Eu simplesmente não agüento mais. Eu não agüento mais essa vida. Quando eu penso que não pode ficar pior do que já está, acontece alguma outra coisa. Hoje, por exemplo. Agora eu descobri que tirei 2,5 em uma prova de Matemática cujo valor era 10,0. Vou ser reprovada desse jeito. E minha mãe ainda por cima diz que está aborrecida comigo. Ela simplesmente não entende como eu me sinto! Ela acha que a minha vida é fácil, não ter amigos, tirar notas horríveis, ter passado anos sem gostar de ninguém...

Falando nela...

- Jenny, quero conversar com você. - ela está batendo na porta do quarto. Não quero nem saber, não vou conversar com ninguém.

- Jenny! - ela bate na porta novamente, dessa vez com mais força. Droga, tenho que falar alguma coisa.

- Me deixe dormir, mãe... - respondo. Ela sabe que eu não estava dormindo.

Sem sequer me responder, ela abre a porta do quarto. Eu abraço o meu urso gigante de pelúcia que meu pai havia me dado antes de se mudar para a Alemanha.

- Eu preciso MESMO falar com você. - ela diz.

- Mãe, você sabe que eu não estou a fim de conversar...

- É, você nunca está a fim de conversar. Mas dessa vez é algo muito importante.

- Hum... Algo muito importante? Tipo o quê? “Jenny, você precisa fazer amigos. Jenny, precisa estudar mais. Jenny, arrume um namorado...” - falei, imitando a voz dela.

- Não, não é nada disso. Tomei uma grande decisão, e é sobre isso que quero falar com você. Pode arrumar suas malas hoje à noite mesmo.

- Vai me mandar para um colégio interno? - eu disse, sarcástica.

- Vou te mandar pra Hamburgo. Você vai morar com o seu pai.

- AHN?! VOCÊ FICOU LOUCA?! NÃO PODE ME MANDAR PRA ALEMANHA! EU NÃO VOU SOBREVIVER UM DIA LÁ E...

Ela me interrompeu com um gesto.

- Primeiro, já comprei sua passagem e seu vôo sai amanhã de manhã. Segundo, você já sabe falar alemão perfeitamente, não vai ter problemas. Já combinei tudo com o seu pai, estávamos falando essa viagem a mais de uma semana.

- SEUS... SEUS... TRAIDORES! - enfiei a cara no travesseiro. Não havia caído a ficha ainda. Murmurei alguns palavrões e, graças a Deus, ela não entendeu.

- Boa noite! - ela disse, e fechou a porta.

Por essa eu não esperava. Uma mudança tão grande, ir pra Alemanha, morar com o meu pai que passou a vida inteira sem ligar pra mim...

Eu, na verdade, não estava triste por causa da mudança. Algo dentro de mim dizia que tudo ia ficar bem, que algo muito feliz estava para acontecer... Eu podia SENTIR. Passou a raiva e a tristeza. Quando me dei conta, estava sorrindo, e não sabia por quê.

***

O aeroporto estava lotado, como se todas as pessoas tivessem resolvido viajar no mesmo dia.

Essa viagem seria uma grande mudança na minha vida. Outro país, outro colégio, outro idioma, outro modo de viver.

Não foi fácil a despedida. Apesar de todas as nossas discussões (que eram bem freqüentes), ela era a minha mãe e eu a amava muito. Seria difícil ficar longe dela.

- Adeus. - foi a última coisa que eu disse a ela antes de ir ao portão de embarque e em seguida embarcar no avião.  

Quando já estava no meu devido assento, liguei o iPod e coloquei os fones de ouvido. Estava tocando “Rette Mich”, dos Tokio Hotel. Eles eram a minha banda favorita. Suas músicas sempre se “encaixavam” perfeitamente com o que eu sentia, e tinham letras muito profundas, que tocavam o meu coração, me faziam refletir sobre a minha vida.

Komm und rette mich

Venha e me salve

Ich verbrenne innerlich

Estou queimando por dentro 

Komm und rette mich

 Venha e me salve

Ich schaffs nicht ohne dich

 Eu não dou conta sem você

Komm und rette mich

Venha e me salve

Rette mich

Me salve

Rette mich

Me salve... 

Em pouco tempo, adormeci.