Daniel não imaginava que voltar a Califórnia despertaria nele uma paz interior, na verdade esteve ansioso por aquele momento desde que pousaram nos EUA. A viagem de carro não foi nada curta, com Gabriela e Edgar brigando por coisas idiotas a maior parte do caminho, mas estava feliz de não estar sozinho. 

Os bons momentos desse ultimo ano começaram a brotar em sua mente enquanto olhava para o inquieto mar. 

Existe um caminho enorme e degradante quando se caminha rumo a autodestruição e Daniel passou por todos, mesmo sem querer, mesmo percebendo que sua vida se desenrolava em pequenos fragmentos de lucidez e que nada do que queria para ele fazia sentido. Nada faz sentido, ele agora conseguia enxergar. Conseguia ver como foi um idiota, mas não se sentia arrependido de nada que tenha feito, pois foram justamente suas atitudes que o levaram ao estado de espírito que agora se encontrava.

Ele não sentia mais medo do futuro, não sentia-se tentado pela morte. Viveria intensamente e quando chegasse finalmente o momento do adeus e da perda, ele poderia compartilhar com seu irmão tudo que viu, ouviu e fez. Diego poderia viver através de seus olhos e lembranças, poderiam partilhar coisas e o mais importante de tudo: ficariam novamente juntos.

“Qual o sentido de estar vivo se você nem ao menos tenta fazer algo extraordinário?”. Esse pensamento imposto a ele deixou de ser seu carma, Daniel finalmente entendeu que a importância de estar vivo era participar das decisões, era escolher o melhor destino e cumprir seu papel no universo, mesmo que ele fosse terrivelmente mesquinho e te levasse aquilo que mais se ama, aquilo que te completa. O que o destino levou, ele mesmo traria de volta.

Ele finalmente pareceu perceber que tinha muito mais do que merecia e de certa forma sabia que seu irmão realmente estava bem, onde quer que estivesse, e que não o culpava.

Não conseguiu resistir a ideia de molhar os pés e ali observando o mar banhado pela escuridão trazida pela lua, Daniel teve a certeza de que não precisava correr de um lado para o outro em busca de lembranças, não precisava se punir para sentir a presença de Diego.

— O que está fazendo? – perguntou Gabriela se aproximando dele.

— Estou jogando as cinzas do Diego no mar. – respondeu baixinho, como se fosse um segredo.

— Eu não queria atrapalhar.

— Ele iria gostar de você! – disse movido por um impulso.

— Como sabe?!

— Por que você me faz feliz.

Daniel segurou a mão dela e beijo-a na testa.

— Parece que tudo vai ficar bem, afinal...

— Tripé está amando ter uma mamãe! – ele riu passando os dedos nos lábios de Gabriela. – E eu também estou amando ter você.

— Pensei que não iria falar! – Gabi resmungou.

— Eu te amo. – Ele a abraçou e começou a beija-la. Aos poucos, Gabriela tirou a blusa dele de depois a calça, ele tirou sua camisa e seu sutiã. – Por que parou?

— Quero gravar esse momento.

— Por quê? – ela riu.

— Para contar aos nossos filhos como você é linda e sexy!

— Acho que isso não é uma história para crianças...

— Nem pro Tripé?

— Não. – ela respondeu. Daniel sorriu e a agarrou novamente. Começaram a se amar ali mesmo, aproveitando o cenário pitoresco e o romance que estava no ar durante as novas descobertas.

— Gabi, me desculpa por ter te feito sofrer. – sussurrou.

Gabriela o olhou de forma incrédula. Durante as semanas que se passaram, desde que ele abriu os olhos e reviveu, ele não era mais o mesmo menino. Parecia mais responsável, menos agitado e um pouco romântico, mas até aquele momento, não tiveram tempo de estarem juntos sozinhos.

— Eu quero te fazer a pessoa mais feliz desse mundo.

— Eu já sou essa pessoa Dani... Eu tenho você.

— Sim, mas isso não significa muita coisa... Mas prometo que vou fazer o possível para estar a sua altura e compensar as vezes que te fiz chorar. Mas primeiro, você vai ter de me responder uma coisa... – Gabriela estava mais do que feliz, esperou tanto tempo que ele te pedisse realmente em namoro que não conseguia segurar a euforia. - Promete que nunca mais vai cozinhar para mim? – ele perguntou fazendo com que ela risse e entrasse no mar.

Mentalmente ele calculou o que deveria fazer, mas perdeu a batalha que travou consigo mesmo e deu lugar ao desejo que sentia por aquela garota estranha como ele, talvez um pouco mais normal, mas quem estava contando? Daniel a seguiu.

— Namora comigo? – perguntou sorrindo enquanto puxava-a para junto dele.

— Finalmente! Achei que nunca iria pedir! – respondeu sem nem mesmo parar para pensar.

Agora, Daniel estava livre para ser feliz, teria de reaprender a viver, tinha de se encontrar, mas que melhor ajuda podia ter do que estar nos braços da mulher que ama? Daniel já não se escondia atrás de joguinhos e mentiras para que os outros o aceitassem, ele estava feliz com o que tinha, mas ainda assim será uma longa jornada, mas ele já esta preparado para a batalha, mostrando que os vencedores são aqueles que não tem medo de dar o primeiro passo!