certamente nunca havia estado em outro lugar. Era possível notar isso pelo ar de curiosidade que ele tinha ao se dependurar na ponta de sua casinha para espiar como estavam as coisas lá em baixo. Ou como conversava com as estrelas cadentes sempre que podia, interessadíssimo em saber como era o lugar de onde tinham vindo e para onde exatamente estavam indo. Ou, simplesmente, quando jogava sua vara por entre as nuvens e levava a ponta do anzol à boca, para conferir se o algodão delas era mesmo doce. Era, em cada partezinha de seu ser místico, uma criança. Era uma criança há muito tempo, e alguns diziam que ainda continuaria ser por mais muito tempo enquanto as outras crianças já estavam rumando para a galáxia dos adultos, indo viver suas novas vidinhas e explorar outros universos com suas próprias Luas e Estrelas.

Mas, é claro, em seu estado familiar, não podia-se esperar mais do que isso. Logo que o Sol brilhou pela primeira vez numa manhã de domingo, todos os astros e corpos celestes que ainda estavam por vir, não tiverem dúvida de que seria amor a primeira vista. Claro que eles tinham certeza disso, afinal quem não se encantaria ao se deparar com toda aquela exuberância, rodeado de calor, e com uma leve arrogância que lhe servia de charme, era de fato muito desejado por todos. E nas primeiras horas da noite, quando a Lua se aproximava para mais uma de suas caminhadas noturnas, seus olhos caíram sobre aquela grande Estrela e, de repente, sentiu seu corpo inteiro ser aquecido por algo ainda mais forte do que o simples calor do fogo. O Sol não hesitou em se exibir para sua nova companhia, mas sabia que o tempo era curto. Com um movimento rápido, estendeu seus raios em direção a ela e lhe deu o que viria a ser o seu primeiro presente: ele lhe deu a Luz. E a Lua brilhou. Continua brilhando todos as noites como sinal do amor que chegou naquele dia. E, com o tempo, aquela Luz toda sentiu a necessidade de transbordar. E, num belo crepúsculo de setembro, quando a Lua apareceu ao céu, havia um menino com ela. Fruto de seu amor com o Sol, a criança era impedida de conhecer o pai por algo que ele fizera há tanto tempo que até mesmo as estrelas já haviam esquecidos. No entanto, continuava a sentir aquele estranho calor que o mantinha longe do frio das noites vazias.

O que realmente importa nessa história é que, com o tempo, o menino da Lua virou uma espécie de aconselhador para aqueles amantes da madrugada que estão em busca de respostas. Sabe aqueles momentos em que você olha para o céu após um dia cansativo, em busca das respostas para as perguntas que nem mesmo o seu coração ousa fazer? A lenda diz que é nessas horas que o garoto larga sua vara de pescar, cruza as pernas e olha atentamente para você. Após ouvir tudo o que o que você tem para lhe dizer, ele pisca os olhos e conta para a Lua. E, se uma estrela piscar nessa hora, significa que, enquanto você pensa na Lua, ela também está pensando em você...

Mas, é claro, os adultos param de fazer isso com o tempo. E no fim das contas, as crianças também são distraídas e acabam esquecendo-se de rezar no parapeito da janela. E, no meio meio de tantas lendas, o que se pode afirmar com clareza é que, se você olhar pela janela agora e puder enxergar a Lua, vai notar a figura da pequena criança com sua vara de pescar brincando com as Estrelas. E, se você tiver em seu coração, um sonho ardendo para se realizar, pode estende-lo para o garoto. E, se você der sorte, ele irá pesca-lo e entregar diretamente para a Lua. E aqui está mais uma coisa que você precisa saber sobre ela: não importa o quão escuro seja o vale em que você esteja...

A Lua brilha.


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