Sabe, Albus, até hoje me lembro de uma frase dos filmes que a gente assistia: “Você é a moldura e ela é a pintura. Tudo o que fizer... É para exibi-la.”.

Claro que na época, aquilo foi só um conjunto de letras sem nexo porque, afinal, nenhum de nós era moldura. Éramos tinta na tela, arte na sua forma mais verdadeira. Éramos energia.

Mas então você decidiu que queria se colorir em outros tons e me deixou num quadro inacabado, preso em pura ilusão de aquarela. Eu era um vórtice inerte.

E hoje, revendo aqueles filmes antigos, só posso pensar que, se eu ainda pudesse ser algo mais que o puro e completo vazio, eu seria a sua moldura, Al. Talvez não de você, propriamente, mas da memória do garoto que me dava doces e era por si só o maior deles.

Estamparia no cinza dos meus olhos o verde dos seus, na minha poesia ruim, as suas partituras, nos meus lábios sem graça, o vermelho da sua boca. Colocaria todo o seu brilho em cima das minhas falhas, me encheria do seu Sol, até não sobrar nada da minha opaca Lua.

Mas eu não deveria querer isso, deveria, Al? Não, eu precisava mesmo era ter aprendido a gostar das cores do meu Universo, em vez de desejar morar no teu Céu.

No fim, de que importa agora? Sou só eco entre as estrelas hoje, meu bem e não faço lar em canto nenhum. Ressoo, ressoo, ressoo, contudo (e com nada) nunca tomo forma. Mas se tomasse, seria a sua.