Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 31
31 - Felipe




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Dá para ver que algumas meninas estão mais quietas sem o Bruninho. Meu primo sempre fica no papo com elas, e parece que elas estão no papo dele! Meninas bobas, ficam dando bola para um moleque que fica limpando o salão na frente dos outros!

Hoje não é o caso. Tanto que eu vou com a Kawane de parceira evangelizar. O Bruninho não pode vir porque está estudando mais que o normal. O professor novo dele é bem foda, fica enchendo meu primo de trabalhos mais que os outros. Só por causa da fé. Isso deve ser o mal tentando desviá-lo do caminho certo, mas estou orando para que ele não se deixe levar. Assim como continuo orando pelo Paulinho, mas sem me deixar levar pelo medo ou ansiedade. Tem quem pense que eu não ligo para o Paulinho, mas não é verdade. Não adianta ficar ansioso. Ele vai aparecer na hora certa. Vamos em frente que vai arrasar!

— Fiquei sabendo que o Bruninho tá mesmo enrolado com aquele professor novo dele — diz Kawane (pelos cotovelos!) enquanto caminhamos até o bairro onde começaremos a evangelizar. — Nossa, coitado dele. Nem teve tempo de vir evangelizar com a gente hoje.

— Ele não é criança, sabe que tem que dar conta das responsabilidades. O estudo é uma delas.

— Eu lembro quando eu tava na escola, eram as meninas que ficavam me enchendo. Né, obreira, a senhora lembra?

Agora que a obreira Bia entra na conversa, duas mulheres falando, fico apenas de espectador. E não param até chegarmos no bairro. A coitada se assusta, e a obreira também, quando chego numa roda de jovens para evangelizá-las.

— E aí, rapaziada — chego no grito dando um meio abraço num jovem, mesmo ele fedendo maconha. — Aqui, ó, pra você mudar de vida, sacou? Quer largar isso? Sei que cê quer, né?

Ele não foge. É uma alma enviada por Deus para que eu ajude, com certeza. Arrebentou!

Depois de quase acabados os jornais, voltamos conversando. Ela está bem animada como sempre, então não é por causa do Bruninho, é o jeito dela mesma. Até trocamos ideias para a dança… Melhor, ela fala de dezenas de ideias de dança que tem para os próximos eventos. Eu apenas sou ignorado ao dar minhas ideias. A coitada não aceita que eu era o cara na pista de dança quando ia nas baladas!

— Se eu fosse você não aceitaria voltar com um jornal sequer — diz a obreira para mim.

Ah, coitada! Acha que tenho vergonha como ela? Chego com o último jornal em mãos à primeira casa que vejo. Kawane me segue.

— Ô, senhor, pega um jornalzinho aqui! E deixa eu te fazer um convite…

— Não quero nada, não, vai embora.

— Espera aí, senhor. Nem…

— Vão embora. Eu sei quem vocês são. E não permito que entrem em meu quintal. E saiam do meu portão.

— Senhor…

Kawane toca meu braço. De lado vejo que ela aponta Bia, e esta está me chamando com um movimento nas mãos. Respondo com outro movimento de mão aberta. Espere.

— Senhor, não sou vendedor, não. Nem Testemunha de Jeová. Nem político. Nem…

— Você é ladrão. Tá na igreja dos ladrões, é ladrão também.

— Mas o que eu roubei do senhor?

O senhor entra pela metade e mexe atrás da porta. Um som de metal bate e sua mão reaparece carregando uma espingarda velha.

— Vai logo. Tô avisando. Vou chamar a polícia.

Antes que eu consiga responder o velho, alguém puxa meu braço. De um lado Kawane passa como um foguete, do outro Bia me puxa com força.

— Você é mesmo doido, Felipe! Não viu a arma dele?

— Eu só tava olhando pra alma dele — respondo com uma gargalhada. Claro que vi a arma.


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