Rick — Mind Maze escrita por Charbitch


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedico essa fanfic a todo o fandom brasileiro, já que existem poucas fanfics de Rick and Morty em português.



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Se você estiver procurando um cara da ciência para te acompanhar numa viagem interdimensional, Rick Sanchez é a pessoa certa. Mas se você estiver procurando um amigo para a vida toda, é melhor pegá-lo num dia em que ele esteja de bom humor – ou bêbado.

Rick é o típico vovô excêntrico que diz que vai comprar cigarros e não volta mais.

Ele é um cientista louco, tem o universo inteiro à sua disposição, atravessa a barreira do espaço-tempo com a sua lata velha movida a matéria escura. Enquanto isso, a muitos anos luz de onde ele provavelmente está agora, o universo pessoal de Morty cai aos pedaços.

Rick certamente nem se lembra mais de que tem um neto, mas Morty sempre se lembrará de que tem um avô.

~*~

No dia seguinte ao sumiço de Rick, o pequeno neto pensou em construir a própria nave para procurá-lo, porém, nunca teve o QI tão brilhante quanto o de seu avô. A nave mal saiu do chão e ainda destruiu a plantação de gerânios de sua mãe.

— Filho, eu sei que você está tentando ir atrás do seu avô, mas você precisa entender que ele não dá a mínima para a nossa família. – explicou Beth – Acho que, no fim das contas, o Jerry estava certo o tempo todo. Papai Rick é um egoísta de merda. Ele não mede as consequências dos seus atos, é um adolescente no corpo de um idoso. É um pobre coitado que só pensa em ciência, drogas e sexo. É capaz de você atravessar galáxias inteiras procurando por ele e, quando encontrá-lo, ainda vai levar um esporro por ter estragado os planos dele de se manter escondido. Parece estranho o que eu vou te dizer agora, mas ele não quer ter que lidar com a culpa que sente por ter te abandonado. Sua presença o faz reviver a culpa. É por isso que ele nunca te procurou. Vai por mim, ele fez a mesma coisa comigo mais de uma vez. Sendo assim, é melhor deixá-lo sozinho. Gente como ele merece a solidão, pois nunca fez por onde para ter companhia, por que precisaria de uma agora?

— Nunca te vi falando assim do vovô Rick, mãe. Você sempre o defendeu tanto!

— Olha, bem lá fundo eu sempre soube que ele não era boa coisa. Mas era o meu pai, ainda é... O que eu poderia fazer? Eu só queria que ele se importasse comigo, por isso o defendia. Agora vejo que foi em vão, já que ele me abandonou de novo do mesmo jeito.

— Eu sei como se sente.

— Então vai parar de tentar fazer essas naves bobas, certo? Eu não quero perder mais nenhum ente querido.

— Tudo bem, mãe, eu paro.

Grande mentira. Era mais fácil a Terra ser plana do que o Morty desistir do Rick.

~*~

O tempo passou e o garoto continuou trabalhando em seus protótipos de nave espacial, ainda que a mãe dele torcesse o nariz para a ideia. Depois de um tempo, ele encontrou uma cartolina enorme enrolada numa das gavetas do que antes fora o cantinho de tralhas e geringonças de Rick. Aquilo foi uma descoberta e tanto, pois não havia mais necessidade de inventar uma nave do zero; ele só tinha que seguir as instruções do papel! Naquele troço empoeirado estavam todos os detalhes de que ele precisava para fazer algo que não explodisse depois de terminado. Alguns materiais necessários para a fabricação da nave foram bem difíceis de conseguir, mas Morty deu um jeito de arranjar todos eles. Ele sempre tentou seguir à risca o projeto da mesma nave dentro da qual Rick o levara para tantas aventuras no passado. Ele queria honrar o legado daquele admirável cientista, queria deixá-lo orgulhoso. Rick precisava entender que Morty não servia apenas como camuflagem para as ondas de gênio dele. Morty queria provar a Rick que podia levantar do chão uma nave quase tão boa quanto a dele.

De qualquer... jeito.

O neto foi persistente, nunca descansou.

Rick provavelmente teria terminado aquela nave em um dia, mas Morty demorou quase um ano para fazer uma igual. Antes tarde do que nunca, lá estava ela, novinha em folha.

— Uau, mas que belezinha de nave! Agora só vou precisar do leitor de DNA / rastreador muito louco do Rick para saber onde ele está.

Morty pegou um fio de cabelo do avô. Ele o tinha guardado durante um tempão dentro de uma caixa de sapatos especialmente para aquela situação.

(Cá entre nós, o real motivo de o garoto ter guardado aquele fio foi para ter uma lembrancinha de Rick, mas uma coisa não impedia a outra).

— Encontre o dono desse DNA – Morty ordenou, passando o fio de cabelo no leitor.

— O dono desse fio de cabelo é Rick Sanchez. – disse o leitor com a sua voz robótica – Localização: ponto MMMDCCCLXXXVIII do universo.

— Meu deus, esse ponto parece bem distante da Terra.

— Na verdade, esse ponto é só a algumas horas luz daqui – respondeu a nave.

— Hum, já que essa nave viaja na velocidade da luz, não terei problemas. – ele entrou rapidamente na nave – Dê-me as direções certas em seu GPS intergaláctico. Estou indo pra lá.

— Sim, senhor.

~*~

Quando Morty chegou ao ponto do eu não sei das contas, lá estava Rick, sentado num planetoide minúsculo e deserto. Os dias provavelmente duravam um minuto naquele lugar.

— Vovô Rick, vovô Rick! – o rapazinho estacionou a nave e saiu correndo na direção dele.

Mas o avô não o reconheceu.

— Quem é você e como sabe o meu nome?

— Sou Morty, seu neto... – respondeu, decepcionado.

— Ah, sinto muito. Se um dia eu te conheci, não conheço mais. Ontem eu inventei uma máquina que apaga todas as memórias que eu tenho de entes queridos. Não lembro mais por que inventei, mas inventei. O bom é que agora só vou me preocupar exclusivamente com as minhas aventuras.

Morty começou a chorar.

— Vá pra merda, Rick! Não acredito que eu atravessei o universo inteiro pra ouvir uma coisa dessas!

— Foda-se.

— Foda-se digo eu! Bem que a mamãe falou que você não presta!

— Olha, eu não sei quem é a sua mãe e nem me interessa saber.

— Sabe quem é a minha mãe? É a porra da sua filha, aquela que você abandonou duas vezes sem nem olhar pra trás! Por que saiu da Terra do nada e nunca mais voltou? Todo o mundo ficou preocupado com você, até o Jerry! Se você não liga pra gente, a gente liga pra você! Não deveria tratar as pessoas como se elas não fossem nada!

— Olha, Morty... É Morty o seu nome, não é? Eu não tenho a mínima ideia do que você está falando. O que eu posso fazer pra você ir embora agora e me deixar em paz?

— Me dá... Me dá um abraço...

Rick puxou o seu neto para perto de si e o envolveu no abraço mais quentinho da galáxia.

— Wubba lubba dub dub – disse o avô, com lágrimas nos olhos.

— Wubba lubba dub dub. – respondeu o neto, segurando as mãos de Rick – Espero que encontre o seu caminho, vovô, mesmo que eu não possa segui-lo com você.

— Não se preocupe, ainda tenho muitas aventuras para viver. Eu sou jovem. Bom, não tão jovem. Mas ainda tenho um Rickzinho dentro de mim. Foda-se a solidão, eu vou ficar bem.

— Espero que sim – murmurou Morty entre lágrimas, enquanto voltava para a sua nave.

— Ei! – Rick o chamou.

— O que foi? Conseguiu se lembrar de mim? – perguntou alegremente.

— Não... Eu só queria dizer que é uma bela nave essa que você fez. Ficou bem parecida com a minha. Eu devo ser mesmo o seu avô. Que orgulho! Aposto que também vai viver muitas aventuras com ela. Você com certeza é um garoto muito inteligente!

— Mas você sempre me chamou de burro!

— É... Foi mal.

— Tudo bem, eu te perdoo. Você é só um babaca. Eu também sou. Deve haver alguma ligação entre ser da espécie Homo sapiens e ser um completo babaca.

— Haha, disso eu não tenho dúvidas! – acenou para o neto, despedindo-se casualmente.

Morty subiu na nave, decidido a voltar pra casa. Ele tinha odiado cada minuto da sua conversa com Rick, mas pelo menos tinha conseguido resolver aquela pendência. Ele finalmente havia fechado o seu ciclo de dúvidas, nunca mais procuraria o seu avô novamente. Se era isso o que Rick queria, ele tinha conseguido.

Doía, mas Morty ainda teria as suas próprias aventuras, mesmo que as melhores fossem sempre as que ele vivera com Rick.

Ah, Rick, por que você tem que ser sempre tão cabeça dura?, pensou Morty.

Rick observou a nave do neto se afastar cada vez mais do planetoide e murmurou com pesar:

— Ah, Morty, se você soubesse que eu menti pra você... Nunca existiu máquina nenhuma. Eu ainda me lembro de você, da Summer, da minha filha, até do idiota do Jerry... Só inventei essa história toda porque tenho certeza de que vocês ficam melhores... sem mim.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que essa fic não segue o mesmo tom de comédia da série original, mas eu tenho uma tendência muito grande a enxergar uma grande tragédia em tudo, kkkkkkkk. Comentários?