Spotlight - EM HIATUS escrita por Rhyenx Seiryu


Capítulo 6
Capítulo 06 - Verdades


Notas iniciais do capítulo

Oláris,
Decidi aproveitar o feriadão para atualizar o máximo de fanfic's que eu conseguir e vamos começar com Spotlight.
Espero que gostem do capítulo e ele tem música, então, vocês já sabem como funciona, cliquem no link quando ele surgir.

Boa leitura!



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Shannon trancou a porta ao passar.

Planejei invadir seu quarto como o furacão Katrina, mas, por causa desse detalhe, só o que consegui foi quase quebrar o meu nariz, por não ter checado se a maldita porta estava destrancada antes de ir me jogando contra a madeira maciça como uma grande idiota. Maldição!

— Shannon! – Gritei enquanto massageava o nariz com uma mão e esmurrava sua porta com a outra. – É melhor você abrir essa droga e me pedir desculpas. Agora! – Exigi tentando passar alguma autoridade, o que não era tão fácil depois de ter enfiado a cara na porta daquele jeito.

Como eu já esperava, ele não a abriu, apenas ligou o som, deixando claro que não queria conversar e fazendo com que eu me perguntasse como seus vizinhos o suportavam. É sério! Eu podia até não ser a pessoa mais silenciosa do planeta enquanto estava ali, gritando com ele, mas era madrugada e Shannon estava ouvindo alguma banda esquisita de folk, na maior altura. Devia haver algum acordo de moradores que proibia aquilo, não devia?

Voltei a esmurrar sua porta.

— Você está agindo como uma criança, Shannon! Vai me deixar aqui fora e me ignorar utilizando música alta? Quantos anos você tem, cinco?

Não obtive qualquer resposta dele, então, me encostei à porta e comecei a esmurrá-la com mais força e em um ritmo acelerado que eu sabia que seria insistentemente irritante e que o incomodaria mesmo com a música alta.

— Abra essa droga de porta, Shannon, ou eu juro por Deus que eu... Ah! – Um gritinho histérico escapou por meus lábios quando a porta se abriu, repentinamente, e despenquei para dentro do quarto... direto para os braços de Shannon.

— Não sabia que você já estava com tanta saudade. – Ele comentou e eu grunhi, afastando-me dele no mesmo instante.

— Você poderia ter me avisado que iria abrir a porta. – Resmunguei e Shannon cruzou os braços, recostando-se ao batente.

— O que você quer, Tove?

— Quero que me peça desculpas. – Imitei sua postura rígida e ergui o queixo para encará-lo já que ele era bem mais alto que eu.

— Você quer que eu peça desculpas a você quando foi você quem me chamou de estuprador?

— Eu não te chamei de estuprador. Quando foi que eu disse isso?

Shannon apontou para a cozinha.

— Há cinco minutos, quando insinuou que eu estava tentando deixá-la bêbada só para poder transar com você. – Ele respondeu indignado e, de repente, uma luz se acendeu no recanto mais profundo de meu cérebro, quando compreendi o motivo dele parecer tão enraivecido após o meu comentário.

— Ahhh, então, foi por isso que você ficou bravo? Porque achou que eu estava te chamando de estuprador? – Eu ri e Shannon me encarou com uma expressão assassina, nenhum pouco disposto a compartilhar de minha diversão. – Você sabe que eu não falei sério, Shannon. Eu nunca diria algo assim sobre você. – Completei quando percebi que ele não estava achando a mínima graça em meu acesso de risos. – Foi apenas um comentário infeliz. Eu nem estaria nesse apartamento, agora, se achasse que você era esse tipo de pessoa.

Ele me encarou por um tempo, parecendo refletir a respeito de minha explicação e, por fim, depois do que me pareceu uma década, relaxou um pouco.

— Nunca mais diga algo assim. – Me alertou. – Nem de brincadeira. Posso não ser um cidadão modelo, mas não gosto que me compare com esse tipo de gente.

— Tudo bem, vou melhorar o meu filtro, mas você ainda me deve um pedido desculpas. – Retruquei. – Você me chamou de estúpida. Eu não sou estúpida, sou?

— Não, mas eu estava com raiva.

— Eu entendo, mas, ainda assim – ergui o indicador e o pressionei contra seu peito de forma autoritária –, peça desculpas. O que você disse não foi legal.

Shannon revirou os olhos, mas falou:

— Me desculpe por chama-la de estúpida, Tove. – Sua voz soou sem qualquer entusiasmo, o que não foi lá muito convincente, mas decidi que a tentativa havia sido válida.

— Está desculpado.

Ele fez uma reverência.

— Obrigado, Vossa Majestade. Sua grande misericórdia aquece a minha alma fria.

— Posso reconsiderar minhas desculpas se você continuar sendo irônico. – Avisei e, dessa vez, ele riu. Percebi que eu gostava muito de vê-lo sorrir, era um contraste interessante com a expressão triste e perdida que, muitas vezes, fazia morada em seu rosto.

— Não sabia que me daria tanto trabalho ter você como colega de apartamento. – Ele comentou.

Ergui uma sobrancelha, inquisitiva.

— Eu te dou trabalho? É você quem suja todo o apartamento, bebe como um gambá e, ainda por cima, tem esse humor de bumerangue que é quase impossível de acompanhar.

— Wow! Como é que é? – Shannon se inclinou em minha direção e seu semblante era um misto de divertimento e descrença. – Então, é para jogarmos toda a merda no ventilador agora?

 – Não falei nenhuma mentira. – Dei de ombros e ele me lançou um olhar que dizia, com todas as letras, que eu estava ferrada.

— Você tem TOC, fala rápido demais e cozinha mal.

— O que?! – Minha boca formou um ó de indignação e eu cruzei os braços com firmeza. – Primeiro, eu não tenho TOC, só não gosto de viver em meio ao caos completo e, segundo, pelo menos eu tento cozinhar. E quanto a você?

— Porque eu iria cozinhar se você já faz isso de graça?

— Ora seu! – Pensei em xingá-lo, mas decidi que outra boa dose de sinceridade seria uma punição melhor. – Suas tatuagens são péssimas, você cheira a bebida e tem um gênio terrível.

Ele se aproximou um pouco mais.

— Sua risada é esquisita, seu mindinho esquerdo é torto e o seu cabelo é realmente assustador pela manhã.

— Eu o quebrei jogando vôlei na escola, Sr. Dedos Perfeitos, não tenho culpa dele ter ficado assim. E até parece que você acorda todo arrumadinho. Na maior parte do tempo, está desfilando por aí só de cueca e ninguém merece tanta nudez parcial.

Shannon estreitou os olhos para mim e, depois, inclinou um pouco a cabeça.

— Você gosta.

— Gosto de quê?

— Da minha nudez parcial. – Ele apontou para si mesmo. – Posso ver na sua cara que você gosta.

— Gosto nada! – Fiz careta, mas o calor que instalou em meu rosto não me deixou dúvidas de que eu havia corado.

— Eu não disse? Você está parecendo um tomate agora. Você gosta, sim.

— Você é tão convencido. – Bufei e lhe virei às costas, disposta a me trancar em meu quarto e chafurdar em minha própria humilhação, mas Shannon segurou o meu braço e me impediu de sair.

— Do que mais você gosta?

— Como é? – Meus olhos voaram para ele. Eu não conseguia acreditar que ele realmente esperava que eu fizesse uma lista de suas qualidades. Teria como alguém ser mais presunçoso que isso?

— Eu gosto dos seus olhos. – Ele disse antes que eu encontrasse um palavrão adequado com o qual lhe responder e aquilo me pegou de surpresa. Ele estava falando sério? – Também gosto da sua risada, apesar dela ser mesmo esquisita. E gosto de como você é sincera e não me bajula, faz com que eu sinta que posso ser eu mesmo quando estamos juntos. – Shannon deu de ombros de maneira despreocupada e eu passei algum tempo encarando-o, sem saber o que dizer.

Aquilo tinha sido a coisa mais legal que alguém já tinha dito para mim – quer dizer, pelo menos quando se tratava de alguém do sexo masculino com quem eu não tinha nenhum parentesco – e me deixou sem palavras. Senti que eu devia retribuir à honestidade dele, mas meu cérebro ainda estava processando o fato de que ele gostava dos meus olhos. Shannon Reed gostava dos meus olhos!

— Eu sei – ele suspirou quando permaneci calada –, tenho tantas qualidades que você nem sabe por onde começar. Eu entendo.

E, rápido assim, ele acabou com o meu transe e me senti obrigada a lhe dar um soco no ombro.

— Você sempre sabe como estragar um momento, não é?

— Ah, nós estávamos tendo um momento aqui? – Ele abriu um sorrisinho.

— Não esse tipo de momento. – Revirei os olhos, mas senti que tinha corado de novo. – Apenas um momento de franqueza.

— E você ainda não respondeu à minha pergunta. Será que sou tão ruim que você nem consegue listar uma qualidade? – Ele riu, mas por trás de seus olhos eu pude ver que o questionamento era real.

Shannon não estava sendo presunçoso antes, ele realmente queria que eu respondesse. Queria saber se havia alguma coisa nele que valia a pena porque ele próprio não acreditava nisso e, então, eu percebi que, por ele me considerar uma pessoa tão sincera, a minha opinião importava muito para ele.

— É claro que você tem qualidades, Shannon. Muitas delas. – Eu disse de maneira suave. – Você é talentoso e também é muito divertido, embora seja meio sem noção, às vezes. – Expliquei e ele riu. – E você tem um coração de ouro. Somente um idiota não enxergaria a pessoa maravilhosa que você é.

— Acha mesmo?

— Alôôô. Eu sou a pessoa sincera, lembra? É claro que eu acho. Na verdade, eu tenho certeza. – Me aproximei dele e espalmei a mão em seu peito. – Você é uma ótima pessoa. Nunca duvide disso.

Para a minha surpresa, Shannon cobriu minha mão com a sua e me presenteou com um sorriso afetuoso e genuíno.

— Obrigado.

— Não por isso. – Eu me senti prestes a corar de novo, por causa da forma como ele estava me olhando, então, me afastei e disse: – Agora, será que você poderia, por favor, desligar o som? Está muito tarde para perturbar os vizinhos com essa sua música folk estranha.

— Música folk?! – Ele retrucou indignado. – São os X Ambassadors¹, Tove! É rock alternativo. Você não entende nada mesmo de música, hein?

— Ah, folk, rock alternativo, tanto faz. – Dei de ombros e Shannon pareceu interpretar meu gesto despreocupado como uma afronta pessoal, porque segurou minha mão e me puxou para dentro do quarto, aumentando um pouco mais o volume da música. – Que diabos você está fazendo?

— Te ensinando a respeitar essa encantadora vertente do rock. – Então, ele avançou pela playlist até encontrar outra música da mesma banda e me tirou para dançar.

— Ah, não! Sem chance! – Recuei vários passos para longe dele, mas Shannon me puxou de volta para ele e me apertou junto ao seu corpo, me deixando com zero opções além de seguir seus passos quando a música começou.

Ele cheirava a colônia e a tequila e eu tentei prestar mais atenção na letra da música, que no calor cativante que emanava de seu corpo para o meu, mas não foi nada fácil.

 

Fuja comigo.

Almas perdidas na folia,

Correndo selvagens e livremente,

Duas crianças, você e eu.

E eu digo: ei, ei, ei, ei.

Estamos vivendo como se fôssemos renegados.

Ei, ei, ei. Ei, ei, ei.

Estamos vivendo como se fôssemos renegados.

Renegados...

 

Shannon me fez girar algumas vezes e eu ri quando ele me puxou de volta para seus braços e continuamos em nossa dança, desajeitada, para lá e para cá pelo quarto.

 

Vida Longa aos pioneiros,

Aos rebeldes e revoltosos.

Vá em frente, não tenha medo.

Chegue perto e preste atenção.

E eu digo: ei, ei, ei, ei,

Estamos vivendo como se fôssemos renegados.

Ei, ei, ei. Ei, ei, ei.

Estamos vivendo como se fôssemos renegados.

Renegados...

 

Em pouco tempo a melodia contagiante da música já tinha me cativado e comecei a me sentir menos nervosa com o fato de que eu estava dançando rock alternativo com Shannon às duas da manhã. O quão louco isso era?!

Ele segurou minha cintura com um pouco mais firmeza, impondo-nos um ritmo bastante parecido com aquele das danças medievais, o que me fez sentir como se estivéssemos em um baile no salão de algum grande castelo e eu meio que congelei quando os lábios dele tocaram a minha orelha e ele começou a cantar junto com a música:

 

Saúdem os oprimidos.

Saúdem as novas crianças.

Saúdem os foras da lei.

Os Spielbergs e os Kubricks.

 

É a nossa vez de fazer a diferença.

É a nossa vez de fazer reparações.

É a nossa vez de quebrar as regras,

Então, vamos começar!

 

Eu digo: ei, ei, ei, ei,

Estamos vivendo como se fôssemos renegados.

Ei, ei, ei. Ei, ei, ei.

Estamos vivendo como se fôssemos renegados.

Renegados...

 

Nós começamos a girar como loucos durante o solo de guitarra e eu deixei que Shannon me guiasse ao seu bel prazer, enquanto percorríamos todo o espaço livre de seu quarto, quase nos esbarrando nos móveis e rindo como dois idiotas. Fechei os olhos para evitar ficar tonta e ergui os braços aproveitando aquela doce sensação. Com nossos rodopios rápidos, meus cabelos voavam para todos os lados e senti-me como se estivéssemos em algum festival de música em uma época antiga, movimentando-nos ao redor de uma fogueira, em meio aos guerreiros que celebravam uma vitória e percebi o quanto aquilo era libertador e incrível. Eu não sabia que uma única música tinha o poder de nos transportar para outro lugar dessa forma e, naquele momento, entendi o que Shannon quis dizer com respeitar o rock alternativo. Aquela letra e melodia realmente mereciam o devido respeito.

Aos poucos ele foi diminuindo nossa velocidade e, quando a música acabou, Shannon me prendeu firmemente em seus braços e pude sentir nossas respirações aceleradas se misturando enquanto recuperávamos o fôlego.

Abri os olhos e me deparei com seus olhos azuis-esverdeados bem diante dos meus. Sua expressão era pacífica, não como se ele tivesse acabado de me ensinar uma lição, mas como se tivesse compartilhado comigo uma parte de sua alma. Shannon não apenas ouvia a música, ele a vivia, em sua forma mais pura e legítima e, após aquela dança, eu aprendi a respeitar a sua devoção por aquela forma de arte. Ela era inspiradora, na verdade. Quase como uma oração.

Sorri para ele, grata por ele ter me deixado acessar mais uma parte de sua essência e comecei a me afastar, mas ele apertou os braços ao meu redor, mantendo-me ali.

— Tem mais algumas músicas que eu gostaria de te mostrar, se você quiser ouvi-las. – Ele disse quase como se estivesse me pedindo para não ir embora.

Olhei para o relógio digital em sua cabeceira, constatando que já era muito tarde para ficarmos dançando pelo apartamento e fazendo barulho, mas curiosa para ouvir mais algumas das canções que Shannon tinha em sua playlist, então, eu disse:

— Seria ótimo, mas precisaremos de um fone.

Ela sorriu compreensivo e desligou o som, pegando seu iPod e conectando um fone de ouvido a ele, antes de me entregar um dos lado do objeto e me arrastar para a beirada de sua cama, onde nos sentamos.

Passamos o restante da madrugada ouvindo as músicas favoritas de Shannon – que eram bastante diversificadas, começando com o rock clássico das décadas de 60 e 70 e terminando em gêneros como o folk e o country. Algumas das canções em sua playlist me fizeram chorar – como a música Poison And Wine da banda The Civil Wars e a música Unsteady, também dos X Ambassadors –, outras me fizeram sorrir e ter vontade de dançar – como a música Satisfaction dos Rolling Stones – e uma porção delas – como as músicas Dust In The Wind, do Kansas, Iris, do Goo Goo Dolls e Kids, do Onerepublic – me fizeram refletir sobre suas letras profundas e tocantes.

Cada canção era como um passeio pela mente e pela alma de Shannon e eu me deixei envolver por elas, de tal maneira, que nem percebi que havia adormecido em sua cama, até Lexy abrir a porta do quarto como um furacão de categoria cinco e gritar:

— Mas que porra é essa, Shannon?!

Eu me sentei na cama rapidamente, sentindo o meu coração palpitar em meus ouvidos e o ambiente girar ao meu redor por causa da mudança brusca de posição. Não ajudou muito o fato de eu ter acordado em um quarto que não era o meu e, talvez, eu pudesse culpar as poucas doses de tequila que havia tomado na noite anterior por minha completa desorientação, mas a verdade é que acordei apavorada.

Shannon, por sua vez, era a personificação da calma. Ou quase...

— Porque você está gritando, Lexy? São... oito da manhã, cacete! – Ele esbravejou após olhar o relógio. – Não dava para você esperar até as onze?

— E te dar mais tempo para estragar tudo? É claro que não! O que é que você tinha na cabeça Shannon? Aliás, o que é você está fazendo na cama com essa garota?

Shannon olhou para mim como se apenas naquele momento tivesse se lembrado de que eu estava ali e sorriu. Lexy resmungou, audivelmente, em seguida.

— Você sabia que ela mentiu para você? – Ela perguntou, retirando alguns papéis da bolsa e os atirando no colo de Shannon. – Pedi ao Randy que investigasse a sua amiguinha e ele descobriu que ela tem dezessete anos e que o padrasto dela é praticamente um agiota, Shannon. Ela fugiu de casa e o cara nem abriu um boletim de ocorrência para relatar o fato. O que isso lhe diz?

— Que o safado está com medo de ser preso?

— Ou que os dois estão trabalhando juntos! – Lexy insistiu, me olhando como se eu fosse uma praga. – Ela entra no seu caminho de repente, mente sobre ter dezoito anos, se aproveita da sua hospitalidade e, agora, te leva para cama. Sabe o que vai acontecer? Daqui alguns meses, ela estará em todos os jornais exigindo um reconhecimento de paternidade ou, pior, ela e o padrasto vão te chantagear porque você foi um idiota e dormiu com uma menor de idade!

Shannon sorriu para ela.

— Caramba, a Tove é mesmo um gênio do crime, não é?

— Você acha que eu estou brincando, Shannon?! – Lexy parecia prestes a explodir e Shannon pegou os papéis que ela havia jogado em seu colo e os colocou de lado.

— Primeiro, eu sei que a Tove tem dezessete anos, ela me contou isso no dia em que eu a trouxe para cá e, segundo, eu sei que o padrasto dela é um crápula, foi exatamente por causa disso que ela fugiu. – Shannon me olhou de esguelha e fiquei aliviada por ele não ter contado a ela todos os detalhes que levaram à minha fuga. – E, caso você não tenha reparado, apesar de estarmos na mesma cama, nós não transamos. Estamos completamente vestidos, Lexy. Pelo amor de Deus! – Ele atirou o cobertor para longe e se colocou de pé. – Aliás, desde quando alguém precisa me enganar para conseguir me levar para cama? Eu, hein! Até parece que você não me conhece.

Então, Shannon fez seu caminho até o banheiro e Lexy me lançou mais um olhar enraivecido, antes de marchar atrás dele.

— Então, você mentiu para mim. – Ela retrucou, indignada. – Faço tudo que está ao meu alcance para te manter em segurança e você mente para mim.

— Você a teria mandado embora se soubesse que ela tinha dezessete anos.

— Mas é claro que eu teria. Você tem noção da dor de cabeça que isso pode nos trazer?

— Pois bem, ela não vai embora, Lexy. – Shannon bateu a porta na cara dela e logo ouvi os passos pesados de Lexy atravessando o corredor.

— Você vai embora. – Ela disse para mim. – Não me importa se não quer voltar para casa, eu te alugo um quarto de hotel, se necessário, mas você não pode ficar aqui.

Eu a encarei sem saber o que responder. Por um lado, a ideia do hotel não era tão ruim, eu ainda estaria longe das mãos de Josiah e não correria risco de causar algum problema para Shannon, mas, por outro lado, eu não tinha certeza se queria deixá-lo sozinho. Estávamos morando juntos há apenas uma semana, mas eu havia me aproximado dele e sentiria sua falta. Alem disso, ficaria preocupada por não saber se ele estava bem.

— Eu acho que é melhor o Shannon decidir isso...

— Não. Não é melhor. – Lexy discordou. – O Shannon vai te dizer para ficar porque ele não percebe o tamanho do enrascada em que isso pode colocá-lo, mas eu percebo e, exatamente por isso, eu preciso protegê-lo das próprias decisões.

— Eu não vou causar nenhum problema para ele, Lexy.

— Não vai? – Ela me encarou com raiva. – Você já causou. Eu o mantive aqui, em segurança, por cinco meses e, então, você aparece e, em cinco dias, ele é perseguido por um paparazzi. Você sabe como a mídia está nesse exato momento? Há fotos de vocês dois naquela maldita feira em cada revista, site e programa de fofocas desse país! Quanto tempo acha que vai demorar para que um deles descubra onde vocês estão?

— Não foi culpa dela, Lexy. – Shannon voltou para o quarto e seu rosto era uma carranca enraivecida que, imediatamente, me fez sentir falta dos sorrisos encantadores que ele havia exibido na noite anterior. – Fui eu quem decidi ir à feira. A Tove tentou me convencer a ficar no apartamento, mas eu fui assim mesmo. Ela não teve nada a ver com o que aconteceu ontem.

— Ainda assim, ela deveria ir embora. Você não era tão inconsequente antes dela aparecer por aqui e montar abrigo.

— Qual é o seu problema com ela? – Shannon a encarou irritado. – Você está sempre arrumando uma forma de culpá-la por tudo o que acontece e, até o momento, não vejo razão para toda a sua implicância.

— Eu só quero cuidar de você, Shannon. Temos trabalhado duro na sua recuperação. Não posso permitir que ela entre na sua vida agora e atrapalhe tudo.

— Tudo? Está falando da minha recuperação ou dessa droga de prisão domiciliar que você criou para mim?

Lexy pareceu ofendida.

— Não é justo que fale assim comigo. Eu passei pelo inferno com você nos últimos onze meses, Shannon. Você quase morreu! Se lembra disso? Eu quase perdi você e você sabe que é como um filho para mim. O que você esperava? Que eu ficasse sentada e assistisse você acabar consigo mesmo?!

— Eu estou cansado de ficar trancado nessa droga de apartamento, Lexy! – Shannon deu um soco na parede ao lado da porta e tanto Lexy quanto eu nos assustamos com aquela atitude descontrolada. – Quero voltar para a minha vida. Quero voltar para a minha casa.

— Você sabe que não pode fazer isso ainda, Shannon. Você não está pronto.

— Quem é você para dizer? Minha psicóloga?

— Se você não se recusasse a vê-la, tenho certeza de que ela te diria a mesma coisa. Você mal consegue dormir e continua bebendo e se drogando... Quando me implorou para tirá-lo da clínica, você me prometeu que iria parar, mas você nem está se esforçando, Shannon! Eu deveria interná-lo de novo.

Shannon se moveu tão rápido que eu mal consegui registrar. Quando dei por mim, ele estava com uma mão ao redor do pescoço de Lexy e a tinha imprensado contra a parede.

— Shannon! – Eu gritei saltando da cama e, praticamente, voando até ele.

Lexy ergueu uma mão para mim.

— Pode deixar, Tove. Ele não vai me machucar. – Ela disse com os olhos pregados nos dele. – Vai, Shannon?

Ele relutou um pouco, tão irritado que uma das veias em seu pescoço estava pulsando. Parecia que ele havia sido possuído e aquilo era assustador. Eu nunca imaginei que o veria tão descontrolado daquela forma, mas, depois de tudo que eu já tinha lido sobre ele por aí, eu deveria imaginar que Shannon não era sempre músicas e sorrisos. Havia muitas partes dele que eu ainda desconhecia.

Mas Lexy parecia conhecê-lo bem.

Ela manteve a calma enquanto eu quase podia sentir o meu coração sair pela boca e teve coragem suficiente para colocar a mão sobre a dele em um gesto que eu só poderia descrever como maternal. Apesar de tudo, ela tinha fé nele e só queria confortá-lo. Mesmo com a pouca diferença de idade entre eles, Lexy realmente o via como um filho.

E, talvez, Shannon também a visse como uma mãe, de certa forma, porque, ainda que estivesse furioso, ele a soltou e se afastou.

— É melhor você ir embora. – Disse sem olhar para Lexy.

Esperei por alguma resistência da parte dela ou pela retomada da discussão anterior, mas Lexy parecia saber exatamente quando era hora de recuar e não apresentou nenhuma objeção. Simplesmente, recolheu do chão a bolsa que havia caído de seus ombros durante o ataque de fúria de Shannon e olhou para mim.

— Pense na minha oferta. – Ela me disse e, então, se encaminhou para fora do quarto, saindo do apartamento logo depois.

Tentei pensar em algo inteligente para dizer, qualquer coisa que pusesse um fim àquele clima estranho que havia se instalado entre Shannon e eu, mas antes que eu pudesse abrir a boca para falar, Shannon caminhou até a porta e disse:

— Preciso ficar sozinho.

Parte de mim queria continuar ali, porque sentia que ele estava indo para algum lugar muito sombrio dentro da própria cabeça e queria ajudá-lo, de alguma forma, mas a outra parte não queria que ele ficasse furioso comigo também, então, eu simplesmente sai e, mal havia colocado meus dois pés no corredor, quando Shannon bateu a porta e a trancou.

Percebi que a garrafa de tequila quase cheia ainda estava dentro de seu quarto e suspeitei que ela não continuaria assim por muito tempo. Shannon tinha um problema com a bebida e se aquilo que Lexy havia dito era verdade, se ele realmente continuava se drogando, então, talvez ele devesse mesmo voltar para a reabilitação. Talvez nem devesse ter saído de lá, para começo de conversa, mas eu podia imaginá-lo, com seus lindos olhos azuis-esverdeados, implorando à Lexy para que ela o tirasse da clínica, prometendo-lhe que seria um bom garoto... Gostaria de poder dizer que, no lugar dela, eu não teria me rendido tão fácil, mas, na verdade, eu também não sabia se conseguiria recusar o pedido dele. Shannon era muito bom em convencer as pessoas a fazer aquilo que ele queria.

Suspirando, segui para o banheiro, para escovar os dentes e tentei manter minha rotina normal. Tomei meu café da manhã, assisti um pouco de TV, fiz o almoço, arrumei a cozinha... Shannon só saiu do quarto para ir ao banheiro, mas suas escapadas foram tão rápidas que eu mal o vi, ainda assim, notei que da última vez que voltou para o quarto, ele estava meio trôpego. A garrafa de tequila realmente não tinha durado.

Pouco antes das dez da noite, passei em seu quarto, só para verificar se ele estava bem, mas sua porta estava trancada e ele não atendeu quando eu o chamei, então, fui dormir. A noite passada tinha sido longa e, aquele dia, ainda mais.

Quando acordei na manhã seguinte, me surpreendi ao entrar na cozinha e encontrar uma porção de Waffles com calda de chocolate recém preparadas. Por algum milagre divino, Shannon tinha acordado antes de mim e tinha feito o café da manhã e eu quase me belisquei só para me certificar de que não estava sonhando.

Enchi um prato com Waffles e joguei a calda de chocolate por cima, saboreando tudo com um bom copo de leite e, só notei o bilhete que havia no canto esquerdo do balcão quando já estava quase terminando de comer. Era um bilhete de Shannon, escrito com sua melhor letra garranchosa e dizia apenas: “me desculpe por ontem”.

Lavei as louças que havia sujado e, depois, fui ao encontro dele, na sala. Shannon estava sentado no canto do sofá, com a TV ligada em algum programa do Discovery Channel, que parecia ser seu canal favorito e havia uma caneca de café vazia na mesinha logo em diante. Ele não olhou para mim quando me sentei ao seu lado.

— Bom dia. – Eu o cumprimentei e ele balançou a cabeça, levemente, em reconhecimento. – Vi que fez o café da manhã. Não sabia que você cozinhava.

Ele não disse nada, tão pouco desviou os olhos da TV e sua falta de interesse em minha companhia me fez suspirar alto.

— Se não vai falar comigo porque me deixou aquele bilhete? – Perguntei incomodada com sua quietude.

Shannon se remexeu um pouco e, quando comecei a pensar que ele também não responderia a isso, ele disse:

— Estou envergonhado pelo que fiz ontem. Eu... não queria ter sido um babaca com você ou com a Lexy e, agora, estou com medo de que você vá embora e me deixe sozinho aqui.

As palavras dele fizeram meu coração se apertar.

— Você se sente sozinho? – Ele balançou a cabeça, assentindo.

Engoli em seco e ergui seu rosto para que ele olhasse para mim, mas seja lá o que eu ia dizer, fugiu da minha cabeça quando vi o quanto ele parecia cansado. Seus olhos estavam vermelhos e havia olheiras profundas sob eles, como eu nunca tinha visto.

— Você dormiu? – Shannon sacudiu a cabeça levemente, negando. – Você precisa dormir um pouco, Shannon.

— Não consigo.

— Eu posso te ajudar com isso. Deita aqui. – Coloquei uma almofada sobre o meu colo e, gentilmente, o puxei até que ele repousasse a cabeça ali. – Feche os olhos. – Pedi e, então, comecei a massagear seus cabelos, cantarolando a música Can’t Help Falling In Love, do Elvis Presley, em voz baixa para ele.

— Gosto dessa música.

— Eu sei. – Sussurrei e continuei minha tarefa.

Em poucos minutos, Shannon estava completamente adormecido em meu colo e percebi que precisaria falar com Lexy. Por mais que a atitude dele tivesse me assustado na outra noite, eu não poderia lhe virar as costas quando ele tinha me ajudado tanto e quando eu sabia que ele também precisava de ajuda. Portanto, eu não iria a lugar algum, a menos que Shannon me mandasse embora, mas precisava que Lexy me ajudasse a ajudá-lo.

Talvez, juntas, nós conseguíssemos salvá-lo dele mesmo.


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Notas finais do capítulo

NOTAS EXPLICATIVAS:
1) X Ambassadors: é um banda americana de rock alternativo formada em Ithaca, Nova York. O álbum de estreia da banda, intitulado VHS, foi lançado em junho de 2015 e suas características musicais são comumente associadas ao rock de bandas indie.

***

Então, galerinha, eu espero que vocês tenham gostado do capítulo e também da música que, dessa vez, não é uma composição do James Arthur, mas é uma música que gosto tanto quanto gosto das músicas dele (e vocês sabem o quanto gosto). Aliás, se quiserem, vocês podem ouvir as outras músicas citadas nesse capítulo que, na humilde opinião dessa escritora aqui, são todas maravilhosas. Destaque para a música Kids, do Onerepublic que atualmente é a mais tocada na minha playlist haha

Vejo vocês no próximo capítulo. Obrigada por acompanharem.
Até breve.



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