Um tal Cavaleiro escrita por Sabonete


Capítulo 7
Maldito Jhon Lander


Notas iniciais do capítulo

Cara, esse cara é um babaca. Só tenho isso a dizer. Vocês podem tirar suas conclusões sobre o babaca lendo esse conto.

Mas na dúvida, corram daqueles que carregam cajados, falam bonito e usam chapéus pontudos.



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Percorríamos um caminho por entre árvores. Estávamos cavalgando a algumas horas e o cansaço começava a dar as caras. A armadura pesada, o escudo, o movimento que o corpo faz em cima da cela, tudo estava se somando.

Eles conversavam, tentando se entreter enquanto seguem o líder: eu.

Minha tenente, Phravra, cavalga ao meu lado. Atenta, ela repara em cada movimento suspeito. Estamos em uma floresta pouco conhecida, apesar de mapeada. É um ponto ideal para uma emboscada. E ninguém gosta de emboscadas, não é?

Ela, às vezes, comentava sobre a geografia do caminho; muitas árvores, uma mata fechada, ribanceiras feitas de rochas, um lugar perigoso. Enquanto eu ouvia tudo sem dar uma palavra. Estava preocupado com a missão, e ela compreendia isso, era os meus olhos, para dar o mínimo de paz para planejar uma forma de não termos nossas caras comidas.

Os anos sob o comando de Jhon Lander não foram suficientes para isso. Mas para moldar minha face "vai ficar tudo bem", sim. Nenhum dos meus homens ali notou algo, acreditavam que a missão tinha tudo para dar certo. Quando na verdade ela tinha tudo para dar errado.

Eles pensavam que eu tinha um plano. Até aquele momento, meu plano era muito simples, entrar no covil Trusgo e não morrer.

Aos poucos a paisagem que nos cercava mudava; cada vez mais rochas, cada vez menos mato. O bosque dava espaço para uma região montanhosa. E naquele momento notei que gradativamente havíamos subido para as montanhas.

Território Trusgo.

Phravra eleva sua mão, o gesto para uma parada. Ela avistou alguma coisa, mas eu não conseguia visualizar. Não precisei, o som das trombetas de guerra dos selvagens alertou a todos.

"Saquem as armas"— Gritamos Pharvra e eu ao mesmo tempo. Saquei minha espada, e ela fez o mesmo. Todos fizeram.

Quando vi o primeiro, pude perceber a extensão de nossos problemas. Estávamos cercados. Eram dezenas, se revelando um a um, com lanças e arcos em mãos. Apertei o cabo de minha espada com força, meus olhos se focaram em um deles em especial; ele havia comido a cara do meu tenente. Ex tenente. Era o chefe da tribo, o mais brutal, mais forte e perigoso de todos.

Seus olhos amarelos cruzaram como os meus.

Rosnou algo em sua língua. Sabia o que ele faria, porque eu faria o mesmo. Mas não foi nisso que pensei naquele momento. Não, tudo o que vinha a minha mente era: Jhon Lander, seu babaca.

Lanças, flechas, rochas, dardos, até mesmo um cavalo foi arremessado contra nós. Éramos presas fáceis. Numa posição ruim, graças a um plano ruim.

Ou... minha culpa?

Cotas da malha não foram feitas para evitar armas perfurantes. A primeira flecha atingiu meu ombro de raspão, mas meu cavalo não teve tanta sorte. Estrebuchou, e suas pernas cederam. Pude ver Pharvra saltando de cima de seu animal, enquanto buscava se esconder nas rochas logo ao lado. Eu era arremessado e, naqueles segundos entre a queda e o impacto no chão, vi meus homens sendo atingidos por tudo o que era lançado em nós.

Eu apaguei. Não pela queda, mas por uma pedra que me acertou em cheio na cabeça.

Um zumbido fraco surgiu, e meus ouvidos doeram como nunca antes. Olhei para o teto, quando meus olhos se abriram finalmente. Tudo estava embaçado, mas havia um teto. Perguntava-me onde estava, as feridas doloridas, deixaram bem claro que aquilo não foi um sonho.

Maldito Jhon Lander.

"Ei ei ei, vai com calma ai grandão"— A voz fina me capturou. Busquei com os olhos a quem pertencia, mas não podia vê-lo.

"Oras, eu sou pequeno, não devias zombar de mim!"— O humor saltou-me os ouvidos. Me esforcei, e olhei para baixo, ao lado da cama. Um pequeno ser me olhava, vestindo um robe claro. Ele tinha menos de um metro.

Pequenos seres da floresta eram comuns nos mitos, nas histórias que minha avó contava. Sorridentes, bem humorados, conhecedores dos segredos da natureza. E, acima de tudo, feiticeiros.

Perguntei se ele havia me enfeitiçado com a voz trêmula. Eu me borrava de medo de magia. Preferia mil vezes lutar contra os Trusgos do que enfrentar aquela força, sobrenatural, demoníaca, de outra dimensão, que podia transformar minha espada em serpentes.

O pequeno ser riu. Riu de gargalhar. Já estava apavorado, mas meu corpo não se movia só doía. Senti as lágrimas escorrendo por meus olhos. Meu fim seria pior do que ter a cara comida por um selvagem. Pior do que morrer por culpa daquele babaca.

Maldita magia.

"Capitão"— A voz acompanhou uma porta abrindo. Era forte, imponente. A voz de um líder nato. Meus olhos focaram Pharvra, toda enfaixada, mas com um sorriso aliviado no rosto.

O pequeno ser diz para não me preocupar. Apesar da magia, ele estava ali cuidando de mim. Nos salvou, segundo sua história, no momento em que o cavalo arremessado tocou o chão, parte dele em cima de mim, parte dele em cima de alguns de meus soldados, ele e seus amigos apareceram.

Fomos salvos, poucos de nós, infelizmente. A maioria daqueles bons homens caiu antes que os pequenos seres pudessem resgata-los.

A feitiçaria me salvou e eu não pude acreditar. Seria eu, agora, um refém das sórdidas linhas mágicas? Concordava com tudo o que ouvia, mas tudo o que minha cabeça conseguia produzir era: eu sou um zumbi agora?

Mas no fundo, lá no fundo, oculto por esse medo irracional, o peso daquelas vidas enegrecia meu coração.


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Notas finais do capítulo

A boa notícia é que ando bem animado para continuar. A má é que acabou o estoque de histórias, ou seja, não tenho mais nada pronto.

Não sei o que isso quer dizer, mas continuarei escrevendo. Se alguém lê, espero que goste!

Até o próximo!



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