Eu nunca imaginei que fosse tão difícil dominar a própria mente em relação a esse tipo de pensamento. Talvez essa idiotice seja a culpada pelo meu insucesso com mulheres. Muitas já deram em cima de mim, mas nunca rolou. Nem beijo, nem nada. E olha que eu já estou terminando o Ensino Médio... O que falta em mim é exatamente o essencial, droga! Do que adiantou eu ter conseguido todo o resto? Sou bonito, educado, inteligente, rico, sagaz, culto, honesto, elegante, eloquente, popular, charmoso, humilde, e, ainda por cima, modesto. Ainda assim, eu não tenho aquilo que as garotas mais desejam: sex-appeal. Ah, como eu tenho ódio desse tal de sex-appeal. Odeio.

Odeio esse meu corpo magricela, essa minha falta de papo com as mulheres, essa minha seriedade excessiva. É nisso que dá querer ser perfeito. Torna-se muito bom de um lado, fica-se uma droga do outro. Se eu tivesse estudado uma hora a menos todos os dias e usado esse tempo para frequentar uma academia, estaria inteligente, gostoso, teria um bom papo. Mas não, eu só sou inteligente: só consigo atrair gordinha, sardenta ou míope. Se for pra conversar, eu só sei falar de livros e filmes clássicos. Quem quer passar a vida à beira de uma lareira recitando Shakespeare, se ele mesmo viveu umas aventuras pra lá de esquisitas?

Sei lá, acho que o meu problema todo é a C.C. Na verdade, acho que ela seria minha solução, mas, enfim... Eu sempre sofri com esses problemas, mas só agora comecei a refletir neles. Só depois que a desgraçada da C.C. veio morar comigo. No mesmo quarto que eu. Cara, é pressão demais! Antes, quando eu tinha tesão por uma gostosa que não me dava bola, uma revista de sacanagem, um conto erótico ou um site de hentai já resolvia, eu aliviava a tensão do meu jeito. Mas agora tem uma peituda andando seminua pra lá e pra cá, no meu quarto, o tempo todo! Imagina só se eu passasse a viver o resto dos meus dias alimentando fantasias sexuais com ela? Ninguém aguenta! Talvez se ela começasse a trajar umas roupinhas mais decentes, eu não teria tantas dúvidas quanto às suas intenções.

Tudo bem que nós fizemos um contrato, então morar no mesmo quarto tá legal pra mim. Mas ficar o tempo todo no “chove-não-molha” tá fora de qualquer limite aceitável da mente humana. De vez em quando, ela joga calcinha usada na minha cara na hora de se trocar, me pede pra abotoar o sutiã, será que ela acha que é também é homem? Só pode ser! Do jeito que ela me olha, parece que é tudo tão natural... Eu vivo, constantemente, a introdução de um filme pornô. Uma cena que diz tudo, mas nunca chega aos “finalmentes”. E ela ainda diz que é virgem. Será que ela tem o mesmo problema de se abrir, quer dizer, de demonstrar afeto? Pra alguém como ela, ser virgem é quase um milagre! Se bem que, nas visões que eu compartilhei com a C.C., o mundo dela só era habitado por mulheres. Vai saber, né? A verdade é que ainda não consegui descobrir se isso que ela faz é insinuação, provocação, ingenuidade ou atitude de puta mesmo.

Eu devo estar entrando na fase da crise de virgindade. Já ouvi falar nisso: é nessa hora que o homem decide se vira tarado, monge ou gay. Talvez as três coisas ao mesmo tempo, talvez duas delas... Mas isso não vem ao caso. Tá vendo como eu não controlo nem mesmo a minha própria mente? ... E com quem eu acho que estou falando? É, apaga tudo e começa de novo. Bom, acho que o problema é que os meus pensamentos fetichistas e fantasiosos acabaram se acumulando, e a minha cabeça deve estar cheia deles. Não que seja errado fantasiar, isso eu sei que é normal de todo homem na minha idade. Mas, como nenhuma dessas fantasias se concretizou, agora eu tenho que aguentar essa loucura hormonal que percorre todos os meus sistemas – o nervoso, o circulatório, o respiratório... O reprodutor, principalmente.

Quer saber? Vou [tentar] parar de fantasiar com a C.C., mas um dia eu ainda viro macho e pego ela de jeito. Aí eu descubro se ela é virgem mesmo – ou se tudo isso é puro “bico” doce.