Before We Disappear escrita por Amelina Lestrange


Capítulo 2
II. Meio


Notas iniciais do capítulo

Apreciem a leitura!



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How hard can it be to share your love with me?

How hard can it be to rise with me each morning? How long it feels like?

Já havia notado que Scott havia mudado há algumas semanas. Outrora brincalhão e leve, a aura dele estava pesada e escura, como se houvesse tristeza no coração macio do homem. Era como se algo tivesse acontecido a ele, algo que o desestabilizou. Tinha curiosidade, claro, mas não era o melhor momento para perguntar o que havia acontecido. Se era um conforto para ele o dedo enrolado no seu cabelo, uma cosquinha no seu pé ou os pequenos toques que notava que ele não percebia, poderia conviver com esses pequenos momentos que tinham.

As suas sacolas pesadas do mercado tinham de tudo. Leite, ovos, farinha de trigo, açúcar, chocolate em pó... estava com vontade de comer bolo de chocolate. Daqueles bem molhados em cobertura. Tinha algum dinheiro e comprou tudo isso.

A luz do elevador se apagou quando chegou até o andar de Luis. Riu. Estava sentindo uma leveza no ambiente que era diferente do que havia sentido nos outros dias. Era um sentimento feliz, um contentamento maravilhoso. Tocou a maçaneta da porta e a abriu com dificuldade.

“Ajuda aqui!”, Wanda disse segurando as sacolas, logo sendo acudida por Scott. “Obrigada, Scott”.

“Oi, eu sou a Cassie”, uma garotinha de cabelos escuros saltou do sofá em cima de si, abraçando-a. Conseguiu ser rápida e pegou-a no ar, deixando a menina no seu colo. “Você é a Feiticeira Escarlate!”.

“Filha, nós conversamos sobre isso”, Scott falou tirando a filha do seu colo, repreendendo a menina. “Você não pode chamar a Wanda assim”.

“Tia Wanda?”, a garotinha questionou receosa.

“Tia Wanda é bom”, disse a ela. “Muito prazer, Cassie”, estendeu a mão e ela aceitou logo.

“Você pode mexer as coisas com a mente?”, ela era direta e divertida, estava adorando essa interação.

“Posso”, riu. “E eu posso adivinhar o que você está pensando”, sussurrou.

“É sério? Adivinha o que eu estou pensando, tia Wanda!”, ela vibrou e pediu.

Tocou a mãozinha dela e levou até o seu rosto, tal como Scott havia feito quando conversaram no jato wakandano. “Você está com fome...?”

“Sim! Eu acabei de chegar e o meu pai disse que ainda ia pedir comida”, ela explicou.

“Você quer bolo de chocolate? Eu sei fazer”, sugeriu.

“Quando foi que as duas senhoritas ficaram tão amiguinhas?”, Scott riu e Luis estava se divertindo com a interação. “Você sabe mesmo fazer bolo de chocolate, Wanda?”, afirmou com uma piscadela.

“Eu já estava desejosa de bolo de chocolate, tinha comprado as coisas e tudo. Ia fazer do mesmo jeito”, riu. Scott parecia tão leve quando estava com a garotinha, como se o peso todo que ele estava carregando nos últimos dias fosse mínimo agora.

Não era que tinha medo ou receio de crianças, Cassie só mostrou que não tinha medo de Wanda. Nem ela, nem o pai dela, nem Luis. Kurt e Dave tinham um pouco de medo, mas era algo que podiam conviver. Cassie Lang não tinha medo de Wanda e isso a deixou feliz. Uma vez Visão disse que medo era um conceito irracional, então supôs que Cassie não estava com medo porque as crianças eram diferentes e provavelmente ela ainda não compreendia muitas coisas sobre a Feiticeira Escarlate.

Pegou dentro do armário os copos de medida de Luis e notou que ele estava desempacotando as compras e já abrindo as embalagens para facilitar o seu trabalho. Scott se sentou no sofá com Cassie e ambos analisavam o cardápio do restaurante chinês para pedirem o almoço.

“Wanda, sabe, o Ernesto perguntou se vocês podem se ver de novo. Vai ter uma degustação de vinhos no Queens no final do mês e ele acha que você pode gostar os cabernet que eles vão servir”, ele disse casual.

“Foi legal passar a tarde com vocês no sábado, ver os seus primos jogando foi divertido, mas eu não tenho idade para beber, Luis. Eu não tenho vinte e um ainda”, disse.

“Poxa, fica para daqui a alguns anos, então”, ele deu de ombros. “Eu vi que você gostou da garotinha do Scotty. A Cassie é uma garotinha bem especial, sabe, ela sabe quando você é uma boa pessoa. Não que a antiga garota do Scotty não fosse uma boa pessoa, ela era ótima, mas você também é ótima. Quando a Cassie fez isso na Hope, ela caiu para trás e quase deixou a menina bater com a cabeça na mesinha da casa do pai dela. Pai da Hope, não o Scotty”.

“Ele tem uma namorada?”, perguntou. Já sabia a resposta, mas se fazer de desentendida às vezes tinha suas vantagens.

“Não era bem namorada, eles só tinham alguma coisa. O Homem-formiga e a Vespa. Ela tem um traje parecido com o dele, que encolhe e tudo, mas ela voa e ele não. Ele ficou bem triste quando terminaram. Eu até torcia por Scohope, mas hoje eu tenho outro ship em mente”, ele riu.

“O que é um ship?”, perguntou rindo. Colou as medidas de farinha de trigo, chocolate e açúcar na tigela que ele usava para fazer a massa dos waffles. Depois adicionou as medidas de leite, manteiga, ovos e fermento. Precisaria bater tudo aquilo à mão e cansava antes de mesmo de começar.

“É a junção dos nomes de um casal, sabe, eles eram Scohope: Scott e Hope. Hoje em dia eu shippo o Scott com outra pessoa”, Luis riu.

Começou o esforço de bater a massa do bolo com uma colher de silicone, era um trabalho árduo para que a massa não empelotasse. Estava um pouco incomodada com a informação de Luis.

Scott tinha terminado um relacionamento, provavelmente a mulher com quem ele estava envolvido fosse como ele. Ela era como ele até nos nomes de inseto. Homem-Formiga e a Vespa. Tinha sido um pouco tola ao imaginar que poderia alguma chance por menor que ela fosse. Não era um motivo de orgulho ter desenvolvido um escorregão pelo cara que havia lhe ajudado e que provavelmente a via como filha também. Desconfiava que fosse por isso que tinha começado a desenvolver alguma coisa por ele, por ele ser quem ele era e não temer quem Wanda era. E agora Luis imaginava Scott com outra pessoa além dessa mulher, Hope. Estava doendo só um pouco perceber que as suas ínfimas chances agora tinham sido reduzidas a nulas.

Colocou a massa do bolo na assadeira retangular e agora só precisava esperar que o bolo assasse. Olhou de relance e viu Scott e Cassie sentados abraçados agora, com ele assistindo alguma coisa com ela na televisão. Era impossível não sentir saudades de Pietro quando via uma cena assim. Imaginou como seria bom ganhar um abraço assim enquanto assistiam alguma coisa na televisão. Ele provavelmente xingaria se fosse uma competição de música ou uma série muito melosa, mas ele estaria comendo bolo de chocolate com ela ou pelo menos tomando um chocolate quente.

Os seus olhos já estavam marejados, se piscasse as lágrimas cairiam e não queria isso. E agora tinha piscado. Levou as mãos ao rosto para enxugar as suas lágrimas. O gosto salgado delas lhe lembrava que tinha chorado quando os seus pais morreram, tinha chorado quando ficou escondida embaixo da cama com uma bomba a poucos centímetros do seu rosto e tinha chorado ao sentir o seu coração sendo arrancado do peito com a morte do irmão. Chorou quando os jornais a culparam pelas mortes em Lagos e chorou dentro da sua cela quando lhe puseram uma coleira de choques e uma camisa de força.

“Wanda, Wandinha, eu fico de olho no bolo para você. Vá ficar na sala com o Scotty e a Cassie. Vai ficar tudo bem”, Luis disse tocando o seu ombro e lhe oferecendo um abraço. Aceitou de bom grado o conforto e deixou o cômodo.

Se sentou ao lado de Scott no sofá. Sabia que continuaria chorando por uns bons minutos agora que tinha começado. Suspirou longamente e acabou atraindo atenção indesejada. Duas atenções indesejadas.

“Eu não sei porque você está chorando, mas se você quiser um abraço, eu posso apertar você todinha”, ele passou o braço pelos seus ombros forçando a descida até a sua cintura para agarrá-la. “Viu? Não é melhor assim?”, ele perguntou.

“A senhora está chorando por causa do seu irmão, tia Wanda?”, Scott sinalizou como tendo contado a Cassie que Wanda tinha um irmão. Era por isso e era por outras coisas. Afirmou com a cabeça. A menina saiu do abraço do pai e se sentou ao seu lado. “Não fica assim, tia Wanda, eu não sou o seu irmão, mas a gente ‘tá aqui para a senhora”.

Cassie se jogou no seu colo e abraçou pelo pescoço. No início estava um pouco sufocada com isso, mas não demorou muito para que ela a fizesse se acalmar um pouco. Scott também abraçou as duas e sentiu um beijo dele na sua têmpora.

De longe, apenas sentindo o ambiente, um nome estranho conseguiu entrar nos seus pensamentos.

Scotanda.

Scott e Wanda. Era isso a que Luis se referia.

~*~

A última vez que comeu algo tão gostoso quanto o bolo de chocolate de Wanda havia sido um pudim de abacaxi que Maggie havia feito antes de todo o escândalo da VistaCorp acontecer. O bolo tinha derretido na sua boca de tão macio que estava.

Havia adorado a interação de Cassie e Wanda, o modo como elas criaram laços era maravilhoso. Sentia que a sua filha havia finalmente se conectado com alguém, coisa que ela não havia conseguido porque Hope teve medo de se aproximar da sua pequena no começo. Ela não tinha pavor de crianças nem nada, só tinha medo de entrar na vida de Cassie e sair depois deixando uma parte dela com a sua filha.

Era o primeiro sábado de agosto, o dia mais quente até então. Tinha que ir até East Meadow ver o que Hank queria com ele. Provavelmente brigar com ele mais uma vez por ter perdido o traje do Homem-Formiga que estavam trabalhando. Estava tão preso nas suas coisas que mal tinha tido tempo de ver o que o coroa precisava. Teria que ver Hope, afinal, era o pai dela.

Olhou para o lado e notou Wanda observando a paisagem durante os quarenta minutos de trem até Long Island. Tinha sido bem difícil tirá-la de casa para uma travessia rápida pelo canal. Um vendedor de balas tinha passado por ali e comprou algumas balas de goma para movimentar a boca enquanto esperavam o trem parar. Ofereceu e ela não aceitou. Tinha notado o quanto ela estava pensativa desde a visita de Cassie. Também tinha os seus momentos de introspecção, mas continuava dormindo com um dedo enrolado em uma mecha do cabelo de Wanda.

Havia se tornado um hábito até acarinhar um pouco a nuca dela depois que ela dormisse e começasse as reprises da tevê. Ela parecia estar confusa, lia isso nos olhos dela. Também estava confuso sobre algo.

Respirou fundo e se levantou do seu assento. Seria rápido, Hank encontraria com eles em um restaurante da estação de trem. “Vamos?”, perguntou a ela.

Wanda acenou positivamente e apertou o casaco preto contra o corpo. Tocou o ombro dela e a incentivou que fosse em frente junto dos outros passageiros. O boné dela era de um tom militar e sabia que isso era coisa do Falcão. As portas metálicas logo se abriram e viu de longe a silhueta envelhecida de Hank Pym.

Foram até ele e havia algo passando pela mente do homem que não conseguia decifrar pelo olhar que ele direcionava. “Não sabia que traria companhia. Hope não vai gostar nem um pouco disso. Vamos logo, ela está nos esperando no restaurante”.

Hope não vai gostar nem um pouco disso estava sendo a frase mais dita dos últimos tempos desde que retornou.

Hank andou na frente dando passagem para um pequeno restaurante que havia na estação de trem. Ele abriu a porta e segurou a mesma para Wanda poder passar, entrou atrás dela e viu no fundo que Hope estava sentada sozinha em uma mesa com quatro lugares. Quando ela notou a presença deles, havia nos olhos dela algo parecido com o que tinha visto nos olhos de Hank.

Todos se sentaram à mesa e uma moça de cabelos presos e vermelhos trouxe café.

“Então você é Wanda Maximoff”, Hank começou. “Você que foi a causa e a consequência do Acordo de Sokovia”.

Não estava gostando do rumo que isso poderia tomar. “Sim”, Wanda respondeu baixando a cabeça, tentando esconder o rosto.

“Você chutou a bunda do Stark por ele prender você em casa?”, Hank riu.

“Sim”, ela agora ria de um modo estranho.

“Essa é uma garota maravilhosa, então. Como vai, Lang? Achei que não fosse demorar tanto para entrar em contato”, a voz dele era carregada de raiva contida.

“Olha, Hank, me desculpe, eu perdi o traje do Homem-Formiga em Berlim...”, foi interrompido.

“Ah, eu sei disso tudo. Não é para perder de novo, seu idiota”, ele jogou uma caixa pequena em cima da mesa, na sua direção. Acho que aí tem um bom estoque de Partículas Pym. Se acabar, me procure para mais, mas use com responsabilidade”, Hank ergueu uma sobrancelha.

“Hank! Você vai entregar o traje do Homem-Formiga a ele? Você só pode estar ficando maluco!”, Hope se manifestou. “Ele perdeu o traje porque se meteu em algo que não era da conta dele e você recompensa o Scott?”

Wanda se levantou da mesa, percebeu que ela olhava diretamente para Hope. “Eu não pedi para ele me ajudar, mas ele me ajudou. Todos eles me ajudaram. Todos nós pagamos um preço. Você está sendo injusta com ele”, a garota andou até o lado de fora e notou a silhueta dela se esvaindo. Wanda não conhecia a cidade, sabia que ela não iria muito longe.

“Eu já descobri porque você defendeu tanto essa menina quando nos falamos da última vez”, o olhar de Hope agora oscilava entre a raiva contida e a mágoa. Não, ela não poderia pensar nisso...

“Eu nunca!”, se defendeu.

“Claro que sim, por qual outro motivo você se colocaria na frente dela? Há quanto tempo Scott?”, cada pergunta vinha com a força de um bofete no rosto. “Quer saber? Eu não preciso saber, só que você não vai sair daqui com o esse traje”, Hope recolheu a caixa de cima da mesa.

“O que eu perdi aqui?”, Hank agora falando era o que menos precisava.

“Então fique com ele, Hope, vista os dois. Eu nem queria ser o Homem-Formiga em primeiro lugar. Foi muito bom ser seu amigo, Hank”, se despediu do seu amigo e se levantou assim como Wanda havia feito.

Ao sair do restaurante, viu Wanda sentada em um banco do lado de fora do restaurante. O semblante cabisbaixo denunciava que ela havia ouvido tudo.

“Ela acha que você a traiu comigo”, Wanda foi direta. “Se você quiser, a oferta do Clint ainda está de pé. Eu posso pedir para ele me buscar amanhã mesmo”.

“Você é minha amiga, eu nunca deixaria você longe de mim”. Tinha se afeiçoado a Wanda, ela era uma boa pessoa, uma mulher extremamente inteligente e de pensamento rápido. Era afetuosa com a sua filha e estava assumindo que estava ligeiramente atordoado com a presença dela na sua vida.

“Você tem uma mulher dormindo em um colchonete ao lado do seu sofá. Se eu namorasse você, eu acharia que você estaria me traindo, Scott”, Wanda disse dura. “É sério, eu posso ligar para o Clint, não tem problema”.

“Eu disse que ia cuidar de você, então eu vou cuidar”, riu fraco.

Não gostou muito de ouvir as palavras de Wanda mesmo entendendo que poderia ser uma verdade. Hope tinha razão ao achar que a tinha traído, mas não o havia feito. Não havia nem chegado perto de fazer. Se sentou no banco ao lado de Wanda e tocou as mãos dela. Estavam frias. As soltou e esquentou as suas próprias mãos para poder esquentar as dela.

“O próximo trem para Manhattan só sai daqui a meia hora, você quer dar uma olhada na banca de revistas?”, perguntou ainda com as suas mãos nas dela.

“Pode ser. Você me compra uma revista em quadrinhos?”, ela retrucou.

“Preciso verificar as finanças, agora eu sou um homem desempregado”, riu.

Wanda se desvencilhou das suas mãos e se levantou. A altura do vestido e a altura das meias deixava um pouco de pele à mostra nas pernas dela. Era uma garota ainda, mas já tinha tanto de uma mulher que precisava se controlar e isso não era um bom sinal. A garota estendeu a mão para que tocasse. Aceitou e segurou firme a mão dela. Não sabia porque, só sabia que era um encaixe perfeito.

~*~

Gostava de sentir o toque de Scott enquanto ele pensava que estava dormindo. Os dedos dele passeando pela sua nuca para lhe proporcionar carinho lhe relaxava. Conseguia sentir que ele sabia que fazia isso embora gostasse de crer que era involuntário da parte dele lhe acariciar à noite.

Scott não mencionava Hope e procurava não pensar nela já que ele finalmente havia se tocado de que poderia sentir essas coisas. Era como se ele quisesse esquecer algo. Esquecer a dor que ele sentiu.

A noite amena do fim de setembro denunciava que ele também estava tendo dificuldades para dormir já que os dedos dele não paravam pelo seu pescoço.

“Scott?”, perguntou. Se virou para ele e o viu deitado de bruços no sofá.

“Wanda, me desculpe, eu pensei que você estivesse dormindo”, ele ficou atônito e rapidamente recolheu a mão para dentro do lençol. “Eu nem deveria estar fazendo uma coisa dessas, você estava dormindo e eu acordei você. Me desculpe, eu prometo não fazer mais”.

“Não tem problema, eu gosto quando você me acarinha”, disse se esforçando para sentar. “Você quer conversar?”

“Sobre...?”, ele não estava entendendo.

“Não sei, Scott. Sobre você, sobre Cassie, sobre Hope”, mencionou o antigo relacionamento dele com peso. Era esse o tal altruísmo de uma amiga que gostava do seu amigo?

“Eu não sei se eu gostaria de falar sobre Hope. Mas eu adoro falar sobre a Cassie”, o riso dele era bom e era esse riso que adorava. “O que você quer saber sobre ela?”

“O que você quiser me contar está bom”, cruzou os braços no espaço disponível no sofá e apoiou o queixo em um dos pulsos. Gostava de ouvi-lo falar sobre Cassie já que era claro o amor imenso que ele sentia pela filha.

“Depois que eu saí da prisão, eu fui a festa de aniversário dela. Seis anos, uma idade e tanto. Eu não tinha dinheiro para comprar um presente melhor, então eu parei em uma loja de conveniência em um posto de gasolina e comprei o coelho mais feito que eu poderia ter encontrado. Ele falava uma coisa meio você é minha amigona ou algo assim, tinha os dentes da frente afiados e os olhos vermelhos, era uma coisa horrível. Quando eu cheguei na festa dela e entreguei o coelho, ela disse que ele era feio que doía e que tinha amado. Eu tive um pequeno momento com ela antes da minha ex-mulher e do marido dela me expulsassem de lá. Eu odiei ter que ir e deixar a minha filha”.

“Você ama a Cassie tanto, eu consigo sentir”. De fato, sentia o quanto ele se acalmava falando da garotinha. “Você quer me contar mais sobre ela?”

Scott tirou o travesseiro da cabeça e o jogou no seu colchonete. Ele se levantou e se sentou ao seu lado. “Quando eu voltei da RAFT, eu tive medo que a Maggie me impedisse de ver a minha filha. O Paxton, o padrasto dela até tentou. Eu não sabia o que estava acontecendo, só sabia que tinha alguma coisa muito, muito errada nisso tudo. A Maggie, o primeiro amor da minha vida, ela está bem doente. Ela descobriu há uns dois meses e o médico deu uma expectativa de seis se ela tivesse sorte. A Cassie estava comigo naquele dia porque a mãe tinha que ir fazer a primeira sessão de quimioterapia”.

“Eu sinto muito por vocês, Scott”, a sua mão foi até a dele. “Há algum jeito de ela ficar mais confortável?”.

“Tireoide é difícil, até as séries médicas dizem isso. Eu só não esperava que fosse assim, sabe? Eu era casado com a Maggie da primeira vez que eu fui preso, ela insistiu que eu não fizesse nada estúpido e eu fui na casa do cara e ferrei com o carro dele”, Scott agora ria de nervoso.

Havia algo mais acontecendo, conseguia sentir. Com um simples uso da sua névoa escarlate conseguiria ver exatamente o que Scott tinha em mente, só não deveria fazer isso. “O que há de errado agora, Scott?”.

“O Paxton vai querer entrar na justiça pela guarda da Cassie quando a Maggie se for. Eu tenho certeza. Eu andei conversando com a Maggie, ela não parece mais furiosa comigo desde o que aconteceu na casa deles quando eu fui roubar o traje do Jaqueta Amarela da Pym Tech. Eu quero ser um bom pai, eu só não sei se eu consigo isso em tempo integral”.

“Você quer ficar com a sua filha”, assumiu óbvia. “Você é um bom pai, Scott, Cassie tem uma sorte tremenda por ter você com ela. Essa Maggie falou alguma coisa sobre você assumir a Cassie sozinho se algo acontecesse?”.

“O Paxton tem alguns direitos, mas não é o guardião legal dela”, ele falou duvidoso de si. “Eu nem emprego tenho direito para sustentar uma criança, que tipo de vida eu posso dar para a minha filha?”.

Se achegou mais para perto de Scott e deixou o seu corpo se encostar no dele. Cheia de dedos, passou um braço seu pela barriga dele e agarrou a cintura. Encostou o seu rosto no braço dele e o cheiro do desodorante masculino misturado com uma água de colônia qualquer mexia com a sua cabeça. Adorava sentir o cheiro dele, o perfume gostoso que ele usava e isso não era bom.

“Você cheira bem”, ele falou. Só assim sentiu ele já estava como rosto apoiado na sua cabeça. “O seu cabelo cheira bem”, Scott riu.

“Você também não perde nisso”, riu junto dele. “Andei sabendo pela Sra. Fong que o 8-F está para alugar. Ele não é muito maior que esse aqui, mas é melhor ajeitado. O aluguel também está na faixa de preço do prédio, se você conseguir trabalhar em casa. Não é uma má ideia As Soluções Eletrônicas do Homem-Formiga”, continuou rindo.

“E você pode vender o seu bolo de chocolate. O Admirável Bolo de Chocolate da Feiticeira Escarlate. Um bolo que vai mexer com a sua cabeça”, ele riu. Não havia porque ficar receosa dele, Scott conseguiu brincar tão respeitosamente com uma parte sua que não gostava de lembrar. “Tem dois quartos?”

“Sim, um para você e outro para Cassie”, continuou.

“Um para você e outro para Cassie, eu vou continuar no sofá porque você não vai a lugar nenhum sem mim”, ele ainda ria.

“Você precisa de ajuda para dormir? Eu costumava ajudar o Steve e o Sam, eles tinham Transtorno de Estresse Pós-Traumático e o sono deles era muito afetado”, se ofereceu verdadeira. Faria por Scott, usaria o poder por ele.

“Um beijo de boa noite já está bom, Wanda”, ele disse e o seu coração murchou um pouco. Era um beijo de boa noite, não um beijo de verdade. Bloqueou os seus pensamentos e não conseguiu mas seguir em frente.

Saiu da posição que estava e sorriu pouco para ele. Se aproximou da barba por fazer dele e esticou um pouco o corpo, depositou um beijo casto ali, sentindo os pelos ásperos roçando nos seus lábios. Voltou para onde estava e sorriu novamente. “Boa noite, Scott”.

“Não era bem assim que eu imaginava um beijo de boa noite seu”, ele falou parecendo... desapontado. “Eu posso dar um beijo de boa noite em você?”

Assentiu um pouco nervosa, não fazia ideia do que ele faria. O toque dele no seu braço lhe fazia sentir coisas inapropriadas para o momento e a conversa que acabaram de ter. Novamente sentiu a barba dele tocando o seu rosto e sabia que nesse momento ele estava se conectando, criando um laço. Os tambores eram ouvidos somente na sua cabeça, parecia que o tempo estava parando.

Um beijo parecido com o que havia empenhado nele foi igualmente posto na sua bochecha seguido de uma inspiração longa dele. “Boa noite, Wanda”, Scott disse e se levantou.

Ele se deitou no sofá novamente e olhou para os seus olhos. “Você tem que se deitar também para eu poder fazer carinho em você”, Scott riu e esperou que se deitasse. Logo sentiu os dedos do homem enrolando uma mecha do seu cabelo enquanto acariciava o seu pescoço.

~*~

A clima parecia bastante melancólico na casa de Maggie e Paxton em pleno clima de Natal. A decoração vermelha e dourada contrastava com o verde do pinheiro alto enfeitado com uma estrela no topo.

Maggie usava um lenço na cabeça para esconder os cabelos ralos afetados pela quimioterapia. Sentada no sofá ao lado de Paxton, ela era amparada por ele a cada tossida. O seu coração estava se partindo por isso, por vê-la assim. Não parecia ser a sua Maggie, a Maggie que conhecia.

Andou com as três canecas de chocolate quente e se sentou na poltrona de Paxton. Colocou as porcelanas na mesinha de centro e olhou para Wanda e Cassie enquanto elas desenhavam alguma coisa para colocar nas meias de Natal penduradas na lareira.

Wanda olhou para ele e parecia agradecer. Já haviam se passado meses desde que a conversa da madrugada tinha acontecido e parecia que não tinha acontecido. Ela não falava sobre e reconhecia que estava fazendo o mesmo trabalho que ela em não tocar no assunto. Era uma memória que nunca ficaria cinza, sempre seria colorida e cheia de sentimento.

Na noite em que conversaram sobre Maggie, sobre Cassie e sobre tudo, teve vontade de seguir o seu impulso de beijar Wanda. Já não doía mais o que tinha acontecido com Hope e aos poucos ficava claro o quanto essa garota sokoviana estava dentro do seu coração fincando raízes.

Adorava sentir o perfume do cabelo dela na fronha do travesseiro quando botava a roupa de cama para lavar. Adorava quando ela o deixava raspar o resto de massa de bolo de chocolate ou a panela em que ela fazia a cobertura. Adorava quando ela fazia vitaminada de banana e adoçava a sua com mel. Adorava quando ela colocava a cabeça no seu colo à tarde antes de cochilar no sofá depois de vender o seu bolo todo para os vizinhos. Só adorava Wanda.

“Acho que está na hora de subirmos, Cassie”, Maggie se levantou com a ajuda de Paxton e a sua filha resmungou, já era quase meia noite. “Vamos logo”.

“Vá, Cassie, senão o Papai Noel não vai trazer o seu presente”, Wanda disse e Cassie prontamente atendeu assim.

“Obrigada, Wanda”, Maggie agradeceu e viu quando ela tocou o ombro de Wanda.

Wanda começou a guardar os gizes de cera e os papeis. Ela dobrou meticulosamente os desenhos que tinham feito para o Papai Noel porque tinha colocar o de Cassie dentro da meia cor-de-rosa. Ela se levantou e conseguiu ver um pouco do que não pretendia nessa noite e não fazia ideia de que Wanda usava roupas curtas.

“É o meu segundo Natal aqui nos Estados Unidos. Obrigada por me trazer para passar com vocês”, Wanda disse colocando os desenhos deles nas meias.

“Não precisa me agradecer, Maggie já havia estendido o convite a uma companhia mesmo”, deu de ombros. Notou um desenho diferente, absurdamente populoso da sua filha. “O que é isso?”.

“Cassie desenhou a todos nós, você quer ver?”, ela riu. Assentiu e a viu caminhando descalça até a poltrona que estava sentado. Wanda se sentou no braço da poltrona e as meias dela tinham gatinhos nas barras. Algo divertido para divertir Cassie.

O desenho, feito todo em giz de cera e lápis de cor, cintinha todos eles perto de uma árvore de Natal. Maggie e Paxton estavam à esquerda no papel, perto um do outro e as sobrancelhas expressivas de Maggie ainda estavam lá. No meio estava Cassie usando a sua tiara de orelhas de gatinho com o coelhinho feio no colo. Ou o que imaginava que fosse. À direta no papel, se reconheceu ao lado de Wanda. Tinha corações nos olhos dos dois e riu com isso, os de Wanda tinha algo preto ao redor já que era a maquiagem que ela gostava de usar.

Mamãe. Tio Paxton. Eu. Papai. Tia Wanda.

“Eu gostei”, confessou. “Ela conseguiu captar as nossas essências”.

“Sim”, Wanda riu também. “Eu acho que vou colocar esse na árvore de Natal”.

“Coloque depois, eu quero conversar com você ainda”, admitiu. Era agora ou nunca, que nem no filme do High School Musical que tinha assistido com Cassie e Wanda mais cedo durante o jogo dos Wildcats.

Wanda colocou o desenho na mesinha de centro e esperou que falasse. Não sabia o que falar e não tinha pensado muito bem.

As suas mãos tremulavam um pouco e tinha a impressão de que estava começando a suar um pouco no frio de Long Island. “Sobre aquela noite, Wanda... que nós ficamos conversando e tal... por que você não me deu um beijo de boa noite?”

“Eu... não sabia o que você esperava de mim. Eu queria muito beijar você, mas não me pareceu certo. Era como se eu estivesse quebrando uma barreira que eu não deveria. Tinha pouco tempo que você e Hope tinham terminado e você não estava bem”, ouviu a garota.

O seu coração acelerou. Ela também queria o mesmo que ele? Wanda também queria beijá-lo se deixar pertencer junto dele?

“Você me dá um beijo de boa noite?”, foi a única coisa que pensou.

Wanda deslizou do braço da poltrona e se sentou no seu colo. As mãos delicadas dela tocaram o seu rosto e logo sentiu o beijo quente dela acalmando o seu coração. Agarrou a cintura dela e se deixou continuar sentindo. Tudo parecia diferente e novo. O gosto dela era bom, macio e aconchegante. Levou uma mão sua até o ombro da garota e a segurou pela nuca, enterrando os seus dedos na raiz dos cabelos escuros dela.

Quebrou o contato e desceu os beijos pelo pescoço alvo na intenção de sentir o agradável perfume que parecia simplesmente exalar de todas as partes do corpo dela. Enquanto ela acarinhava a sua barba por fazer, desceu uma mão até a coxa de Wanda e subiu um pouco o vestido para que continuasse a sentir o calor do corpo dela contra o seu. O arrepio dela era evidente, sentia os pelos eriçados com o momento tão íntimo e aguardado.

“Papai? Tia Wanda?”, a voz de Cassie veio e os dois apartaram o contato.

Wanda saltou do seu colo e tentou se recompor em vão limpando com a mão o batom borrado. “Filha, não é isso que você está pensando...”, começou.

“O Papai Noel realizou o meu desejo! Vocês dois são namorados!”, a garotinha pulava e vibrava com isso.

Cassie logo subiu de volta, dando-se por satisfeita por ter visto ele e Wanda se beijando. Olhou para cima rindo e viu um visgo estrategicamente posicionado em cima da poltrona. Andou até Wanda e a abraçou pela cintura. “E aí, vamos deixar que o Papai Noel fique com esse crédito?”, riu.

“Pode ser”, Wanda descansou a cabeça no seu peito. “Você ainda quer que eu more com você?”

“Você promete me fazer bolo de chocolate sempre?”, piscou.

“Sim”, ela riu. “Sim, eu faço todos os dias se você quiser”.

“Ótimo”, foi a única coisa que respondeu antes de beijar Wanda mais uma vez, dessa vez com um status de relacionamento diferente.

(Before We Disappear – Chris Cornell)

O quão difícil pode ser dividir a sua vida comigo?

O quão difícil pode ser acordar comigo todas as manhãs? Quanto tempo parece?


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Notas finais do capítulo

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