Nosso Amor escrita por Antônio de Sales


Capítulo 3
Decepção


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior: Diogo e Lara discutiram. Robert despistou Olga. Cleiton enganou Daniela. Diogo desabafou sobre Lara com Robert. Diogo e Robert enganaram Olga. Diogo e Narmo conversaram. Cleiton e Robert conversaram sobre Diogo. Cleiton visitou Diogo. Lara se reconciliou com Diogo. Passagem de tempo. Cleiton falou com alguém por telefone sobre o exame de Diogo. Diogo foi com Lara á clínica busca o resultado do seu exame.



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(Tema de abertura: Quem Irá Nos Proteger – Vanessa da Mata)
CENA 1: Praça Dr. José Neves Júnior/Santo Agostinho/Interno/Manhã:
LARA: O que foi, está tudo bem?
DIOGO: Deu positivo!
LARA: O que?
DIOGO: O exame Lara, deu positivo.
(Ele olha para ela e começa a chorar)
DIOGO: Lara, infelizmente eu...
LARA: Depois de tudo o que passamos nestes últimos dias... Um clima tão legal! Não achei que fosse acabar tudo assim!
DIOGO: Acabar tudo assim? Mas como?
LARA: Eu não posso. Isso é... Completamente fora de cogitação.
DIOGO: Eu não acredito no que eu estou pensando. Você não seria capaz disso!
LARA: Diogo, eu não estou preparada para lidar com essa situação. Até porque eu achei que isso não aconteceria.
DIOGO: Eu também não. E agora com esse susto, pensei que enfrentaríamos isso juntos. Que você me daria o seu apoio. Como uma parceira realmente faz!
LARA: Desculpe-me Diogo. Não vai dar.
DIOGO: Lara você não pode fazer isso comigo. Ainda mais agora!
LARA: Não posso namorar um cara doente. E se você me contaminar também?
DIOGO: Você pode estar contaminada também...
LARA: Já fiz o teste! Deu negativo. Me desculpe, mas... Isso é muito pra mim.
DIOGO: Ótimo, vai lá pegar outro idiota pra infectá-lo então. Se isso você já não fez pra comemorar o resultado do exame!
LARA: O que?
DIOGO: Do seu exame!
LARA: Você não pode falar assim comigo.
DIOGO: Você acha que é a dona do mundo, né? Me sacaneia na primeira vez, agora me abandona e ainda diz que não posso falar assim com você? Eu posso, devo e vou falar o que eu quiser!
(Ele começa a alterar o tom da voz)
LARA: Não vou ficar aqui discutindo com você.
(Ela vai embora)
DIOGO: VOCÊ É UMA VERGONHA PARA AS OUTRAS MULHERES! SUA CACHORRA! LOUCA VARRIDA! PENSEI QUE VOCÊ SE IMPORTASSE COMIGO!
(Ele chora ainda mais e se senta num banco próximo)

CENA 2: Saída do hospital/Externo/Manhã:
ROBERT: Espero que tenha escutado atentamente as recomendações da médica. Pois irá seguir todas á risca!
NARMO: Filho, não precisa se preocupar desse jeito! Foram só alguns resultados, nada demais.
ROBERT: Foram só alguns resultados, mas foram os resultados dos seus exames! O de colesterol acho melhor mamãe nem saber.
(De repente, Daniela aparece)
DANIELA: Bom dia senhor Narmo, como vai?
NARMO: Bom dia Daniela. Vou bem graças as Deus, e você?
DANIELA: Ótima também.
NARMO: Então está joia.
DANIELA: Bem, eu vim chamar o Robert pra tomar um suco...
ROBERT: Desculpe Daniela, mas não vai dar. Tenho que ir pra faculdade agora, estou mega atrasado!
NARMO: Enquanto isso eu vou tomar um shop...
ROBERT: Você vai é pra casa, ok? Não tem trabalho hoje, nem shop nem nada! São recomendações da médica, lembre-se!
NARMO: Robert, eu é que tenho que ditar as ordens aqui, esqueceu?
ROBERT: Tudo bem, vou falar pra mamãe te dar os remédios então.
NARMO: Se cuidem!
(Ele se despede dos dois e entra num táxi)
TAXISTA: Para onde?
NARMO: Pro Caiçara, por favor.
(Ele encara Robert, que disfarça um sorriso)
DANIELA: Oh, mas jura que você vai me dispensar dessa maneira fria? Há há...
ROBERT: Me desculpe Dani, mas é que agora não vai dar. Combinamos depois, ok?
DANIELA: Tudo bem, bons estudos!
ROBERT: Obrigado.

CENA 3: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/Interno/Manhã:
MARY: Sr. Cleiton, fique a vontade, esta bem? Palmiro está limpando os outros cômodos, por isso te atendi para que você não esperasse lá fora.
CLEITON: Mary, eu te agradeço pela gentileza comigo, viu? Posso te chamar assim, né?
(Ele sorri)
MARY: Mas é claro, seu Cleiton o senhor tem todo o direito.
CLEITON: Opa, opa, opa. “Seu Cleiton” não! Pra você é “Cleiton”. Ok? Somos da família.
(Ele ri)
MARY: Está bom então, Cleiton!
(Ele balança a cabeça de satisfação)
MARY: Mas... Os meninos não estão agora. O Sr. Narmo saiu com o seu Robert logo cedo e o Diogo, eu não sei pra onde foi. Mas se eu puder ajudar!
CLEITON: Sim Mary, o Diogo estava comigo agora a pouco. Inclusive ele me pediu pra vir aqui buscar o celular que ele esqueceu.
MARY: Que estranho. Ele é que devia ter vindo não?
CLEITON: Sim, mas ele tem três provas hoje e como não queria se prejudicar em umas das matérias, ele...
MARY: Ah sim, está certo! Então pode ir lá, você já sabe onde fica o quarto dele, não é?
CLEITON: Sei sim, obrigado!
(Após Mary se retirar, ele vai para a área dos fundos da casa, entra no quartinho de limpeza, pega um balde, um pano e um rodo, fecha a porta deixando do jeito que estava antes, sem levantar nenhuma suspeita, e se encaminha para o quarto de Narmo e Olga. Quando chega na porta enrola o pano no rodo e o coloca ao lado do balde, do lado de fora da porta. Ele entra no quarto, fecha e tranca.)
CLEITON: Agora vamos ver, onde aquele casal de cibernéticos guarda o que um dia será meu!
(Mary que está saindo da cozinha, passa em frente ao quarto do casal porém, vê os objetos ao lado de fora)
MARY: Palmiro ainda não terminou a faxina no quarto do Sr. Narmo e da Dona Olga? Ele deve limpar esse corredor depois! Melhor sair daqui.
(Ela volta para a cozinha)
CLEITON: Mas será possível que no meio de tanta tralha antiga, não está o que eu procuro? Será que tá no trabalho da Olga? Não!
(Ele começa a vasculhar o guarda roupa do casal, mexe em algumas gavetas mas, não encontra nada! Decide revistar a cômoda na parede ao lado, mas também não tem sucesso. Olha então para o abajur do lado de Narmo na cama, com um livro fechado e um óculos em cima, com uma gavetinha embaixo, da cor verde clara. Ele abre e encontra um chaveiro. Ele pega o chaveiro, sorri e resolva fechar a gaveta para que ninguém dê falta das chaves que pegou. Ao sair do quarto, deixa o guarda roupa aberto, todo revirado com o balde, o pano e o rodo do lado de fora, voltando para a sala de estar, fingindo não ter saído ainda)
MARY: Cleiton? Você já pegou o celular...
(Diz Mary que caminha pela casa novamente passando pelo cômodo)
CLEITON: Sim, o Palmiro me entregou.
MARY: O Palmiro? Como assim?
CLEITON: Ele me viu sentado aqui e então se ofereceu para ajudar. Pedi a ele que fosse ao quarto de Diogo pegar seu telefone para mim, já que ele disse que iria ao quarto do Narmo e da Olga fazer uma faxina!
MARY: Ah, sim. Eu vi a bagunça que ele armou do lado de fora. Faz isso sempre! Primeiro varre e depois umidece tudo.
CLEITON: Sim, mas agora então eu vou. Não quero mais incomodar vocês!
MARY: Imagina, volte quando quiser!
CLEITON: Ok, tchau.
(Ele sai da casa)
CLEITON: Semeei as sementes, agora é só colher os frutos!

CENA  4: Shopping Jardim/2° Andar/King Coffee/Interno/Dia:
DIOGO: Como se não bastasse isso tudo, eu tenho a impressão de que o pior ainda está por vir.
LETÍCIA: Diogo, você está muito assustado. É normal, depois de um choque desses, mas tente manter o pensamento positivo, por mais difícil que seja.
DIOGO: Eu não consigo. Sabe, eu tenho uma sensação de que o pior ainda vai chegar. E isso me ainda mais.
LETÍCIA: Que tipo de sensação é essa? O que é isso que está te perturbando além da doença?
DIOGO: Eu... Estou com receio, Letícia!
LETÍCIA: Mas receio de que? De quem?
DIOGO: Receio de que alguém que eu gosto muito se vire contra mim. Do nada! Assim, sem mais nem menos.
LETÍCIA: Quando que você começou a sentir isso?
DIOGO: Hoje de manhã. Quando olhei o resultado do exame.
LETÍCIA: Então está explicado, Diogo. É efeito pós-resultado. Você ainda não conseguiu colocar a cabeça no lugar depois desse baque. E claro, eu te entendo. Afinal ter HIV é...
DIOGO: O mesmo que marcar o dia da morte. Só que sem saber!
LETÍCIA: Diogo, não seja pessimista. Hoje em dia tem bons tratamentos. Você logo vai se acostumará a viver com a doença.
DIOGO: Não sei, Letícia. Estou achando que...
LETÍCIA: Que o que?
DIOGO: Que não vou tratar a minha doença!
LETÍCIA: Diogo?! Você está louco?
DIOGO: Eu não vou aguentar. Sabe, ter várias crises, minha família toda sofrendo, tratamentos inúteis, vômitos, e o pior: nunca mais poderei transar com tranquilidade. A não ser que a minha parceira seja também soro positiva mas, olha a que ponto que eu terei que chegar?
LETÍCIA: Diogo você não precisa pensar dessa maneira radical. Hoje em dia existem pessoas maduras, mulheres maduras que conseguem aceitar o fato de seu companheiro ser soro positivo. Eu por exemplo, tentaria sei lá, levar uma vida normal caso o meu parceiro fosse.
DIOGO: Mas acontece que não são todas que pensam assim! Até agora eu não consegui acreditar que Lara me abandonou por causa disso. E isso só me mostra que noventa por cento das pessoas são preconceituosas e covardes!
LETÍCIA: A Lara deve ter ficado tão assustada quanto você. Ou até culpada, já que foi ela quem começou tudo isso. Ela vai voltar atrás e te procurar.
DIOGO: Mas agora eu não quero! Ela que siga o caminho dela que eu seguirei com o meu. Em menos de um mês ela já fez duas barbaridades comigo, não preciso de uma terceira. Virarei essa página pra seguir em frente.
LETÍCIA: Saiba que o meu apoio você sempre terá de verdade!
DIOGO: Obrigado.
(Ele pega na mão dela)

CENA 5: Casa da família Gonzaga/Sala de estar/interno/Manhã:
PALMIRO: Sr. Narmo! Por que não nos avisou? Mary teria ido ao supermercado Epa Plus ajudar o senhor.
NARMO: Oh, não precisava Palmiro. Comprei apenas os itens básicos! Eu estava dentro do táxi quando tive a ideia de passar lá. Pedi ao motorista que me acompanhasse em troca de uma gorjeta extra.
PALMIRO: Mesmo assim Sr. Narmo, teríamos ido lá ajudar ao senhor, com licença.
NARMO: À vontade!
(Ele entrega as compras ao empregado)
NARMO: Eu vou para o meu quarto, você já fez a faxina?
PALMIRO: Sim, Sr. Narmo, hoje bem cedinho, assim que o senhor saiu.
NARMO: Ok, darei uma descansada. Avise-me quando a refeição estiver pronta!
(Narmo caminha em direção ao seu quarto, mas quando chega, encontra o guarda-roupa aberto, todo fuçado, olha para a cômoda: algumas gavetas abertas, ele vê algumas coisas fora do lugar, pega e reorganiza tudo quando olha para a porta de novo, vê o rodo com o pano enrolado na ponta mais o balde do lado e faz uma cara de intrigado)
NARMO: Palmiro venha até o meu quarto, por favor. E chame a Mary também.
PALMIRO: Sim senhor.
(O empregado que estava dando início ao almoço larga a panela, chama a companheira de serviço e logo, se encaminham ao quarto do patrão)
NARMO: Eu posso saber, quem de vocês mexeu nas coisas minhas e nas da Olga?
(Os dois serviçais se olham assustados)
PALMIRO: Senhor, eu não mexi nas suas coisas, e nem nas da dona Olga, eu juro. Jamais faria uma atrocidade dessas com vocês, pra quem eu trabalho á anos!
MARY: Eu também nunca faria isso, senhor. Uma vez que o meu trabalho é ficar lá fora, arrumando o jardim, vigiando a garagem e sendo a motorista!
(O patrão fica em dúvida entre acusá-los ou não e resolve fazer o seguinte)
NARMO: Tudo bem, falamos sobre isso depois. Podem voltar ao trabalho.
(Os serviçais saem do quarto)
MARY: É, viu Palmiro? Tô sabendo... Estava fuçando as coisas do Sr. Narmo atrás de uma revista playboy. Safado!
PALMIRO: Oh! Mas o que? Você me respeite, Mary. Eu nunca faria isso, que comentário mais estapafúrdio é esse? Não estava fuçando nada, e muito menos atrás de uma revista dessas! Se eu quisesse, eu mesmo compraria.
MARY: Sério? Então porque você estava mais cedo no quarto deles com a porta fechada?
PALMIRO: Eu? Mas eu não estava no quarto deles e muito menos com a porta fechada, onde já se viu? Pare de inventar calúnias ao meu respeito!
MARY: Mas eu vi! Com esses dois olhinhos aqui. O quarto fechado com aquele rodo com o pano enrolado mais o balde do lado de fora.
PALMIRO: Mas... Meu Deus, como que eu esqueço isso na porta do quarto do Sr. Narmo e da dona Olga? Ele podia ter me xingado.
MARY: Aráá... Então você admite!
PALMIRO: Não admito nada, pare com essas acusações. Além do mais, jurava que eu já tinha levado esses objetos de volta ao quartinho da faxina. Quem será que os pegou? Foi você!
MARY: Ah, não me venha com essas não, até porque eu nem gosto de revista playboy.
PALMIRO: Eu já disse que não estava atrás de revista nenhuma!
MARY: Tudo bem pode ficar tranquilo que o seu segredo está seguro comigo!
(Ela ri e depois sai caminhando)

CENA 6: Shopping Jardim/2° Andar/King Coffee/Interno/Dia:
LETÍCIA: Quem mais sabe da notícia além da Lara?
DIOGO: Só você.
LETÍCIA: Então a notícia ainda está fresca.
DIOGO: Letícia, fiquei sabendo disso a poucas horas, não me sento confortável.
LETÍCIA: Mas você sabe que precisa contar para sua família. Eles merecem e acima de tudo, precisam saber.
DIOGO: Você sabe qual será a reação de dona Olga ao saber disso, não sabe? Imaginou pelo menos?
LETÍCIA: Te entendo. Minha tia é uma pessoa bem complicada. Falo isso pelo pouco que convivo com ela.
DIOGO: Exatamente!
LETÍCIA: Mas você é o filho querido dela, que não pegará tão pesado com você.
DIOGO: Quem não a conhece que a compre. Mas eu vou contar pra eles sim. Só estou esperando as minhas forças se renovarem.
LETÍCIA: Se quiser, eu posso estar lá com você na hora.
DIOGO: Não Letícia, muito obrigado. Eu quero fazer isso sozinho mesmo, ter a oportunidade de enfrentar o verdadeiro lado da minha mãe.
LETÍCIA: Corajoso você! E vai fazer isso hoje?
DIOGO: Primeiro eu vou contar apenas pro papai e pro Robert. Depois quando eu estiver melhor, e eles puderem me ajudar, eu conto pra dona Olga.
LETÍCIA: Eu acho que você está escolhendo o melhor caminho.
DIOGO: Na medida do possível!
(Ela sorri para ele)
DIOGO: Mas agora me fala, quando que você vai lá pra casa?
LETÍCIA: Ah, no dia que meus pais se mudarem para Lisboa.
DIOGO: Eu ainda não acredito que você prefere morar na minha casa com a dona Olga, do que ir para Lisboa.
(Os dois riem)
LETÍCIA: Ah, eu não gosto daquele lugar. Me lembro até hoje da viagem que fiz com eles quando eu era mais nova. Iríamos ficar 10 dias e voltamos com quatro. Tomei antipatia de lá, literalmente. Não quero ir nem se for pra fazer visitas.
DIOGO: Pelo visto o negócio foi marcante mesmo! Eu iria feliz da vida! Quer dizer, se eu pudesse pelo menos!
LETÍCIA: Isso vai passar Diogo. Pode confiar!
DIOGO: Pior de tudo é essa sensação de bote me sufocando aqui dentro. Só quero mesmo é ficar livre disso. E poder contar com o apoio das pessoas que eu amo.

Anoitece ao som de “Marcia Rodinha” Ramatis – 00:26 á 01:31

CENA 7: Casa da família Gonzaga/Mesa de jantar/Interno/Noite:
(Diogo, Narmo e Robert estão sentados á mesa com Narmo no meio, Diogo á sua direita e Robert á esquerda)
NARMO: Então meu filho, o que deseja nos comunicar?
DIOGO: É pai... Um assunto muito grave! Bem difícil de lidar.
NARMO: Meu filho, você está me preocupando.
ROBERT: Diogo o que foi, vocês brigaram de novo?
NARMO: Vocês? Como assim Diogo? Andou brigando na rua?
DIOGO: Não pai. Vocês já vão entender. Então... Eu vou direto ao ponto, depois eu explico os detalhes.
(Ele começa a chorar)
NARMO: Meu filho, o que está acontecendo? Estou ficando preocupado.
(Narmo se aproxima do filho e o abraça)
DIOGO: Eu... Sou soro positivo.
(Ele continua chorando e Robert se levanta da cadeira)
NARMO: Meu filho você sabia disso?
ROBERT: Não! Mas eu tinha minhas suspeitas!
NARMO: Como assim? Porque vocês esconderam isso de mim?
DIOGO: Eu fiquei sabendo disso hoje. Tive que pensar muito antes de falar pra vocês.
ROBERT: E eu não sabia. Apenas suspeitava.
NARMO: Meu filho, como você foi se submeter á uma coisa dessas?
DIOGO: Eu... Conheci uma garota, e... Nos ficamos, e...
NARMO: Não se cuidaram!
DIOGO: Ela que não quis.
NARMO: E você aceitou numa boa.
DIOGO: Não, na hora eu não sabia que ela não tinha usado... Eu só fui descobrir depois, quando vi o preservativo dela fechado no chão, aí ela assumiu que tinha pegado o meu também.
NARMO: Que garotinha irresponsável essa! Deve ser uma vergonha para os pais dela.
ROBERT: E ela já sabe?
DIOGO: A Lara?
NARMO: Lara? Esse é o nome dela?
DIOGO: Sim. Ela já sabe. Inclusive, terminou tudo comigo por causa disso.
NARMO: Meu Deus, mas que vagabunda!
ROBERT: Pai.
NARMO: Desculpe Diogo. Mas só esse tipo de gente é capaz de cometer uma atrocidade dessa! Ela não quis que você se prevenisse. O que ela queria? Que você ficasse bem depois disso? Espero nunca conhecer esse projeto de mulher. E você, nunca mais olhe pra ela.
DIOGO: Mas pai, eu gosto dela.
NARMO: Pois então desgoste! Já pensou como sua mãe irá ficar quando souber disso?
(Cleiton invade a casa deles nesse momento por ver as luzes acesas e imaginar que Diogo deve estar revelando “sua doença” para a família. Ele entra pela porta dos fundos, passa pelo quartinho de faxina, despista os empregados que estão jogando baralho e se esconde na parede atrás da sala de jantar)
DIOGO: Por favor, me ajudem nisso. Mamãe já mais poderá sonhar com isso.
ROBERT: Diogo, uma hora ela vai ter que saber. Isso não vai ficar oculto a ela pra sempre.
NARMO: E ela é sua mãe, se preocupa muito com você. Ela não só merece como deve saber!
DIOGO: Mas eu não quero contar, eu estou com muito medo!
(Ele continua chorando)
ROBERT: Diogo a gente vai te ajudar nessa, ta?
(Ele estende o braço em volta do pescoço do irmão)
NARMO: Meu filho não precisa ter medo. Sua mãe não fará nada de mal á você, porque eu não irei permitir.
DIOGO: Me desculpa, pai... Me desculpa por te dar esse desgosto!
NARMO: Meu filho não precisa se desculpar. Eu sempre te amarei!!
(Ele passa a mão na cabeça do filho e sorri para Robert)

CENA 8: Portão da casa da família Gonzaga/Interno/Noite:
(Ao ver a união dos três, Cleiton faz uma cara horrível para Diogo e sai do cômodo de fininho. Ele despista os empregados que ainda estão jogando buraco e sai pela porta dos fundos. Ele entra desta vez pelo portão da frente, e se esconde no jardim á espera de Olga. Ao ver a esposa de Narmo chegar e entrar pelo portão, ele a espera virar para fechar o portão e finge estar saindo, fazendo com que Olga se depare com ele quando vira de volta para subir as escadas)
OLGA: Cleiton? O que faz aqui?
CLEITON: Oi dona Olga. Desculpe, mas eu estou de saída.
OLGA: Espere! Você está chorando?
CLEITON: Me desculpe dona Olga... Mas é que eu não consigo me conter diante de uma notícia dessas!
OLGA: Que notícia?
CLEITON: Eu não sei se posso lhe contar, acho melhor ir embora.
OLGA: Cleiton espere! Se for alguma coisa á respeito de Diogo ou Robert tenho o dever de saber. Afinal sou a mãe deles. Vamos, me conte! O que aconteceu?
CLEITON: Bem, o Diogo está com AIDS.
(Ele finge chorar)
CLEITON: Eu estou tão triste... Estou sentindo a dor da sua doença... Não quero perdê-lô!
(Olga se assusta com a notícia e o desespero de Cleiton)
CLEITON: Mas eu disse pra ele se prevenir, pois isso é uma doença muito perigosa, mas ele sempre dizia que esse negócio de pele com pele nunca trazia perigo afinal, das outras vezes nada aconteceu... Com licença, dona Olga!
OLGA: Eu abro pra você.
(Ela abre o portão e ele sai correndo. Quando entra na sala e não vê o seu marido e nenhum de seus filhos. Apenas o empregado varrendo o chão e passando pano nos cômodos)
PALMIRO: Boa noite dona Olga, eu estou...
OLGA: Onde está Narmo e os meus filhos?
(Ela corta o serviçal)
PALMIRO: Eles estão no seu quarto, dona Olga! É porque eu...
(Ela não presta atenção no que o empregado fala e vai direto para o seu quarto. Quando chega na porta, vê os três sorrindo e entra batendo palma em um tom de deboche)
OLGA: Que maravilha! Eu devo estar no céu pra estar vendo uma ceninha tão perfeita.
NARMO: Olga, nós temos que conversar sobre um assunto...
OLGA: Eu sempre me perguntei o que deixei de dar aos meus filhos por eles serem tão desprezíveis!
(Ela caminha na direção de Diogo)
OLGA: Agora eu percebo o que foi.
(Ela agride Diogo dando um tapão na sua cara)
NARMO: O que é isso, Olga?
OLGA: Espero que não esteja sangrando. Assim não estarei infectada!
(Narmo, Diogo e Robert olham para ela espantados)
OLGA: Isso é inadmissível. Onde já seu viu, meu filho infectado!
DIOGO: Mãe...
OLGA: Ainda por cima pelo HIV!
DIOGO: Olha, eu não queria...
OLGA: Cale a boca! Não me dirija a palavra. Já que nem de honrar as calças que veste você é capaz! Acharam que eu nunca iria descobrir? Claro, pra vocês eu sou uma retardada.
NARMO: Você não tem o direito de fazer isso com o nosso filho.
OLGA: VOCÊ É QUE NÃO TEM DIREITO DE BANCAR O DESGRAMADO COMIGO! SAIAM DAQUI, PRA FORA!
(Ela se vira para Diogo)
OLGA: VOCÊ É UM VERME. EU TENHO NOJO DE VOCÊ! NOJO! SEU AIDÉTICO.
ROBERT: Já chega!
(Ela olha para ele enfurecidamente)
ROBERT: O que foi? Vai dizer que pra um projeto de lama eu sou capaz de te responder?
OLGA: Como ousa falar assim comigo?
ROBERT: Só estou falando a verdade, você sempre nos humilhou, nunca nos ensinou a fazer nada, e agora que erramos, você não pode querer aplicar esse julgamento.
NARMO: NÃO FAÇA ISSO!
(Ele grita com a esposa ao vê-la levantar a mão para Robert)
OLGA: Saiam daqui!
(Diogo e Robert se retiram do quarto e vão para o quarto do primeiro)
DIOGO: Você viu como ela falou comigo? Como ela me tratou?
ROBERT: Mamãe é assim mesmo, Robert. Não sei nem o que te dizer!
DIOGO: Me dá um abraço.
(Eles se abraçam)

CENA 9: Casa da família Gonzaga/Quarto do casal/Interno/Noite:
NARMO: Você não deveria ter agido assim, por impulso.
OLGA: Impulso uma ova! Ele merecia muito mais do que isso. E o outro? Veio me responder. Atrevido! Merece milhões e milhões de chibatadas por isso!
NARMO: Como você pode falar assim dos nossos filhos?
OLGA: Porque é isso que eles me fazem querer falar. Só me dão desgosto!
NARMO: Tenha entendimento no que você diz! Não vê que estamos agora numa situação bastante complicada?
(Ela olha para o marido com fúria)
OLGA: Você sabe muito bem o que resultou tudo isso! Esse seu jeito liberal de lidar com as coisas, nunca impondo limites.
NARMO: Isso não é verdade! Eu sempre eduquei os nossos filhos de maneira correta! Ao contrário de você, que sempre os pressionou ainda por cima preterindo um pelo outro.
OLGA: Do que você está falando? Não venha se fazer de inocente agora querendo reverter as coisas.
NARMO: Você sempre foi mais carinhosa e paciente com o Diogo. Sempre! Agora que ele está em um momento turbulento, você deveria se mostrar a mãe dele! Uma mãe de verdade ao invés de distribuir pancadas!
OLGA: Eu sempre acreditei mais no Diogo. Sempre vi nele mais atitude do que no Robert, só isso. Diogo é mais ousado, pra frente, enquanto o Robert se transformou num robozinho por sua causa.
NARMO: A única coisa que fiz com o Robert além de educá-lo, foi ensiná-lo a ter juízo. O que você nunca me deixou fazer com o Diogo. Então agora você não pode mandá-lo para o inferno por causa de um imprevisto.
OLGA: IMPREVISTO? ISSO É UMA DOENÇA QUE PODE MATAR O NOSSO FILHO, LEVÁ-LO DE NÓS! VOCÊ NÃO ENXERGA ISSO? EU FAÇO ISSO PORQUE EU O AMO! DIFERENTE DE VOCÊ QUE SÓ SABE FAZER CILADA ATRÁS DE CILADA.
NARMO: Tudo que faço e que sempre fiz por eles foi para protegê-los. Para mostrar que eu sempre estarei aqui como um pai para o que eles precisarem.
OLGA: Você sempre fez e faz, é bancar o advogado das infrações cometidas pelos dois! E juro que sempre tentei te entender você quando ficava do lado deles nas maluquices anteriores, mas agora? Agora nosso filho está com AIDS e você vem querer protegê-lo?
NARMO: O que quer que eu faça me diga? Jogá-lo aos tubarões?
OLGA: Apenas dar pra ele o que merece. Fazê-lo enxergar que ele foi irresponsável e que agora deve arcar com as consequências.
NARMO: Mas ele não foi irresponsável, ele foi vítima!
OLGA: AH!
NARMO: Vítima da garota que ele transou, ela não quis usar camisinha com ele e acabou pegando a dele escondida para que ele não usasse também.
OLGA: Narmo, por favor! Não me venha com essas histórias, você não pode ser tão imbecil a ponto de acreditar nisso.
NARMO: Nosso filho apenas disse a verdade! Não inventou nada. E você também deveria acreditar se o ama de verdade. Por mais difícil que seja.
OLGA: Eu amo sim o nosso filho. Mas não vou ficar do lado dele diante de um erro desses!
NARMO: Pois então essa sua maneira de amar é muito negativa. Pra você e principalmente, pra ele. Pergunte pra ele. Diga que quer saber como ele enxerga esse seu jeito de amá-lo.
OLGA: Você está me subestimando, Narmo!
NARMO: Não estou não.
OLGA: Não faça isso...
NARMO: Estou apenas lhe dizendo a verdade. Coisa que você nunca teve a facilidade de ouvir, e muito menos de aceitar.

CENA 10: Casa da família Gonzaga/Quarto de Diogo/Interno/Noite:
DIOGO: Não tenho a menor ideia do que farei agora, quando cruzar com a mamãe pela casa. Não poderei mais tomar café da manhã.
ROBERT: Diogo, não fique no pessimismo. Ela voltará atrás, você verá. Ela vai te apoiar.
DIOGO: Me apoiar por estar doente? Não acredito mesmo.
ROBERT: Tá ela pode não te apoiar, mas acabará te aceitando nessa situação. Ela só precisa de um tempo!
DIOGO: De um eterno tempo, no caso dela.
ROBERT: Aí quando você morrer, ela vai ter receber lá no céu com uma faixa enorme escrito: “Me perdoe, te amo!”
(Ele estica os braços imaginando a mãe segurar “a faixa” e eles riem)
DIOGO: Só você mesmo pra dizer uma coisa dessas nesse momento.

CENA 11: Portão da casa da família Gonzaga/Externo/Noite:
(Cleiton resove ir embora da casa de Diogo após ter ficado muito tempo parado do lado de fora escutando os gritos de Olga, o choro de dele, a defesa de Narmo e Robert e a discussão que toda a família teve naquela noite. Enquanto desce a Rua Rosinha Sigaud, ele solta uma enorme gargalhada)
(Congela em Cleiton. Toca Hero – Thick As Thieves).


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Notas finais do capítulo

Todos os direitos reservados.

PLÁGIO É CRIME!



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