Equinox escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 14
Capítulo 94


Notas iniciais do capítulo

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1° de janeiro de 2008 - PDV da autora

Chegando em casa, Carlisle foi direto a caixa de correio pegar a correspondência. Dentre as cartas estava aquela que mais o afligia: o resultado do exame de sangue de sua filha Caroline.

‘O que será que ela tem?’ ele se perguntava; porque com certeza ela deve estar com algum problema de saúde, porque a Bella não teve o ciclo suspenso mesmo que passasse grande parte do tempo com mulheres que não têm sangue. Se bem que Bella não morava com eles como Caroline, mas isso não deve interferir, ela continua sendo humana e, ainda assim frequenta a escola e está perto de outras mulheres que não Esme e elas estão vivas, e portanto possuem seu ciclo hormonal normal.

Ele está deveras preocupado porque é a segunda vez que o período dela fica tão comprido. De certa forma foi mesmo bom que não tenha ocorrido enquanto estavam nos EUA, não seria muito bom com a casa repleta de vampiros... Não que os Cullen fossem ter algum problema com isso, eles ficavam bem quando Bella tinha seus ciclos também. Quem ficaria preocupada e com muito medo seria a própria Caroline, ela não merecia ter de passar por isso. Mas agora que não houve ele está preocupado com a saúde dela.

Carlisle soube da ausência da menstruação imediatamente quando os dias foram passando e nada do fluxo de Caroline ocorrer. Ele sabia disso mesmo sem ter de perguntar diretamente para ela e ter de embaraçá-la por falar nesse assunto. Para ela talvez fosse até bom não ter de passar por esse incômodo, ela pensava, mas com o tempo ela também ficará preocupada.

Ele sabia que a filha tinha receio de falar abertamente com os pais a esse respeito, pensa que estaria atrapalhando ou sendo inconveniente, mas nada disso. Agora sim é que ele e a esposa estão preocupados com ela. Esme até consegue deixar de lado, mas com o passar dos dias ela também vai começar a ficar apreensiva... Não precisava ficar inibida para falar sobre isso, mas Caroline tinha vergonha e ele respeitava sua privacidade.

Coloca as cartas no bolso e corre para a sala. Agora já está escuro e ninguém percebeu que ele não foi em velocidade humana. Carlisle senta no sofá da sala e pega o envelope do hospital.

— Vamos ver – ele sussurra de si para si.

Ele abre a carta e encontra vários papéis. Sabendo o que procura vai até a última folha em busca do resultado:

‘Os exames indicam que a paciente tem endometriose’

A notícia caiu como uma bomba no colo de Carlisle, ele já esperava algo assim, mas mesmo que estivesse preparado ainda tinha uma pontinha de esperança de que sua filha não tivesse nenhuma doença e isso fosse apenas causado por sua relação com eles, seus pais, seres sobrenaturais. Ele soltou os documentos que caíram ao chão e seus olhos ficaram vagos contemplando o horizonte sem ver coisa alguma.

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— E agora? – ele suspira. – Como direi isso para Esme? Como poderei falar para Caroline? Será que ela vai morrer? Não! Isso não pode acontecer. Não iremos permitir, teremos que transformá-la um pouco antes do previsto.

‘Ninguém poderia saber disso antes. Ou será que Alice viu e não me contou? Certamente ela viu eu abrindo o envelope. Talvez ontem, antes de sairmos de Forks. Ela poderia ter nos alertado e agora Esme vai ficar mais um mês no escuro e sem saber o que há com nossa filha. Esme vai ficar preocupada. Caroline pode morrer! Alice deveria ter avisado, é uma questão de vida ou morte!

‘Por que ela não avisou? Porque ela fez isso? Por quê? Ela vai ter que me explicar porque não disse nada se ela já sabia. Provavelmente ela viu eu abrindo a carta, eu sei como funcionam as visões, pois aprendi nesses pouco mais de cinquenta anos de convivência. Mas se Alice viu antes, ela viu a minha reação e mesmo assim não nos avisou. Isso deixa a questão ainda mais grave.

— Alice! – minha voz ecoa na casa vazia, como se eu pudesse trazê-la apenas com um chamado.

Meu grito me surpreende. Não apenas por causa da irritação evidente, mas também por causa de outro sentimento. Eu amo Caroline mais do que imaginava, não posso perdê-la dessa forma. Ao menos isso me fez perceber o quanto eu já amo essa menina. Ela é minha filha, não posso permitir que ela morra.

‘Carlisle fique calmo’ – a lembrança da voz da minha esposa me conforta. É a minha mente me pedindo para relaxar. Mas como ficar tranquilo depois de uma notícia dessas? Minha vontade era pegar o próximo vôo para o Rio de Janeiro e ir até a Ilha avisar as duas agora, nesse instante. Porém eu tenho que trabalhar amanhã, não posso abandonar o hospital agora. Eu poderia explicar que foi urgente e eles certamente me concederiam mais alguns dias, mas não vou, não posso, eu vou ficar. Estou de mãos atadas meus Deus!

‘Esme está com Caroline e ela está segura. Vai ficar bem. Não está desassistida. Minha esposa pode ficar magoada que eu não tenha avisado imediatamente, mas ela vai entender com o passar do tempo que eu tomei a melhor decisão, ela é muito compreensiva e sabe que eu sei o que estou fazendo, mesmo que ela não entenda, confia em mim. Talvez os anos de convivência nos deixaram ainda mais parecidos um com o outro. Assim como ela adquiriu alguns hábitos meus, eu também adquiri algumas de suas características, embora desde o princípio sempre tivemos muito em comum e por isso tenhamos nos casado.

‘Ela nasceu exatamente para mim, como ela sempre diz. Não posso mais me imaginar sem ela e nem ela pode se ver sem mim. Não há Carlisle sem Esme e nem há Esme sem Carlisle. Carlesme, como minha filha mais nova diz, ela adora nós dois juntos e é feliz por nos ver juntos e felizes. É sempre bom ter alguém assim, ela nos incentiva, torce por nós, está no nosso time. Somos seu OTP, seu casal favorito. Nós dois somos inseparáveis. Eu fui feito para Esme e ela para mim. Eu tinha que ser transformado em vampiro para conhecê-la. Se não fosse assim sabe-se lá quando nos encontraríamos no céu, tenho certeza que lá nos conheceríamos e seriamos felizes. Mas nosso paraíso desceu e agora vivemos assim aqui na terra. E nossas bênçãos não param. Não que seja cansativo, estamos tão felizes e sempre ficamos ainda mais. Isso seria possível? Não importa, o importante é que somos agraciados.

‘Nossos filhos são todos nossas alegrias, Renesmee também, nunca poderíamos imaginar alguém como ela. Nem em nossos sonhos mais ousados. Caroline é um presente para nós dois. (Surge uma pergunta no fundo da minha mente ‘O que será que o futuro nos reserva?’ seja o que for não temos medo.) Ela é tão feliz conosco que ficamos felizes por fazê-la se sentir assim. Ela teve uma vida tão sofrida! Sermos o porto seguro dela é uma honra. Ela tem uma relação toda especial com Esme é claro, porque ela foi a primeira de nós dois que ela conheceu, mas comigo ela também tem um afeto diferente.

‘Eu sei o que eu represento para ela e farei jus a essa consideração que ela tem por mim, pois eu sou o pai que ela nunca teve. Tenho plena consciência do quanto eu significo para ela e jamais vou fazer o que o pai humano dela fez ao magoá-la e jogar seu coração pela janela e pisar em cima. Como ele não viu o tesouro que ele tinha nas mãos e não soube dar o devido valor? Ainda fico surpreso com alguns ‘homens’, como o ex-marido da minha esposa. Como Charles podia maltratar um ser tão doce como Esme? Não entendo e nem espero um dia vir a entender. Não sou esse tipo de homem.

‘Ser um homem de verdade não é maltratar e nem humilhar uma mulher. Isso não é nada viril. As mulheres são por natureza seres mais frágeis, em certo sentido, e bem mais forte do que nós em outro, e subjugá-las não é nada mais do que uma covardia. Tenho muito respeito e admiração por elas terem a honra e o privilégio de poderem gerar uma vida nova em seu útero. Os homens só entram como coadjuvantes, mas não precisam ser omissos na criação dos filhos. Nossos filhos já são praticamente adultos, mas se Esme precisasse de mim eu ajudaria, eu não iria me esquivar dessa responsabilidade. Posso perceber nitidamente essa importância da figura paterna em nosso filho mais novo, Edward.

‘Também é melhor que sejam as mulheres que engravidem porque os homens se arriscam demais e não teriam a paciência e o cuidado necessários durante o período de gestação. E também duvido que algum dos ‘machões’ -que só se fazem de valente, mas quem bate em mulher é um covarde para mim, porque não vai bater em um homem? Não se acha o bom, vai procurar alguém do seu tamanho, ai eu quero ver. Mas não vão porque são, como eu disse, covardes- suportaria as contrações de trabalho de parto.

‘As mulheres têm de passar por isso por tanto tempo com as cólicas menstruais e depois as contrações cada vez mais intensas até dar à luz. Claro que depois ver o bebezinho compensa todo o sacrifício, mas ainda assim não deixa de ser um ato de bravura. Talvez eu pense assim porque eu nasci no final da Idade Media e começo da Idade Moderna e ainda havia alguns resquícios da cultura medieval na época e por isso eu valorize tanto atos de cavalaria e o cavalheirismo em si. A bravura, a honra e a atitude nobre, não apenas a nobreza de sangue, mas a de espírito. Ou porque eu sou um lord inglês e bater em mulher não é uma coisa digna.

‘Naquele tempo as mulheres eram respeitadas e não era como hoje que parece que se perdeu qualquer noção. A luta pela emancipação feminina, no meu entendimento, foi mal-interpretada e os direitos conquistados pelas mulheres não significam que elas são como os homens. Na qualidade de seres humanos sim, elas são como os homens, mas em algumas características não são iguais nem nunca serão.  A biologia já criou diferenças entre os sexos. Tudo que as mulheres queriam, acredito, era apenas serem tratadas como seres humanos assim como os homens, não que elas são homens.

‘Carlisle foco, você está divagando’ - me diz uma voz no fundo da mente. Reconheceria quem me disse isso até debaixo d’água, minha memória não falha.

‘Nunca vou esquecer de como meu pai me tratava. Acho que ele me culpava pela morte de minha mãe. Suspeito que minha mãe também se chamava Caroline como a mãe da minha esposa e como a nossa filha. É como uma homenagem póstuma para nossas mães o nome da nossa filha. Na verdade, acho que a culpa não foi minha, eu não matei minha mãe. Quem fez isso foi meu pai por ter escolhido uma esposa tão jovem. Ela não suportou o parto e morreu assim que deu à luz, ainda que ela não morreu antes. Nós dois poderíamos ter morrido juntos.

‘Mamãe me amava tenho certeza, uma vizinha me disse que eu deixava minha mãe tão feliz cada vez que eu me mexia. Ela nem reclamava de dor alguma. E mesmo se ela tivesse alertado meu pai, duvido que poderiam ter feito muita coisa para salvá-la, a  medicina era muito incipiente naquela época.

‘E isso que eu ainda nem era vampiro... De certa forma Renesmee ter matado a própria mãe quando nasceu me trouxe a lembrança da minha própria tragédia pessoal. Meu pai era quase misógino depois que minha mãe faleceu e por isso ele nunca mais se casou. Eu fui criado por uma vizinha praticamente como se fosse da família dela e apenas dormia na minha casa. Meu pai ficava o dia todo na igreja até que um dia ele quis que eu fosse com ele. Ele me ensinava tudo sobre a Bíblia e eu prestava atenção principalmente quando se relacionava com algum fato cientifico. Por exemplo, a terra flutua no espaço e gira em torno do sol, não o contrário.

‘Eu era um menino esperto, tão inteligente que mais tarde me levou até aquela saída de esgoto... Minha vida nunca mais foi a mesma. Se bem que minha vida, para algumas pessoas, terminou naquele momento. Eu sou muito grato pelo que aconteceu depois, por ter encontrado minha esposa e criado nossa família dessa forma ‘vegetariana’ e pacífica. Vivemos felizes apesar do que os outros diriam se soubessem que somos vampiros.

‘Posso até imaginar perfeitamente como as pessoas ficariam escandalizadas, diriam que somos monstros que não temos direitos. Mas todo mundo tem o direito de ser feliz desde que isso não prejudique ninguém. Se as pessoas têm apenas inveja, não é culpa nossa.

‘Meu pai me ensinou a pessoa que eu não queria ser. Com ele aprendi que ser verdadeiramente um homem não é como eu via ele agir. Ele me maltratava mesmo por alguma bobagem como ter esquecido de esquentar a água para seu banho. Ele era tão rude comigo... Eu não tinha nenhum irmão para dividir as surras e às vezes eu pensava que isso era bom, ninguém mais merecia passar por isso. Eu deveria aguentar sozinho. Por isso nunca farei isso com Caroline, eu sei como é.

‘Às vezes eu imaginava que das minhas lágrimas a mamãe poderia voltar à vida se fui eu que tinha matado ela e meu pai não ficaria mais tão bravo comigo. O que será que mamãe diria se me visse apanhar daquele jeito? E se ela me visse agora, será que teria orgulho de mim? Acho que sim, estou quase certo que sim.’

Acho que no fundo foi por ela que eu me tornei médico. Salvando outras vidas é como se eu fizesse com que o sacrifício dela tenha valido a pena. Mesmo se eu não fosse médico, é claro que ela diria que valeu a pena, pois eu estou vivo e isso era o que ela mais queria. Mesmo tendo que morrer para me dar a vida, era o que ela queria fazer. No entanto, meu pai não aceitou o que ela fez.’

...XXX...


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