—Shikamaru, levante. - disse Temari com a voz ríspida enquanto chacoalhava o marido. – Anda logo, já é a terceira vez que te chamo e ainda tenho que arrumar Shikadai e a bolsa. Não tenho tempo para você ficar enrolando.

—Yare, yare. – Shikamaru reclamou enquanto sentava na cama e bocejava. –Vocês podem me explicar por que marcaram tão cedo?

Era um belo sábado de sol, ele estava de folga e tudo que queria era passar a manhã deitado em sua cama sem ter hora para acordar, ou até quando seu filho permitisse, com sua esposa. Mas, justamente naquele seu precioso sábado, Temari, Ino, Sai, Chouji e Karui também estavam de folga e as garotas decidiram que era uma ótima ideia fazer um piquenique com as crianças. A ideia era ótima, mas tinham que marcar sete e meia da manhã?

—Pergunte a Ino quando a encontrar, o horário foi escolha dela. - Temari disse enquanto andava pelo quarto arrumando a bolsa, ela já estava vestida, mas não tinha arrumado o cabelo -Agora levante logo para irmos.

Shikamaru preferiu não questionar a mulher, se levantou e puxou-a para si. Temari franziu o cenho e ia ralhar com ele novamente, mas ele beijou-a de forma rápida e a soltou. Ele sabia o quanto era importante as crianças terem contato umas com as outras desde pequenas e a culpa afinal de perder sua soneca da manhã era de Ino. Deixou o quarto, sabendo que Temari já estava ocupada, e seguiu para o quarto do filho para arrumá-lo, dividindo assim o trabalho.

~x~

—Eu ‘tô com fome. - Chouji choramingou.

Tinha acabado de chegar no campo onde combinou de se encontrar com os amigos, junto de Karui e Chouchou. Porém, eram os primeiros a chegar e Karui não o havia deixado comer nada antes de saírem de casa.

—Querido, a ideia é café da manhã em conjunto, vamos esperar todos chegarem. - ela disse estendendo a toalha sobre a grama. Chouchou estava quieta no colo do pai se distraindo com uma boneca de pano.

—Eu só queria um pedacinho do seu bolo. - ele fez bico e a ruiva não pode deixar de rir.

—Se eu deixar você cortar o bolo, nós dois sabemos que você o comeria sozinho. - ela deu um selinho no marido e a filha bateu palmas, feliz em ver o ato de carinho entre os pais.

—Da próxima vez você deveria fazer dois bolos. - ele disse a puxando para um meio abraço, não existia nada melhor no mundo que o bolo de chocolate da sua esposa. Talvez apenas as lembranças que o sabor lhe trazia, mas não era isso que fazia uma receita ser tão especial?

—Ah, eu fiz dois, mas um eu deixei em casa. - Karui respondeu alegre e Chouji enrijeceu. Ele se sentia traído! Como ela tinha feito um bolo só para ele e o obrigara a sair de casa sem café da manhã!?

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—Lindinha, estamos atrasados. – Sai avisou da porta de casa. Ele já havia preparado toda a bolsa de Inojin, separado as comidas que iriam levar e vestido o filho, e, mesmo assim, Ino não conseguira ficar pronta a tempo.

—Estou terminando de pentear meu cabelo!. - ela gritou de dentro do quarto e ele sabia que isso significava que atrasariam pelo menos mais 15 minutos. Colocou Inojin que cochilava em seu colo no sofá e se sentou na poltrona ao lado admirando a criança. Inojin estava próximo de fazer dois anos e Sai mal podia acreditar em como tudo estava passando tão rápido, em pouco tempo ele não conseguiria carregar mais seu filho no colo.

Com isso em mente, ele se levantou e seguiu a seu ateliê, separou algumas telas em branco e um conjunto de tintas.

—Estou pronta. - Ino disse parada na porta do quarto extra. -Vai levar as tintas? - ela questionou. Ela sabia que o marido não gostava quando as crianças mexiam nas suas ferramentas de pintura.

—O dia está bonito hoje e as crianças estão crescendo rápido. - ele deu de ombros enquanto fechava o estojo de pincéis. -Acho que é um excelente dia para pintar.

Ino abriu um sorriso feliz, Sai podia não ser muito bom em expressar seus sentimentos com palavras, mas amava como ele conseguia transferir isso para as pinturas, assim como ela, ele também queria eternizar o filho nessa fase tão gostosa.

~x~

—Por que você marca um horário tão cedo e é a última a chegar? - Shikamaru bocejou ao fim da pergunta, já estavam esperando Ino a vinte minutos e Chouji só não morrera de fome porque Temari foi bondosa o suficiente para deixar o Akimichi comer uns biscoitinhos. Shikadai e Chouchou brincavam juntos com alguns bloquinhos de madeira que Karui trouxera.

—Sai resolveu pegar o material de pintura na última hora – Ino colocou a culpa no marido, mas todos ali sabiam o verdadeiro motivo do atraso –E sobre o horário, as crianças não devem pegar o sol depois das dez e tínhamos que vir cedo para aproveitar. – Shikamaru soltou mais um bocejo, para ele, aquilo não era sinônimo de aproveitar, mas seria muito problemático discutir com Ino àquela hora da manhã.

—Se anime. – Chouji lhe deu um soco no ombro com mais força do que deveria, ele estava feliz pois agora poderia comer tudo o que quisesse sem ser repreendido. –Karui fez aquele bolo de chocolate maravilhoso.

—Boio, boio! – Chouchou repetiu a palavra alegremente enquanto batia as pequenas mãozinhas, fazendo com que todos ao redor sorrissem.

—Você devia ser menos preguiçoso. – ralhou Temari com o marido. –Olha como o Dai está feliz. – ela dirigiu um olhar amoroso para o filho que agora corria atrás de Inojin numa brincadeira maluca.

—Eles estão uma graça. – falou Karui enquanto dava bolo para a filha em seu colo. –Às vezes eu queria que não crescessem nunca.

—Ah, eu quero. – falou Ino séria fazendo com que todos a lançassem um olhar questionador. – Mas só o suficiente para Inojin desfraldar, não aguento mais trocar fraldas.

—Ela fala como se não pedisse para eu trocar a maioria. – Sai respondeu levando um pequeno empurrão da esposa irritada. Ela não deveria reclamar, afinal, ele aceitou ser o “culpado” pelo atraso mais cedo.

—Não fiz a criança sozinha, ela também é sua responsabilidade. – Ino respondeu num muxoxo irritado, o que fez Sai dar uma pequena risadinha e um beijo na bochecha da loira.

—Se responsabilidade pela criança estar aqui contava para trocar fralda, eu devia ter mandado o Shikadai mais vezes para casa do Chouji e Karui. – comentou Temari num tom bem humorado fazendo o casal Akimichi ficar vermelho.

Depois da aceitação das três sobre ter um filho e cumprir o Tratado dos Clãs, piadas relacionadas sobre Chouji e Karui serem os primeiros a terem o bebê e mobilizado a todos para isso se tornaram completamente comuns, principalmente da parte de Temari e Sai.

—Boa ideia. – a Yamanaka respondeu. – Acho que vou deixar Inojin lá até que isso passe. - a loira recebeu um olhar preocupado do marido, como se realmente fosse existir essa possibilidade e ele estivesse preocupado em ficar longe do filho.

—Mudei de ideia sobre não querer que eles crescessem. – falou Karui fazendo todos rir. –Realmente, a fase das fraldas foi bem ruim, foi um alívio Chouchou ter desfraldado tão rápido.

—Família Akimichi como sempre adiantada em tudo. – brincou Ino. – Eu queria ter essa mesma sorte, mas o Inojin não colabora. – e como se fosse presságio, a criança loira interrompeu a brincadeira e começou a chorar correndo em direção a mãe. – E lá vai mais uma fralda suja. Filho, você tinha que aprender com a Chouchou. – ela suspirou. –Sai, faça-me o favor.

—Eu falei que ela empurrava as fraldas sujas para mim. - ele disse num tom risonho e pacientemente, pegou o filho no colo e a bolsa do bebê levando-o para uma área mais afastada para não incomodar quem estava comendo durante a troca.

—Papai, qué suco. – falou Shikadai se aconchegando no colo do pai, visivelmente cansado por conta da brincadeira com o loiro. Temari pegou o copo do menino na bolsa e colocou uma pequena quantidade de suco de laranja, ela sorriu ao ver o brilho no olhar do filho pro copo.

Pouco depois de trocar a fralda do filho, Sai apoiou seu cavalete de pintura um pouco distante e começou a pintar. As crianças já estavam cansadas de correr e comer, por um tempo, ficaram brincando os três juntos sentados passando os brinquedos um para o outro, depois, Shikadai caiu no sono na grama, assim como seu pai, e Chouchou se juntou ao pai para comer o que restava do bolo. Ino deu um papel e alguns lápis de cor para Inojin que rabiscava formas desnexas. As três mulheres conversavam felizes entre si, trocando experiências sobre o trabalho ou contando histórias dos filhos.

A manhã foi passando e Sai sorria um pouco mais a cada elemento que ganhava forma em sua pintura. Quando os outros adultos começaram a recolher o lixo e arrumar as bolsas para ir embora, ele contemplava o esboço de sua pintura, que seria finalizada nos próximos dias em seu ateliê: Inojin, Shikadai e Chouchou sentados na grama e rindo juntos. Aquela cena o fazia desejar mais uma vez que eles não crescessem.

Mas eles cresceriam, iriam juntos à academia, formariam uma equipe juntos, receberiam os brincos de seus pais quando virassem genins, ganhariam os próprios brincos quando chegassem ao nível chunin e, mesmo que passassem a fazer missões individuais e casassem, eles sempre arrumariam um dia para se encontrar, assim como seus pais fazem e seus avós fizeram.

Quando novo, Sai aprendeu que para se tornar um bom ninja, ele deveria se abster de sentimentos e de relacionamentos. Agora, adulto, casado e pai, ele tinha convicção que tudo que aprendera estava equivocado. Se tinha algo que nos fortalecia, era as pessoas que nos rodeavam e, para ele, não havia nada mais forte do que a relação de amizade e companheirismo passada dos pais para os filhos da combinação Ino-Shika-Chou.