Palácio de Ilusões escrita por Raíssa Duarte
Voltaram para casa antes do amanhecer.
Após devolver o cavalo ao estábulo real, Edric e Rowen encaminharam-se até o portão traseiro do palácio.
—Bom dia. - Cumprimentou alegremente.
Os guardas do período noturno ficaram obviamente encabulados com o sorriso da princesa, enquanto abriam passagem para o casal.
Quando aproximaram-se dos quartos, uma indecisão instalou-se em ambos.
—É nosso quarto, agora. - Reafirmou Rowen, entrelaçando sua mão na dele.
Entraram no maior, que pertenceu á Edric antes de cedê-lo para a moça, e agora era dos dois.
Engolindo um bocejo, Rowen retirou a capa do marido e seu robe. Estava exausta por conta da atividade anterior. Não dormiu um segundo.
Não abraçou Edric ou deitou a cabeça em seu peito, não querendo apressar demais as coisas. Mas deitaram-se bem próximos um do outro.
♧♧♧
Alguém batia na porta.
Edric esfregou os olhos, despertando aos poucos. Rowen ainda dormia.
Levantou-se com cuidado para não acordá-la. Hugh certamente o procurou em sru quarto e quando não o encontrou, supôs, corretamente, que estaria no quarto da esposa, depois da agitação no castelo.
Não sabia bem o que fazer. Não dava a mínima para fofoca, mas ela, sim. Hugh não manteria a boca fechada sobre o que veria.
Já seriam assunto por semanas mesmo...
—Alteza. - Começou seu valete quando a porta foi aberta. - Sua presença é requisitada nos aposentos do rei.
Edric entrou no próprio quarto e deixou Rowen dormindo enquanto se preparava.
♧♧♧
Surpreendentemente, seu pai estava na própria cama, coberto e de mau humor, com um médico examinando-o.
-O que houve?
Kayla aproximou-se;
-Seu pai acordou sentindo-se mal. Ele insiste que está bem, mas o físico pediu que ficasse de cama por hoje, pelo menos até ter resultados.
-É grave?
-O medico acredita que não, mas por via das dúvidas...
-Edric – Edward o chamou. Quando seu primogênito foi até ele, ergueu a mão em um gesto brusco, dispensando o profissional. – Aparentemente serei forçado a permanecer nesta cama imprestável até amanhã. O reino é seu por hoje. Acha que consegue não destruí-lo em um dia?
-Não pode mandar o conselho reger?
-Você ainda precisa me provar algo, não precisa? Vou mandar que fiquem de olho em você e corrijam suas bagunças.
-Quer tanto assim me ver fracassar?
Outro gesto brusco de mão.
-Não estou com paciência para isso. – Ajeitou-se sobre os travesseiros - Saiam, vocês dois.
Do lado de fora, reencontrou sua esposa impecavelmente arrumada.
-Seu pai está bem?
-Talvez sim. Mas eu não estou.
-O que foi?
-Eu vou ficar responsável por tudo. Aqueles emproados irão me engolir vivo! Esta é a oportunidade que estavam esperando para vingança. Especialmente o pai de Cecile.
-Então vai provar que estão errados.
-Eles vão dificultar cada passo do caminho.
-Você já está contando com a derrota. Precisa tentar. Não é isso que pedimos? Uma chance de mostrar sua mudança?
♧♧♧
Edric tentou. O dia inteiro.
Durante a reunião, perguntaram sua opinião para tudo, até mesmo o mais simples dos assuntos. Ficaram surpresos quando disse o nome de cada um deles, e quando preparou-se para resolver as pendências mais urgentes do reino, eles esperavam cada pessoa sair para questionar se aquilo era ‘sábio’ ou ‘prudente’, e quando tomava alguma decisão, diziam que deveria pedir a permissão do rei.
-Eu estou no comando, milorde. – Afirmou em certo momento, apertando o punho. – Quer perturbar o repouso do rei cada vez que uma pessoa entrar neste salão?
O homem finalmente calou a boca e deixou Edric finalizar seu trabalho.
♧♧♧
Infelizmente, não havia quase nada que Rowen pudesse fazer. Aquela batalha era de seu marido.
Sem querer permanecer ignorante da situação, ordenou que suas damas descobrissem o que pudessem em conversas ou mexericos, que tipo de recepção Edric estava tendo.
Ela mesma ouviu algumas coisinhas; damas da corte felizes por ela e seu marido terem se acertado. Não disseram diretamente, mas Rowen sabia ler entrelinhas.
Quem provavelmente estava mais feliz com aquilo tudo era seu sogro. Se é que algo o fazia feliz. Rowen se perguntava o que o deixou tão amargo, embora ela tivesse uma resposta quase certa.
Ao entardecer, retirou-se para seu quarto, encontrando o livro sobre a cômoda.
Mairi lhe perguntou absolutamente tudo. Sobre o livro, e sua noite. Rowen se recusou a falar qualquer coisa sobre as experiências.
O livro era assombroso, de certa forma. Causaria uma apoplexia em Constance.
Mas em Rowen causava coisas diferentes.
A variação de formas para o sexo a teria chocado há um ano atrás. Agora a deixava... curiosa.
Não queria nem imaginar que tipo de aventura entregara aquele livro nas mãos da irmã de seu marido.
Cruzou as pernas, sentindo um pequeno desconforto.
A porta abriu-se e fechou-se, assustando-a.
Edric.
Olhou pela janela. Novamente, perdera a noção do tempo. Já era noite.
O homem franziu o cenho.
—O que aconteceu?
—Nada. - Fechou o livro suavemente para não chamar atenção. Cobriu-o com sua saia vermelha.
Ele não pareceu convencido.
Rowen sentiu-se ruborizada.
Por que ele tinha que ser tão bonito?
E por que tinha que ter costas tão largas? Pensou quando o viu tirando o gibão.
Lembrou-se da noite passada, e o calor aumentou.
—Eu só estou com um pouco de calor. - Tranquilizou. Onde estava seu leque? Por que as janelas não estavam mais abertas?
Sim. Calor na primavera, depois de um inverno.
Edric agachou-se diante dela, apanhando sua perna. O toque a sobressaltou. Os dedos dele passearam por sua panturrilha, quase sem tocar.
—Onde você sente calor, exatamente? -Provocou. Os olhos azuis bem escuros.
Rowen mordeu o lábio.
—Eu não...
—Se não me disser onde, não vou poder ajudá-la. - O maldito sorriso estava lá de novo.
Sem coragem para colocar em palavras, Rowen subiu sua saia, desnudando suas pernas.
—Aqui? - Beijou sua coxa.
Subiu mais, até o ponto desejado.
—É bem aqui. - Murmurou de olhos fechados. Grande descarada.
Rowen esperou pelos dedos hábeis, como na noite do bordel, mas sabia que Edric estava sendo suave com ela, com medo de levá-la ao limite. Mal sabia ele...
Ainda de olhos fechados, sentiu algo. Mas não eram dedos.
Nada de pânico, Rowen.
Não houve nenhum pânico.
Conforme a sensação de nervosismo se esvaía em meio a excitação, e a excitação em meio ao prazer, Rowen entendeu que haviam vários tipos de beijos. E várias formas de usar a língua.
♧♧♧
—Sempre achei que o melhor fosse irritar meu pai desobedecendo-o, mas estava enganado. - Confessou Edric após terem ficado juntos. Depois de contar tudo sobre seu dia. - O melhor é irritá-lo obedecendo-o.
—Eu juro que não entendo. – Disse Rowen. – Você finalmente está diferente, como ele pode querer vê-lo fracassar?
-Acho que o motivo seria o fato de meu comportamento anterior lembrá-lo de minha mãe.
-Oh. – Murmurou e ficou em silêncio. Ouvira boatos nem um pouco agradáveis sobre a Rainha Clarisse, mas ninguém se atrevia a sequer mencionar seu nome na corte, onde o rei poderia ouvir.
-Ele provavelmente acha que minha mudança é repentina e passageira, portanto, uma hora ou outra vou retornar ao meu velho eu.
-Eu não acredito nisto. - Não mais, acrescentou em pensamento.
-Se fosse você, acreditaria. Se eu acabar decepcionando-a, ao menos já vai ter se preparado.
Rowen não quis iniciar uma disscussão, agora que estavam indo bem.
♧♧♧
Depois de um mês, Edric passou pela maior humilhação de sua vida ao pedir por 'instruções' ao instrutor de seu irmão.
O homem, que havia sido seu instrutor também, mal se conteve de felicidade ao deixá-lo ainda pior. Mas era necessário. Havia muitas coisas que ele esquecera. Ou ignorara.
Naquele meio tempo, mais rumores sobre o leste surgiam. A corte permanecia inabalável, mas Rowen soube por seu marido que o Rei Edward iria pessoalmente analisar as melhorias militares.
♧♧♧
—O reino do leste está se preparando para atacar. Meu palpite seria aqui. – Apontou Lorde Evermont no mapa. – Eles já lutaram contra nós antes, não virão por mar. Conhecem nosso reino e podem tentar algo diferente. Nossa armada é melhor do que a deles, e quando a nova ficar pronta... Eles com certeza virão por terra. Precisamos fortificar esta parte do reino, ou vão se aproveitar dela. A milícia já está nesta fronteira. Querem testar o limite.
O rei Edward analisou o mapa, pensativo.
-Eu concordo. – Afirmou. – Mandaremos os canhões para lá, mas manteremos os navios preparados mesmo assim. – Olhou para Edric. – O que você acha?
-Quer me mandar verificar o porto outra vez?
-Não. – O rei o encarou. – Preciso de você para outra tarefa. O povo precisa saber que vamos protegê-los, e que todos lutaremos pelo que é nosso.
Edric acenou.
-E é por isso que enviarei você á milícia, para que lute também, se preciso for.
Todos os lordes concordaram e olharam para Edric, que empalideceu.
-Você queria uma chance de provar que ama o país. Aí está.
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