Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 76
76 - Meck




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Meu pior pesadelo não era ser pego montado; até porque isso não é problema, já me montei para apresentar um teatro e, na real, não é algo que traz toda aquela sensação prazerosa que pensei que traria.

Poderia dizer que meu maior pesadelo seria descobrir que minha fé não pôde me salvar. Servir a Deus por tanto tempo para perder a única chance de morar com ele para sempre é o primeiro item da minha lista de medos.

Mas, no momento, nada é pior do que o que está acontecendo.

Depois do ensaio de hoje, Thalia, mais vermelha que seu cabelo, me chama para perto do bebedouro, nosso ponto de encontro diário. Fico perto dela quando possível, mas não o tempo todo, e mesmo assim acho que ela sabe que gosto dela.

— Oi, Meck, o que achou do meu vestido?

Engulo a água com tanta força que quase me engasgo. O que ela quer dizer com isso? Ela sabe? Percebeu no ensaio a caráter?

— Ah, é… bem bonito. — Como você, penso.

Ela demora para tomar o copo de água. Muito mais que o normal. E sorri timidamente.

— Estive pensando, você não gostaria de, como vocês dizem, orar comigo?

Direta ao ponto! O que me deixa sem resposta. Tento encontrar algo para dizer, mas minha vista embaça, mesmo por trás dos óculos, enquanto minha mente entra em conflito. Ela gosta de mim! Ela sente o mesmo que sinto por ela! Depois de décadas de solidão, finalmente alguém apareceu em meu caminho. Uma enviada de Deus.

Por outro lado, como eu poderia dizer sim agora? Não preencho os requisitos que dizem tanto que precisamos ter antes de pensar em namorar. Ainda não consegui uma vida financeira estável, e vai demorar um pouco. Creio que vou conseguir, mas não será tão cedo. Por isso, seria arriscado dizer sim, pois se der certo ficaríamos namorando por vários anos, o que é perigoso, até eu conseguir uma casa para só então avançarmos para um casamento.

Não consigo pesar qual decisão tomar; o que é certo; qual é a vontade de Deus. Fico sem saber o que fazer. Minha expressão cai diante da bela ruiva que lentamente perde seu sorriso diante de minha demora. Ela não está gostando do meu silêncio. Estou a ponto de perder minha bênção. Este é meu pior pesadelo.

— A-hem… Thalia, eu… — avanço alguns centímetros, e logo recuo. — E se falarmos com o pastor primeiro?

Seu sorriso some por completo, e ela baixa a cabeça.

— Mas é só pra avisarmos, afinal, é que eu também…

— Não precisa, Meck — ela diz sem me olhar nos olhos. — Tudo bem, eu entendo.

Thalia vai para a poltrona para assistir à Terapia, enquanto continuo com o copo de água meio vazio nas mãos e a bela ruiva nos olhos. Por que a vida não é simples como um jogo? Bastaria voltar ao último save e tomar outra decisão, até descobrir qual é a certa que levará ao final feliz. Aqui na vida real só temos uma chance. Uma decisão errada atrapalha tudo. E não tomar uma decisão é ainda pior.

Fazer o quê? Não posso culpar a ninguém. Eu que sou o responsável por ser pobre; um nada; um lixo. Dependo dos outros para tudo. Todos sabem que não tenho condições nem para comprar um computador, e dependo da vaquinha que a obreira Bia organizou com os jovens para comprar um novo para o Mídia, o mesmo que usarei quando precisar. Quem vai querer um homem sem dinheiro? Nem a Thalia, com toda sua simplicidade, é tão ingênua. Ela faz Terapia, por isso sabe que uma das coisas que se deve procurar num homem é essa independência; ele se sustentar.

Por que Deus ainda não me abençoou? Onde estão as janelas do céu abertas? E as bênçãos sem medida? Será que ele esqueceu de mim? Tudo bem a Thalia me esquecer (dói, mas fazer o quê?); mas Deus? Isso sim dói, rasga minha alma.


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