Dahlia estava se despedindo de todos após o final das atividades do dia no clube, quando sua atenção foi tomada por um som vindo de trás deles.

“Hey, Bad Boy! Nós temos uma entrada, sabia?” Ela protestou enquanto Castiel pulava a cerca baixa do jardim. “Não pise na grama com esses seus tênis imundos, Jade cortou ela hoje!”

“Desculpa, princesa, a entrada estava fechada.”

“Você poderia ter simplesmente aberto ela!” Insistiu, mas Castiel passou direto por ela para dar um abraço em Kymo. “Pare de me ignorar, Killjoy!”

“Nah.” Ele respondeu, cruzando os braços, com um sorriso de lado.

Sam não conseguiu evitar sorrir ao ver que Kentin parecia se sentir um tanto quanto desconfortável na presença dele. Ninguém mais parecia estar prestando muita atenção nisso, entretanto. Dahlia estava ocupada demais se irritando com Castiel, e Kymo parecia agradada em vê-lo.

“Eu na verdade vim aqui ver nosso querido amigo Samuel.” Castiel anunciou, o que completamente tomou sua atenção para ele.

“Hã?” Kymo olhou para o ruivo, uma expressão confusa em seu rosto, mas então pareceu lembrar de algo. “Ah! Sim. É importante. Eu preciso ir também.”

Dahlia suspirou pesadamente, não parecendo nem um pouco feliz com aquilo.

“Certo, certo… O dia já acabou mesmo. Só usem o portão dessa vez.”

Ambos Castiel e Kymo indicaram para que Sam os seguisse, o que ele obedeceu, mesmo que um tanto quanto apreensivo. Eles o guiaram para uma área atrás do ginásio, completamente deserta.

“Muito bem… Acho que aqui é seguro.” Castiel disse, parando finalmente. “OK, Sam, você provavelmente está se perguntando o porquê de termos lhe chamado aqui.”

“Pra falar a verdade, bastante.”

“Compreensível.” Ele deu de ombros.

“Bem, nós gostamos de você.” Kymo disse, brincando com o seu taco de baseball com as mãos, o que sinceramente tornava a frase inusitadamente ameaçadora. “Mas, aparentemente, tem alguém aqui que não gosta…”

“Alguém tá espalhando rumores sobre você.” Castiel a interrompeu, com as mãos no bolso. Kymo parecia levemente ofendida com isso. “Kymo, nós todos sabemos que eu te adoro, mas não temos tempo para a sua dramatização no momento.”

Kymo respirou fundo, mas pareceu concordar.

“Bem, talvez você tenha razão. Mas, sim, não sei se você percebeu, mas estão espalhando coisas sobre você.”

“Isso é sobre o lance com Nathaniel ou… ?” Perguntou. A expressão de Castiel mudou imediatamente.

“Ah, não, eu nunca consideraria isso um rumor considerando que eu vi.” Ele respondeu, num tom levemente irritado. Sam corou imediatamente e desviou o olhar. Realmente tinha pensado estarem sozinhos naquela ocasião. “Mas que maravilhosa vista, voltar para casa e tem duas pessoas se pegando na entrada do seu prédio.”

“Cassy, menos.”

“É só meio estranho, OK?” Ele respirou fundo. “Não tem uma forma simples de lidar com isso de imediato, tipo, passar do lado deles pra entrar pela porta bem tipo ‘sup’.”

“Mas, bem, realmente. Os rumores não são sobre isso. São sobre sua antiga escola.” Kymo voltou ao assunto.

“Mas… Só quem sabe sobre qualquer coisa da minha antiga escola é…”

“Exatamente. É por isso que eu decidi perguntar para você antes.” Ela disse, num tom preocupado.

“Isso e porque temos alguma experiência com ‘rumores’. Sempre acaba mal.” Castiel continuou, com um olhar distante.

“Nós te conhecemos há pouco tempo… Mas queremos saber o seu lado.” Kymo concluiu.

Samuel hesitou por um instante. A única pessoa que o conhecia ali antes de entrar em Sweet Amoris era Kentin e… Bem, não se viam há aproximadamente dois anos… Desde o “incidente”. Qualquer coisa que ele dissesse — se é que ele tinha feito algo digno de virar uma história até os seus quatorze anos fora o grandioso desastre do desafio aos treze — seria completamente exagerado… Ou uma mentira. Mas claro que ele teria a credibilidade de “já ter o conhecido”… e a de ter mais amigos em Amoris.

Finalmente ele respondeu:

“Certo…” Assentiu. “Quais são os rumores? Mesmo que um deles seja completamente verdade, eu prometo que serei completamente honesto.”

“Muito bem.” Ela concordou. “Provavelmente deveríamos nos sentar, isso pode ser longo.”
 

Após uma longa conversa, desde Sam concordando que alguns deles eram apenas versões bastante exageradas e distorcidas de eventos reais até a sua total reputação verdadeira na antiga escola, Kymo suspirou, levantando-se do chão.

“Isso é bom… E ruim ao mesmo tempo. Quero dizer, é bom saber a verdade pelo menos uma vez… Mas… Peggy provavelmente já sabe.”

“Ah, tem isso também.” Castiel concordou. “Aquela garota não sabe os limites. Ela não liga para fatos, só liga para a melhor capa do jornal.”

“Definitivamente não temos a menor chance de evitar que ela publique isso. Só o que podemos esperar é que os outros já estejam acostumados com a mania dela de falar mentiras.”

“Quem é Peggy?” Sam perguntou, confuso.

“Redatora-chefe do jornal da escola.” O ruivo respondeu.

“Ela ama o jornal mais do que tudo. Até mesmo do que a honestidade. Ela é obcecada em saber tudo antes do que todo mundo, mesmo que a versão dela seja completamente diferente dos fatos.”

O pensamento fez Samuel congelar. Se isso era realmente verdade… Kentin poderia passar dos limites com muita facilidade. Aqueles boatos poderiam ser o bastante para dar um dano em sua reputação… Mas não para completamente destruir sua imagem.

Por outro lado…

Se Kentin decidisse sair dos limites, revelar todo o seu passado, divulgar seu nome morto…

Realmente, não teria muito mais o que se fazer. Ainda havia mais alguma escola na cidade, afinal? Ou acabaria realmente tendo que lidar com aquilo pelo resto de sua vida? … O pensamento era terrível de se ter. Preferia fingir que aquilo não tinha a menor chance de acontecer… Apesar de que tinha certeza de que isso era exatamente o que ele estava planejando: Só estava preparando o terreno.

“Mas… Se alguns rumores realmente são apenas uma versão exagerada… Isso significa que Kentin realmente começou eles, não?” Castiel levantou o ponto.

“Ah… Eu espero que não.” Kymo respondeu, brincando novamente com o taco de baseball; provavelmente era algo que sempre fazia quando estava nervosa. “Eu realmente considero ele um bom amigo… E Alexy…” Ela parou essa linha de pensamento. “Bem, talvez alguma pessoa da antiga escola deles odeia tanto o Sam que decidiu que queria destruir a reputação dele mesmo depois dele sair de lá?” Ela sugeriu.

“Bem… É possível.” Sam disse, apesar de não acreditar nisso nem um pouco. Tinha certeza de que Kentin era o culpado. As pessoas podiam odiá-lo, mas mais do que isso, elas adoravam ignorá-lo. Não conseguia imaginar uma única pessoa que se daria o trabalho de vir até Amoris apenas para destruir a sua reputação.

“Bem… Veremos.” Castiel resmungou, parecendo não confiar muito nessa teoria.

Não podia culpá-lo. Era exatamente o que estava pensando, afinal.
 

Samuel não encontrou Nathaniel antes de ir para casa, o que sinceramente não o deixava muito feliz. Queria uma desculpa para abraçar ele mais uma vez, estava até mesmo considerando um beijo de despedida…

Também estava curioso se ele já havia ouvido algum dos rumores. Não sabia se ele acreditava neles e, se acreditava, qual seria a sua reação. Poderia esperar que Kymo e Castiel fizessem algum esforço para espalhar para escola a verdade — aquelas perguntas todas certamente que não seria apenas para saciar a curiosidade deles apenas —, mas não é como se eles conseguissem fazer isso tão rápido.

Também não conseguia imaginar Castiel e Nathaniel tendo uma conversa civilizada por mais de dois minutos. Talvez um com Kymo mediando, mas definitivamente nada exatamente duradouro.

Acabou decidindo por voltar para casa imediatamente.
 

Sam foi recebido em casa não pelos seus pais, não pelo seu irmão, mas por uma pessoa que não via há mais de meses.

“Sammy!” A garota lhe abraçou assim que abriu a porta. “Você cresceu tanto! Parece que ontem mesmo você ainda tinha a minha altura!”

“Aimée, você e Cédric só sabem falar sobre isso?” Ele riu, a abraçando de volta.

“Ah, mas é verdade!” Sorriu. “Qual a sua altura agora? Um e sessenta?”

“Na verdade, da última vez que eu me medi, eu estava com um e sessenta e três.”

“Oh! Você é um gigante agora então!” Aimée riu, e os dois entraram na casa. “Você já está mais alto que Damien! Ele deve estar devastado de ser o menor da família de novo.”

Aimée era a namorada atual de Cédric: E também a mais duradoura, sendo que no momento eles estavam juntos por mais de dois anos. Sempre havia gostado dela, sendo bem honesto. Desde a sua animação constante ao seu estilo, não havia nada mais chamativo do que seus longos cabelos lilases e unhas glitterizadas numa multidão. Não conseguia imaginar nada que combinasse mais com ela do que isso.

“Cédric! Sammy está em casa!” Ela chamou.

Se tinha uma coisa verdadeiramente impossível, isso era se sentir sozinho quando Cédric e Aimée estão presentes. Seu irmão apareceu imediatamente para lhe dar um abraço e perguntar sobre o seu dia. Todo mundo parecia tão feliz com o seu dia que não conseguia ousar falar do incidente com a Melody, muito menos dos rumores que haviam começado pela escola.

“Você está meio atrasado.” Cédric disse, em um tom preocupado.

“Não é nada demais!” Sam o assegurou. “Estava conversando com uns amigos e acabei perdendo a hora, perdi o primeiro ônibus para casa. Então… O que temos para o jantar?”

Aimée foi para casa pouco depois do jantar, então Sam e Cédric foram conversar mais sobre os seus dias. Acabou decidindo contar sobre as coisas menos “felizes” de seu dia agora que não tinha mais o menor perigo de destruir a maravilhosa aura de alegria que Aimée deixava onde passava.

“Tenho certeza de que Kentin está envolvido.” Foi a primeira coisa que Cédric respondeu.

“Sendo sincero, eu também. Mas eu não teria exatamente uma grande coragem de interferir nisso… Não agora.” Desviou o olhar. “Quero dizer, ele tem bem mais tempo em Amoris. E muito mais amigos também. É óbvio que acreditariam nele primeiro.”

“Oh, eu posso lidar com isso.”

“Cédric, não.”

“Ele não precisa ser machucado! Fisicamente.”

Samuel suspirou, balançando a cabeça.

“Podemos uma vez não lidar com os meus problemas com agressividade? Tenho certeza de que há outro modo.”

“Tipo como, conversando?” Ele sorriu, apesar de não parecer muito feliz. “Kentin não mudaria de ideia por uma simples conversa. Não com um pai daqueles. Não, não, a gentileza não funciona no caso dele, precisamos de pelo menos um pouquinho de agressividade.”

“Certo, certo… ” Suspirou mais uma vez. “Mas esse será o último plano.”

“Quanto àquela garota, Melody… Eu recomendaria evitar ela o máximo o possível. Um dos meus primeiros namoros acabou porque eu tive a brilhante ideia de dar cabimento pra garota que era obcecada no cara. Nunca uma boa ideia.” Ele cruzou os braços, claramente infeliz com a memória.

Sam apenas assentiu; Cédric falava muito sobre seus relacionamentos passados, mas Sam sabia que era por um bom motivo. Aprender com os erros dos outros é tão eficiente quanto aprender com os próprios, em alguns casos.

Cédric se levantou da cama.

“Já está consideravelmente tarde, não acha?” Ele disse, com uma expressão cansada, que Sam não imaginava ser apenas de sono. “Deveríamos ir dormir logo. Você tem aula amanhã.”

“Ah… Bem, sim. Talvez.” Samuel levantou-se também; Ainda não havia tirado suas roupas desde que chegara em casa. Adoraria colocar um pijama imediatamente.

“Certo. Vá tomar uma ducha antes de dormir, ajuda a se sentir melhor. Eu arrumo nossas camas enquanto isso.”

Sam concordou, pegando sua toalha e pijama antes de ir para o banheiro.

Talvez estivesse precisando disso mesmo, afinal.