Meu Anjo da Guarda escrita por Milady Sara


Capítulo 2
Melhores amigos




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Ainda não tendo escovado os dentes, Hannah o fez antes de ir para seu quarto como fora mandada pela mãe. Mesmo em cima de seu banquinho ela ainda precisava ficar na ponta dos pés para se ver perfeitamente no espelho. Sorrindo para seu reflexo, e satisfeita, enfim foi para seu quarto.

Quando fechava a porta e restava apenas uma fresta entreaberta, ouviu seu pai gritando do andar de baixo, a voz retumbante chegando quase que perfeitamente a seus ouvidos.

— CALA A BOCA! – a pequena congelou e não conseguiu se mover. Seus músculos simplesmente travaram. – EU TE FIZ UMA... – mas o som se tornou abafado quando a porta se fechou. Olhando para cima, a pequena viu um braço longo e fino tocando a porta. Seu calado amigo a havia fechado, virado em direção a porta como um perfeito herói por ter impedido os sons de chegarem até as orelhas da garotinha.

Ele virou sua cabeça para ela e lhe fez um leve carinho no rosto, e ela sabia que se ele tivesse lábios, teria sorrido naquele momento, então ela o fez pelos dois. Então ele a pegou no colo como se não pesasse nada, nesses momentos ela tinha medo, afinal os braços dele eram tão finos, se algum dia ela estivesse mais pesada do que o normal ele poderia se machucar, até mesmo quebrar algum osso.

Cuidadosamente, ele puxou o cobertor da cama e entrou debaixo deles ainda com a pequena em seus braços. Hannah se aconchegou no peito frio, porém confortável de seu anjo, lembrando de como era difícil dormir nas noites me que ele não estava presente.

— Hm? – ela levantou o rosto na direção do dele. – Por que não pode vir amanhã? – movendo a cabeça levemente para o lado ele a respondeu. – Mas amanhã... É quarta... É quando os dois chegam cedo do trabalho... Ele pode até trazer os amigos dele de novo... – então ele lhe fez carinho na cabeça, colocando os finos dedos por entre seus cabelos, tentando tranquilizá-la, de que ficaria bem. – Eu sei, mas mesmo assim vou ficar sozinha! – pestanejou.

Ele levou o dedo até onde ficaria sua boca, em um claro sinal para que ela fizesse silêncio, para que não falasse tão alto. Então a fixando em seu invisível olhar, ele lhe fez aquele pedido novamente, o pedido que fazia todas as noites em que vinha vista-la, hoje talvez, já houvesse se tornado um apelo. Para que fosse embora com ele, para sua casa, seu lar, que poderia vir a ser um lar maravilhoso para ela também. Um lugar bom, especial, cheio de crianças que assim como ela mereciam ter paz em uma casa tranquila, sem gritos nem vidro quebrado pelo chão.

Em sua mente, Hannah viu imagens do tal lugar, ele as mostrava às vezes. Uma grande mansão de três andares pronta para ser explorada; um amplo jardim cheio de grama, fontes e flores branquinhas... E crianças, algumas mais velhas e outras mais novas do que ela, correndo, felizes ou simplesmente se banhando da luz do sol no gramado, sem preocupações, sem pais para as tratarem mal, apenas suas vidas para serem vividas do modo mais alegre e perfeito possível. Sempre era uma visão tentadora.

— Já disse, não posso. – explicou ela. – Tenho a mamãe e tenho escola. Mas algum dia eu vou lá visitar, prometo, tá? – e bocejou. Não demorou para que sua cabecinha voltasse a encostar no peito dele e ela caísse em seu profundo sono.

Ele queria muito levá-la. Aquele ambiente era tóxico demais, e aquelas pessoas eram podres. Tinha que salvá-la. A maioria dos pequenos ele salvava em poucas visitas, os maiores em dois meses no máximo, os levando para longe daqueles seres desprezíveis cuja única coisa boa que já haviam feito fora colocar tais crianças incríveis no mundo.

 Mas já visitava Hannah há quase um ano. Temia não ter como salvá-la, pois só o poderia fazer se ela permitisse, ela tinha que querer ir com ele. Mas ela não cedia, talvez por esperança ou estivesse se tornando tão acomodada e resignada quanto sua mãe...

Então foi interrompido de seus devaneios. Virou sua cabeça em direção à porta.

Ele não ousaria.

Delicadamente se desvelhenciou do abraço de Hannah e foi até a porta.

Ele não se atreveria.

Ficou de pé, perfeitamente imóvel na frente da porta. Os músculos tensionados.

Se ele ousasse...

Podia sentir seu cheiro de álcool e seus pensamentos distorcidos.

Podia sentir antecipadamente o gosto de suas entranhas quase ele ousasse...

~*~

Ben estava na frente da porta do quarto da filha. A garrafa de vinho em mãos e a certeza de tê-la ouvido falar momentos antes.

Por que não podia ter uma criança normal e obediente? Ao invés disso tinha uma que falava sozinha. E uma menina... Rachel não poderia ter tido um garoto? Nem para isso ela servia? Dar-lhe alguém com quem ele pudesse criar laços e até mesmo ensinar esportes.

Bebeu duas goladas do vinho.

Ela nem o olhava nos olhos, fala com ele olhando para baixo como se tivesse nojo dele. Ela devia ter mesmo, era visível. Insolente. Inútil. Umas boas palmadas resolveriam essa situação facilmente. Colocar juízo em sua cabeça à força não seria uma tarefa complicada. Se ele podia domar a esposa, podia domar a filha.

Respirando fundo ele colocou a mão na fria maçaneta de metal, mas logo desistiu. Não valia a pena. Hannah seria sempre um estorvo, não importava quantas surras de cinto levasse ou quanto ele gritasse com ela. Pelo menos essa noite ele não estava disposto a perder seu tempo com ela e sua insolência.

E tomando o último gole, foi para seu banheiro, procurando por bebidas mais fortes em todos os esconderijos que tinha. Devia ter um pouco de whisky em algum lugar...


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Notas finais do capítulo

Capítulo menor em compensação ao enorme primeiro >.<.
Link original da imagem do começo >>> http://alcoholism.co.vu/post/31757400533/redickerless-velveteenabbey-the-faceless



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