Suspirou depois da terceira vez que se remexeu na cama. Levantou com cuidado, abrindo os olhos e permitindo que aquela noite tivesse três luas cheias. Andou em passos firmes até a varanda, tentando controlar a crise de ansiedade que caia sobre o seu corpo. Por que isso continuava acontecendo? Tola, ela sabia muito bem o porquê. Sabendo, fechou a porta de vidro atrás de si e foi até a grade, se apoiando e deixando a cabeça pender para frente. Sentindo a brisa noturna, esperou alguns minutos até que seu estômago parasse de revirar. Ao lembrar do corpo amado sendo ultrapassado pela estaca de madeira, tossiu algumas vezes… temeu ser alto demais. Não queria acordar ninguém. 

— As vezes é insuportável – confessou à escuridão. Ainda que a vila tivesse algumas luzes acesas, agora só conseguia olhar para o céu. — Eu sinto… 

Ela sentia muito, mas de que isso adiantaria? Não adiantou no momento de sua morte, não adiantou ao final da guerra, não adianta, ainda, anos depois. Levou a mão esquerda aos lábios, inclinando-se para frente algumas vezes. Passava tão mal quanto podia todas as vezes que pensava nisso. Nos últimos tempos os enjôos tinham aumentado. Se culpava por estar passando por aquilo. Não era justo com ninguém. Queria ser de ferro. Quando o enjôo passou pelo menos um pouco, as lágrimas vieram com mais força. Soluçou, ainda que baixo, levando as mãos ao peito descompassado. Cambaleante, se encostou à parede mais próxima e sentou sem jeito, tentando fazer o coração se acalmar. 

— Eu te amo tanto – disse à ninguém. Ali, mais jogada ao canto do que sentada como uma Hyuuga, ela se permitiu sofrer por mais uma noite. Amanhã, talvez, seria melhor. Mas só por essa noite… 

Lembrou que depois de tantas dificuldades, ele depositou um pouco de confiança nela. Quando treinava tanto ao ponto de ferir seus olhos e não poder enxergar por alguns dias ele estava lá, cuidando para que tudo estivesse ao alcance das mãos pequenas. Ele estava lá, ainda que ela não pudesse vê-lo e que ele não falasse. 

— Obrigada, meu amor. Sempre. 

E para sempre. A brisa esfriou um pouco mais e ela abraçou o seu corpo. Estava sendo tão descuidada. As lágrimas foram cessando aos poucos, ao passo que ela era embalada pela calmaria do desabafo solitário. Queria que ele pudesse estar com ela, mas não naquele estado. Gostaria de ver seu sorriso raro pelo menos mais uma vez. Que egoísmo. 

— De todas as coisas que me ensinou, Neji… você não me ensinou a te esquecer. E com isso, a cada dia fica mais difícil viver sem você. 

Não deveria ser assim. Ela sabia. Mas também não conseguia imaginar um cenário em que ele fosse embora da mente dela por completo. Se isso acontecesse, se houvesse uma pergunta dos deuses sobre Neji ir ou não embora de sua mente, muito provavelmente ela imploraria. Por favor, fique. 

Levantou-se. Respirou fundo algumas vezes, olhando para o céu e pensando como o destino, por vezes, podia ser cruel. Andou novamente até o quarto e, antes mesmo que pudesse fechar a porta da varanda, viu os cabelos loiros desgrenhados da figura a sua 

frente. Boruto coçava os olhos com força com uma mão, carregando o cobertor com a outra. Hinata sorriu, secando um pouco mais o rosto e abaixando para falar com ele. 

— Oi – sussurrou. – Não consegue dormir? 

Ele negou com a cabeça. 

— Eu já dormi bastante… Sonhei com o tio Neji. 

— Sim? 

— Ele disse que é uma menina – disse, apontando para a barriga de Hinata com um certo divertimento. Ela franziu o cenho, confusa. 

— Eu não estou… 

Podia estar. Os enjôos. A dificuldade em dormir. O desconforto com o próprio corpo. O atraso. Seus olhos encheram de lágrimas novamente. 

— Ele pediu pra te lembrar que gosta muito de girassois. 

Ela riu um pouco. Neji tolo. Jamais esqueceria. 

— Então o nome dela será Himawari. 

“Obrigado, Hinata-sama”.