Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 17
17 - Bia




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Que revolta! Bicho desgraçado fica colocando cansaço em mim nos dias em que mais preciso de ânimo. Era para eu ter passado na lojinha da Ary’s sexta-feira depois do trabalho para dar uma olhada no vestido que usarei no casamento da obreira Lana, mas deixei para hoje, que é minha folga semanal, e mesmo assim a canseira está forte.

Seja amarrado, ô, espírito do marasmo!

Contra a própria vontade me levanto e vou resolver alguns assuntos que tenho para hoje. Contas a pagar, banco, mercado, crédito, e por último a roupa. Chego em casa quase às quatro e meia da tarde, o mesmo horário que voltaria do trabalho. Nem tenho tempo para descansar, pois preciso tomar um banho rápido e subir para a igreja para evangelizarmos.

Durante o banho deixo meu celular tocando algumas músicas de busca para me ajudar a conectar com Deus e limpar a alma enquanto limpo o corpo. Tempo recorde hoje: não chega a terminar a segunda música da lista quando desligo o chuveiro. Porque não lavei o cabelo. E olha que precisa. Ou melhor, preciso dar uma mexida nele, pois já faz meses que está do mesmo jeito. Se bobear, quase um ano! Ainda não sei o que posso fazer de diferente desta vez, pois não quero chamar tanta atenção como quando pintei de vermelho ou fiz mechas rosas. Tem que ser algo mais maduro, afinal, vinte e cinco anos não é mais adolescente. Já estou ficando velha. Titia.

— Já tá indo pra igreja de novo, Bia? — pergunta meu irmão do meio, o Luquinha, um menino que, apesar de ir à igreja, não é da fé, só sabe criticar aqui em casa.

— Vou sim. Vamos? A mãe também vai, não vai, mãe?

Quando vejo a mãe saindo do quarto, de roupas curtas e até apertando-lhe os pneuzinhos, sinto-me envergonhada. É certo que estou vermelha agora. Como é ruim ser branca, pois qualquer emoção aparece.

— Já fui ontem, Bia — ela responde. — Hoje vou pro bailão arrasta-pé. Você devia ir também, fica aí vinte e quatro horas pensando em igreja e não arruma ninguém…

— Ah, mãe, vai logo pro seu baile então…

— E você — Luquinha diz enquanto me dá as costas e volta para o sofá —, vai logo pra igreja. Lá é o seu lugar, você é santinha demais. Nem namorar pode, tá é louco!

Luquinha volta a prestar atenção à novela, minha mãe continua se emperiquitando, e eu não tenho outra escolha. Pego minha carteira de bolso e vou à porta para sair de casa logo.

— Eu amo vocês, mas preciso ir, mesmo.

— LEVA A CAMA! — Minha mãe grita do quarto. — JÁ QUE NÃO TEM TEMPO PRA FICAR EM CASA, NOS ABANDONOU, VAI DE UMA VEZ MORAR NA IGREJA!

Ao ouvir estas palavras, ao mesmo tempo que os vizinhos também ouvem, sinto algo que me faz lembrar da morte do Senhor Jesus, quando transpassaram-no com uma lança. Algo atravessa meu coração. Ah, mãe, irmão, se vocês soubessem o quanto os amo, quantos votos e orações tenho feito por vocês.

— O que seria de mim sem vocês? — digo sussurrando para o ar quando passo pelo quintal. — O que seria de vocês sem mim? Eu sustento essa casa, tanto material quanto espiritualmente, e vocês não podem nem ser gentis comigo?

Saio na calçada tentando esquecer os insultos da minha família, o que não é difícil quando se acostuma a recebê-los quase diariamente. Pego meu celular do bolso para verificar quais afastados visitaremos hoje. Não importa se minha família não quer nada sério com Deus; nem se eu ficarei solteira por mais cinquenta anos; nem se meu cabelo está bandido. O que importa é ganhar almas.

É triste ver os meus caminhando para o inferno, mas confio no que está escrito: Eu e minha casa serviremos a Deus.


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