Naruko escrita por Monna Belle


Capítulo 1
Capítulo I




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Eu nunca me senti dessa forma antes. Tento controlar minha respiração pela milésima vez, mas isso não me acalma nem por um segundo. O meu corpo inteiro sua como se eu tivesse passado por um daqueles treinamentos de horas sem descanso, minhas mãos estão trêmulas e meu coração bate tão rápido e tão forte que consigo sentir os batimentos até nas pontas dos meus dedos. Essa é a primeira vez na vida que sinto medo e não estou sabendo me recompor diante disso.

Devo admitir, pelo menos para mim mesma, que nesse momento a Haruno é uma ninja muito mais experiente que eu. Ao ver Naruto e Sasuke após a luta, no chão e sem um dos braços, ela foi extremamente eficiente em trazê-los para o hospital e vir tratá-los imediatamente, enquanto eu, que cheguei a treinar ninjutsus médicos com o próprio Kabuto, paralisei e me tornei apenas um peso morto. Até mesmo agora, estou na sala de espera, ou o que restou dela, apenas aguardando alguma notícia, pois acabo de perceber que não conseguiria lidar com o fato de que um dos dois morreu pelas minhas mãos.

Rio sozinha dessa ironia. Pouco tempo que estou em Konoha e já havia me tornado sentimental dessa forma. Orochimaru-sama jamais me permitiria sentir esse medo todo e fraquejar assim. Olho para o corredor mais uma vez... A Haruno e a Godaime estão lá há tanto tempo que já não sei se isso é bom ou ruim. Os outros iryō-nins* estão espalhados pelo campo de batalha procurando mais feridos de guerra para tratar ou trazer para cá.

Se eu tivesse que escolher apenas um dos dois pra sobreviver. Qual eu escolheria? Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos e no mesmo minuto a Haruno aparece. Levanto exaltada esperando ela dizer algo, mas ela apenas sorri pra mim. Isso quer dizer que está tudo bem. Suspiro aliviada e toda a tensão que estava sentindo parece ter saído nessa respiração. Caminho em direção à ela e coloco uma das mãos em seu ombro.

— Qual quarto? – Por algum motivo, ela sorri antes de responder.

— Sete.

Deixo-a sozinha com seus pensamentos e corro até o quarto sete. Ao abrir a porta, dou de cara com duas camas. Naruto na primeira, próximo à porta e Sasuke próximo à janela. Vou até Naruto e o olho de cima a baixo. Não há com o que me preocupar, as iryō-nins fizeram sua parte, Kurama cuidaria de todo o resto e em pouquíssimo tempo ele estaria pulando, gritando e fazendo macaquices de novo.

Só que minha maior preocupação era com ele. Caminhei cautelosa até a cama de Sasuke para confirmar o que já imaginava. O estado dele é bem pior que o de meu irmão... Todos os arranhões e feridas leves que sofreram já sumiu do corpo de Naruto, e as maiores estão cicatrizando, agora as dele, não. A Haruno conseguiu tirar a vida deles de perigo, fechando e parando o sangramento do que restou dos braços deles e ainda acredito que já está cuidando de outros pacientes, ela deve estar exausta.

Não tenho dúvidas de que Sasuke irá se recuperar, mas para isso irá sofrer bem mais que Naruto. Puxo uma cadeira e me sento ao lado da cama do Uchiha. Por mais irritante que ele seja, é a pessoa mais próxima que eu tenho. Estendo as mãos sobre o dorso dele e respiro fundo a fim de me concentrar e iniciar o shōsen Jutsu. Mesmo que agora esteja com pouco chakra por causa da guerra, ainda consigo diminuir um pouco esse estrago.

Após alguns minutos, os ferimentos menores já fecharam. Paro o jutsu para bocejar e tento me alongar ali mesmo; não durmo há dias e gastei todas as minhas energias na guerra, mas não posso dormir aqui, preciso ir para casa primeiro, isso se ela não foi destruída também, eu espero... Se não ia ter que arrumar outro lugar pra poder dormir.

...

Bocejo novamente e me sento na cama antes de abrir os olhos. Pera, que? Cama? Olho em volta e estou no hospital ainda, mas agora estou sentada na cama que o Naruto estava. O que aconteceu? Cadê meu irmão? Levanto exaltada e o Uchiha ainda está na cama ao lado. Vou até ele e olho para os lados procurando mais alguém. Será que isso é um sonho?

Encosto o indicador na bochecha dele e imediatamente ele abre os olhos e me encara com aquela expressão azeda de sempre. É, acho que não estou sonhando. Fico aliviada por ele estar acordado e me sento na mesma cadeira que lembro estar antes do apagão. Será que eu estava tão cansada que dormi? Parece mais que me desmaiaram.

Imediatamente olho para a outra cama e me vem uma sensação ruim. Volto a olhar para o Sasuke e espero uma resposta, mas como ela não veio, resolvi perguntar eu mesma.

— Cadê o Naruto?

— Já teve alta. – Ainda bem... Realmente não deveria me preocupar, ele também é hospedeiro da Kyuubi afinal.

— Você ainda sente muita dor? Está melhor?

Ele apenas acenou positivamente com a cabeça, o que significava que eu podia finalmente me acalmar e conversar com ele sobre o ocorrido. Levantei e soquei a cabeça dele com força, fazendo com que, instintivamente ele ativasse o sharingan, mas o olhar ainda era confuso.

— QUAL A PORRA DO SEU PROBLEMA, UCHIHA? – Ele me olhava com tanta dúvida que só me irritava mais. – Primeiro tu chega lá na MINHA CASA, falando pro Orochimaru que quer ficar forte, matar seu irmão e reconstruir seu clã. Até aí ok. Você matou seu irmão, descobriu que estava errado e resolveu se unir com o Naruto na guerra. Tudo bem, eu te apoiei, mas QUAL A QUANTIDADE DE MERDA QUE OS DOIS TEM NA CABEÇA PRA TER A IDEIA DE LUTAR LOGO QUE UMA GUERRA TERMINA? SE NÃO FOSSE A HARUNO, OS DOIS ESTARIAM MORTOS. – Ele chegou a abrir a boca para responder, mas o parei. – NÃO, VOCÊ CALA A BOCA! – Ele fechou a cara. – E O PAPO DE RECONSTRUIR O CLÃ? SE TIVESSE MORRIDO OS UCHIHAS TERIAM MORRIDO COM VOCÊ. TODO O SEU ORGULHO E AS SUAS CHATICES COM ESSA PORRA DE CLÃ SERIAM EXTINTOS.

Após o sermão voltei a me sentar na cadeira, e o bonito ficou em silêncio enquanto me encarava como se fosse pular no meu pescoço e me matar.

— Você não tem nada a ver com o que eu faço da minha vida. – Ah desgraçado, tu não disse isso.

— Tenho sim... Kimimaro morreu por sua causa, tu matou o velho, Kabuto ficou louco, você foi embora e libertou todos dos laboratórios. Você me deixou sem família. – Quando ele quis mencionar o Naruto, já o cortei. – Cala a boca! Já falei pra não me interromper. Sabe que é diferente. Eu não me sinto em casa quando estou em Konoha... E não sei se um dia vou sentir. – Pera, tô ficando muito emotiva nessa conversa. – E, por ter acabado com a minha vida, você me deve satisfação da sua.

— Não te devo nada.

— Pode negar o quanto quiser, mas sabe que é verdade. E pode parar de me encarar com esse sharingan aí que você mal tá dando conta de ficar de pé, quanto mais me encarar numa luta... E ainda por cima com só um braço...

—  Eu sou um Uchiha, não preciso dos dois braços pra te matar. - Ah, começou. Reviro os olhos logo que ele começa com esses papos de Uchiha isso, Uchiha aquilo. Ri na cara dele antes de prosseguir.

— Nem uma experiência de quase morte te faz ser menos arrogante, não? Tu era canhoto até ontem, vai ter que aprender até a limpar a bunda de novo agora... – Se ele tivesse bem de saúde teria me atacado agora... Melhor eu me aproveitar que ele tá debilitado enquanto posso... Certeza que esse desgraçado abençoado vai se recuperar e ficar ainda mais forte.

Só naquele momento ele foi se sentar e percebi que o fez com dificuldade. Esse maldito orgulhoso, se está com dor é só falar. Levanto irritada e puxo o lençol que o cobria procurando por machucados visíveis sobre o torso, já que ele está apenas vestindo calças e ataduras.

Ele me encara desconfiado, mas ignoro e passo a pressionar pontos em seu peito e abdômen pra ver se reage a algo, mas nada. Repito o procedimento em suas costas e, apesar dele tentar disfarçar, encontro o ponto em sua lombar.

— Deita de bruços, Uchiha.

Como sempre, antes de obedecer a qualquer coisa, ele pondera por alguns momentos, mas cede. Logo que ele se deitou, respirei fundo e estiquei as mãos sobre o local dolorido, ativando o shōsen Jutsu em seguida. É irônico pensar que eu raramente precisava curar algum ferimento desse arrogante do caralho, mas sem ele não teria conseguido o domínio de jutsus médicos.

Lembro-me perfeitamente das dificuldades que tive para conseguir dominar chakra com perfeição. Sempre tive mais facilidade em manipular o chakra de Kurama do que o meu próprio, por isso sempre que tentei usar ninjutsus medicinais matei o paciente. Isso até conhecê-lo.

Fazia quase um ano que Sasuke já estava conosco quando cismei que queria aprender ninjutsus médicos. Pedi ao Kabuto e ele tentou me ensinar, mas era tudo em vão. Eu não conseguia controlar meu próprio chakra e o chakra da Kyuubi era inútil quando se tratava de curar alguém. Quando estava prestes a desistir, Orochimaru-sama chegou até mim e disse que tinha uma ideia para fazer com que aquele plano funcionasse. Ele reuniu a mim e ao Sasuke na sala de treinamento antes de nos contar o que planejava.

— Pare de enrolação, Orochimaru. Preciso iniciar meu treinamento. – Sasuke era impaciente como sempre e, se Kabuto o escutasse, diria a ele que aqueles não eram modos de se dirigir ao velho.

— Mas esse é o plano, Sasuke. Você irá treinar suas habilidades com o sharingan hoje. – Orochimaru-sama me encarou e não tive um bom pressentimento sobre aquilo. – Suprimindo o poder da Kyuubi para que a 455 possa treinar suas habilidades com seu próprio chakra. – Só pode ser brincadeira.

— Isso é uma violação! Ele não pode simplesmente entrar na minha cabeça e fazer o que quer. E também o Kurama não vai gostar nada disso. – Sasuke não disse nada. Devia ter gostado da ideia.

— É a única forma de você dominar seu próprio chakra, 455. O que fará quando o do Kurama acabar? – Fechei o semblante e não respondi. Apenas respirei fundo antes de prosseguir.

— Que seja então. – Sasuke parou na minha frente com um sorriso debochado. Aquele maldito. – Só não vá ficar espionando minha mente.

Logo que ele ativa o sharingan, sinto um arrepio percorrer meu corpo e, após ter algumas visões estranhas de minha própria vida estou de volta a mim, diante de Orochimaru e Sasuke. Ele não havia encontrado a Kyuubi. Respiro fundo e levo uma das mãos à cabeça. Aquilo era exaustivo.

— Tente de novo. – Ao ouvir a voz de Orochimaru-sama, Sasuke nem questionou antes de invadir minha mente.

E isso se repetiu por mais doze vezes. Àquela altura já estava exausta, minha cabeça parecia que não ia aguentar, meus pensamentos estavam ficando embaralhados, mas nada do Kurama ainda, até que...

— Achei. – Logo que ouvi a voz de Sasuke me vi próxima ao selo de aprisionamento da Kyuubi com Sasuke ao meu lado.

— Esse maldito sharingan é mesmo impressionante, a ponto de um filhote de Uchiha conseguir me ver aqui dentro. – A voz de Kurama ecoava pelas paredes e aquela foi a única vez que eu vi o Sasuke espantado.

— Então é daqui que vem todo seu poder. – Ele me encarou ao falar, mas naquele momento voltamos a estar diante de Orochimaru-sama.

Sasuke já havia usado demais o sharingan, então estava exausto para continuar ou, pior ainda, para encarar a Kyuubi.

Apenas após três dias fomos tentar novamente, mas, na realidade, foram necessárias quatro semanas até Sasuke conseguir encontrar Kurama de primeira e reprimir seu chakra e então mais duas, até que eu aprendesse a manipular o meu próprio. Todo aquele treinamento era extremamente desgastante para ambos, mas Sasuke parecia estar gostando. Apesar do choque inicial que foi se encontrar e conversar com a própria Raposa Demônio, com o passar do tempo ele passou a ficar indiferente à ela e ainda mais convencido do poder que seus olhos têm.

Só quando completamos quatro meses de treinamento eu consegui manipular meu chakra sem que Sasuke precisasse entrar em minha mente e foi então que passei a treinar com afinco os ninjutsus medicinais e nunca mais permiti que aquele sharingan alcançasse o Kurama.

 

Despertei de meus pensamentos quando ouvi a porta do quarto sendo aberta, revelando meu irmão e a Haruno. Parei o ninjutsu e Sasuke, que havia dormido, acordou. Nunca havia visto duas pessoas tão radiantes antes. Ninguém poderia dizer que haviam acabado de sair de uma guerra ou que um deles havia perdido um dos braços.

— Como se sente, Sasuke-kun? – A Haruno tinha um cuidado com o Uchiha que me parecia que ele estava com alguma doença terminal. Ela o ajeitou na cama, verificou o ferimento em seu braço, temperatura, tudo enquanto Naruto observava em silêncio.

O amor que eles têm por Sasuke chega a ser digno de pena, pois ele nunca irá corresponde-los à altura, especialmente à Haruno, que já percebi uma leve obsessão estranha.

— E você, Naruko? Como se sente? - Logo após examiná-lo, ela veio em minha direção, fazendo com que eu recuasse.

— Estou ótima, não precisa... Érrrr... Verificar. – Ela então recuou um passo e desviou o olhar para o Sasuke novamente. Por mais que ela tentasse evitar olhá-lo, estava sempre olhando.

— Você dormiu em cima do Sasuke. – Naruto sorria mais que o normal ao falar. Então eu realmente dormi! Caramba... Como isso foi possível?

Ignoro esses pensamentos ao observar os outros três. Todos estavam bem emocionados com a situação e, após alguns minutos de silêncio, com cada um perdido em seus próprios pensamentos, Sasuke é, para a surpresa de todos, o primeiro a se manifestar.

— Me desculpem. – Essa é a coisa mais surpreendente que eu já ouvi em toda a minha vida e anos como ninja. – Por tudo que eu fiz.

Meu irmão sorriu e a Haruno começou a chorar imediatamente. Acho que eu não devia estar nessa reunião deles.

— Idiota. – Ela tentava parecer durona ao falar, mesmo chorando incessantemente. - Você me causou tantos problemas. – Após ela falar, ele sorriu. CARALHO. O SASUKE SORRIU. Eu sei que eu devia ir embora e não estar aqui nessa reunião, mas se eu sair daqui agora vou me remoer pelo resto da vida.

— Naruto, você nunca desistiu de mim, independente do que eu fizesse. Mesmo que eu fizesse de tudo para que me odiasse, você continuou dizendo que sou seu amigo. Hoje ao me lembrar o que me disse uma vez, sobre eu ser como um irmão para você, consigo entender o seu sentimento, assim como pude entender a dor de Itachi e de minha família. – Caralho.. Tô passada.

Acho que, pela primeira vez, eu posso ter errado. O Sasuke, talvez, possa realmente corresponder aos sentimentos deles. Naruto tentou se fazer de durão até onde pôde, mas logo começou a chorar também e tirou algo do bolso, estendendo ao Uchiha. Era uma bandana com o símbolo de Konoha riscada.

— É bom ter o meu amigo de volta. – Sasuke a pegou surpreso e sorri diante da cena... Muito fofo gente, agora já posso ir embora... – E ele ainda consegue me trazer uma irmã. – Que? Ele me estende outra bandana... Ele tá invocando bandanas, tirou do cu? De onde isso saiu? – E essa é sua.

— Opa opa opa... Vamos com calma, Naruto. Sou de Oto*.

— Você é minha irmã! É de Konoha muito antes de ser de qualquer outro lugar. - Ai caralho, e agora?

— Mas eu... – Vai ninja de elite meia boca, pensa numa resposta. – Preciso ir.

— Se for embora, irei atrás de você. – Ah não, Naruto. Por favor, não.

— E ele vai mesmo, hein. – Os três riram. Agora Sasuke está fazendo piadas também? Em que mundo paralelo eu entrei e por que Konoha muda as pessoas dessa forma?

Suspirei derrotada e peguei a bandana da mão de Naruto.

— Eu vou pensar.

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* Iryō-nin: ninja médico

* Oto = Otogakure = Vila oculta do som


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas... ♥
Estou com essa ideia parada há um tempo e resolvi pô-la em prática.
A intenção é ir postando os capítulos de cada fic alternadamente.
Qualquer sugestão, estou aberta.

Espero que gostem. ♥♥♥



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