Abri a porta da biblioteca de Austen e o sininho tintilou.

— Lily? - ouvi uma voz gritar do fundo. - É você?

James sorriu.

— Sim, Sr. Slughorn! - gritei

Um homem baixo, que em muitas formas se assemelhava a uma tartaruga, saiu de trás de uma prateleira atulhada de livros. Ele usava um casaco verde musgo e óculos que faziam seus olhos maiores, por causa da espessura da lente.

— É sempre você. - ele comentou

— Felizmente e infelizmente. - sorri

O Sr. Slughorn assentiu.

— Eu trouxe…

— O Sr. Potter. - disse o senhor - Todos sabem quem ele é.

James tirou o chapéu e acenou com a cabeça.

— Muito prazer em conhecê-lo, Sr. Slughorn. - disse James

— James gosta de ler também. - murmurei

— Bom, já não era sem tempo de aparecer alguém nessa cidade para ser uma boa companhia para nossa Lily. - sorriu o Sr. Slughorn

— Ele não é uma boa companhia. - resmunguei

James deu uma gargalhada.

— Uma má companhia é melhor do que nenhuma companhia. - ele rebateu

— Essa é a frase mais equivocada que você já disse. - murmurei - E olha que você já disse várias.

O Sr. Slughorn deu uma risadinha calorosa.

— Vejo que os dois já se conhecem bem.

— Ela me persegue. - James disse rapidamente.

Assenti.

— Sou eu que vou na sua casa todos os dias? - sorri

Ele riu.

— Você deveria, é uma mansão! - James protestou

O Sr. Slughorn limpou a garganta com mais algumas risadas.

— Bom, eu vou voltar para a minha sala. Tenho centenas de livros que devem ser catalogados. Não é fácil ser um bibliotecário.

— O senhor precisa de alguma ajuda? - perguntou James antes que eu pudesse oferecer.

— Não, não. Bobagem. - disse ele - Vocês dois fiquem aqui e se divirtam com os livros. Qualquer problema, é só me chamar.

Sorri e assenti.

Slughorn se dirigiu para os fundos lentamente, fazendo jus à sua aparência de tartaruga. Ouvi a porta bater com força e James sorriu para mim.

— Então? - ele perguntou - Por que estamos aqui?

— O que você acha? - perguntei

— Honestamente? Eu achei que aqui dentro fosse estar cheio de fãs de Jane Eyre. - ele disse, com um sorriso presunçoso - Todas prontas para me matar.

— Não é uma má ideia. - sorri.

James riu.

— Eu sei que sua biblioteca em Darcy deve ser enorme, mas você sempre pode vir aqui. - murmurei - Está sempre vazia e Slughorn é um amor. De vez em quando, ele traz biscoitinhos.

— Alguma chance de te encontrar aqui? - ele perguntou, se apoiando em uma estante.

Dei de ombros.

— Se você der sorte… - respondi

— Vou cruzar os dedos. - ele disse

Revirei os olhos e sai pelo corredor de livros, ouvindo seus passos me seguirem.

— Qual é seu lugar de ler favorito aqui? - James perguntou

Me virei para ele e franzi as sobrancelhas.

— Vai me dizer que você não tem um lugar de ler favorito? - ele disse, já esboçando um sorriso irritante.

— Eu tenho. - protestei - Eu só não tenho certeza se eu quero te mostrar.

Ele continuou me encarando, com a testa franzida. Suspirei e segurei sua mão, puxando-o para o canto onde ficavam as melhores almofadas e os melhores livros.

— Eu sabia. - ele murmurou, se deitando junto às almofadas.

Dei uma risada e sentei ao seu lado, tomando cuidado para não acabar me sentando muito próxima dele.

— Essa é uma ótima biblioteca. - ele sussurrou

— É mesmo. - respondi, sorrindo.

— Quem te ensinou a ler? - ele me perguntou

— Minha tia.

— De Londres? - ele perguntou

Assenti.

— Tia Minerva.

— Você gosta muito dela, não gosta? - ele sorriu

— Gosto. - respondi sem pestanejar - Ela é a pessoa da minha família que mais me compreende, depois de Remus. Ela deixou Austen e nunca mais voltou.

— Austen não é tão ruim assim. - ele murmurou

Ri.

— Escuta… - ele começou - Eu sei que você encerrou o assunto da carta e de Londres.

Revirei os olhos.

— Esqueça isso, James. - sorri - Eu estou bem.

— Eu sei. - ele disse - Eu só estou tentando te entender.

Franzi o olhar.

— Me entender? - repeti

Ele assentiu.

— Por que você quer tanto ir para Londres?

Suspirei.

— Eu não sei. - murmurei - Eu sempre achei que em Londres eu encontraria pessoas mais parecidas comigo, que eu visitaria bibliotecas maiores. Talvez até seria um lugar onde eu conseguiria estudar alguma coisa, você consegue imaginar?

James sorriu.

— Consigo. - ele respondeu, sinceramente.

Dei uma risadinha.

— Mas eu acho que você está errada. - ele continuou

— O que? - perguntei, um pouco espantada com a franqueza.

Ele se sentou.

— Lily, as pessoas em Londres só ligam para elas mesmas. Eu sei que você se sente sozinha aqui em Austen, mas você não sabe o que as pessoas dizem sobre você.

— Que eu sou esquisita? Chata? - perguntei

— Não! - ele sorriu - Você sabe que não é nenhuma dessas coisas. Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci. Lá fora, as pessoas dizem que você é extraordinária, que é a Menina de Ouro de Austen. Olhe só para Slughorn, você acha que algum bibliotecário em Londres faria biscoitos para você?

Cruzei os braços.

— James, você acabou de se mudar para cá. - eu retruquei - Você não pode se mudar para um lugar e achar que sabe tudo sobre todo mundo dele. As pessoas me olham esquisito, muitas me tratam mal! Eu não me importo se elas me acham perfeita se elas não agem de acordo com isso.

— Eu só queria tentar fazer você entender que a felicidade não deveria ser algo que você acredita só estar em Londres! - ele exclamou - Você deveria dar uma chance a Austen.

— Eu vivo aqui há vinte anos! Eu devo esperar até ficar idosa para tentar correr atrás dos meu sonhos? - esbravejei - E por que você está falando sobre isso novamente? Eu te disse que não vou para Londres!

— E você está devastada! - ele disse - Parece que essa viagem era a única coisa que você queria!

— Você não sabe nada sobre o que eu quero! - gritei

— Hm, hm.— ouvimos alguém limpar a garganta.

Nos viramos rapidamente e Slughorn estava parado perto do corredor dos livros de receita.

— Me desculpem por interromper o que parecia uma discussão importante. - ele disse - Eu sei que vocês são as únicas pessoas que estão aqui, mas continua sendo uma biblioteca. Tenho que pedir para que vocês mantenham a voz mais baixa. Por questão de princípios.

James esboçou um pequeno sorriso.

— Você está certo. - ele disse - Eu sinto muito, Sr. Slughorn.

Slughorn deu de ombros e sorriu.

— Está tudo bem, meu rapaz.

Com seus passos que pareciam ainda mais lentos, ele voltou para sua sala. James suspirou ao meu lado e se levantou da pequena cama de almofadas.

— Eu deveria ir. - ele disse

Assenti.

— Provavelmente.

Ele deu de ombros.

— Me desculpe por ter me intrometido na sua vida. - ele disse

— James… - suspirei, mas ele já havia atravessado o salão e saído pela porta.

O sininho tintilou novamente e eu me senti mais sozinha do que nunca.