Dias Ensolarados escrita por Clarinna


Capítulo 2
Você é um bom capitão


Notas iniciais do capítulo

Alô, molecada.

Agradeço as pessoas lindas que já comentaram, ou colocaram no acompanhamento.



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O céu estava tomando um tom laranja salpicado de rosa acima das cabeças dos jogadores da Grifinória quando a tarde caiu durante o treino, o campo era varrido por uma brisa leve com o cheiro de vegetação que vinha da floresta, os aros projetando os raios de sol nos olhos dos garotos e cegando-os vez ou outra, os rostos um pouco soados e os cabelos deslocados pelo vento. Harry precisou segurar firme em sua vassoura ao se lançar bruscamente para a esquerda tentando evitar um balaço que passou raspando em seu braço.

— Que m... - ele começou, então localizou Jimmy Peakes, seu batedor, segurando o bastão atrás da cabeça com uma expressão culpada - Peakes!

— Foi mal, capitão. - falou, mas parecia prestes a cair na gargalhada - Achei que você tinha visto essa.

Ele sentiu algo passar veloz em suas costas e se virou para acompanhar o borrão vermelho e ouro que era Ginny, sua artilheira (e namorada). Ela levava a goles embaixo do braço e um sorriso brincalhão no rosto.

— Terra para Potter! - Harry revirou os olhos, mas sorriu - Está inteiro, mas parece abalado.

A zoeira que Ginny estava aprontando não era apenas para vê-lo corar e sair dando voltas no campo atrás do pomo de ouro, impedindo assim que o público de garotas estupidamente risonhas na arquibancada tivessem uma boa visão dele, era porquê ela sabia que havia sido o motivo da distração, que ele quase levara um balaço de seu próprio colega de time porquê não conseguia tirar os olhos dela.

Harry tinha decidido dividir o time em pares para analisar a evolução que já tinham feito; os dois batedores, Jimmy Peakes e Ritchie Coote; duas artilheiras juntas, Ginny Weasley e Katie Bell; e por fim, uma artilheira, Demelza Robins, com o goleiro (e melhor amigo), Rony Weasley. Harry havia assistido em silêncio os pares trabalharem, e feito sua própria analise nesse tempo, concluindo que todos pareciam mais preparados e confiantes após a vitória e conquista da taça de prata, claro. Ele nem precisou gritar, diferente do que acontecia nos últimos... Bem, em todos os treinos da temporada. Muitos acharam que os treinos do time iriam parar após terem vencido, mas todos fizeram questão de demonstrar como eram capazes, nada presunçosos (como os alunos da Sonserina, vale lembrar), e estavam prontos  para botar para quebrar.

O-menino-que-sobreviveu estava vivendo o que parecia ser um sonho muito bom e estranhamente vivido, em que tinha nos braços a garota por quem era apaixonado, um time excelente, a taça de quadribol, a nota que precisava em poções para ser auror e um otimismo regado por Alvo Dumbledore na luta indireta contra Lorde Voldemort.

A tarde se estendia como um manto colorido e jovial sobre eles, os cabelos de Ginny presos num rabo de cavalo que esvoaçava. Harry facilmente desviou os olhos dos bastões frenéticos de Jimmy e Ritchie, ou de Rony e Demelza que estavam perto dos aros que marcavam os gols, para prestar atenção no quão excepcional Ginny estava no ar, mostrando um desempenho superior a Katie Bell, que estava no time desde que Harry entrara. A vassoura de Ginny, uma Cleansweep Five, não fazia nenhum show de performance, mas ela sem duvida sabia usar seus pontos fortes.

Ele imaginou que poderia estar até pensando de forma técnica ao observa-la jogando, mas que muito provavelmente trazia aquela expressão abobalhada na cara, facilmente comparável com alguém que foi confundido. Tanto no mundo trouxa, quanto no bruxo, gostavam de chamar isso de “paixão”. Mas se desse corda para que tirassem onda com essa situação seria pior, então ele simplesmente se debruçou na vassoura e entrou no jogo.

— Estou abalado mesmo, – Ginny ergueu as sobrancelhas antes de ouvir o resto, então estreitou os olhos - morto de fome.

— Fome, é claro, sei. – respondeu com voz esganiçada.

— Alguém disse ensopado? – de repente Rony emparelhou com eles no ar, uma mão levando a goles que havia agarrado na ultima defesa antes de Harry quase cair da vassoura, a outra sobre o estômago enfaticamente - Achei ter ouvido ensopado.

Todos concordaram que já era hora de parar, antes que Rony confundisse a goles com uma almôndega gigante. Desceram até o campo e ficaram alguns minutos reunidos na grama para ouvir Harry dar suas impressões sobre tudo o que tinha visto e do desempenho de cada um, que foi no geral positivo, e ele nunca dava feedback negativo na frente dos outros, tirando os momentos em que precisava rugir instruções no campo. Ele tomou o cuidado de não demonstrar muito entusiasmo ao falar de Ginny, e de não olhá-la nos olhos para não perder o profissionalismo da coisa, porém foi visível o quão satisfeita ela estava ao deixar o campo, brincando com Katie e Demelza, e eventualmente pulando nas costas de Rony, que se desequilibrou e quase caiu encima de Ritchie Coote. Harry observava enquanto caminhava a uma distância curta com Peakes, e os dois riram quando o batedor se desculpou de novo pelo balaço.

Quando já estavam à porta de vestiário, ele viu que Ginny estava parada com as costas apoiadas na parede, as mãos para trás, a expressão mais travessa que ele já tinha visto perpassar o rosto dela. Todos os outros jogadores já haviam entrado, e ele foi rápido em compreender o que deveria fazer a seguir.

— Vai indo na frente, Jimmy. – disse displicente – Encontro vocês na mesa.

— Beleza. – Peakes respondeu, sem notar nada de diferente.

Harry parou de andar quando viu a porta do vestiário se fechar, e encarou de volta a garota que sorria abertamente, um raio de sol laranja iluminando-a. Ela nunca esteve tão radiante em todas as vezes que estiveram naquele campo, e ele secretamente sabia o porquê, desde a conversa sobre carreiras. Sua única reação foi largar a vassoura e abrir os braços quando ela correu e se atirou em seu pescoço como um cachecol azarado faria. Para sua sorte, estava apenas lidando com uma garota que realmente gostava dele.

Plantou os pés com firmeza na grama, fazendo força para não cair para trás ou se dobrar para frente com o impacto, seus braços prendendo Ginny pela cintura e tirando-a do chão uns bons trinta centímetros. Sentiu o aperto dela afrouxar para poder olha-lo nos olhos, mas não a soltou de seu abraço, ficaram cara a cara, os narizes encostando.

— Você é um bom capitão, Harry. – disse baixinho, e Harry sentiu um arrepio e um rubor que subiu do seu pescoço até suas orelhas – Um namorado razoável também.

— Razoável?! – ele repetiu, depois de uma gargalhada, e ela o acompanhou – Sabe com quem está falando?

— Ah, pelas meias furadas de Merlin, me esqueci de que você é o Eleito! – Ginny fingiu perplexidade, Harry fechou os olhos afirmou com a cabeça enfaticamente – Eu deveria me desculpar?

— Depois de uns beijinhos, talvez, a gente possa esquecer tudo isso e seguir em frente. – ele encolheu os ombros quando ela lhe deu tapinhas de brincadeira – Vai falar que não é um boa ideia?

Ela o encarou por vários segundos antes de responder, os lábios entreabertos e as mãos segurando com mais força as costas das vestes de quadribol de Harry.

— Chega de falar, Capitão. – então o beijou, e foi semelhante a sensação cálida e segura que um Patrono causava no ambiente, só que dentro do peito dele.

Tiveram que se separar depois de algum tempo, pois começaram a ouvir as já conhecidas risadinhas estupidamente esganiçadas que pareciam persegui-los. Ouviram passinhos apressados na grama e gritinhos quando um bando de meninas passou  perto dali, tentando ter alguma discrição, e falhando.

— Será que elas não riem de alguma coisa? – Harry perguntou quando foi puxado pela mão para dentro do vestiário.  

— Talvez elas não riam se eu transforma-las em sapos. – Ginny suspirou – Todos já foram.

Ela tinha razão; o vestiário estava vazio, o que indicava que os outros tinham passado por eles sorrateiramente quando estavam focados em coisas mais importantes. Harry estava se sentindo ótimo, e não ligava realmente que tivessem visto ele e Ginny juntos.

Eles se encaminharam cada um para seu armário e começaram a trocar o uniforme pelas vestes de Hogwarts, cantarolando uma musica sobre um elfo e uma bota enfeitiçada que ouviram n’A Toca quando o silencio pareceu muito tedioso.

— Harry? – Ginny chamou depois de fechar o armário com um barulho metálico  e se aproximar dele, pulando um banco comprido para ficarem um de frente para o outro, e encarando-o bastante séria – Você acha mesmo que sou boa? Tipo, boa, boa.

— Acho. – ele se atrapalhou com a repentina seriedade da garota e tirou a camiseta sem tirar os óculos antes – Boa, boa.

Ela puxou a camiseta para baixo para ajuda-lo, pescando os óculos que tinham se enroscado em um ângulo estranho na cabeça, e esperou que ele terminasse de se vestir. Harry abotoou os botões da camisa observando o borrão indistinto que era Ginny a sua frente, aparentemente experimentando pôr seus óculos.

— Caramba, Harry. – exclamou e tirou-os rapidamente, esfregando os olhos – É curioso que você use isto para enxergar.

— Vou levar como uma crítica construtiva. – ele deixou que ela recolocasse os óculos nele delicadamente – Mas então, você é muito boa, e não sou só eu quem penso assim.

— Do que está falando? – ela corou um pouco e se sentou no banco de madeira .

— Vou ter que te lembrar do Clube do Slug? – Harry disse com zombaria, mas ela não demonstrou ter entendido a referência, então ele se sentou na frente dela e tomou fôlego – Ah, é, você não viu a estante de troféus dele. Slughorn tem uma estante na sala de estar com fotos de cada aluno famoso dele, tirando Tom Riddle, é claro, desse ele não gosta muito de lembrar. – ele lembrou da memória arrancada com tanto custo do professor de poções, e sentiu Ginny estremecer ao som daquele nome – Enfim, não é meu professor favorito, mas seria hipocrisia negar o seu dom para identificar talentos. A verdade é que ele já enxergou em você o que todos nós demoramos um pouco mais para ver, e só está esperando pelo dia em que irá receber uma caixa de abacaxi cristalizado e um envelope com entradas para um jogo importante que ele possa assistir do camarote.

Ele terminou de falar e respirou profundamente, sentindo que talvez tenha sido rápido demais, e nenhum dos dois falou por um tempo, Ginny apenas piscou os olhos para ele e inclinou a cabeça.

— Slughorn acha que sou uma espécie de Gwenog Jones? – perguntou quase em um sussurro, e Harry se lembrou da fotografia autografada de Gwenog na estante do professor.

— Exato. Você a conhece? – ele franziu a testa.

— Mas é claro, capitã do Harpias de Holyhead. – ele lembrou de ter lido alguma coisa sobre o time formado apenas por mulheres e ouvir Slughorn dizer algo parecido, então assentiu – Caraca.

— É. – eles fizeram aquele silêncio estranho de novo.

— Você concorda com ele, então? – questionou de novo, um pouco mais ansiosa.

— Nunca vi Gwenog Jones jogar... – Harry encolheu os ombros -  ...mas entendo alguma coisa de quadribol, e até onde sei, você é uma das melhores jogadoras que a Grifinória já teve.

— Ah, Harry. – ela tomou o rosto dele nas mãos e beijou-o inteiro – Você não é um namorado tão razoável assim!

— Que alivio! – suas risadas ecoaram pelo vestiário, e o som de mais beijos estalados.

 Um ruído súbito, estranho e incomum se sobrepôs aos outros, e eles se separaram com um sobressalto.

— Isso foi o seu estômago? – Ginny perguntou rindo, ele fez que sim com a cabeça, sentindo o rosto queimar um pouco – Vamos, antes que Rony coma todo o ensopado. 

Então eles deixaram o vestiário, as mãos entrelaçadas, os estômagos conversando animadamente.


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Notas finais do capítulo

Sobre Ginny:

Se o seu hobby é ser maravilhosa, eu não vou te criticar, tá de parabéns.



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