O Sangue do Mestiço escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 26
A memória da vingança


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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A natureza era testemunha de sua velocidade. Seus cabelos negros voavam enquanto ela corria com uma leveza impressionante. Não havia obstáculo capaz de pará-la. O cantar dos pássaros acompanhava os sons de suas largas passadas e de seu intenso respirar. Estava focada e nem sequer olhava para trás. E ali, tentando alcançá-la, estava Patwin Winslow.

— Eyanosa! — Ele gritou, mas não obteve resposta.

O homem estava encostado em uma das tantas árvores ali presentes e sentia-se castigado pelo cansaço. Havia corrido atrás da mulher por horas, ou ao menos era assim que sentia. No entanto, ela simplesmente não dava atenção aos seus chamados. O bosque parecia ter se tornado infinito e toda aquela repetição de verde já estava incomodando a vista do mestiço.

— O que você está fazendo? — Falava alto enquanto torcia para que a moça o ouvisse e finalmente parasse com aquela corrida sem sentido.

Vendo que nada do que disse fizera o menor efeito, voltou a correr. Seus pés doíam e suas pernas tremiam a cada passada. Mas, de vez em quando, conseguia vislumbrar toda aquela beleza que perseguia: a mulher de cabelos lisos, negros e longos, sua pele cor de canela e seu corpo de curvas belíssimas. Queria poder olhar mais uma vez para sua boca de traços finos e seus olhos levemente puxados, mas não havia tido essa oportunidade.

— Pare, Eyanosa! — Gritou de maneira grave, como se ela fosse dar ouvidos às ordens de qualquer um. “Eu não sou qualquer um”, ele pensou com esperança, mas viu que, mais uma vez, sua tentativa resultara em absolutamente nada.

“Chega”, refletiu enquanto desacelerava. Viu os traços da nativa sumirem em meio as árvores e sombras. O mestiço sentou-se e sentiu seus músculos se enrijecerem de dor. Respirou fundo e olhou cautelosamente para o ambiente ao seu redor. Enxergou pequenos animais, mais árvores e o céu acinzentado de uma tarde nublada. “Nada fora do comum”, acreditou. Foi então que, pela primeira vez, resolveu encarar a si mesmo.

— Mas como... — disse com espanto, de maneira que nem mesmo chegou a concluir o que pensara em falar.

Trajava peles de animais e tinha boa parte de seu corpo descoberto. Essa parcela desnuda, no entanto, estava preenchida por pinturas e marcas na cor azul. “Secotan” foi a palavra que surgiu em sua mente. Estava mais uma vez usando as vestimentas tradicionais de um deles. Tendo consciência disso, sua memória voltou a ser reestabelecida. E então viu que não deveria estar ali. Tateou seu peito e sentiu a cicatriz que obtivera após levar um tiro de Muralha.

— Malditos — disse em voz alta enquanto um ódio intenso voltou a permear sua alma. — Eu sei o que devo fazer.

E então finalmente ouviu o chamado de Eyanosa.

— Patwin! Rápido! — A voz da mulher não estava tão distante, mas vinha com tanta força que fez Patwin rapidamente se levantar.

O mestiço correu seguindo a direção do som e logo se deparou com uma imagem inesperada: Muralha jazia sem vida sobre o chão. Folhas secas voavam para o oeste enquanto o homem estava encharcado de sangue e uma expressão de pura dor era perceptível em seu rosto. Ao seu lado, um atormentado Edward Muller se fazia ajoelhado, enquanto Eyanosa apontava uma flecha para sua cabeça.

— Aí está, Patwin — ela dizia com um sorriso no olhar. — Justiça!

A princípio, Pat se assustou com a cena. Não era algo que ele acreditasse que aconteceria, ao menos não daquela forma. No entanto, algo em seu âmago o fazia sentir alegria por aquilo estar acontecendo. Sim, Roanoke se livraria dos seus demônios.

— Como você... — ele começou a falar, mas logo foi interrompido.

— Isso importa? — Eyanosa se adiantou. — Eles estão aqui bem diante dos seus olhos. O grandão já foi. Mas e o chefe? O que fará com ele, Patwin?

O mestiço sentiu sua boca secar. Notou que havia um revólver a frente do demônio de Roanoke. O homem chorava de uma maneira que Pat não acreditava ser possível. O mestiço se aproximou, segurou a arma e sentiu o metal gelado do armamento negro. Um frio atravessou sua espinha, mas ele manteve a compostura.

— Faça! Atire! — Edward Muller suplicava. — Acabe logo com isso!

Encarando Eyanosa, Patwin viu que a moça dava um largo sorriso de satisfação. Ele, no entanto, tremia com a arma na mão. Atirar seria o correto? “Eu prometi acabar com isso, mas não parece certo”, uma voz em sua cabeça dizia.

— Faça! — Muller repetiu. — O que mais eu tenho a perder?! Acabe logo com isso!

— Vamos, Patwin — a nativa falou com certa impaciência. — Ele não pensaria duas vezes se pudesse colocar uma bala em nossas cabeças.

“Não, ele definitivamente não pensaria”, Pat concluiu. Assassinar alguém poderia ser uma mancha na alma, mas Edward Muller era um câncer para toda a ilha. Valeria o custo.

— Faça! — Edward gritou uma última vez.

Encostando o cano da arma na testa do homem, Patwin Winslow respirou fundo, destravou o revólver e hesitou. “Devo?”, pensou uma última vez. Vendo o olhar reprovador de Eyanosa, finalmente tomou a decisão definitiva e puxou o gatilho. Com um buraco ensanguentado no meio da testa, Edward Muller caiu no chão sem nenhum resquício de vida.

Sangue havia espirrado no mestiço e uma sensação estranha invadia seu corpo. Jogou a arma no chão e pensou em sair dali, querendo simplesmente se livrar da visão daqueles corpos. No entanto, foi puxado por Eyanosa que, aproximando sua boca da dele, disse:

— Você fez certo, amor — sua voz agora era suave, tranquila e amorosa. — Você nos salvou.

Não resistindo, o jornalista beijou a nativa intensamente e pôde sentir o sabor de seus lábios e o calor de todo seu corpo. Era uma sensação única, um verdadeiro conforto para a alma. Seus músculos ainda estavam doloridos, mas passou a sentir uma disposição fantástica. Que saudade ele tinha daquilo! E foi assim que despertou.

Encarando o teto do dormitório, Patwin riu de maneira irônica. Havia sonhado com um assassinato enquanto dormia dentro de uma igreja. Isso não parecia certo. “Eu estou ficando louco. Nada disso era para ter acontecido com a minha vida”, refletiu. Sim, as últimas semanas estavam sendo, no mínimo, intensas. Além disso, o pedido de Margaret Olsen não havia sido nada fácil de digerir.

Ele tentou enxergar os seus amigos que dormiam ao lado, mas a escuridão tomava conta de todo o ambiente. Era noite, talvez madrugada, e Pat sabia que David e Marcus estavam dormindo. A dupla aguardava ansiosamente a chegada dos escritos de John Dee, enquanto o mestiço esperava por sua recuperação. Já fazia alguns dias desde que Margaret o ajudara e, pela primeira vez, o homem sentia-se suficientemente bem. Levantou-se da cama e, enquanto caminhava, lembrou-se que havia algo embaixo de onde dormia. Retornou e pegou a bolsa que a mãe de Richard Olsen deixara para trás. “Um revólver e uma chave”, as imagens surgiram em sua mente.

Caminhando para a nave principal da igreja, Patwin encarou o Cristo crucificado. “O perdão não vai salvar a ilha, desculpa”, pensou com algum remorso. Finalmente abriu a bolsa e examinou o revólver. Estava travado e com seis balas no tambor. Apesar de não ser um atirador nato, o jornalista sabia alguma coisa daquilo. “Vai servir”, uma voz disse dentro de si. Olhou ainda a chave que serviria para abrir a porta dos fundos da mansão do demônio de Roanoke. Estava em bom estado e com certeza cumpriria seu papel. Estando a um passo da saída da igreja, Patwin Winslow abriu a porta com determinação: chegara o dia em que Edward Muller e Muralha encontrariam a morte que tanto semeavam.

Do lado de fora, a única luz que rompia a escuridão da madrugada era a lua cheia que se apresentava no céu. Até mesmo as estrelas pareciam temer aquele dia, e o mestiço conferia várias vezes o revólver em seu bolso. Apesar da baixa temperatura, ele suava e sentia como se uma onda de calor fosse expelida de seu corpo a todo instante. Talvez fosse apenas o inferno dentro de si aquecendo os caldeirões e preparando-se para algum ritual. “Eu consigo”, repetiu mentalmente incontáveis vezes até finalmente conseguir caminhar em direção de seu destino.

Andando mais lentamente que o normal, Patwin imaginava como abordaria toda aquela situação. “Entrarei em silêncio, acharei o seu quarto e darei um tiro em seu coração enquanto dorme. Sim, não posso dar chance para Edward Muller reagir”, pensava com dificuldade. A cada plano, mil empecilhos surgiam. “Não, não vai dar certo. Muralha deve estar dormindo na mansão. Ele vai acordar com o som do tiro e irá me pegar desprevenido. Talvez eu deva matá-lo primeiro, mas aí quem vai acordar é o Edward. De toda forma, o homem está com uma perna a menos, então não deve ser grande problema”.

Parando no meio da vila deserta, o jornalista sacou a arma e começou a apontá-la para baixo, como se ensaiasse os movimentos que faria.

— Eu consigo — sussurrou enquanto encarava o vazio. — Só puxar o gatilho. Bem mais fácil que manejar o arco.

Então, assustou-se com a imagem que invadiu sua mente: Joseph desarmado no chão. Era a exata imagem que ele vira no dia da batalha, quando teve a oportunidade de matar o capanga de Edward Muller. “E eu falhei”, lembrou-se com vergonha, ao mesmo tempo em que a imagem do homem se esmaecia. Guardando a arma, Patwin respirou fundo e voltou a caminhar. Não, não poderia deixar que erros passados impedissem que ele cumprisse o seu dever. Não era vingança, mas uma forma de pôr um fim a toda aquela loucura, ou ao menos era assim que enxergava.

— Você tem certeza disso? — Uma voz grave cheia de calmaria ecoou pela cabeça do mestiço. — Acha que valerá a pena?

O jornalista estranhou e sentiu um calafrio atravessar seu corpo. Aquela voz não era desconhecida, mas também não havia saído da boca de nenhum homem. Na verdade, parecia mais um fruto da sua cabeça, como em tantas outras oportunidades.

— Pai? — Pat lembrou-se. — Atormentando-me de novo?

— Não preciso fazer isso, filho — a imagem do homem apareceu a sua frente quase que palpável. — Você é capaz de criar seus próprios tormentos. Da mesma forma, também é capaz de enfrentá-los.

— E é exatamente isso que farei! — O mestiço falou com raiva e ergueu a arma, balançando o objeto. — Vou enfrentá-los!

— Não, Patwin. Não foi isso que te ensinei.

— Ensinou? Você que me trouxe aqui antes de mais nada! — Cheio de fúria, tudo que o jornalista desejava era se livrar daquela imagem que o perseguia há tanto tempo. — Eu não me importava com essas coisas. De onde eu, você ou o avô viemos? Que besteira. Essas pinturas, armas, cantorias? Tanto faz. Eu nunca me importei. Estou aqui por sua culpa!

— E agora se importa? — O seu pai mantinha toda a calma do mundo.

Diante daquela pergunta, Patwin se manteve em silêncio. Apesar de sentir uma intensa raiva naquele momento, não havia como contradizer o falecido. Sim, o mestiço se importava. Talvez o seu sangue valesse de algo, afinal. Talvez fosse bom ter uma história, ao invés de ser só mais um peão no tabuleiro da vida. “Talvez”, refletiu sem chegar a uma conclusão real.

— Eu pedi, meu filho — o pai começou a falar. — Apenas pedi, não ordenei. O mundo também lhe pede todo tipo de coisa. Mas a escolha é sua e apenas sua. Se você escolheu vir para cá, é porque de alguma forma você se importava com sua história, com o passado do seu sangue. Quer dizer, você se importou com o desejo de um velho no leito de morte, eu. Não somos diferentes nisso, eu apenas me importava de uma maneira mais profunda. E eu sou grato por tudo que você tem feito.

— Tudo? — Pat questionou com agressividade. — Eu fui preso e torturado. Tive que fugir e viver longe de tudo que conheço. Fui atacado, vi pessoas queridas morrerem e ainda levei um tiro. Eu não me orgulho de nada que aconteceu aqui e espero esquecer de cada segundo que passei neste inferno.

— Esquecer cada segundo? Tem certeza?

E então Patwin lembrou-se dos momentos com Eyanosa, Adaky e outras pessoas queridas. Fora um curto espaço de tempo, mas o suficiente para criar raízes, ainda mais devido a intensidade de como tudo aconteceu. Deixando uma lágrima cair, o mestiço disse:

— Hoje será o último ato dessa história, pai.

— Não precisa acabar assim — o velho sem vida disse com preocupação. — Não tome agora uma decisão a qual você queira esquecer logo em seguida.

— Boa sugestão, pai — o jornalista respirou fundo e verificou mais uma vez a seu revólver. — Mas hoje sou eu quem tomará as decisões.

Dito aquilo, o mestiço viu a imagem e voz de seu pai desaparecerem lentamente. Enxugando a lágrima que havia deixado escapar, Patwin deu mais alguns largos passos até encontrar a porta dos fundos da mansão. Encarando a estrutura, ele fez uma pequena prece. “Estou prestes a entrar no inferno. Que eu saia sem me queimar”, pensou com um misto de sarcasmo e pesar.

A chave encaixou-se com alguma dificuldade na fechadura envelhecida, mas após o giro, a porta foi finalmente aberta. A madeira velha rangeu e o mestiço logo sacou a arma, pois temia que pudesse ter despertado alguém. Dando o primeiro passo dentro daquele lar amaldiçoado, fechou a porta com delicadeza e virou-se para tentar enxergar o ambiente onde se encontrava. Apesar da escuridão, as janelas permitiam que alguma luz lunar entrasse e, dessa forma, os olhos do homem começaram a se adaptar aos poucos.

Logo enxergou o que parecia ser uma mesa, uma pia e várias cadeiras espalhadas. A cada passo que dava, Patwin ouvia os pequenos ruídos gerados pela madeira sob os seus pés. Ele sabia que não era um som tão intenso, mas que certamente chamava a atenção no meio do silêncio da madrugada. Ainda que caminhasse com cautela, acabou batendo seu joelho em um banquinho que se escondia nas sombras. Sentindo uma dor aguda, ele mordeu os lábios para não gritar e segurou o objeto, evitando assim uma queda e um ruído ainda maior.

Continuou sua exploração e, atravessando a cozinha, chegou ao que aparentava ser a sala principal. Uma larga mesa se estendia pelo lugar, ao mesmo tempo em que uma poltrona e uma lareira tornavam o ambiente mais luxuoso. “O diabo morando no paraíso”, o mestiço pensou com desprezo. Viu ainda que o lugar contava com escadas e sabia bem que elas provavelmente dariam nos quartos. “Muller deve estar aí em cima”, concluiu. Ainda assim, optou por investigar um pouco mais do que havia no térreo.

Caminhando mais alguns metros, deu de encontro com algo interessante. Na parede, um quadro jazia pendurado. Por sorte, ele se fazia relativamente bem iluminado graças as aberturas da janela e a possibilidade de entrada da luz refletida pela grande lua. Chegando mais perto daquela obra de arte, Patwin pôde identificar cada um dos personagens presentes. “Edward, a esposa dele e...”, parou por um momento e lembrou-se de seu primeiro dia na ilha. Sim, o dia e o momento em que tudo começou a desandar. “Jessica Muller!”, o nome saltou em sua mente.

E então seu tour pela mansão também desandou. Ainda encarando o quadro, o mestiço vislumbrou uma sombra impedir a visualização de parte daquela obra. Arrepiando-se por inteiro, virou-se e encarou um de seus grandes medos: Muralha. O gigante havia despertado e se mostrava um tanto quanto disposto para acabar mais uma vez com o jornalista.

— O que você faz aqui? — Questionou com um tom de voz ameaçador.

Dominado pelo medo, a única resposta que o mestiço deu foi apontar a arma para seu algoz e puxar o gatilho. Mas nada aconteceu. “Travada?! Como pude esque...”, ele nem teve tempo de concluir seu pensamento, pois Muralha avançou com tremenda ferocidade. O gigante tentou acertá-lo com seu enorme punho, mas Patwin desviou com agilidade. O impacto sobre o quadro causou barulho e ainda derrubou a obra.

O jornalista saiu arrastando-se pelo lado esquerdo de seu algoz, ao mesmo tempo em que tentava com todas as forças destravar o revólver. Aquela deveria ser uma tarefa fácil, mas suas mãos estavam suadas e tremiam de maneira completamente descontrolada. Desesperado, acabou deixando a arma cair no chão.

— Está com medo, mestiço? — Muralha provocou, ao mesmo tempo em que caminhava em direção de seu rival. — Vamos, lute como homem.

Entre eles, tudo que havia era uma pequena mesa de vidro. A alguns metros de Patwin, o revólver jazia sobre o chão. No entanto, não seria difícil para o gigante interceptá-lo enquanto ele corresse em direção do armamento. O mestiço olhou para o outro lado e tudo que viu foi a escuridão. Não conhecia a casa, não sabia se havia alguma outra saída ou salvação. “Isso vai ter que dar certo”, pensou movido muito mais pelo medo do que pela fé. E partiu em disparada em direção de sua arma.

Como previsto, Muralha não teve dificuldade alguma para interceptar o homem medroso. Ele ergueu o mestiço com uma grande facilidade e o arremessou contra a mesinha de vidro. Cacos e sangue se espalharam, enquanto o jornalista sentia sua cabeça girar.

— Eu poderia acabar com você agora — o gigante dizia jocosamente enquanto se aproximava. Observava o corpo de Patwin Winslow no chão sobre os incontáveis cacos de vidro. O homem aparentava estar desacordado. — Mas eu acho que Muller gostará de dar uma olhadinha antes.

E surpreendendo seu algoz, o mestiço saltou segurando uma afiada lasca do vidro partido. Com um rápido movimento do braço, tentou acertar o peito de Muralha, mas o homem foi ágil e pôs as mãos a frente. Dessa maneira, a ponta afiada do objeto acabou penetrando e cortando o dedo maior da mão esquerda do barbudo. Urrando de dor, Muralha afastou-se enquanto segurava sua mão encharcada de sangue.

Aproveitando a oportunidade, Patwin correu rumo à escuridão, perdendo-se dos olhos do gigante.

— Você está morto! — O homem gritou com verdadeiro ódio em sua voz, ainda que uma grande parcela de dor fosse perceptível em seu tom. — Não há como fugir.

Infelizmente para o jornalista, o seu algoz não estava errado. A frente do mestiço, tudo que ele conseguia enxergar era uma porta de madeira aberta. Adentrando, logo viu que o local de tratava de um pequeno quarto. “O quarto desse demônio”, concluiu. Passou a ouvir os pesados passos do homem gigante. “Preciso ser rápido, deve ter algo aqui”, Pat pensou logo após fechar e trancar a porta. Buscou por uma janela, e ela até existia, mas infelizmente era pequena demais para um homem passar por ela. Passou a colocar seus olhos no armário que lá havia, abriu suas portas e começou a buscar por qualquer coisa que pudesse servir como arma.

O mestiço encontrou de tudo no armário: roupas, joias e até mesmo jornais velhos de cidades do continente. Arremessou quase tudo no chão na esperança de encontrar uma arma oculta. E então passou a ouvir batidas na porta.

— Abra! — Muralha esbravejava do outro lado. — Você não vai querer que eu derrube isso!

“Finalmente!”, Patwin pensou com euforia quando encontrou algo útil para a situação: um facão. Parecia enferrujado e tinha marcas de sangue seco. “Tem que servir”. Posicionando-se a frente da porta, encarou a madeira tremer intensamente a cada batida de Muralha. O mestiço também tremia, mas parou por um instante para respirar e encheu os pulmões de coragem. Não havia espaço para hesitação naquele momento.

E então, com um estrondo, o trinco da porta se rompeu e ela foi aberta com brutalidade. Sem pensar duas vezes, o jornalista avançou para cima do gigante com o facão em mãos, balançando a arma e tentando atingir o seu algoz de todas as formas. Muralha, que já estava cheio de raiva e impaciência, não teve dificuldade para segurar o braço de Patwin e, apertando-o com força, fazê-lo largar aquela arma branca.

— Eu não tenho medo da dor, seu verme — disse com ódio enquanto sua outra mão tremia com um dedo quase que totalmente arrancado.

Pat até que tentou revidar com a mão livre, mas não adiantou: estava sob o controle de seu inimigo. Daquela forma, Muralha levantou o homem e o arremessou contra o chão. O jornalista se contorceu por inteiro e sentiu uma grande dor com o impacto.

— Eu estou só começando — o demônio disse enquanto erguia a cabeça do mestiço.

Segurando-o com a mão debilitada, começou a socá-lo no rosto com seu punho que estava inteiro. A cada impacto, Patwin sentia estar mais distante da consciência. Podia sentir o sangue escorrer pelo seu rosto ao mesmo tempo em que a escuridão tomava conta de sua visão. Por último, escutou passos. Edward Muller havia chegado.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado por ter lido até aqui! O que achou do capítulo e o que acha que será da história daqui para frente?

Semana que vem tem mais. Forte abraço :)



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