— O que você quer dizer? — Sjors franziu o cenho. O homem, que também não era tão velho, retorceu as mãos entre si. Já não sabia mais o que fazer e seu mundo tinha se partido brutalmente nesses últimos meses.

— A verdade, Sjors, é que quem causou esse tipo de violência no seu amigo deixou claros registros de potenciais atos traumáticos. — Fleurtje se levantou e prendeu os cabelos. — A amnésia foi uma resposta radical que seu cérebro achou para sofrer o menor número de lesões possível. Trazer as lembranças de volta também pode levar ao seu limite emocional e desencadear trauma, e o trauma pode levar a despersonalização e desrealização. — a médica o encarou com evidente receio. — Esse tipo de amnésia não é definitiva e quando sua memória voltar, até mesmo informações sensoriais da violência como cheiros, sons e imagens virão e com elas flashbacks, pensamentos intrusivos e pesadelos bem vívidos além do transtorno de estresse pós traumático que o fará reviver o evento e Aart tentará, provavelmente, a todo custo evitar situações que lembrem o que aconteceu. — ela estava incomodada. — Havia diversas fotos suas espalhadas pela sala dele, você bem lembra. Quem quer que tenha agredido o menino foi no propósito dele associar o que aconteceu a você, Sjors, e criar um tipo de repulsa a sua imagem.

— Eu... não posso fazer nada?

Fleurtje hesitou.

— Há casos em que o paciente cria um bloqueio de autopreservação pra não desencadear estresse pós traumático, mas mesmo assim não ocorre em todas as vezes, afinal, cada caso é um caso. Pode até mesmo ser que o trauma nem venha a ocorrer. — ela não parecia acreditar realmente nas suas palavras. — Essa foi a intenção deles, Sjors. Quem fez isso... sabia muito bem como fazer.

— O que você sugere? — murmurou baixo.

— Que Aart faça tudo calmamente, foque na reabilitação. — ela suspirou. — Ir ao local do acontecido pode estimular as memórias, assim como rostos familiares, cheiros e sensações. Precisa de acompanhamento médico integral. Se ele estivesse no hospital...

— Isso está fora de cogitação e você sabe muito bem. Ele fica aqui. Sob sua supervisão. — ele se levantou.

— Mais uma coisa. — Fleurtje o chamou. — Seria bom se ele não lembrasse de você... por enquanto. Eu digo isso como amiga.

Mas Sjors não respondeu, apenas a deixou sozinha na sala.