Tarja Preta escrita por Maya


Capítulo 33
Novamente, Adeus.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, desculpem-me pela demora! Estou atolada de coisas para fazer, mas irei recompensa-los. Devo dizer que meu coração se entristeceu ao escrever esse capítulo, mas espero que aproveitem a leitura.



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— Acho que dourado já saiu de tendência! – disse o Daniel olhando firme para Ana. Ele vem ajudando-a com os preparativos da cerimônia desde que Edgar anunciou o casamento. – Não acha verde cana uma solução?!

— Está brincando comigo?! – esbravejou Ana em pleno ataque de nervos, afinal, ela não conseguia se decidir entre o convite branco tradicional e branco gelo. – Qual você mais gosta?

— Desse! – ele apontou para o branco tradicional e ela acabou optando pelo branco gelo, fazendo o rapaz aprovar a escolha em silencio. - Então, qual é o plano para hoje?!

— Vou escolher meu vestido de noiva.

— Ótimo, programa para mulheres! – disse aliviado em ser dispensado pela tarde, não que tivesse alguma coisa interessante programada, mas as inconstâncias de Ana Carolina não melhoravam em nada seu humor.

— Na verdade queria sua opinião para escolher o vestido. Quero que o Edgar olhe apenas para mim!

— Case-se nua!

— Isso não tem graça! O meu Ed não é como vocês, homens que só conseguem pensar em sexo! Ele é romântico, paciente, compreensivo... – Daniel preferiu não perguntar se estavam se referindo a mesma pessoa, ele não queria acabar com a brincadeira de casinha dos dois.

Daniel sabia que esse casamento era uma péssima ideia, era só olhar para os dois para ver que eram como óleo e água. Ela escutava musicas gospel e sonhava com um príncipe encantado que nos dias atuais existiam apenas nos livros para meninas bestas, enquanto Edgar adorava filmes pornôs.

— Não dá azar ver o vestido de noiva antes do casamento?! – Daniel perguntou tentando fazê-la mudar de ideia.

— Só se for o noivo. – disse carrancuda.

— Por que não vamos escolher o cardápio da festa?!

— Por que marquei com o Edgar para semana que vem.

— Então ele fica com toda diversão?!

— Pode ir se quiser. Minha prima Stefanne está louca para te conhecer.

— Quando será o casamento mesmo?!

— Daqui a cinco meses... – “Tarde de mais”, ele não teria tempo para Stefanne nem para nenhuma outra garotinha. – Você está bem?! - “Não, mas vou ficar”, pensou.

— Se vou entrar na igreja com a Stefanne, com quem a Gabi vai entrar? – perguntou tentando mudar o rumo da conversa.

— Eu não sei. Para ser sincera, não a quero como uma de minhas madrinhas.

— Por quê?!

— Nada de mais. – mentiu ela. A verdade é que seu noivo passava mais tempo com a garota estranha do que com ela e sempre que estavam juntos começava a falar sobre as qualidades que somente eles pareciam ver em Gabriela. Mas mesmo assim foi obrigada a dar lugar a ela entre suas madrinhas. – Mas qual o motivo da pergunta?

— Será que posso ser o par dela? Sabe, ficamos ótimos juntos e não gosto de vê-la com caras errados.

— E você seria o cara certo?! – especulou ela.

— Bem, seriamos um bom casal, verdade, mas... – ele deixou que as palavras morressem. Ana sentiu-se estranha ao observá-lo, era como se o menino perdesse a sintonia ou pensasse demasiadamente em alguma resposta.

— Ah... – disse Ana por fim. Há dias que Daniel mudava de humor e personalidade sem nenhum motivo aparente e ela não queria presenciar uma crise de choro novamente.

— Ana, se importa se eu for para casa? – murmurou ele com as mãos suando e mais branco do que de costume.

— Bem, eu posso mandar as fotos dos vestidos para você... – ele assentiu dando de ombros.

— Boa sorte. – disse indo em direção a porta. – E não se preocupe com nada... Você ficará bem de qualquer jeito!

— Obrigada.

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Sentado no carpete do quarto, Daniel esperava ansioso o avanço das horas. À medida que Ana enviava fotos dela com diversos vestidos de noiva, ele ficava cada vez mais tentado a abandonar seus planos ou pelo menos adiá-los.

— Precisa ser hoje.  – uma voz interior dava-lhe instruções de como agir. Ele não queria discutir consigo mesmo, então exatamente às quatro horas, Daniel Vasconcelos soube que chegara à hora de morrer.

Viu em seus sonhos o que a sombra esperava dele e sabia o que precisava fazer para deixá-la feliz. Levantando-se lentamente checou mais uma vez os mantimentos de todos os seus bichinhos, guardou os livros e filmes que estavam fora do lugar e escovou os dentes.

Agindo conforme o planejado, Daniel pegou as cinco caixas de remédio para dormir que tinha estrategicamente. Resolveu engoli-los de um em um para poder se despedir de suas coisas. Esperou que o bom senso e o arrependimento chegassem a qualquer minuto, mas a medida que engolia os medicamentos, sentia-se mais decidido e destemido.

Imaginou como seria morrer, mas desistiu de especular o seu rápido futuro, e com um aperto no coração, beijou a cabeça de Tripé.

— Sentirei sua falta, amigo! – disse ao animal. – Mas estarei te esperando... E não tem importância, demore quanto tempo necessitar para chegar ao outro lado, eu não ligo de esperar.

Sem saber exatamente quando a overdose iria começar, ele deixou o quarto e andou até a dispensa vazia de sua casa. Carregou com muito esforço uma placa de cimento e levou para a borda da piscina. Pegou-se pensando demasiadamente nas coisas que ouviu sobre céu e inferno, e especulou se a vida depois da morte era mesmo real, se era instantânea ou se ele esperaria o julgamento divino dormindo docemente e quentinho com seu cobertor de terra.

“Não existe lugar no céu para suicidas!” lembrou-se de ter ouvido algo assim em algum lugar. Isso não o incomodava tanto, pois não havia lugar no céu para assassinos também. 

Sabendo que seu pai estava curiosamente “viajando” – como sempre fazia nessa data em especial - Daniel pôs-se a escrever alguns pensamentos soltos e destinados, deixando claro o motivo e seus sentimentos.

Imaginou o que iriam pensar quando achassem seu cadáver boiando na piscina, qual seria a conclusão do legista ao examinar seu corpo e de como seriam as reações das pessoas que lhe queriam bem. Provavelmente pensariam que ele era uma pessoa triste, amarga e depressiva. Mas não era esse o motivo de sua morte, longe disso, ele se considerava até certo ponto uma pessoa feliz e privilegiada.

A verdade é que não achava que ninguém em especial sentiria sua falta, e arrependeu-se por não ter feito nada de extraordinário para ser lembrando em filmes, livros e canções. Era um adolescente normal, com talentos específicos e com uma alma vazia, mas não triste. A solidão sempre fora sua companheira, mesmo quando estava rodeado de pessoas. Ele se sentia nu, desconfortável e estranho. Sentia-se incompleto.

Começou a sentir-se cada vez mais enjoado, já não era capaz de ver as coisas com clareza e concluiu que os remédios deveriam está fazendo efeito. E em meio às cólicas, começou a rir. Tinha imaginado que morreria dormindo por conta dos calmantes, mas sentia-se cada vez mais vivo.

Juntando a força que ainda lhe restava, jogou a placa de cimento na piscina e entrou na água logo depois. Sempre adorou o modo como a água parecia passear entre seus dedos e de como seu corpo se movia veloz.

Quando seu corpo não conseguiu mais se movimentar, mergulhou para o fundo, de encontro à corda que tinha amarrado ao bloco. Enganchou-a em seu pé direito e ali ficou.

Não durou muito tempo, pois perdeu a consciência segundos depois.


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