Hart escrita por Ste


Capítulo 11
Dia 34




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Na manhã seguinte, Aart estava de mal humor. E não era um mal humor qualquer. Era "o" mal humor. Na hora do café da manhã, comprado especialmente por Sjors, tudo o que o garoto conseguia fazer era ficar sentado encarando o homem do outro lado da mesa.

— Eu tenho na minha casa tudo que meus amigos um dia já me deram. — Aart começou, carrancudo. — Souvenirs, camisas, canecas. — pegou um brioche e mordicou. — Não tem nada seu. Nada de presentes, nem fotos, nem mensagens. Jogou tudo fora no seu plano de me fazer esquecer seus rastros? — hoje tinha optado pelo cinismo.

Sjors suspirou e caçou uma torrada. Não respondeu. Nem precisava.

— Nem me surpreende mais. — o garoto murmurou e encarou a janela. O dia lá fora estava radiante e parecia ter ignorado completamente a tempestade da noite anterior. Aart queria poder fazer o mesmo.

— Torrada? — Sjors propôs, obviamente querendo mudar de assunto.

— Tem algum remédio nela que me faça esquecer de você? — questionou irônico sem olhar o outro. — Se não, nem ofereça.

Sjors abaixou as mãos.

— Aart, eu estou tentando te proteger. — murmurou entre dentes.

— Não sabia que eu estava preso no quarto mais alto da torre mais alta. — disse sarcástico, virando-se finalmente para o homem. — O dragão estaria no meu quintal? — pegou uma torrada, lambuzou em manteiga e por último espalhou hagelslag sobre ela. — Além disso, não cumpro vários dos requisitos sobre ser uma donzela. — um sorriso pervertido apareceu no seu rosto, mas foi logo substituído pela expressão taciturna.

— Trazer as lembranças de volta pode acarretar...

— Me poupe, Sjors, — Aart o interrompeu. — o único que está tentando proteger é a si mesmo. — resmungou. — Nunca foi sobre mim.

Sjors largou a comida e olhou desesperançoso para a mesa. Nada ia como planejado. Com Aart, nada nunca ia. O homem pôs as duas mãos sobre o rosto e pensou por um tempo.

— Se... — ele começou, sem olhar para Aart. — se você não lembrar, eu posso lidar com isso, posso pagar psicólogos, médicos, fisioterapeutas, o que você quiser q-

— Não quero a droga do seu dinheiro. — o garoto franziu o cenho e seu olhar tornava-se cada vez mais aborrecido.

Sjors levantou uma mão num pedido para não ser mais interrompido. Aart virou o rosto, azedo.

— Mas... — ele cruzou as mãos sobre a mesa. — s-se você lembrar, eu não sei se serei capaz de lidar com coisas que não posso ter sob controle. — buscou o olhar do jovem, mas isso o fora negado. — Eu não saberia lidar com seu pânico, seus medos e, principalmente, com suas rejeições.

Uma corrente de ar soprou e os sinos do vento - silenciados na noite anterior pelos trovões - cantaram.

— Eu estava certo, — Aart murmurou. — nunca foi sobre mim.

Sjors aguentou o silêncio do outro por uns minutos, levantou-se, andou de um lado para o outro na cozinha, entretanto, não fora preparado para isso. Poderia suportar muitas coisas no mundo, mas não sabia lidar com o silêncio de Aart. Não estava acostumado com ele. Voltou a sentar-se, mas dessa vez numa cadeira ao lado do outro. Suspirou.

— Nos conhecemos em um hospital. — começou.

Aart virou-se para ele de supetão.

— Hospital. — sussurrou. — O que eu fazia lá?

Um longo e penoso tempo se passou antes que Sjors dissesse qualquer coisa, tanto tempo que Aart chegou a pensar que ele mudara de ideia.

— Você — Sjors lambeu os lábios. — me disse que foi levar um dos seus amigos para receber soro e eu fui levar um conhecido na emergência. Você veio falar comigo com umas cantadas baratas. — o garoto escondeu o rosto nas mãos. — Eu nunca tinha visto alguém com tanta audácia. Achei engraçado. Nos encontramos várias vezes depois, no mesmo hospital. — Sjors segurou as mãos do outro e as retirou do rosto dele, Aart estava vermelho como seus próprios cabelos. — Eu me apaixonei por cada pedaço seu, Aart, desde os fios vermelhos até a pinta no seu calcanhar. — beijou as mãos dele. — Quando Matthijs me ligou dizendo que uma coisa ruim tinha acontecido... — ele engoliu a seco piscando os olhos com força. — eu não quero que exista a mínima possibilidade de achar que eu te perdi ou que vou perder. Por favor, Aart. Não quero passar por isso de novo.

O ar passava por entre os lábios de Aart com a ânsia de um asmático. Seu coração batia mais acelerado que de costume e um sentimento que há muito ele não sentia voltou para a sua boca. Saudade.

— Sjors... — o jovem mal conseguia falar. Faltava-lhe o ar.

Sjors franziu o cenho e o olhou preocupado.

— O que foi, Aart? Não está se sentindo bem?

Aart achava que estava se apaixonando por ele de novo.


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