Tarja Preta escrita por Maya
— Eu quero saber o que você pretende com isso, mocinha! – berrou João. – Onde você pensa que vai com esse pedaço de pano?!
— Vou à praia. – respondeu Gabriela.
— Estou vendo seu útero! Suba e vista algo decente!
— Deixa de ser careta! – disparou a menina enquanto revirava os olhos.
— Ou troca de roupa ou não sai dessa casa! – disse o homem vermelho de raiva ao imaginar os pedófilos olhando para sua menininha inocente enquanto ela brincava na praia. – Não quero você andando quase nua com aqueles tarados!
— Não encha o saco da menina! – disse Ana que finalmente saiu da cozinha para apaziguar os ânimos.
— Mãe, me dá dinheiro? – pediu Gabriela.
— O que fez com sua mesada? – perguntou João.
— Gastei com camisinhas coloridas.
— Gabriela, não minta para seu pai! – resmungou Ana. A mulher tirou a carteira do bolso e entregou algumas notas para a filha.
— Obrigada, mãe. – Gabriela a beijou na bochecha e em seguida, virou para João. – Pai, me dá dinheiro?
— Sua mãe já te de deu. – murmurou ele.
— Para que você não fique com ciúmes.
— Que foi João? Agora que vai ter filhos novos não pode fazer mais nada pela sua filha? – perguntou Ana com raiva, fazendo o ex-marido praguejar e tirar da carteira cem reais e entregar a menina, que sorriu satisfeita.
— Papai te ama muito mais que essa bruxa! – disse o homem abraçando a filha. – Você não vai sair com aqueles seus amigos, não é? Não entenda mal, mas acho o Edgar muito burro e também não me agrada que saia acompanhada de um suicida!
— O Daniel só está passando por algumas dificuldades! – disparou Ana - A proposito, Gabi, eu preparei um pouco de purê de maçã para que você entregue a ele... – Gabriela não entedia como a mãe tinha mudado de opinião em relação ao rapaz, mas não quis perguntar, afinal no fundo estava feliz que Ana parasse de implicar com ele.
— Ela não vai levar nada! – disse João abrindo a vasilha que a mulher entregou a menina e enfiando tudo na boca, com a mão mesmo.
— Que horror! – disse Ana.
— Isso que é fome... – murmurou Gabriela rindo.
João não estava chateado com os amigos da filha, não achava verdadeiramente nenhum defeito na roupa de banho dela, mas tinha que extravasar a raiva que estava sentindo de alguma maneira. Mas tudo se resumia a uma única coisa: George.
— O que diabo está fazendo aqui? Eu estou te aturando há duas longas horas e tudo o que você faz é criticar a criação que dou a Gabriela! – estourou Ana tomando o purê da mão do ex marido.
— Critico mesmo! Não quero que minha filha siga seus exemplos! – berrou limpando as mãos na roupa.
— Melhor seria se fosse o seu?!
— Sim, eu não fico me esfregando em uma seresta com um homem que tem a idade para ser meu pai!
— O George é um amor... – ironizou Gabriela que estava adorando aquela gritaria. – Não precisa ter ciúmes! E além do mais, você parece ser avô da Lúcia, então deixa de ser hipócrita!
— Ciúmes? Hipócrita? – perguntou ele serrando os punhos. – Está vendo como ela fala comigo, Ana?!
— A Gabriela tem razão. – a mulher respondeu cruzando os braços. - Se se preocupa tanto com sua garotinha, porque está atrasado com a pensão três meses? Porque dá apenas uma miséria de pensão?
— Estou passando por dificuldades financeiras...
— Mentiroso! – berrou Ana. – Sua mulher prostituta comprou o enxoval das pestes nas lojas mais caras... A Sandra me contou!
— Por isso! Sabe quanto custa sustentar uma família?
— Eu não sei quanto custa sustentar vadias... Mas a Gabriela também é de sua família!
— Pessoas, a conversa está muito boa, mas eu tenho que ir... – disse Gabriela quando a campainha soou.
— Com essas roupas?!
— Sem pensão, sem palpite. – disse Ana. – Divirta-se minha filha.
— Quando ela aparecer gravida de um delinquente não diga que não avisei!
—---------------------
— Casar? – perguntou Gabriela a Edgar que estava encolhido no chão de seu quarto.
— É a Ana... – disse ele cabisbaixo. – Ela não quer fazer sexo antes do casamento... E eu estou subindo pelas paredes!
— E vai casar por isso?!
— Sim, quer motivo melhor?!
— E o amor? A condição financeira? A maturidade?
— Eu amo aquele pimentão recheado, meu pai colocou dinheiro em minha poupança, e sou maduro o suficiente para decidir o que fazer!
— E onde vão morar?!
— Edson me deu um apartamento aqui perto.
— Seu pai... O que deu nele?
— Eu vou sair de casa... – respondeu o menino, e isso bastou para que ela entendesse.
— E o que você vai fazer?
— Nada. Os pais da noiva estão preparando tudo, graças a Deus. E a lua de mel vai ser em Londres.
— Nossa!
— Presente do Dani. Ele sente sua falta, sabia? – isso pegou a menina de surpresa.
— E eu com isso?
— Certo, finja que é uma bruxa sem coração!
— Vai à merda! – disparou. – E por que está agachado no chão?!
— Esse é o meu cantinho do pensamento! – suspirou ele – É aqui que tenho as melhores ideias...
— Acho melhor arranjar outro lugar. Esse deve tá com defeito!
— Não! Não insista! Eu vou me casar e ponto final!
— Por mim você se joga até de uma ponte! No que está tentando pensar?
— Em como vou fazer a minha despedida de solteiro. – respondeu dando de ombros.
Edney estava incrivelmente entusiasmado. Seu irmão mais velho finalmente sairia de casa com a coitada Ana Carolina. O adolescente só conseguia pensar que teria a casa só para ele, a comida iria sobrar e teria um quarto maior.
— Parece feliz... – observou Daniel entrando pela janela. – O que aconteceu?!
— O Edgar vai se casar! – respondeu Edney. – E você entrou pela janela errada outra vez.
— Sempre achei que eu seria o primeiro...
— A casar? – Daniel respondeu que sim com a cabeça. – E o que te impede?
— Não consigo achar uma garota interessante. – respondeu dando de ombros, sabendo que nunca poderia realizar o seu sonho. – Tenho uma noticia para você. Mostrei suas fotos a Diana, e ela me garantiu que ia encontrar algo para você...
— Serio? Cara, eu te amo! – berrou ele, abraçando o menino.
— Não encoste em mim, acabei de tomar banho! – murmurou Daniel sorrindo.
—---------------------
— Então, o que achou do lugar?! – perguntou Daniel entrando no quarto de Edgar antes de dar de cara com Gabi.
— Eu adorei! – respondeu Edgar. – Mas a Ana não gostou. – Ed estava chateado, mas mesmo assim levantou do cantinho do pensamento para dar um abraço em seu melhor amigo e padrinho. – Ela quase termina tudo comigo! Ao que parece, ela não quer um casamento na roça.
— Casamento na roça? De quem foi essa ideia estupida? – perguntou Gabriela fazendo Daniel se encolher.
— Achei que seria uma boa ideia... – resmungou o rapaz.
— Foi uma ótima ideia! – consolou Edgar – As mulheres que não tem senso de humor.
— Ou excesso! – disse Gabriela – Onde já se viu querer dar a mulher amada um casamento na roça?!
— É romântico! – disse Daniel – As pessoas dançando em volta da fogueira, comendo paçoca e dançando em frente as estrelas... – Daniel suspirou. – Sua noiva não tem coração!
— Infelizmente não escolhemos a quem amar! – disse Edgar murmurando como um velho.
— Deixem de falar tanta besteira! – gritou Gabriela.
— Não é besteira! – começou Daniel achando aquela aproximação desnecessariamente dolorosa.
— Então é o que? – perguntou ela de forma grossa.
— Nada. – disse ele se aproximando da janela com grades.
Deixou de analisar o rosto de Gabriela, se concentrando nas cenas que estralavam na pequena janela. Muitas pessoas passavam por aquela rua, pessoas que aparentavam ser felizes, e pessoas que assim como ele, não conseguiam sorrir verdadeiramente por muito tempo.
Ele sabia que tudo teria um fim, o fim certo, mas antes precisava garantir a felicidade das pessoas que amava. Ao Edgar, nada mais justo do que ajuda-lo nesse inicio de vida de casal, mas na verdade, ele precisava saber que alguém cuidaria daquela ostra vazia, mesmo que esse alguém não fosse ele.
— Acho melhor eu ir embora. – disse por fim indo em direção a porta, sem olhar para os amigos nem uma única vez.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!