Quantas dúvidas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 16
16 - Bruno




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A semana começa bem. A aula de artes promete, pois a professora começa falando sobre artes em geral (ah, vá!), desde os teatros gregos até os jogos de realidade aumentada que estão na moda. Em seguida ela nos pede para escolhermos um dos tipos de arte de sua lista no qual achamos que nos encaixamos melhor, mas ela ainda não explicou o que faremos com essa informação. Seja o que for, já sei a minha escolha.

— Teatro — digo sem pensar muito, com um sorrisão de aparelho.

— Não sabia que você ia ficar toda animada com isso — diz Caio, duas carteiras atrás de mim. — Quero dizer, sei que você gosta de cultura, vi na sua camisa outro dia…

Pensei que ele não teria reparado na minha camisa do Cultura. Só espero que não comece com brincadeiras por causa da minha fé.

— …mas, teatro? Então você pensa em ser ator?

Aparentemente o Caio está sendo sincero. Mesmo assim não vou ficar dando mole, expondo o que penso aqui no colégio.

— E daí se eu quero? É uma carreira boa. Atores ganham bem, né?

— E pegam as menininhas também — Caio continua e se volta para o menino da carteira de trás. — Olha aí, mano, o galã da turma!

Num relance percebo as meninas na fila de carteiras encostada à parede esquerda da sala. Riem olhando para eu e o Caio. Incluindo a morena do cabelo enrolado curtinho, a Dani, aquela que fica me atazanando por eu ter deixado de correr atrás dela.

— Tem uma probleminha — diz o menino atrás de Caio, o último da fila. — Imagina se a Bruninha é um bom ator.

— Eu sou — falo rapidamente, esquecendo de ignorar por me chamar errado.

— Mas aí ele vai pra TV fazer uma novela — o menino continua falando para o Caio, nem ligando para minhas palavras.

— Qual é o problema? — Caio responde. — Ela iria adorar!

— Como fica os…? — o menino de trás fecha as mãos e esfrega uma na outra.

— Ah, é verdade — Caio diz alto, e as meninas riem com ele ainda mais. — Ele é ator de igreja. Não pode fazer cena de beijo, nem nada mais.

— Quem disse que não posso, só por que sou da igreja? — respondo rapidamente.

— Confessou — o menino do fundo diz. — Bruninha é da igreja.

— Finalmente — Caio ri.

— Tá, mas estou aqui pra estudar, cara — eu digo com revolta.

Não evito de reparar a reação das meninas, e de toda a turma, incluindo a professora, que parece assistir atentamente à conversa como se fosse mesmo uma novela. Dani, a primeira da fila esquerda, faz um biquinho como se mandasse um beijo para mim. Tá amarrado!

— Fica tranquilo, Bruninha, o professor Igor não tá aqui. — diz Caio com um tapa na minha nuca. Acho que era para ser nas costas.

Dou um sorriso daqueles tão forçados que, na minha cabeça, meus lábios arqueiam como o morcego da logo do Batman. A discussão se acalma e a professora continua falando sobre as origens do teatro, numa aula que, quando volto completamente à minha razão, é bastante interessante.

Saio da aula sem olhar nos olhos de ninguém, apenas pensando se seria uma boa investir nisso. Ser ator pode ser bom, não só para mim, mas para o projeto Cultura da FJ de Marazul, não só da tribo. E minha mãe ficaria orgulhosa de saber que finalmente sei o que quero ser, e vai me apoiar nessa busca por uma carreira tão bem-sucedida quanto a dela.


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