Desejos? O autor tá criando títulos de capítulos aleatórios pra forçar desenvolvimento de personagem? A história já ta quase no fim. O Peter que foi introduzido como um antagonista se tornou vilão, Sophie começou como a doce garota inocente e agora é a doce garota apaixonada, Sr. Greenfield era o pai ausente e agora ele tem tantos diálogos por capitulo quanto eu. Pietro é a minha contra parte humana menos preocupada com o trabalho. 

O único que não desenvolveu fui eu. 

São 4:11 da manhã em meu relógio de bolso, termino de abotoar meu colete e me preparo para mais um dia de serviço.

Mais um dia.

Meu aniversário de 20 anos.

Talvez o titulo tenha haver com isso. Um desejo de aniversário.

Meu autor é muito preguiçoso.

Desço as escadas para o primeiro andar e me dirijo a cozinha para preparar o café da manhã. Tomates grelhados com feijões. Aqui na Europa, principalmente Inglaterra é um prato muito comum no café da manhã. Não me olhe torto, não sou eu quem come arroz e feijão todo dia. Brasileiros... vai entender.

Sophie desce as escadas com o uniforme da escola.

—Bom dia, Wall.

—Bom dia, senhorita.

—Quero muita comida e quero muito carinho.

—A comida posso fornecer.

—Frio.

—A comida está quentinha.

Sophie solta um meio sorriso e senta a mesa. Coloco o prato em sua frente e ofereço suco de laranja.

—Por favor. - Ela aceita erguendo o copo para que eu sirva. - Obrigada. O que vai fazer hoje?

—Se terminarem de arrumar a casa no horário rotineiro, irei tirar um tempo para mim.

—Sinuca e o bar?

—Não... algo maior talvez.

—Isso é uma novidade.

—De fato.

Termino o café da manhã antes de Sophie. É difícil manter os modos quando se está animado. Tirar um dia só para si é algo maravilhoso para pessoas reservadas. Não faço questão que saibam de meu aniversário, só faço questão de me dar o meu presente.

—Preciso ir para escola. - Sophie se levanta e vai em direção a porta com sua mochila.

—Quer uma carona?

—Seria ótimo - Ela responde com um radiante sorriso. 

Deixo a cozinha para Isabelle limpar e vou para a garagem pegar o carro na intenção de ficar pelo centro. Passamos todo o caminho até a escola de Sophie conversando. Ela como sempre risonha. Eu, reservado. Não demoramos muito, chegamos.

—Espere aqui. - Digo.

—Aonde você vai?

Coloco minhas luvas brancas de serviço e saio do veiculo. Dou a volta e abro a porta traseira para Sophie. Todos os alunos que notaram minha atitude ficaram boquiabertos. Ao longe escuto Emilly falar "Eu disse". Peço sua mão para a auxiliar a se retirar do carro.

—Obrigada, Wall.

—Disponha, mylady. - Apos ela sair do veiculo beijo sua mão com um leve sorriso. O silencio externo continua. Sophie não fica mais tão vermelha, mas ainda ouço seu coração bater de longe enquanto não consegue evitar o sorriso. Ao me erguer e soltar sua mão, meu semblante totalmente centrado e meu olhar sério se dirige aos demais presentes.

—Com sua licença. - Digo para Sophie, mas fitando os outros.

—Bom trabalho. - Ela me deseja.

Me dirijo novamente ao carro, tiro minhas luvas e vou dirigindo novamente ao centro. Estou próximo a casa de show mais fina da cidade, sinto a empolgação tomar conta de meu corpo. Empolgação logo censurada por um telefonema.

—Wallace. - Atendo.

—Wallace, onde você está? - Era o Sr. Greenfield.

—Estou no centro, voltando para casa. Vim trazer Sophie para a escola.

—Estou voltando para cidade, vou dar uma social com a família de Rose. Coloque seu melhor terno e prepare a casa.

—Sim, senhor.

Desligo o celular. Passo reto pelo Clube e viro a primeira a esquerda em direção a mansão Greenfield.

O show cover de meu querido Frank Sinatra.

Minha tarde jogando sinuca e bebendo no bar com Pietro.

Minha noite assistindo algum filme clássico.

Tudo por água abaixo.

Chegando na mansão, encontro Isabelle e dou intruções sobre os aperitivos que devem ser servidos durante a noite e o jantar, incluindo salada entrada e prato principal. Indo para meu quarto, retiro meu terno preto do armário e vou direto para tábua de passar. Após o terno ficar impecável, engraxo meus sapatos e os deixo secarem ao sol da janela de meu quarto. Pego uma gravata borboleta prata aberta e a passo também. Acho uma aberração gravatas com nó pronto. São um desperdício e descaso de uma das habilidades mais nobres de um homem, ou da esposa de alguém sem talento para tal.

Após uma cansativa tarde arrumando a casa em cada detalhe imaginável, isso inclui dobradiças lubrificadas, banheiros com sabonetes novos e a sala de jogos devidamente organizada, vou me preparar para receber os convidados.

—Estaremos ai em uma hora. - Dizia Sr. Greenfield ao telefone.

—Sim senhor. Está tudo pronto para a recepção de seus convidados.

 Olho para o relógio de bolso. São cinco horas. Sophie está para chegar.

Logo mais guardo o relógio no bolso, a mesma abre a porta da mansão.

—Oi, Wall. - Ela sorri.

—Boa tarde, senhorita.

Suavemente ela deixa a mochila no sofá e me abraça de forma sutil.

—Está tudo bem? - Pergunto.

—Obrigada por hoje de manhã.

—Foi um prazer.

Estranho o fato dela não se explodir de alegria como de costume, mas confesso que esse tipo de aproximação é mais o meu jeito.

—Seu pai vai fazer mais uma social esta noite, com a família de Rose.

—Que bom que ele achou alguém também.

Também?

—Vou me fechar no quarto e ficar no celular. Você vai trabalhar a noite toda então, não é?

—Creio que sim.

—Tudo bem. Boa noite então.

—Boa noite, senhorita.

Sophie pega a mochila e sobe as escadas. Prontamente passo o mini-aspirador novamente no mesmo ponto onde a mochila tocou, tirando o amassado. 

As horas seguintes se passavam como eternidades. Me mantive em postura ereta próximo as portas sem rir ou virar o rosto, periodicamente oferecia algum tira gosto aos convidados. Para quem acha que é exagero o nosso treinamento, ele é até facil comparado com a situação real. Imagino se meus ex-colegas de turma estariam na mesma pose em que eu me encontrava ao longo de toda a Europa.

Rose estava belíssima em seu vestido preto e Sr. Greenfield estava elegante com os cabelos penteados e com gel, em seu terno preto já com a gravada desfeita. Os irmãos e a mãe de Rose não fugiam muito do mesmo padrão. A mãe era uma mulher elegante e gorda, com seus cabelos brancos em coque fazendo contraponto com seu rosto ótimo para a idade. 

Após Sr. Greenfield jogar um pouco de sinuca com o irmão mais novo de Rose e os outros convidados se manterem próximo ao bar, o que me deixou ocupado por alguns instantes, houve o jantar. Após a sobremesa de mousse de limão todos se encontraram na sala por mais alguns instantes e então se despediram. Eram aproximadamente duas horas da madrugada. Foi uma noite bem estressante.

Rose ficou na mansão com Sr. Greenfield, que pediu para não serem acordados no dia seguinte. Sophie devia estar dormindo faz horas com seu fone de ouvido tocando algo de sua playlist. 

Tirei o terno, coloquei no cesto de roupas. Entrei no banheiro e tomei um bom banho quente. Após relaxar um pouco os músculos das costas e ombros, sequei-me, pus meu costumeiro pijama cinza e deitei-me na cama. 

Já era 16 de outubro e não aproveitara o dia anterior em nada para si.

Feliz aniversário Wall.