✰ Capítulo 00 — Chuva.

Ela sentiu o vento contra o seu rosto. Seus fios de cabelo róseos emaranhavam-se ao mesmo tempo em que ela encarava o céu. Um sorriso espontâneo lhe tomava os lábios enquanto inúmeras memórias habitavam a sua mente.

Um único suspiro era capaz de demonstrar a sensação de nostalgia que aquele ambiente a passava. Os lábios rosados estavam sorridentes novamente e uma avalanche de memórias ainda percorria a sua mente. Talvez aquele fosse o seu lugar preferido da vila da folha, mesmo com lembranças que, de certa forma, a machucavam.

As mãos delicadas foram até o seu rosto, retirando os fios bagunçados do próprio campo de visão. Era incrível como ela conseguia ser tão espontânea, mesmo quando estava sozinha. Era ainda mais surpreendente como ela conseguia tornar até mesmo as lembranças dolorosas em felizes.

Reconheceria aquele ambiente há quilômetros de distância. O homem que ela dizia tanto amar a deixara exatamente naquele lugar quando decidira partir de Konoha.

Os orbes esverdeados passearam pelo local mais uma vez. Seus olhos expressavam pureza, inocência e uma grande nostalgia. Mais uma vez, o vento emaranhou seus fios de cabelo rosados e ela riu. Os fios róseos esconderam a sua visão, e ela gargalhou sozinha por alguns segundos. E como era linda. Tinha um sorriso que era capaz de iluminar até mesmo as noites mais escuras. Se ela fosse uma estrela, então certamente era a mais brilhante de todas, não restavam dúvidas.

Sakura era como um dia chuvoso. Cheia de vida e fúria em alguns momentos — um verdadeiro furacão. Extremamente encantadora e calma em outros. Dois extremos. Particularmente, eu sempre gostei do som da chuva. Ou do seu aroma agradável. E também de ficar sob as gotas gélidas.

Meus olhos a acompanharam quando ela se levantou e, de repente, senti uma leve pontada no meu coração. Ela estava se afastando, provavelmente indo embora. Como aquilo era incômodo. Dessa vez, fui eu quem suspirei, porém de maneira discreta. Meus lábios se curvaram levemente em um sorriso quase imperceptível quando pude ver seu rosto mais uma vez. Ela parecia pensativa.

"Há quanto tempo está aqui?" Mantive-me em silêncio. Novamente, ela me surpreendeu. "Eu sei que está aqui, Sasuke."

Mais um sorriso. Talvez o mais belo que eu tivesse visto naquele dia. Ela se virou novamente, como se me procurasse. Então eu caminhei. Em passos lentos e em um silêncio aparentemente agradável, aproximei-me de Sakura, parando logo atrás dela.

Sakura ficou imóvel e o silêncio permaneceu por alguns segundos. Naquele momento, desejei poder ler pensamentos. Desejei poder desfazer todos os erros que havia cometido com ela. Toda e qualquer dor que eu a havia causado.

"Seja bem-vindo de volta, Sasuke." Fui interrompido de meus devaneios pela sua voz doce e calma.

Então ela ainda me esperava, mesmo depois de tudo o que eu havia feito. Mesmo depois de cada passo errado que eu havia dado, ou de cada palavra grosseira que eu a havia dito. Mesmo depois de tantos deslizes praticamente imperdoáveis. Ela ainda me esperava. Estava disposta a me dar uma segunda chance. Ela ainda me amava. Sakura Haruno ainda me amava. Não pude evitar, um pequeno sorriso quase imperceptível tomou os meus lábios.

Ela se virou. Pude ver os olhos marejados me encarando. Compreendi sua feição pensativa e duvidosa, como se perguntasse se eu era real. Um passo, dois passos. Parei em sua frente. Minhas mãos moveram-se inconscientemente até seu rosto, afastando os fios de cabelo rosados que ali estavam. Por um segundo, ela fechou os olhos. Acredito que foi naquele momento que ela percebeu que aquilo era real — que eu era real. E eu me dei conta de que ainda não havia respondido.

"Eu estou em casa, Sakura."

Ela sorriu. Estava feliz, e eu era o motivo da sua felicidade. Entretanto, eu conseguia ver o conflito dentro dela. Saudade. Preocupação. Vontade de gritar. Vontade de chorar. Vontade de sorrir. Como ela conseguia ser tão transparente? Ela era exatamente como um dia chuvoso, e eu sempre gostei da chuva.