É um inferno acordar no outro dia de manhã. Meu humor não está dos melhores, por dois motivos: primeiro, por causa da briga com Lee. Eu não queria ter brigado com ele, mas parece ter sido inevitável. Ele havia me ofendido de uma forma que eu nunca faria com ele, falando coisas sobre a viagem quando eu claramente precisava de um tempo para espairecer. Quão difícil era entender isso? Ou ele achava que só os sentimentos dele é que importavam?

Segundo porque, não adianta mais negar, eu estava chateada com o lance da foto. No primeiro dia Sakura não tinha olhos para ninguém além de Sasuke e então, de repente, ela começa a reparar no cara que eu havia achado, no mínimo, interessante e então ele parecia ser sua mais nova paixão. Isso fazia algum sentido? Não. E a coisa que mais me irritava era o fato de eu estar irritada, porque não tinha nada a ver com a situação. Kami, eu tinha um namorado, eu nem conhecia o cara e o cara era solteiro. E o melhor, ou pior, ela também. Caramba, eu só podia estar louca.

Minha amiga acordou um pouco depois de mim, sorrindo ao me ver já arrumada esperando por ela, coisa rara. Na verdade, ela é quem sempre acordava mais cedo e eu era sempre a mais preguiçosa. Não que isso fosse algo ruim, claro.

“É nosso último dia. Como você se sente? Pronta pra alucinar?”

“Quem tá alucinando é você, já a essa hora da manhã. Que conversa é essa de alucinar? Não é porque é o último dia que a gente devia sair por aí fazendo um monte de loucuras.”

“Ai, se eu pudesse eu faria várias loucuras. Como me mudar pra cá e ficar olhando esses homens lindos dançando pra sempre.”

“Você está bêbada de sono. Se levante e tome um banho, já são dez horas da manhã. Não há mais tempo de qualquer forma para o café da manhã e como nenhuma de nós parece disposta a sair hoje também, podemos simplesmente fazer a mesma coisa que ontem.”

“Nem acredito que hoje é o último dia nesse paraíso.” Ela comenta, em um muxoxo. Também me sinto triste porque é um lugar incrível, com uma energia incrível, um lugar do qual vou sentir saudade. E, de repente, aquele texto do cartão de boas vindas faz tanto sentido que nem sei. Sinto vontade de chorar.

“Sim, e vamos ter menos tempo se você ficar aí sentada na cama nessa posição de reflexão. Levanta logo essa bunda e se troca, pra gente curtir o tempo que nos resta.” Mal acabo de dizer e ela sai correndo para o chuveiro. Não posso deixar de rir, apesar de me sentir meio melancólica com a situação. Engulo minhas lágrimas, porque não é a hora de ficar triste, não ainda, porque ainda temos um dia lindo pela frente.

Sakura se arruma o mais rápido que já a vi se arrumar para ficar, no mínimo, apresentável. A verdade é que não adiantava muito ela vir querer se arrumar toda pra se acabar de dançar lá na pista de dança e cagar todo o trabalho que teve durante alguns minutos. Um bom banho e estar limpa já era o suficiente. Considerando que estava um calor de matar e que logo precisaríamos de um novo banho.

Sentamos no mesmo lugar do primeiro dia, logo nas primeiras mesas. Aparentemente, como eu percebi, as pessoas só começavam a chegar depois das onze. Então, chegando alguns minutos mais cedo, estávamos um pouco livre de ter que disputar lugar com as outras pessoas.

Edson, o garçom simpático que vem nos atendendo desde o nosso primeiro dia aqui, aproximou-se sorridente. Porém, dessa vez, ele não viera apenas para receber nossos pedidos.

“Bom dia, meninas. Hoje teremos uma programação especial pela noite, um show bem animado. Custa apenas 60 reais a entrada, vocês gostariam de ingressos?” Eu estava pronta para dizer não, porque afinal, qual seria o dia em que eu pagaria 60 reais em um mísero ingresso de entrada? Hoje, hoje seria o dia! Porque assim que olhei para Sakura, ela me encarava com os olhos brilhantes e eu não tinha nem dúvidas do que ela queria.

Suspiro, em derrota, pedindo dois ingressos. Era uma banda pouco famosa, conhecia algumas músicas, mas não o suficiente para pagar sessenta reais em um show. Bem, eu devia me conformar e não chorar sobre o leite derramado. Assim que o garçom se afastou, já com nossos pedidos em mãos, os mesmos do dia anterior, encarei minha amiga com toda a intensidade que eu conseguia.

“Eu não acredito que você me fez pagar essa quantia por um banda que eu nem conheço direito, pelo amor de Kami, eu só sei uma música! Você é doida, sério! Completamente doida! Eu vou parar de andar com você.”

“Não viaja, garota, você me ama que eu sei. Amiga, você precisa dar uma chance para as coisas! Esse show pode ser incrível, cheio de oportunidades. Você não pensa no futuro, mas eu sim. Confie em mim, você não vai se decepcionar.”

Cruzei os braços e fiquei assim pelo resto do dia. Não estava muito animada para ver Neji no palco, por causa dos motivos pelos quais eu ainda estava irritada e triste, então mal aproveitei direito. Acompanhei Sakura na pista de dança, mas dancei de forma mecânica. Ainda não estava processando as coisas muito bem.

Logo a noite chegou. Já estávamos enfurnadas no quarto desde as sete horas da tarde, com a bendita Haruno dizendo que sua produção precisava estar espetacular, não sei pra quem tanto essa garota estava se arrumando. Mas não reclamei, não iria ser eu a cutucar a fera com a vara curta, certo?

Às dez e meia da noite parecíamos estar prontas, finalmente, para ir. A festa seria no complexo de lazer mesmo e apesar de estarmos meia hora tecnicamente atrasadas, o show ainda não havia começado. Tão logo entramos e Sakura já começou a tomar sua amada caipirinha. E eu, ao seu lado, com a maior cara de tédio do mundo, apenas para deixá-la culpada.

“Miiiga! Não fica chateada comigo não.” Ela me abraçou de lado, quase derramando a bebida em mim, a desastrada que era. “Você vai ver, o show vai ser bom. Olha só, que legal, eles vão trazer a companhia de dança, caramba!”

E sim, a abertura da atração foi a companhia de dança, incompleta, só dois homens estavam no palco, incluindo Neji, e um outro que eu nunca havia visto ali. Ele foi apresentado como Shikamaru. Não pude deixar de sorrir e lamentar ao mesmo tempo, porque imagine o quanto esses dançarinos não ficavam cansados.

A maluca disse que eu não iria me decepcionar de ter adquirido o ingresso e, realmente, em partes não me arrependi. A banda era incrível, inclusive muito melhor do que eu achei que eles fossem. Pude dançar, me soltar e me livrar de todas as minhas preocupações ali. No início da madrugada, eu já estava me sentindo muito mais leve. E tudo isso sem nenhuma ajuda do álcool.

Mas não foi mil maravilhas, claro. Minha companheira ficou que nem uma chata a festa inteira. Bem, a situação é: por acaso, encontramos Sasuke no meio da festa. Ele estava aparentemente de folga e ali apenas para curtir a festa. E então foi nesse momento que Sakura ficou um inferno. Ela comentava dele o tempo todo e ficava encarando descaradamente. Por mais que ela não admitisse, nós duas sabíamos que ela nunca chegaria nele; ela era uma daquelas pessoas que esperava que a outra chegasse em si, em vez de tomar uma atitude.

Dessa forma, ela ficou a noite inteira observando ele chegar em várias garotas e beijá-las, bem na sua frente. O que, surpreendentemente, a fez ficar com raiva. No final da festa, ela já, em seu quarto copo de caipirinha, chamava o moreno de babaca, como se ele de alguma forma fosse o culpado por não ter chegado nela. Mas, veja bem, o que eu deveria dizer? Ele poderia chegar em quem bem entendesse, o que eu poderia fazer no caso?

“Nós devíamos ir embora?” Pergunto, quando o cantor anuncia que aquela é a última música. Observo Neji no palco e suado parece pouco para o estado em que ele se encontra. Foram três longas horas de show e só Kami sabe o quanto ele deve estar cansado.

“Nam, vamos esperar pra ver se tem mais alguma coisa.” Continuo olhando para o palco, apesar de ouvir o que ela está dizendo. Há alguma coisa que atrai meu olhar para este homem e não sei dizer o que é. Já não estou mais chateada pela situação anterior com a foto. “Você devia ficar com ele!” Ouço a voz empolgada da mulher de cabelos róseos ao meu lado e demoro um pouco até registrar sua fala. Quando o faço, viro-me para ela com uma expressão horrorizada.

“O quê? Não! Que tipo de amiga é você que me incentiva a trair meu namorado?”

“Tenten, eu escondi o que eu achava por muito tempo, mas eu sinto que agora é a hora certa de abrir o jogo para você. Nunca achei que o Lee fosse o cara ideal…”

“E você acha que aquele dançarino é?” Por algum motivo desconhecido, o que ela diz me deixa completamente ofendida.

“Não foi o que eu disse. Não seja afobada, ainda não terminei de falar! Bem, como eu estava dizendo… ele não é a pessoa certa. Eu tenho uma opinião sobre relacionamentos e você não precisa necessariamente concordar com ela. Mas quando se gosta de alguém, quando se ama alguém, você não tenta mudar a pessoa. Está com ela exatamente porque gostou do que viu, porque se identificou. Há respeito, há cumplicidade, às vezes fazemos coisas que nem queremos para ver as pessoas que gostamos felizes. Você está disposta a tentar um relacionamento à distância, mesmo sabendo que isso pode não dar certo. Caramba, você até pensou em juntar algum dinheiro para levá-lo para morar com você.” Fico vermelha por um momento, esquecendo minha raiva. Sim, eu havia comentado o fato com ela, mas não para ela ficar jogando as coisas na minha cara a fim de tentar me convencer de uma coisa tão estúpida quanto aquela. “Mas ele não está nem aí. Ele não te apoia e, principalmente, ele não respeita a decisão que você tomou. E ele faz você se sentir culpada por isso. É com esse tipo de pessoa que você quer passar o resto da sua vida?”

“Sakura…”

“E então você encontra um homem alto astral, maravilhoso, com um sorriso lindo, que tem um buchinho na barriga que é extremamente fofo, que faz o seu coração bater forte e para quem você não consegue parar de olhar. Por que você perderia essa oportunidade? Deixa o futuro no futuro, vive o presente. Vive o agora, faz o que você tem vontade. Esquece o mundo por um segundo, esquece as obrigações. Pensa no que te faz bem, no que te faz vibrar, no que te faz sorrir. A hora é agora e se você perder o momento tentando descobrir o que tem na frente, depois você vai estar olhando para trás com o coração apertado. Confie em mim, a sensação não é nada boa.” Não paro para pensar no que ela está dizendo, porque ainda tenho noção das coisas. Eu tenho um namorado e não posso simplesmente fingir que ele não existe.

“Mas e o Lee? Eu não posso simplesmente…” Argumento, mas ela me cala estendendo um objeto em minha direção. Ela não precisa dizer nada para que eu entenda o que ela quer, mas mesmo assim ela faz questão de verbalizar.

“Liga pra ele. Liga pra ele e diz o que você tá sentindo. Você precisa ser sincera com o seu namorado ou então realmente as coisas nunca vão dar certo. Independente do que você vá fazer.”

“Olha, eu não vou desistir da minha vida inteira por um cara que… que chegou agora. E outra, ele não é o tipo de cara que teria interesse em alguém como eu.” A ideia toda parecia muito bizarra em minha mente. Claro, eu e Lee estávamos brigando muito, inclusive ontem, mas eu tinha planejado um futuro. E o Neji nunca olharia nem sequer na minha direção, eu precisava ser realista nos fatos.

“Bem, você só vai saber se tentar. Não é como se você fosse muito feia; é até bonitinha. Se você pode se locomover, vá até ele. A oportunidade é uma só, não vamos ficar aqui para sempre.”

“Ainda não estou muito certa sobre isso.” Mas estou começando a considerar. Ela me dá boas razões para isso, todos os argumentos que preciso para me posicionar diante dessa situação. Mas tomar uma decisão assim, jogar tudo pela janela em questão de segundos…

“É o nosso último dia neste paraíso. Garota, se vai cometer uma loucura, a hora é agora.”

“Eu… eu não sei se é a coisa certa a se fazer.”

“Eu não vou forçá-la, já usei todos os meus argumentos. Você é a única pessoa que vai enfrentar as consequências, a escolha é sua. Só se vive uma vez.” Oferecendo o telefone para que eu ligue para o meu namorado, ela se vira para me dar um pouco mais de privacidade.

Eu não acredito que estou fazendo isso, mas quando vou ver já estou com o telefone na orelha, o número já discado na chamada.

“Ah, bem, oi Lee…. Eu liguei para… eu quero terminar.” Há silêncio dos dois lados. Sou eu quem tomo a iniciativa de voltar a falar. “Eu sei que é extremamente covarde da minha parte terminar tudo por telefone. Eu estou admitindo meu erro, mas estou tão cansada. Desde que eu disse que iria me mudar que não estamos bem. Você não aceita as minhas escolhas e pior que isso, você fala coisas para me fazer acreditar que eu sou a errada da história… espera, deixa eu falar. Eu estou cansada. Nós não estamos nos fazendo bem e para ser sincera, já é tarde para admitir isso. Insisti em algo que claramente não daria certo. Não é querendo ofendê-lo, nem nada assim, mas eu não vou continuar com uma pessoa que não respeita as minhas escolhas. Afinal, é a minha vida e isso por si só já é motivo o suficiente para que eu tome as decisões do que é melhor pra mim…. É tudo o que eu tenho para dizer.” Quero desligar o telefone naquele momento, para não ouvir as palavras cruéis que sei que virão de sua boca. Mas, ao contrário do que penso, quem desliga é ele. Ele apenas diz um “ok”, baixo e sem emoção e então desliga sem dizer mais nada.

Ainda estou tentando me recuperar do choque quando Sakura me sacode, uma das mãos em meu ombro esquerdo.

“Ele tá indo embora… mano, ele tá indo embora!” Continuo no estado que estou, meus olhos vidrados e meu corpo sem esboçar nenhuma ação. Sua voz parece desesperada e então ela aproxima seu rosto do meu como faz às vezes para me intimidar e fala ainda mais alto, como se dando um sermão. “Você terminou com seu namorado pra ficar parada aqui que nem uma otária olhando o cara ir embora? TenTen! Em que mundo você tá?”

“Eu não estou parada que nem uma otária” Finalmente olho para ela e percebo sua expressão severa. “O quê? Você quer que eu chegue no cara e fale o quê? Oi, tudo bem? Terminei com meu namorado para ficar com você! Você quer ficar comigo? Aí, nada a ver, que coisa mais ridícula. Ele vai achar que eu sou ridícula. Ele deve ficar com um monte de garotas bonitas, não vai dar nem moral pra mim. Vamos pra casa.” Me viro para ir embora, mas não ando nem um passo direito. Isso porque a mulher de olhos verdes me segura pelos ombros, agora apoiando-se neles com suas duas mãos e então estamos olho no olho.

“Olha bem dentro do meu olho. Sério, olha com vontade.” Faço o que ela pede, naquela posição não tenho muita escolha. “Você é uma garota incrível que merece ter uma experiência incrível nessa viagem incrível. Eu sei que você está nervosa com a possibilidade de falar com ele. Olha só pra mim, eu nem tive coragem de chegar no Sasuke também, fiquei só olhando igual uma idiota perdendo o que podia ser uma oportunidade do caralho de me sentir bem comigo mesma. Eu não tô querendo descontar as minhas frustrações em você, de jeito nenhum. Sim, ele pode falar não pra você, é claro que pode. Mas não deixe de tentar. Nunca deixe de tentar. Sinta culpa por não ter conseguido, mas nunca por não ter tentado. Porque isso te corrói por dentro. E você merece muito mais do que isso nessa nova jornada. Segue o seu coração, apenas. Vai saber o que dizer na hora.”

“Eu não tô acreditando que eu tô seguindo esse seu conselho patético.” Suspiro, resignada, antes de andar, ou correr, o mais dignamente que eu posso, sem cair, atrás de Neji.

“Oi.” Encosto minha mão em seu braço e, por sorte, ele não me ignora. Ao contrário, para de andar e olha para mim. Parece cansado, claro que ele estaria, mas não posso deixar de notar que exala um perfume incrível. Preciso ter foco. Nada de distrações.

“Oi.” E é nesse momento que fico parecendo uma idiota olhando para ele. Sakura deve estar batendo a mão em seu rosto de vergonha de uma pessoa como eu. Eu vou saber o que dizer na hora, foi o que ela disse. Como eu pude acreditar nessa coisa idiota? Vai ficar muito estranho se eu simplesmente me virar e ir embora? Não, eu não posso fazer isso. Foco, TenTen. Controle da situação. “Tudo bem?”

“Não, nada está bem. Eu estou um pouco nervosa. E não, não estou aqui para tirar foto com você.” Ele dá um sorriso simpático, o que ajuda a acalmar um pouco dos meus nervos.. “Eu sei que você deve estar muito cansado por causa do show e eu sei que estou falando demais e parece que estou te enrolando. Mas eu achei você uma pessoa incrível e vir aqui falar com você… eu me sinto louca, nem sei mais o que estou fazendo. É o meu último dia nesse resort incrível e eu vou embora amanhã depois do almoço, então… eu queria saber se está a fim de passar esse final do dia comigo…? Quero dizer… não sei, você quer ficar comigo? Pronto, falei.” Ele me olha com uma expressão confusa, como se não soubesse o que dizer, mas não o culpo. Eu também estaria surpresa se estivesse no lugar dele. Mas o que me conquista naquele momento é um sorriso lindo que ele abre em minha direção.

Eu não tenho ideia de como vai ser quando eu voltar para a minha cidade amanhã, mas, como a Sakura sempre diz, eu posso pensar nas consequências quando chegar a hora. Afinal, o futuro é apenas o futuro, não há motivos para ter medo.