O Mistério da torre de cristal escrita por calivillas


Capítulo 7
Apenas uma ilusão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753384/chapter/7

Absolutamente, todo mundo no andar da diretoria olhava para mim ao sair da sala de Victor, muitos com cara de total espanto, com certeza, ainda não acreditando que aquela mocinha sem graça havia fisgado o cobiçado e belo solteiro.

Os olhares continuaram quando passava pela recepção, as notícias voavam rápido dentro da empresa. Olhei na direção do meu antigo local de trabalho, minhas colegas se esticaram todas para me ver, dei a elas um sorrisinho tímido, mas elas não retribuíram, sabia que precisaríamos conversar, mas não agora, pois, lá fora, um carro já me esperava para me levar à minha casa.

Ao chegar na frente da portaria do meu prédio que, definitivamente, não combinada com aquele carro de luxo, o motorista desceu para abrir a porta para mim, sai e percebi os olhares abismados da vizinhança, já estava me acostumando com aquilo, virei uma espécie de atração pública. Parando na portaria, encontrei Eduardo, que também observava a minha chegada, com uma expressão indecifrável, talvez, estivesse me julgando, isso me deu um aperto no peito.

— Oi, Eduardo. Está voltando da escola? – Ele era professor e, no meio do dia, vinha em casa para almoçar, por economia, antes de ir para outra escola.

Começamos a subir as escadas.

— Sim, e você não devia estar no trabalho a essa hora?

— Eu fui demitida.

— Como assim? Você não tinha ficado noiva do chefão?

— Por isso mesmo, Victor não acha uma boa ideia a noiva dele trabalhar com recepcionista.

— E como você vai viver? – ele me perguntou, assustado.

— Ele vai me dar uma espécie de mesada.

— E você acha isso certo?

— Bem, eu não tive opção.

— Ele não perguntou para você?

— Não, mas como nós vamos nos casar logo.

— Quando?

— No fim do ano – falei, querendo parecer casual, pois, eu mesma ainda não havia me acostumado com essa ideia.

— Mas, é daqui a três meses!

— Eu sei que é muito rápido, mas Victor é um homem decidido, quer uma família.

Victor é um homem decidido demais, nem me dando tempo para pensar direito, mas tenho que admitir que combina com a sua posição. Além disso, ele é tão educado e gentil, até mesmo romântico e muito, muito rico, alguém que qualquer mulher gostaria ao seu lado. Sou, realmente, uma garota de muita sorte.

Às 7 horas em ponto, estava pronta, usando um dos vestidos que compramos na viagem e o meu anel de noivado, quando o carro chegou. Durante todo o trajeto para a minha futura casa, estava ansiosa, olhando pela janela a paisagem urbana mudar gradativamente, de lugares humildes para mais requintados. Então, paramos em frente de um enorme edifício, o motorista abriu a porta para mim, sai e olhei para cima, zonza com a resplandecente construção de vidro e aço.

— A Torre de Cristal – o motorista me informou o nome, que condizia muito bem com o lugar. – O endereço dos muitos ricos.

Agradeci e entrei pelo belo hall, com meus saltos ecoando pelo chão de mármore, em cima o imenso lustre de cristal de estilo clássico e uma enorme e linda escultura de uma mulher recoberta por um véu em mármore branco, em estilo neoclássico, que dominavam o centro do lugar, em contraponto com o restante da decoração moderna. Subi pelo elevador panorâmico, apreciando as luzes da cidade ficarem cada vez mais distante, pensando que aquele seria meu futuro lar.

 O elevador abriu direto para um pequeno hall em mármore preto e branco, elegantemente decorado, com móveis de estilo clássico e obras de artes modernas nas paredes. A cada passo, eu me sentia mais e mais como uma intrusa, aquele não era o meu lugar, quando Victor surgiu com um sorriso esplendoroso, veio na minha direção, me envolveu nos seus braços e me beijou de uma maneira que nunca havia me beijado antes. Por um breve instante, fiquei confortável e me sentindo acolhida e amada nos braços daquele homem, então, tudo a minha volta se tornou irrelevante.

— Seu egoísta, largue a moça e a apresente a nós! – Ouvi a voz feminina bem atrás dele. Victor me girou para que eu ficasse diante do casal, ambos louros, altos e bonitos.

— Venha, querida! Quero que conheça, Verônica e Alex Mohler. É essa adorável moça é Lívia, a futura senhora Victor Rahner – Meu noivo me apresentou, orgulhoso.

A mulher se adiantou e beijou o meu rosto, o homem fez o mesmo. Victor parecia feliz e animado na presença dos amigos.

 Há muito tempo, não via Victor tão empolgado – Alex comentou.

— Porque encontrei a garota certa.  Vamos para a sala.

 Victor nos convidou e eu quase cai para trás, quando entrei naquele ambiente, pois, nunca em toda a minha vida, tinha visto algo parecido. A sala tem uma decoração atual e chique, sem exageros, pontuada por peças antigas e obras de artes, das grandes janelas de vidro se avista as luzes da cidade cintilando aos nossos pés, como se estivéssemos acima das estrelas, na morada dos deuses, o Olimpo.

— É lindo aqui! – murmurei, quase sem palavras.

— Obrigado – Victor agradeceu, envaidecido. — Vinho, querida?

— Sim, por favor.

Ele serviu e me entregou uma taça linda com o líquido de um tom púrpura profundo, forte e rascante.

— Você nunca veio aqui antes? – Verônica ergueu as finas e bem-feitas sobrancelhas, surpresa.

— Ainda não – respondi, timidamente, um tanto envergonhada.

— Victor é um colecionador. Ele é viciado em leilões de arte – Alex explicou, com um certo sarcasmo, todas aquelas peças antigas, distribuídas pelo lugar.

— Não exagere! Só gosto de belos objetos, muitos deles estão na minha família a gerações e eu os herdei.

— E serão dos seus filhos – Verônica completou, erguendo a taça.

— Sim, aos nossos filhos – Victor reiterou e todos nós acompanhamos o brinde.

Imediatamente, pensei que aquele não seria um bom lugar para crianças, com todos aqueles objetos raros e caros.

Uma mulher vestida de chef saiu por uma das portas, anunciando que o jantar seria servido.

— Contratei uma cozinheira especializada, especialmente, para hoje. Afinal, é o jantar de boas-vindas para minha noiva.

Ele me oferece seu braço e caminhamos juntos para a sala de jantar, levei mais um susto ao ver a mesa posta, imaginando se um dia, eu me acostumaria com todo aquele luxo.

Sentados à mesa, a sequência de pratos servidos já montados, delícias em pequenas porções, enquanto a conversa girava, a maior parte do tempo, em torno de assuntos e pessoas que eu desconhecia, assim, descobri que Alex e Verônica não eram casados, mas irmãos.

 — Lívia, como conseguiu encantar um solteiro tão convicto como Victor? – Verônica me perguntou, pressenti uma pontinha de ironia na sua voz.

— Sinceramente, eu não sei.

— Eu posso responder a isso – Victor interveio. — Lívia é doce, inteligente e muito determinada.

— Uma incomum combinação em uma mulher. Mais uma vez, nosso amigo Victor, conseguiu descobrir uma joia rara. – Alex disse, com um sorriso indecifrável, senti meu rosto queimar. – E ainda, fica ruborizada como as moças do começo do século passado, realmente, é uma mulher muito especial a sua noiva, meu caro amigo.

— Então, Lívia, já escolheu o destino para sua lua de mel? – Verônica desvia do assunto, que começava a ficar inconveniente.

— Ainda não pensei em nada.  Eu nunca viajei para lugar nenhum.

— Minha cara, isso não é um problema, mas uma dádiva, pois o mundo está de portas abertas para você. Tudo é novo, diferente de algumas pessoas – Alex falou olhando direto para Victor. — Que acha tudo tedioso.

— Eu não acho tedioso, porém, não vejo nenhuma novidade, contudo, agora, que poderei mostrar o mundo para Lívia, fiquei entusiasmado – Victor segura minha mão e beija os meus dedos.

— Eu sugiro a costa Amalfitana, na Itália, é um lugar perfeito para uma lua de mel, romântico, muito sol, mar, boa comida e vinhos – Verônica palpita, olhando para Victor. Em alguns momentos, acho que ela está flertando com o meu noivo, depois, penso que é bobagem, que eles são apenas amigos.

— Uma boa ideia, Verônica – Victor respondeu, em um tom cínico. – O que acha, querida?

— Eu não sei.

— Não se preocupe, você terá algum tempo para resolver.

— Victor, onde fica o lavabo? – perguntei, ao fim do jantar, enquanto os outros retornavam a sala, para continuar bebendo. Queria sair dali, respirar um pouco, ficar alguns minutos sozinha.

— Você não está passando bem, querida?

— Eu estou bem, mas só um pouco zonza. Acho que foi o vinho.

— Lívia não está acostumada a beber. — Ele justifica para os seus convidados. – A segunda porta a esquerda no corredor.

Fui pelo caminho indicado e encontrei o que procurava, o lavabo como tudo naquele lugar é lindo e luxuoso, tem um aroma delicioso, a iluminação indireta é suave e confortante. Fechei a porta para ficar um pouco sozinha, olhei-me no espelho, abri a torneira, molhei as mãos e passei na minha nuca, fechando os olhos para relaxar, por um breve instante, senti algo esquisito como estivesse sendo observada, um arrepio percorre a minha espinha, abri os olhos e, em quase em um piscar de olhos, vi outra imagem no espelho junto a minha, uma mulher jovem muito clara e de cabelos escuros e longos, levei um susto e me virei rapidamente, mas não havia ninguém ali, observei em volta, com o coração saltitando, procurando uma resposta lógica para o ocorrido e encontrei uma pequena pintura a óleo, o retrato de uma mulher na parede lateral, explicando a minha ilusão de ótica, mais tranquila, sai dali para me juntar aos outros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Mistério da torre de cristal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.