Cute boy escrita por OLDMAU


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Acho que isso poderia ser considerado amor à primeira vista. Meu coração acelerou instantaneamente assim que nossos olhos se cruzaram e eu pude sentir meu rosto queimar de vergonha. Ele tinha esse efeito sobre mim. 

Aquele garoto, com essa aparência extremamente fofa e delicada, cabelos curtos e negros, olhos cor de mel e pele pálida, havia me encantado de uma forma que eu não conseguia explicar. 

Isso era possível? 

Eu nem ao menos sei o nome dele e já estou morrendo de amores, por outro homem...  

A primeira vez que o vi foi no ônibus, ele fica próximo a mim e sempre fica em pé, mesmo que tenha lugares disponíveis para sentar.  

Ele desce na mesma parada que eu, vai para a mesma escola, estuda na mesma sala, mas até hoje não sei o nome dele. 

O menino que apelidei carinhosamente de "Cute" não fala com ninguém da sala, não se envolve em brigas ou conversas paralelas, ele sempre está lá, quieto, no canto da sala observando tudo o que ocorre em sua volta.  

Desejo tanto me aproximar dele, mas a minha timidez me impede disso. 

Sabemos que não é apenas amizade que almejo, e se nos tornarmos amigos e eu ficar mais louco de amor por ele? Se nem conversamos e eu já sinto meu coração palpitar, prefiro não pensar como eu ficaria se eu tivesse ele cada vez mais perto. 

— Sabe, se tu deixares a vergonha te dominar, vai deixar as melhores coisas da vida passar. — Falou, Pedro, depois de passar horas me escutando falar no telefone. 

Faltava poucos minutos para eu sair de casa e pegar o ônibus, para encontrar ele. 

Pedro já sabia sobre a minha sexualidade e ele não se importava nenhum pouco.  
Continuaríamos a ser amigos, independente disso. 

— Eu sei! Só que sempre que eu estou prestes a falar, eu tenho uma sensação ruim. — Comentei. 

— Como assim? — Indagou. 

— Sei lá, uma parte de mim sente que conheço ele de algum lugar e isso me dá medo. — Suspirei. — É complicado dizer. Parece que nos conhecemos já no passado, mas não consigo me lembrar de onde.  

— Estranho, porém tu mesmo disse que as vezes o pega o observando, né? Então, se vocês se conhecem já de tempos atrás, talvez por isso ele te encare tanto.  

Pedro podia ter razão, mas ainda assim, a insegurança tomava conta de mim. 

— Olha só, preciso desligar já, já, então vou dizer bem rápido. — Me chamou a atenção. — Tu tem que parar de ser tão covarde, se tá curtindo mesmo o cara, só vai, o não você já tem, agora vai atrás do sim. — Pedro havia desligado o telefone em seguida. 

Aquele garoto realmente queria me levar a loucura, todavia, ele estava certo. 

Não posso passar o resto da minha vida fugindo daquilo que tenho medo. 

— Certo, hoje vai ser o dia, Cute. 

Guardei meu celular no bolso do casaco e em seguida coloquei a mochila nos ombros. Estava na hora, eu iria finalmente falar com ele. 

Saí às pressas para não perder o horário, por sorte, cheguei a tempo e já adentrei o bus. 

Estava vazio como de costume.  

Tinha um casal de senhores nos bancos preferenciais próximo ao cobrador, duas adolescentes, cada uma em um canto e mais ao longe, eu o vi. Estava parado como sempre, ao lado de um dos bancos próximo a porta. O lugar que eu costumava sentar todos os dias. 

Cute não movia nem um músculo, nem se segurava nos ferros para se equilibrar enquanto o ônibus andava. 

Um guri muito estranho, que atiçava minha curiosidade cada vez mais. 

— Tá na hora. — Sussurrei para mim mesmo, balançando a cabeça para os lados. Tenho que afastar qualquer pensamento que me impeça de me aproximar dele. 

Usei meu cartão escolar e passei pela catraca, caminhei com passos moderados, tomando todo cuidado para não acabar caindo.  

Parei ao lado dele, mas Cute pareceu não notar ou apenas fingiu muito bem. 

— Olá! — Falei. Eu estava muito nervoso. 

Ele nem ao menos me olhou. 

— Oi, tudo bem? — Repeti, dessa vez ele se virou e foi como se meu corpo tivesse levado um choque. 

Aquela sensação de o conhecer voltou novamente. Esse rosto familiar, tinha alguns traços infantis, mas em um corpo adolescente. 

De onde foi que esse garoto havia saído? 

Como se um flash de memórias houvesse passado pela minha cabeça. 

Esses olhos, o cabelo... Tudo tão familiar.  

— Por que eu não consigo me lembrar de onde você é? — Minha voz estava embargada, senti como se eu fosse chorar, qual o motivo disso? Eu não estava triste, porém também não estava feliz.  

Não sei exatamente o que estou sentido agora, é tudo tão confuso.  

Ele me dava aquele olhar tão vazio. Diferente dos dias em que eu ficava o observando, parecia que ali só nutria tristeza. 

— Você consegue me ver, Daniel? — Não pude evitar demonstrar surpresa quando ele pronunciou meu nome. Essa voz, essa maldita voz. 

Igual a de um garoto de doze anos. Como a do... Arthur. 

 — Estranho, eles disseram que ninguém poderia me ver por aqui. — Sussurrou. 

— O quê? — Cute falava coisas estranhas, coisas que eu não entendia. 

Agora eu tinha conseguido entender de onde eu tinha a impressão que o conhecia. 

Se parecia com Arthur, meu melhor amigo de infância. Só que era impossível, eu havia esquecido completamente dele. Como eu pude ser tão insensível de esquecer de alguém tão importante?  

— Não chora. — Ele passou as pálidas e delicadas mãos pelo meu rosto, limpando as lágrimas que caiam. — Dizem que quando o trauma é muito grande, a gente tende a esquecer.  

Trauma? 

Ah! Sim. Lembro-me o que aconteceu com Arthur para ele sumir.  

Eu tinha nove anos e ele doze. Minha mãe tinha dito que ele havia ido viajar em um lugar distante. Fiquei muito irritado, todavia, com o tempo essa parte foi desaparecendo da minha memória. 

Vi ele morrer bem na minha frente, porém no outro dia eu já tinha esquecido, meus pais só queriam me proteger e pra isso criaram uma fictícia.  

— Você sempre pode me ver? — Ele perguntou após alguns minutos quieto. Não estava conseguindo formular nenhuma frase, por isso, apenas balancei a cabeça em afirmativo. — Já deve ter notado que é o único que pode fazer isso. — Comentou. 

O único? Isso explicava porque todo mundo ignorava ele na escola e em qualquer lugar na verdade. 

— Eu estou louco ou você que está? — Perguntei, parecia doideira demais para se acreditar de forma tão simples. 

— Não é muito simples de acreditar, eu esperei todos esses anos pra poder finalmente falar novamente com você. Já estava até sem esperanças, não imaginei que seria assim; 

— Novamente?  

— Tu sabe quem sou eu, Daniel. — Respondeu.

Lógico que eu sabia quem era, só era loucura tudo isso. 

O vi caído no chão, cheio de sangue e agora ele estava ali na minha frente. Acontece aquele acidente e eu tinha perdido ele, mas agora Cute estava de volta, mas não era real. 

Talvez o trauma tenha sido tão grande que eu possa estar tendo alucinações. 

Agora tudo parecia claro, e memórias do passado vinham à tona. 

Estava eu, Pedro e Arthur sentados na sacada da escola, conversando sobre coisas banais. Nós não deveríamos estar lá. 

Éramos crianças, pessoas da nossa idade eram proibidas no terceiro andar, porém não ligamos para essa regra.  

Pedro e eu começamos a brigar, porque por acidente acabei pôr o empurrar. Arthur só queria que a gente parasse com aquilo. Nós não nos importamos e ele acabou caindo. 

Foi nossa culpa e com o tempo, nós dois acabamos por deixar esse assunto de lado até ser esquecido. 

— O que faz aqui, Arthur? — Perguntei.  

— Eu vim para cuidar de você, não é óbvio?  

— Cuidar de mim? 

— Sim! Por isso estou sempre por perto, Daniel. — Explicou.  

Cute estava em tudo quanto é canto. Quando eu ia visitar Pedro, no ônibus, na escola, no curso, em casa, nos meus sonhos... 

— Se tu é mesmo o Arthur, como pode explicar o fato de ter crescido? Ele morreu com doze anos.  

— Bom, essa é só a forma que você me vê, Dani. — Cute sorriu, e eu senti meu coração esquentar com aquilo. Os olhos dele pararam de parecer tão vazios e voltaram ao brilho de antes. — Eu estou aqui para cuidar de você, é a minha missão. 

— Por quê?  

— Porque é o nosso destino. — Contou. — Eu demorei um tempo para entender, mas depois foi fácil. Quando estávamos vivos, era o nosso destino ficar juntos para sempre, mas você sabe... Acabou acontecendo um imprevisto. — Fechei os olhos quando ele disse a última parte, não queria voltar a lembrar. — Nós éramos almas gêmeas e almas gêmeas não se separam nem depois da morte. 

Meu rosto ficou vermelho na hora. 

Almas gêmeas? Desde criança sempre nutri um sentimento diferente por Arthur, talvez por eu ser jovem demais, eu acreditava ser apenas admiração por alguém mais velho, porém com ele falando assim... 

Se Cute estivesse vivo hoje em dia, talvez pudéssemos estar juntos agora, romanticamente falando. 

— Vou estar sempre ao seu lado, até o dia da sua morte. — Deu um sorriso de canto. — Falando assim soa um pouco macabro, não? Mas desde o dia do nosso nascimento, nossas almas já estavam conectadas, parece até coisa de filme. 

Eu poderia ter ficado louco, mas eu não ligava mais. Arthur, ou Cute sempre estaria ali por mim, mesmo depois de eu ter esquecido ele, aquele garoto estava ali e ficaria pelo resto da minha vida. 

— Obrigada, Cute.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e até :)



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