Por um lado eu preciso me manter afastado das meninas; ainda mais as bonitas. Por outro, Thalia é tão legal comigo que eu não posso dizer não. Ela me cumprimenta sempre que me vê, e na roda que fazemos para planejar os teatros ela sempre pergunta minha opinião quando é pedida a dela.

Acho que pode estar acontecendo algo a mais!

Definimos o teatro e, para variar, Thalia e eu seremos os protagonistas. Esse pessoal que organiza o teatro não está ajudando em nada a minha luta contra o sentimento. Será que devo falar? Acho que não! Vou deixar como está, pois a Thalia está diferente das outras meninas. Tomara que seja minha vez, Deus; que este sentimento não esteja contra sua vontade.

O teatro da cadeira. Fico um pouco nervoso só de lembrar como é. Uma só cadeira onde Thalia e eu disputaremos lugar. Quero dizer, nossos personagens. Eu tentarei manter a mente longe da cadeira na hora, mas ainda assim darei o melhor de mim. Quando ela me empurrar com o corpo até eu cair da cadeira, vou cair com um dramalhão! Desta vez não estarei com o vestidão branco, pois até atrapalharia para me levantar depois.

Duda fará a amiga da principal. Ela deixa tudo mais engraçado, e um jovem não para de gargalhar durante a parte dela no ensaio. Bruno veio participar hoje, sendo um dos caras da balada, o que vai chamar a Thalia para sair, no teatro. Ele e Tadeu, os únicos meninos firmes de Zebulom. Bruno melhorou muito ultimamente, e está levando jeito para o teatro. Acredito que logo estará escalado para os papéis principais, se eu não melhorar também. Já pensou se ele toma meu lugar e começa a contracenar com a Thalia toda semana? Não é ciúme. Mas não sei o que é. Cuidado?

Só sei que ficou bem ensaiada a peça. Consegui não guardar as sensações de Thalia me empurrando com o corpo, seus longos cabelos alaranjados se esparramando em meu ombro e braço, sua mão na minha ao me ajudar a me levantar depois de ela ter me empurrado da cadeira… Graças a Deus tenho conseguido me manter frio quando necessário. Não posso me apaixonar ainda.

Sábado vai ser bom. Agora o foco é hoje. Daqui a pouco, Terapia. Bia fica contente ao me ver na igreja esperando a reunião. Apesar de seu sorriso, consigo não me deixar levar por ele. O único sorriso que está me fazendo pensar é o da Thalia. E por isso minha oração hoje será apenas uma: que seja da vontade de Deus.

Viro para trás rapidamente, apenas para dar uma olhadinha. Thalia e Bruno estão no maior papo lá no bebedouro. O mesmo lugar onde nosso papo começou. Bruno tem uma conversa que pode contagiar qualquer menina. Tem outras aí para você se entrosar, rapaz! Ao me virar para frente de volta, meus olhos passam pela obreira Bia, que também olha para Thalia antes de se encontrar com meu olhar e soltar um sorriso bem contido. Estranho. Ela sabe. Ela sabe tudo, realmente, como dizem.

*

O medo do não te paralisa sem motivo, pois não se arrisca o não. O não você já tem, então por que não arriscar o sim?

Será que estou pronto para praticar isso que o pastor está falando? Não. Ainda sou pobre. Foi difícil até conseguir o dinheiro para pagar a chácara do feriado de dezembro agora. Não posso pensar em tirar a Thalia da casa dos pais dela enquanto não tiver uma melhor.

Você não precisa ser rico, ter casa e tudo para namorar. Estar definido financeiramente é ter visão, saber aonde está indo. Não ser como os homens de hoje em dia que ficam na frente de um jogo… se é que se pode chamá-los de homem.

Eu tenho meu joguinho, mas não fico o dia todo nele. Aliás, faz tanto tempo que não jogo que nem sinto mais aquilo que eu sentia pela minha waifu. A Hanako que me desculpe, mas acho que uma menina de verdade tomou seu lugar!