Matsu escrita por Zatanna


Capítulo 6
Sexto — Awaseru


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem. Eu me recusei a cortar esse capítulo porque não deu mesmo.



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Kohaku se sentava bem à sua frente e Chihiro somente conseguia imaginar o poder do tempo e da memória. Em sua mente, completa e com todas as informações que já tinha detido um dia, ele ainda era aquele mesmo menino que tinha a salvado de Yubaba, porém, o mundo apresentava alguém diferente e tão igual.

A maneira de falar, olhá-la e tocá-la não eram as mesmas das de suas memórias. Seus olhos transmitiam mais cobiça, sua fala se tornara mais mansa e o toque, quente, mesmo que suas roupas ainda estivessem secando.

Contudo, tudo nele era tão familiar. No mesmo instante que notava as diferenças, conseguia perceber as semelhanças. A forma que a tratava ainda era respeitável, o olhar era embebido de sentimentos que reconhecia e o toque. O toque era o de Kohaku quando segurava sua mão; a voz era a mesma que clamou para que Chihiro não olhasse para trás quando ia embora do mundo dos espíritos, mesmo que tenha se tornado mais grave.

Ela não sabia se era a memória afetada ou o tempo que tinham modificado o que via em Kohaku, porém, achou ambas as noções poderosas o bastante para detê-la de simplesmente continuar nos braços dele, sem saber o que fariam agora.

Sem saber como ficariam agora.

Seria mais fácil não o amar, pois Kohaku não era do seu mundo e muito menos humano. No entanto, devia levar em consideração o que nutria por ele; era inegável como o próprio chão que pisava e o ar que respirava.

Os mundos ainda eram diferentes; seriam fortes o suficiente para atravessar os muros entre as duas realidades?

Quando menina, a vida era mais fácil, porque isso nunca teria importância. Na verdade, até alguns segundos atrás não tinha – pois não eram certos os sentimentos de Kohaku. E agora que eram?

— O que vamos fazer?

Ele questionou como se conseguisse ler os pensamentos mais tenebrosos da Ogino. Entretanto, era a mente do rapaz que borbulhava por uma solução imediata. Passou tantos anos tentando negar a si mesmo a possibilidade de tocá-la que, ao encontrá-la tão próxima de si, somente seguiu seu coração e deixou toda a racionalidade desaparecer com um mísero abraço.

— Kohaku — chamou-o, ainda incerta do que perguntar e cheia de dúvidas para sanar. —, se eu não viesse até aqui, você nunca iria cumprir aquela promessa que fizemos, não é verdade?

Sentado na cadeira dourada, ele tinha a visão completa de Chihiro abancada sobre a cama de nuvem, observando as mãos dela brincarem uma com a outra, nervosamente. As roupas femininas, outrora secas, estavam úmidas em algumas partes, tanto que alguns dos pelos do casaco estavam molhados e outros, completamente secos.

Se aqueles pelos, em estados diferentes, conseguiam coexistir em um mesmo espaço, por que não ele e Chihiro?

Por quê?

— Desde que vim para cá, eu te via sempre que chovia.

Ele sorriu de canto, observando-a franzir o cenho. Chihiro não tinha compreendido de imediato, porém, com o conhecimento de mitologia que possuía, aos poucos, passou a compreender. Sua expressão vacilante foi dando espaço para perplexidade e, de novo, a nítida confusão.

— Você se tornou um dragão espiritual? — questionou-o, confusa, mexendo as mãos para tentar gesticular o que compreendeu. — É possível que você deixe de ser o que era para se tornar outro[1]? Como é possível deixar de ser um dragão terreno para se tornar um que faz chover?

A mente da jovem piscava tanto quanto ela. Com os estudos de história japonesa, Chihiro pesquisou o passado mítico, principalmente, os dragões, cujo fascínio somente entendia agora. Os quatro tipos viviam daquela forma por toda a existência, contudo, nenhum dos estudiosos se perguntou o que ocorreria se um rio fosse drenado. O que aconteceria com aquele dragão?

Kohaku ficou livre de sua obrigação, porém tomou para si o fardo de ficar sem labuta, consequentemente, sem destino. Dessa forma, ele parou nas mãos de Yubaba e reviu Chihiro.

Amou Chihiro.

— Você sabe que nem tudo que está em seus livros é verdade, não? — questionou-a, com um riso tão baixo que parecia inexistente. — Dividimos nossas tarefas sim, mas não nos limitamos a um padrão e nem temos mais a necessidade de segui-los impreterivelmente.

— Então, você teve que vir para cá para conseguir uma vaga? — Chihiro riu, tentando pensar em uma analogia menos estranha, porém, não a encontrou. — Como um emprego? Ser um tipo de dragão é como se fosse um emprego? Como na casa de Yubaba, se tivesse aquela posição disponível, você a toma para si?

Entendendo a linha de raciocínio dela, Kohaku parou um pouco para pensar, tentando sanar as dúvidas que ela possuía.

— Quando ocorre algo com nossa função, ficamos sem emprego. Então, se quisermos, podemos buscar outro ofício. Não é obrigatório, tanto que assim que meu rio foi drenado, quis aprender magia e ver mais do mundo — explicou, observando as reações de Chihiro para ver se existia compreensão ali. — Assim que me vi livre e capaz com a minha magia, eu decidi cumprir minha promessa com você.

“Mas o plano não saiu como esperado, porque nós somos de mundos diferentes”; continuou a dizer. “Ao chegar aqui, declarei os acontecimentos a meu pai e como queria revê-la, tocá-la outra vez. Na época, existia uma opção, mas era inviável e meu pai sabia disso, por isso, falou sobre ela.”

— Qual opção?

Kohaku se negou a dizer, balançando a cabeça e, vagarosamente, entrelaçando seus dedos aos de Chihiro, que os acolhia como se fossem feitos para estar ali por toda uma eternidade.

— Sem mais o que fazer, entrei em um estado letárgico, tinha voltado para casa em busca da benção e o auxílio de meu pai. — Ele apertou os dedos femininos suavemente, esperando que a Ogino não insistisse em saber qual era a opção, pois, de todas as formas, não podia deixá-la aceitar. — Vendo meu estado, sentiu pena o suficiente para me deixar ser o guardião das chuvas onde eu quisesse. Eu escolhi estar no lugar em que você estivesse, mesmo que você não pudesse estar comigo e me ver, todo esse tempo, olhei por você.

“Até hoje, quando eu não te achei em lugar nenhum. Através das nuvens, eu te procurei por todos os lugares, mas a única coisa que vi foram cartazes seus espalhados pela cidade, como se estivesse perdida. Deduzi que algo tinha ocorrido, algo sério.”

Sem querer interromper a narrativa, porém, não aguentando a curiosidade, a moça perguntou:

— E como estão meus pais?

Kohaku a observou por algum tempo, mordendo o lábio inferior. Um pouco forte, mas não o suficiente para machucar, apertou a mão que segurava a sua, como se rogasse por algo invisível.

— Procurando por você porque te amam.

O olhar dele pareceu tão próximo e distante que Chihiro sentiu que deveria abraçá-lo, mas não fez. Com a mão livre, segurou o rosto masculino e o acariciou como pôde, esperando que aquele toque o ajudasse a continuar sua narrativa, no entanto, a voz dele se perdeu em algum lugar.

Ele se perdeu em alguma memória.

— E você voltou para cá imediatamente?

Quando a jovem notou, o homem dragão havia fechado os olhos, saboreando a caricia que recebia no rosto. Envergonhada, ela afastou a mão e a colocou em cima das outras. Kohaku se surpreendeu com o vazio, até fitar à direção da moça completamente tímida.

— Sim — respondeu, suspirando. — Voltei para descobrir o que tinha acontecido com você, para pedir ao meu pai que eu pudesse me ausentar tempo o suficiente para investigar. Mas eu não precisei fazer isso, porque você estava aqui.

O olhar dele a atravessou instantaneamente ao dizer isso. Kohaku não enxergava a matéria física que era o seu corpo naquele momento e sim, algo muito mais profundo e incompreensível aos homens. Talvez estivesse vislumbrando o que tinha em seu coração ou os pensamentos que apossavam a sua alma. Ela não sabia exatamente o que estava acontecendo, porém era tão profundo que podia estar escorregando em um abismo e nem tinha percebido.

— Eu estou aqui — murmurou a jovem, com uma lágrima se formando no olho direito. — Porque você foi injusto o suficiente para me ver sem me deixar te ver todos os dias.

Uma mistura de tristeza, culpa e pena recaíram sobre o homem dragão que, sem se conter, levantou-se da cadeira dourada e se sentou ao lado de Chihiro, na cama nuvem. Os braços masculinos reconfortaram a moça, mas não o suficiente para ela se esquecer de toda a sensação de vazio e incompletude que a perseguiram durante anos.

Não era culpa de Kohaku, porém, ele também não faria nada para mudar o destino dos dois. Desde quando o jovem dragão que conhecera havia se tornado covarde ao ponto de desistir?

Ele nunca tinha desistido quando era sobre ela.

Por que fazer isso agora? Quando os dois tinham mais conectividade que nunca? Quando a espera por fim tinha dado tempo para o agir?

— Chihiro — murmurou, em lamento, segurando-a forte o bastante para que nada os separasse. —, eu sinto muito, mas eu não posso deixar que você se machuque pelos meus sentimentos. Enquanto você estiver viva e bem, eu vou estar porque meus sentimentos por você são mais fortes do que qualquer outra coisa, você é minha protetora como eu sou o seu.

Mordiscando o lábio, ela o abraçou, no entanto, para a humana, aquela resposta era inconcebível, não depois de tudo que viveram.

— Você sabe que eu não vou aceitar isso.

Afastou-se o suficiente para poder encará-lo nos olhos. Ogino sabia que os sentimentos dele eram fortes, tanto que faria de tudo para protegê-la, da mesma forma que tinha feito outrora.

Contudo, o que Kohaku esqueceu é que ela não era mais criança. As suas escolhas e decisões a fizeram estar ali para ficar ao lado dele, para lembrar de quem realmente era – algo que nunca teria completamente no mundo humano.

Não sem Kohaku.

— Você não precisa aceitar, Chihiro — disse, entrelaçando os dedos nos fios de cabelo femininos e afagando-os. — Você só precisa pedir ao meu pai que a conceda uma volta segura para casa, tenho certeza que ele concederá isso a mulher que salvou a minha vida.

Aquele discurso final havia sido a gota d’água, segurando um pouco de ar, a menina sentiu o rosto esquentar. No entanto, não era a sombra da vergonha que pairava sobre sua face, mas a raiva.

Dilacerante.

— Kohaku, você realmente sente o que diz? — exclamou, em alto e bom som, levantando-se da cama e o mirando por cima. — Por que não parece? Eu não me lembrava de muito quando voltei para o mundo humano, na verdade, eu não me lembrava de absolutamente nada e me senti vazia por todo esse tempo, tentando entender o que tinha acontecido comigo.

“Eu suspirei por tanto tempo, suspeitei de tantas coisas, mas nada supria os meus sentimentos perdidos. Eu precisava deles. Eu preciso deles! Eu não sou o que sou sem essa parte que me falta quando vou embora e fico longe de você. Eu te amo, Nigihayami Kohaku! E se você sente o mesmo, deveria lutar um pouco mais por isso, não acha?”

— Chihiro...

— Não! — gritou, mais irritada a cada instante. Kohaku se levantou, tentando acalmá-la enquanto Chihiro pôs o dedo em haste. — Eu estou disposta a lutar por nós dois, por que você não está depois de todo esse tempo? Eu não posso lutar essa guerra sozinha, precisamos de nós dois para isso!

Olhando-a irritada e com o fôlego alterado, o homem dragão mordeu o lábio inferior com força, tentando refletir a melhor maneira de explicar para Chihiro o que aconteceria se eles ficassem juntos.

Kohaku sabia que seria seu paraíso, mas poderia ser o inferno para a Ogino. Por que ela não entendia que estava fazendo tudo aquilo pela sua segurança? Para que fosse feliz?

Por que era tão teimosa?

— Quando você vai entender que estou fazendo isso por você? — questionou-a com frieza. Ao contrário da jovem explosiva que era apaixonado, o dragão sabia que a sua irritação se fazia através da calma. — Você tem uma família lá embaixo, que te ama. Você tem amigos que a veneram e a querem por perto. Você tem tudo que um humano deseja. Você é talentosa, esperta e decidida. Há diversos rapazes dispostos a pedi-la em casamento e por mais que isso fira meus sentimentos, eu sei que todos eles podem te dar a normalidade que você precisa.

— Quem é você para dizer o que eu preciso?

Aquela questão fez com que o jovem arregalasse o olho, mas não cedesse em sua argumentação, pois estar com ele seria literalmente poder ficar só com ele – nenhum amigo ou familiar mais. Chihiro estaria disposta a sacrificar tudo? Mesmo que agora estivesse, como o dragão saberia que não se arrependeria no futuro?

— Você nunca mais veria seus pais.

Ao olhá-lo falar aquilo, Chihiro entendeu tudo, absolutamente tudo que ele proferia e toda a preocupação que nutria. Kohaku sabia que, para ficarem juntos, a menina deveria se tornar mulher e abnegar absolutamente tudo que conhecia no mundo dos homens. 

Ele nunca permitiria que fosse infeliz, o medo dele era de que os seus sentimentos não fossem fortes o bastante para aguentar estar longe de tudo que um dia já amou. Contudo, quem era aquela Chihiro que se tornou sem parte de suas memórias? A que ponto poderia valorizar tudo o que tinha vivido depois da passagem pelo mundo dos espíritos se parte dela faltava, se sempre se sentiu vazia?

— Se eu for embora, eu nunca mais verei eu mesma.

Kohaku franziu o cenho, sem entender a fala da mulher que era apaixonado. Mais calma e com o rosto voltando ao normal, Chihiro se aproximou consideravelmente do jovem que ainda piscava confuso.

— Você pode sempre se...

— Kohaku, quando eu fui embora e não olhei para trás — disse, respirando profundamente antes de continuar. —, perdi algo valioso, além de você e todos os meus amigos. Eu não sabia mais quem eu era. Sabia que algo tinha acontecido, mas não lembrava o quê. Você fala sobre meus pais, mas mesmo eles nunca conseguiram me entender depois que fui embora da yuna baro de Yubaba. Você fala sobre meus amigos, mas todos eles sabem o que querem da vida e estão com seus futuros planejados, eu não.

“Eu não conseguia decidir o que eu queria, porque eu sempre senti um vazio imenso cobrir minha visão, como se tudo fosse escuro enquanto para os outros, tudo fosse claro. Como eu vou ter um futuro em qualquer outro lugar se eu não tenho um passado? Você pode ter sofrido com a minha ausência porque se lembrava de mim, mas eu sofri com a ausência da minha memória sobre você, porque eu estava completamente perdida.”

“Você pode achar que foi mais doloroso para você, pode achar que estava fazendo certo ao me proteger e me dar um futuro ao lado dos meus pais, mas o que você nunca vai entender é que a sua lembrança de nós dois alimentou o vazio da minha presença, mas o que alimenta o vazio da sua se eu só vejo o vazio?”

 Kohaku se sentou de novo na cama, toda a frustração e raiva dando espaço para um sentimento novo, um vazio que nunca tinha sentido antes. O erro de seus julgamentos o assolou, pensando em como tentou decidir por Chihiro sobre os dois, quando ela também era parte daquele sentimento.

Cobriu o rosto com as mãos, disposto a pensar em tudo que havia sido dito com calma. Como ele poderia renegar a opção dada por seu pai se, mesmo não a aceitando, assassinaria a mulher que amava?

Nem sempre a morte era a única forma de matar alguém.

Kohaku sentiu empatia e uma lágrima escorreu por seu olho, depois outra e mais uma. Como pudera ser tão covarde e esperar todo aquele tempo por uma decisão que tinha escolhido sozinho?

— Kohaku — ouviu o sussurro, as mãos delicadas tentavam retirar as suas da frente do rosto dele. —, por favor, olhe para mim.

Lembrava-se de não chorar, mesmo quando Yubaba açoitava-o. Lembrava-se de não se irritar ao ponto de matar, mesmo quando os homens drenavam o rio. Lembrava-se de não ceder, mesmo quando era agredido por dias consecutivos por seus irmãos mais velhos. Lembrava-se de não mostrar sua dor, mesmo quando era o seu próprio pai que a causava.

Contudo, nada o atingia como Chihiro. Nenhum sentimento parecia ser mais poderoso do que aquele que nutriam um pelo outro. Cedeu, quando ela forçou um pouco mais e o abraçou, da mesma forma que tinha cedido quando estava envenenado e ela enfiou em sua goela o bolinho de ervas.

Eram memórias turvas que se misturavam naquele instante enquanto sentia os braços quentes de Chihiro. Os dois choraram juntos, por necessidade e pelo tempo perdido. Choraram pelo vazio que os consumiu por toda a saudade e pela dor que o outro sentiu durante anos.

Choraram não só por si mesmos, mas também pelo parceiro.

— Eu posso passar por qualquer coisa, — falou Chihiro, com um soluço preso na garganta. — mas não desejo esquecer nunca mais. Eu não posso mais esperar que as coisas aconteçam.

Ele entendeu, melhor do que antes.

— Nós vamos resolver isso, Chihiro — frisou, afastando-a um pouco, pôde sorrir ao ver o sorriso dela. — Vamos fazer isso juntos.

Quando percebeu, já detinha os lábios dela nos seus com desespero e ternura. Beijava-a como nunca ninguém beijou outro ser. Sentiu como jamais alguém havia de sentir algum dia. Desejou-a de tal forma que a cobiça da humanidade por inteira parecia ínfima.

A humana se deitou sobre o corpo masculino, os joelhos sentiam a maciez da cama em formato de nuvem e os lábios, a língua do homem dragão. Aos poucos, equivalente a uma cebola que perde as camadas, o indispensável caiu no chão do palácio, deixando só os sussurros no ar e os apelos na alma.

As roupas molhadas se misturaram com as secas.

As memórias perdidas se misturaram com as novas.

 

[1] Nos mitos japoneses, há quatro tipos de dragões: os celestes, que guardam os palácios dos deuses; os espirituais, que trazem a chuva; os terrenos, que determinam os cursos dos rios; os guardiões, que guardam os tesouros terrestres.


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Notas finais do capítulo

Vamos ao textão de novo, pois é.

Em algumas cenas, eu pensei em colocar referências, mas eu desisti, porque existe uma comoção tão forte do presente que, fazê-los pensar no passado por muitas vezes, pareceu meio fora de lugar. Não sei se vocês concordam com isso, é porque era uma tensão palpável de uma promessa não cumprida e retomar o passado com passagens do filme ia perder o sofrimento dos dois no tempo em que fica no vazio (no caso da Chihiro, principalmente).

Outra coisa: não consegui cortar o capítulo porque é o mesmo que cortar uma transa, perde o feels. Então, ficou desse tamanho mesmo porque não dava. "Ah, mas eles já tão indo até pra finalmentes, tão rápido?". Bem, eles decidiram ficar juntos pela eternidade mesmo ela sacrificando tudo, então, achei bem plausível fazer isso logo também, até porque o próximo é o último capítulo e o de resolução do problema deles, não ia ter oportunidade para o fanservice. E eu gosto de fanservice porque sou fã, perdoa. Mas se ficou incoerente, cês me falem, porque acho que, como ela não tinha mais o que perder e ela tava realmente querendo estar com ele para sempre, essa é só mais uma amostra disso. Ele é dragão, então, acho que não liga muito pra qualquer tradicionalismo sexual, como vimos com o papai princeso.

Enfim, o título do capítulo de hoje é muito significativo, para mim. A palavra usada foi "awaseru", essa forma verbal significa: combinar (ritmo, velocidade, etc); unir-se, combinar-se; somar-se; enfrentar ou ser o oposto de alguém; comparar, para verificar com; fazer com que se encontre; colocar juntos; conectar; para sobrepor; misturar; colocar a lâmina na lâmina; lutar.

Por que eu disse que era muito significativo? Porque muitos dos significados se encaixam e são propositais, demorei inclusive para achar essa palavra demais. Eles combinam (ritmo e velocidade, etc), não só na discussão, mas na calmaria - e no sexo, vá lá saber. Uniram-se, combinaram-se, somaram-se; não preciso nem explicar o explícito, né? Eles se enfrentaram e também são opostos um ao outro, como viram na briga; eles compararam as dores e verificaram; eles também se encontraram, porque fizeram acontecer e se colocar juntos no lugar um do outro; conectaram-se de formas que ninguém mais conseguiria; misturaram-se. E, eu vejo de forma metafórica, embora não tenha certeza se é, eles colocaram a lâmina na lâmina, porque lutaram por suas decisões e degladiaram para chegar a essa conclusão. Não tem muito significado, gente? O único que eu não encaixo é sobrepor, mas posso pensar que ela sobrepôs ele ali no final? Posso.

É isso aí, beijos.



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