— E aí, como foi? — assim que entrou em seu próprio quarto, Sirius encontrou seu melhor amigo, James Potter, sentado em sua cama enquanto mexia em seu notebook. Ele, ao avistar o príncipe, largou o computador sobre a cama e encarou o amigo cheio de expectativa. — Gostou delas?

— Delas quem? — perguntou Sirius jogando-se em sua cama e fechando os olhos, como se tivesse esperança de que aquele latejar passasse ao fazer isso.

— As selecionadas para a Seleção, é claro! — Sirius suspirou.

Estava sob pressão sobre a Seleção há meses e não aguentava mais falar daquele assunto, e o interesse do melhor amigo não contribuía para aliviar o stress.

— Não prestei muita atenção. — respondeu simplesmente.

James ficou em silêncio por alguns segundos, apenas encarando o melhor amigo.

— Como você não prestou atenção? — perguntou incrédulo. — É de seu futuro casamento que estamos falando! Você irá governar este país ao lado de uma das selecionadas!

Ele parecia mais empolgado que o próprio Sirius. E se o príncipe não soubesse que o amigo era apaixonado por uma garota do castelo, diria que ele só estava assim por causa da quantidade de garotas que viveriam ali a partir dos próximos dias.

— Como iria prestar atenção com meus pais fazendo comentários desnecessários e Slughorn ditando como devo agir? — ele perguntou cansado.

Era exaustivo ser parte da família real, principalmente aquela sendo a família real. Ele sentia inveja de James por não ter que carregar obrigação nenhuma nas costas, e ainda por cima ter pais tão legais como os Potter. Mas Sirius não podia trocar de lugar com o amigo e sabia disso, portanto era seu dever lidar com toda aquela responsabilidade de ser príncipe e futuro rei de Hogsmead.

— Bom, hoje à noite você poderá vê-las com mais calma. — sugeriu James, sorrindo para o amigo de modo confortador como ele sempre fazia quando percebia que Sirius estava abatido ou cansado. — Tenho certeza que vai chover gata na sua horta.

Foi obrigado a gargalhar ao ouvir o comentário do amigo, para então gemer de dor. Maldita ressaca!

— Deveria ter pego mais leve com a bebida, príncipe. — James diz num tom de deboche, parecia se divertir com o sofrimento do amigo.

— Vai se foder, Potter. — Sirius conseguiu resmungar antes de fechar os olhos novamente.

— Sabe que o rei e a rainha me condenariam caso soubessem que lhe levei para uma boate fora do castelo, não sabe? — James levantou-se e guardou o notebook de volta na escrivaninha próxima a porta.

É claro que Sirius sabia disso. E era por este motivo que fazia o possível para esconder sua identidade quando deixava o castelo durante à noite. Não podia pôr a vida do amigo em risco, muito menos libertar ainda mais a ira de seus pais sobre si.

Mesmo sabendo o quanto era errado, Sirius não conseguia deixar de ir até aquela boate. Desde a primeira noite que foi até o local se encantou com tudo a sua volta, era tudo extremamente diferente de tudo que ele já havia visto sendo criado no castelo com aquelas regras rigorosas. Mas o que mais o encantou foi assistir ao espetáculo que as dançarinas do local davam todas as noites. Elas eram lindas, tinham corpos esculturais e dançavam muito, muito bem.

— Eles nunca irão descobrir.

James parou na porta e olhou atentamente para o melhor amigo.

— Você não poderá ir até lá outra vez. — disse. — Agora que a Seleção começou, cada passo seu será ainda mais monitorado.

Sirius sabia disso também. E sentia-se irritado por isso.

— Nada é impossível para o Black aqui, Prongs. — disse Sirius sorrindo para o amigo. — Já deveria saber disso.

——

Uma mulher baixinha e rechonchuda ajeitava o elegante terno prata que Sirius vestia, especialmente, para assistir o anúncio das selecionadas.

O Profeta Diário entraria no ar em menos de cinco minutos. Uma correria incessável era presente nos bastidores enquanto todos tentavam preparar tudo a tempo antes de entrar no ar para toda a Hogsmead.

Sirius sentia-se inquieto e nervoso. Não queria estar ali, servindo de atração para milhares de pessoas, mas não tinha outra escolha a não ser seguir a tradição.

Precisava colocar um sorriso falso no rosto, ajeitar a postura e parecer com um legítimo Black, embora fosse diferente de todos eles.

— Você parece nervoso. — comentou Regulus, divertindo-se com a inquietação do irmão. — Tome um gole disso e vai se sentir melhor. — tirou de dentro da própria roupa uma pequena garrafa de firewhisky, oferecendo-a para Sirius que não hesitou em pegá-la e beber um longo gole.

Imediatamente sentiu parte de seu nervosismo se esvair. Não parecia mais tão assustador subir naquele palco e agir como se estivesse tão empolgado com toda aquela baboseira quanto o rei e a rainha.

E preferiu não perguntar a Regulus como ele conseguiu contrabandear a bebida para aquele momento. Talvez nem todos os Black fossem assim tão ruins. Seu irmão mais novo continuava a ser uma esperança pra ele.

— Trinta segundos, pessoal! — anunciou um homem de cabelos claros que monitorava as câmeras.

Depois de agradecer ao irmão pela bebida, Sirius se posicionou ao lado da poltrona de seu pai, colocou um sorriso no rosto e esperou que Flitwick, um homem baixinho e sorridente – o apresentador do Profeta Diário – iniciasse o programa.

— Então povo de Hogsmead, é hora de conhecer as trinta e cinco garotas selecionadas! — anunciou Flitwick sorrindo radiante para a câmera.

Em seguida, a imagem da primeira selecionada apareceu na tela, atraindo a atenção de todos ali presentes, inclusive Sirius.

Flitwick anunciava as selecionadas informando sua casta, idade e onde viviam, vez ou outra comentava sobre a beleza das jovens que apareciam no telão. Sirius não podia negar que escolheram as mais bonitas do reino, e talvez até ficasse um pouco mais empolgado a ideia.

Porém, alguns minutos depois, Sirius já queria voltar para o seu quarto. Seu rosto parecia adormecido de tanto que ele forçava um sorriso para as câmeras. Qual era a importância de assistir aquilo se iria conhecê-las pessoalmente em breve?

Foi ao se questionar sobre isso que ele a viu. Uma garota loira, de olhos azuis e sorridente ocupava uma parte do telão. Sirius franziu as sobrancelhas e fixou o olhar na garota, sentia que a conhecia de algum lugar, mas não fazia ideia de onde. Sem contar que era impossível conhecê-la, aliás, ele quase nunca deixava o castelo.

Seu momento de confusão e desconfiança impediu que ele escutasse o que Flitwick tinha a dizer sobre a garota. Não sabia de onde ela era, não sabia seu nome e nem sua casta (não que ele se importasse com essa última parte).

A imagem imediatamente mudou para outra garota também muito atraente, e após Flitwick terminar de apresentá-la, a câmera voltou-se para eles.

— Vocês acabaram de ver as selecionadas que irão disputar pelo coração do nosso amado príncipe Sirius! — Flitwick sorria enquanto observava a família real. — Desejo boa sorte a todas as garotas, e principalmente a você, príncipe. Vejo que será difícil escolher no meio de tantas belíssimas jovens.

Sirius sorriu concordando com a cabeça.

Achava aquela tradição de escolher as princesas para o reino uma perca de tempo e algo estupidamente idiota, porém, naquele momento, algo lá no fundo lhe dizia que as coisas poderiam mudar para melhor para o príncipe, e também para o seu reino.

——

Já passava da meia-noite quando o príncipe Sirius descia as escadas sorrateiramente. Vestia roupas esfarrapadas e tinha seu cabelo preso num coque, enquanto caminhava em direção aos fundos do castelo, ele tentava não chamar atenção e evitava olhar para os guardas que guardavam o castelo.

Então uma mão forte pousou em seu braço, impedindo-o de prosseguir. Ele ergueu o olhar e se deparou com um dos guardas, que sem dúvidas o reconhecia.

— Vai sair do castelo de novo? — perguntou com a voz baixa enquanto lançava um olhar reprovador na direção de Sirius. — Sabe o quanto suas saídas são perigosas. Já pensou no que poderia acontecer caso descubram sua identidade? Eu deveria impedí-lo.

O príncipe suspirou e olhou para os lados antes de prosseguir:

— Você não pode me impedir. — tentou lançar um olhar zangado para o guarda, mas não conseguiu.

Era difícil ficar zangado com Remus Lupin, principalmente pelo fato de ter crescido ao lado dele, assim como foi com James. O rapaz de cabelos claros era amigo de Sirius e se importava com a segurança dele.

— Não se preocupe, Remus, voltarei antes que percebam minha ausência, assim como todas as outras vezes. — garantiu.

Avistou então James, vestindo roupas ainda mais surradas enquanto o esperava próximo ao muro do qual eles saíam sem ninguém perceber. Remus seguiu seu olhar e soltou um suspiro.

— Sabe que pode colocar James em perigo, não sabe? — perguntou fixando seu olhar no príncipe. — O rei não teria piedade e poderia ordenar matá-lo.

Parte de Sirius sabia que aquilo era verdade. Seu pai não teria piedade alguma ao descobrir que alguém estava descumprindo as regras do castelo e, obviamente, não podia descontar sua ira em seu filho, portando James corria um grave perigo o seguindo.

— Já disse que não seremos descobertos, Remus. — e dizendo isso, deixou o guarda para trás e seguiu James para longe do palácio.

Caminharam por alguns poucos minutos e chegaram a boate Hog's Head. Ao entrarem no local, sentiram a música alta preencher seus ouvidos, havia um grande número de pessoas no local.

Em cima do palco, estavam três dançarinas rebolando sensualmente de acordo com o ritmo da música, e sendo observadas por grande parte das pessoas que estavam ali.

Sirius não costumava estar na companhia de tantas pessoas, principalmente pessoas tão normais. E talvez fosse por isso que gostava de ir até ali, porque naquela boate cheia de gente, Sirius não era o príncipe e as pessoas não temiam ou se revoltavam com sua presença, era como se ele fosse completamente invisível – coisa que era impossível ser sendo quem ele era –, e ele gostava disso.

— Elas são ótimas, não acha? — perguntou James depois de pedir uma dose de bebida para o barman.

Sirius voltou seu olhar para as mulheres que dançavam. Sem dúvidas elas eram excepcionalmente lindas, aliás, já teve a chance de conhecer algumas delas melhor. Precisava usar algum tipo de máscara quando isso acontecia, não podia revelar sua identidade a ninguém. E não era julgado por isso, algumas das garotas que trabalhavam ali também usavam máscaras.

— São ótimas. — respondeu. — Mas acredito que Evans o mataria caso soubesse que frequenta este lugar. — observou as bochechas de James corar. Então o moreno balançou a cabeça e suspirou.

Sirius teve que se esforçar para não rir. Achava cômico a maneira como James declarava seu amor por Lily Evans e não tendo qualquer tipo de retorno pela ruiva. Chegava a ser um pouco triste, mas James não dava indícios de querer desistir de conquistar a garota.

E Sirius gostaria de imaginar qual seria a reação da ruiva ao ter conhecimento de onde James estava. Ele tinha certeza que ela não iria gostar de saber que seu admirador nada-secreto estava em uma boate cheia de dançarinas sedutoras.

E observando as mulheres, percebeu que estava faltando uma delas. Procurou então em torno do local para ver se a encontrava, porém parecia que ela não estava mais ali. Ele ficou decepcionado, gostava de observá-la dançar.

— O que Remus lhe disse? — o príncipe voltou a olhar para o amigo, que parecia perturbado com alguma coisa já que olhava para os lados como se esperasse ser atacado a qualquer momento. Ele sempre ficava assim quando iam até ali juntos e Sirius entendia perfeitamente o motivo.

— O mesmo de sempre. — respondeu ainda com o olhar perdido na multidão. — Ele não acha seguro estarmos aqui.

— Ele tem razão. — suspirou James. — Mas sinto que você precisa vir aqui vez ou outra. Viver trancado dia e noite no palácio pode ser sufocante.

Tinha noção de que seu amigo entendia pelo que ele passava, aliás, ele também morava no castelo desde cedo, embora conseguisse sair de lá sem ser reconhecido por ninguém.

— Sim. — concordou. — E com os pais amáveis que possuo, é preciso uma folga regularmente. — James riu e bebeu mais um gole de sua bebida.

Minutos depois, uma mulher alguns anos mais velha que eles, parou em frente à mesa e perguntou se eles desejavam mais alguma coisa. Sirius sorriu para a mulher e pediu outra bebida, ela assentiu e se virou para voltar ao bar, mas Sirius segurou seu braço.

— Por favor, poderia me dizer o que houve com a outra dançarina? — perguntou apontando para o palco onde três mulheres dançavam sem parar. — Costumavam ser quatro.

A mulher suspirou, parecia que lembrar da quarta dançarina não lhe agradava muito.

— Ela decidiu ir embora. Não voltará a trabalhar aqui. — respondeu com amargura na voz.

Ele assentiu com a cabeça e deixou a mulher voltar ao bar. Deparou-se então com o olhar questionador de James, mas apenas o ignorou e virou o restante de sua bebida.

——

Alguns dias se passaram e finalmente chegara o dia de receber as selecionadas no palácio de Hogwarts. Era apenas sobre isso que todo o reino comentava, as ruas próximas ao palácio estavam repletas de moradores recebendo as trinta e cinco garotas selecionadas.

Mesmo de dentro do castelo, Sirius podia sentir a agitação vinda de todos os criados. Eles corriam de um lado para o outro certificando-se se tudo estava no seu devido lugar para receber as novas hóspedes. Não podia negar que o príncipe estava sentindo-se nervoso e ansioso com tudo aquilo. Aliás, era de seu futuro que toda aquela gente estava tratando.

Era noite quando tudo se acalmou, as garotas já estavam hospedadas no castelo e provavelmente aguardavam o encontro com o príncipe que aconteceria pela manhã. Sirius decidindo não pensar muito no assunto, e não podendo ir até a boate com James, adormeceu instantaneamente.

Na manhã seguinte, após se preparar para enfrentar o dia cansativo que teria pela frente, adentrou o salão de jantar e percebeu que havia dormido um pouco demais. Seus pais já estavam sentados em seus respectivos lugares, seu irmão comia tranquilamente ao lado deles e ocupando todo o restante da mesa, encontrava-se o maior número de mulheres reunidas que Sirius já viu em toda sua vida.

As conversas baixas e discretas cessaram assim que a porta se fechou atrás de Sirius. Ele pretendia observar mais todas as garotas, porém o olhar de seu pai indicou que ele deveria sentar-se à mesa e iniciar o café da manhã, e assim ele o fez.

O ar no salão parecia carregado de uma energia desconhecida para o príncipe. Ele conseguia sentir os olhares das garotas sobre si, vez ou outra retribuía o sorriso para algumas delas.

Depois de terminar seu café da manhã, levantou-se da mesa, chamando atenção de todos.

— Bom dia, senhoritas. — começou. — Espero que estejam aproveitando a estadia no palácio, sei que todos aqui estão trabalhando duro para que sintam-se o mais confortável possível. — olhou para seu pai que assentiu com a cabeça, indicando que ele deveria prosseguir. — Estou muito feliz em recebê-las. E para iniciar a Seleção, irei chamá-las uma de cada vez para uma curta conversa no Salão Principal. — despediu-se de todas e deixou o salão, seguindo para o próximo, onde teria a conversa com cada uma das trinta e cinco selecionadas.

Chegou ao salão principal e deparou-se com o ambiente inteiramente adaptado para sua atividade matinal. Duas poltronas confortáveis estavam postas uma de frente para a outra em um canto reservado do Salão, onde o príncipe poderia ter privacidade ao conversar com as selecionadas.

Não demorou muito para Minerva McGonagall trazer a primeira garota. A mulher era uma espécie de mãe para Sirius, ela cuidava dele desde que era apenas um bebê e o príncipe nutrira um sentimento de afeto por ela.

Iniciou a seção de conversas com as garotas e pôde perceber que, a) algumas usavam a beleza como estratégia; b) algumas eram extremamente inteligentes e não tinham medo de demonstrar isso; c) outras eram tímidas demais e mal conseguiram falar na presença de Sirius; e, c) nenhuma delas chamara atenção do príncipe até então. Mas apenas metade das garotas haviam sido chamadas, ainda tinham muitas outras para conversar e tentar entender seus objetivos.

Assim que a loira, de batom muito vermelho e decote escandaloso, deixou o salão, Sirius massageou as pálpebras e respirou fundo. Sentia-se exausto e a Seleção havia acabado de começar. Como lidaria com tudo aquilo diariamente até conseguir escolher apenas uma? E como escolheria alguma se, até agora, tudo o que conseguiu ver foi os contras dessa Seleção?

Quando ouviu novamente o barulho de salto alto batendo sobre o piso de mármore, Sirius endireitou rapidamente a postura e esperou que a próxima moça terminasse de fazer uma reverência. Assim que ela se sentou na poltrona e ele pôde ver seu rosto, Sirius arregalou os olhos acinzentados.

— Marlene McKinnon, Alteza. — ela sorriu minimamente.

— É você! — Sirius não pôde deixar de exclamar.

Agora lembrava-se de onde conhecia a garota loira que viu durante a apresentação das selecionadas durante o Profeta Diário. Era ela.

— Sou... eu? Hã, do que está falando... Alteza? — Marlene perguntou parecendo completamente confusa com a atitude do príncipe.

— Você é a dançarina da Hog's Head!— o príncipe respondeu encarando a loira que sentia seu coração disparar no peito, ela engoliu em seco, seu rosto parecia ganhar uma coloração esverdeada e ela parecia prestes a desmaiar.