Como não perder essa mulher escrita por Abelhinha


Capítulo 2
Jamie.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Sempre odiei comédias românticas. Sempre. A ideia de que a vida tinha uma fórmula para dar certo era patética. Mocinha x Bad Boy. Pessoas que se odeiam depois passam a se amar. Melhores amigos que apaixonam. Rico x pobre. Os personagens às vezes mudavam, mas era sempre o mesmo desenrolar: Descobrem que se amam, começam a namorar, acontece algo pra acabar o namoro, eles terminam, depois voltam por algum motivo idiota. É sempre assim. Eu acho que os roteiristas não se ligaram de que a vida real funciona de forma um pouco diferente. Que cada pessoal possui sua particularidade como ser humano. Não existe manual para o amor. Eu não preciso, necessariamente, amar alguém tão diferente de mim. Essa história de que os opostos se atraem pode ser verdade sim, mas não é regra. Com Felicity e eu foi assim. Nós sempre fomos praticamente um só. Na infância, sempre foi Fel-Ollie/Ollie-Fel, tipo Chris e Greg. E as coisas fluíram, simplesmente. Quando entramos na adolescência, eu contei que a amava. Direto e reto. Só contei. E ela me amou de volta. Eu não precisei que ela tivesse que ficar com outro garoto pra descobrir o amor que sentia por ela, nem vice-versa. Até 2 anos atrás, ela fora a única menina em minha vida.

 

E eu estava pensando nessas coisas, porque, passado um mês depois que eu descobrira que Felicity e Jamie eu morariam juntos eu descobri que se a vida tivesse uma fórmula, seria bem irônica. Sério, às vezes ela parecia debochar de mim. Como disse, sempre odiei comédias românticas. Mas agora, eu queria mais do que tudo que elas fossem reais. Porque assim eu saberia como terminaria tudo: Fel voltariam para mim. Estava escrito. Deus é o roteirista de nossas vidas, certo? Então ele não pode vacilar com os espectadores. E estava tudo seguindo a trilha certa: nós amávamos, eu fui um bobo, terminamos, agora ela está com outro e eu me arrependi. Não me importa se antes eu achava isso idiota, agora eu só quero que Fel veja o quanto eu me arrependo pelo meu erro e volte para mim.

 

— O que achou dessa aqui, hein?

 

Viro minha cabeça imediatamente em direção ao som da voz que interrompe meus pensamentos. É Laurel. Estava trajando uma lingerie que não escondia absolutamente nada. Vagueei meus olhos por seu corpo todo até voltar para seus olhos, mordendo meus lábios. Eu não queria, mas foi impossível não admirar suas curvas, nem mesmo foi possível evitar ficar excitado. E como eu era um completo idiota, não puder evitar me levantar e ir ao seu encontro quando ela começou a rebolar numa batida sexy, de uma música que devia tocar somente em sua mente. Eu não morava mais com meus pais, mas sim em meu próprio apartamento, então eu não me preocupava em ser pego por alguma pessoa. Era somente eu e ela aqui e estava me assustando porque, embora eu estivesse pensando em Fel agora pouco, eu não refreei minhas mãos quando elas pousaram sob o corpo de Laurel e passearam por ali. Nem minha boca parou quando a sua veio ao encontro da minha.

 

Foi errado. E isso podia me custar caro no futuro.

 

 POV FELICITY

—É um espaço legal. Daria para nós dois, por enquanto.

 

A forma como ele falou aquilo deixou um monte de coisas jogadas no ar. Eu pesquei uma delas e perguntei:

 

—O que quer dizer com isso?

 

Seus olhos se voltaram para os meus. Eu senti algo se remexer no meu estômago. Parecia que tinha algo vivo dentro de mim. Isso sempre acontecia.

 

—Bom. Eu quis dizer que enquanto for nós esse espaço está de bom tamanho, mas daqui um tempo, quem sabe, não será só nós dois, então teríamos que nos mudar.

 

Eu não desviei nem por um segundo do seu olhar. Seus olhos eram de um azul que eu classificava como misterioso, mas que sempre revelava o que continha neles. Deixe-me explicar melhor: eram misteriosos porque eu não saberia dizer exatamente qual azul era – azul-claro ou escuro, podia até mesmo ser cinza –, mas ao mesmo tempo revelador porque eu sempre sabia o que ele estava sentindo quando me olhava nos olhos. E todas as vezes que eu o olhava, dentro daqueles azuis cinzas como eu acostumei a classificar, não me importando a definição exata deles, eu só conseguia encontrar o mais puro amor. Sempre. Todas as vezes. Quando paro para pensar nisso, acredito que me apaixonei primeiro por seus olhos e depois por ele próprio. Não me levem a mal, mas eu tinha acabado um longo relacionamento com o cara que eu acreditava ser o amor da minha vida e tinha acabado de ver meus pais terem a pior separação do mundo. Eu não estava na fase de quem cria no amor e em todo esse tipo de coisa. Eu estava mais na fase de quem queria mandar esse sentimento ir à merda. Porém, eu o conheci. E depois de ver aquele tipo de amor num simples olhar, é impossível não ter fé naquilo. É impossível você não crer que o amor existe e palpável, e quando você crê, você renova suas esperanças. Foi por isso – num primeiro momento – que me apaixonei por ele: porque ele me fez ter esperanças novamente. E a esperança é um sentimento poderoso.

 

—É mesmo? E quem mais vai ter? - Levantei uma sobrancelha para ele, num gesto de quem estava entrando na brincadeira que nem era tão brincadeira assim. Eu sabia que ele falava sério.

 

—Você sabe. Relacionamentos monogâmicos não dão certo. Nós temos que ter mais uma pessoa, ou quem sabe duas para melhorar nossa relação – Me enganchando pela cintura, e me levando para perto de si, ele completa: - Aumentar nossa capacidade de amar.

 

—É mesmo? E você tem pensado muito sobre isso? Já tem escolhidos? - O fulminei com o olhar, que me devolveu um sorriso de tirar o fôlego.

 

—Estava pensando em Maria Amália. Mia. E Benjamin. Ben – Aqueles olhos calorosos encararam os meus sérios. Como se estivéssemos fazendo uma promessa. Um pacto. E quem sou para dizer não? Na mesma hora meus olhos se encheram d’água porque Maria Amália era o nome da minha linda avó que era brasileira e morreu quando eu tinha 15 anos. Eu sentia tanta saudade dela. E Benjamin era o nome do pai do Jamie que morreu há 6 meses. Meu sogro teve um papel fundamental na relação entre eu e seu filho. - O que você acha, anjo?

 

—Eu acho que é uma ideia maravilhosa – Sussurrei enquanto ele apoiava sua mão em minha bochecha e espalhava as lágrimas que caíam dos meus olhos com seu dedão. - Ti amo così tanto, angelo mio.

 

E o beijei para que pudéssemos compartilhar daquilo que eu sabia que nós dois sentíamos.

 

—Podemos confirmar com a corretora? - Eu perguntei, depois que nossos lábios foram separados.

 

—Sim. E podíamos fazer a mudança hoje mesmo. Acho que o apartamento do Thomas deve estar uma zona completa – Rimos juntos.

 

E ele estava certo.Tommy me mandou uma mensagem dizendo que estava ficando louco.

 

—Podemos ir agora mesmo, o que acha? - Ele assentiu com a cabeça, sorrindo para mim.- Aproveitamos que ele está em casa para trazer algumas coisas na caminhonete dele.

 

— Okay. Vamos?

 

Nós falamos com a corretora e depois do seu “Ok”, descemos ao térreo em direção ao carro para irmos em busca de nossas trouxas. Sentamos no carro em um silêncio que era incomum de nossa parte, já que normalmente ouvíamos música e conversávamos bastante. Eu acho que estávamos absortos na magnitude do que estava para acontecer. Íamos dar um passo importante e fundamental em nosso relacionamento ao moramos juntos. Era estranho, mas eu não tinha dúvidas em relação a isso. Não estava com aquele “morar junto pode estragar a relação” que sempre ouço das pessoas. No meu interior eu sabia que daria certo. Certo, talvez não fosse fácil, talvez fosse esquisito depois de alguns meses, afinal, é diferente quando você tem um relacionamento em que cada um mora em uma casa diferente. Você tem a sua privacidade, e a pessoa a dela. Então quando o mundo dos dois se choca em uma única casa, divergências acontecem. É natural. Mas era tão certo para mim que a adaptação seria boa para Jamie e eu porque nós dois éramos amigos acima de tudo, e era isso o que eu mais amava em nossa relação: o companheirismo e cumplicidade. Tínhamos uma conexão muito forte e eu prezava tanto por isso.

 

Senti algo em minha coxa, e quando desci meus olhos vi a mão dele fazendo carinho em mim. Virei em direção ao seu olhar e sorri para ele. Ele sorriu de volta e eu entendi com aquele sorriso que ele também estava pensando e chegou a mesma conclusão que eu cheguei: nós daríamos certo, sim. Moraríamos juntos e, quem sabe, daqui um tempo até aumentaríamos o número de inquilinos. Quem sabe. O que ele disse sobre Mia e Ben? Eu estava de total acordo. É engraçado como a vida da gente dá umas reviravoltas estranhas, mas que fazem tudo caminhar na direção certa.

 

—Chegamos – Dei um pulo quando ele anunciou, me assustando.

 

Esperei ele estacionar para logo sair do carro em direção ao prédio de Tommy. Ele pegou minha mão enquanto íamos para a portaria no qual o porteiro me conhecia e, por isso, nem precisou nos anunciar. Andamos uns passos antes de chegar no elevador. A visão daquele “meio de transporte” me fez morder os lábios e trancar um riso, mas eu sabia que estava ficando vermelha. Olhei para o lado e dei de cara com ele me encarando enquanto ria, olhando sugestivamente para mim. Tínhamos uma...história com nesses elevadores da vida. Nosso primeiro beijo foi em um elevador, e quando tivemos vários outros beijos, as coisas tendiam a ficar quentes, mas ele sempre parava. Até que um dia nós fizemos uma aposta de futebol onde quem perdesse ia ter que fazer o que o outro quisesse. Com essa história de Jamie sempre fazer o estilo de cara certinho, mimado da mamãe, quando eu ganhei dele, falei que ele teria que transar comigo no elevador. E nós transamos. Foi...quente. Só de lembrar daquele momento me deixava com vontade de agarrá-lo aqui mesmo. E eu acho que minha cara denunciava isso porque quando o elevador abriu, ele desuniu nossas mãos e foi para o lado oposto ao meu rapidamente. Arqueei uma sobrancelha para ele, que simplesmente disse:

 

—Aqui tem câmera. Não quero ser preso por atentando ao pudor. E não posso me controlar enquanto você me olha dessa forma – Ele falou isso tudo num fôlego só, se controlando de verdade e eu não tive outro escolha a fazer, senão rir.

 

Sorte a dele que as portas rapidamente se abriram no andar que queríamos e logo sua mão estava de volta ao seu lugar de pertencimento junto a minha. Mas qual foi minha surpresa nos corredores quando vi aquela mesma menina andando por ali? Ela não tinha mudado em nada. E só para confirmar o que eu acabei de pensar, ela olhou para Jamie com aquele mesmo olhar de desejo exatamente como tinha feito com Eduardo no dia que a conhecemos. Eu podia visualizar ela e Jay dançando juntos. Eu podia visualizar quando ela se esfregaria nele e ele passaria a mão em sua cintura para intensificar o gesto. Eu podia visualizar ele defendendo-a. Ela o beijando com aquele mesmo batom vermelho que estava em sua boca agora. E podia imaginar um monte de coisa a mais com a imaginação fértil que eu tinha, mas o que realmente importava de fato era o que estava acontecendo agora: Jamie ainda me encarava pelo episódio do elevador, e quando desviou os olhos de mim foi apenas para franzir a testa e torcia a cara num gesto que demonstrava o quanto ele achava ridícula a situação ao mesmo tempo em que voltou o olhar para o meu fazendo com que seu rosto voltasse ao normal e me engolisse dentro daquela beleza genuína que possuía.

 

Que se dane Laurel.

 

Eu tinha o melhor namorado do mundo só para mim.

 

Mas ela me reconheceu, apesar de como eu estava diferente da menina recatada que ela conhecia. Ela soube que eu era e parou. Eu quase não acreditei, mas aquela doida parou para falar comigo. Assim, na cara dura. Dios mio.

 

—Felicity?

 

Apertei a mão de Jay num gesto que dizia: “Socorro”. Acho que ele entendeu porque adquiriu uma expressão fechada e debochada. Eu quase ri porque ele estava exatamente com essa expressão quando o vi pela primeira vez e foi por causa dela que eu tive uma má impressão sobre ele. E por ela, também, que Laurel ficou sem graça e tirou os olhos dele para poder me encarar. Eu mandei um “Oi” para ela que não se deu por satisfeita e tentou descobrir o que estávamos fazendo ali. Coitada. Quando ela tomou vergonha na cara e viu que ninguém a responderia, saiu andando, mas não sem antes esbarrar “sem querer” em Jay antes de ir embora. Típico. Olhei para ele e nós dois apenas rimos, não querendo nos abalar com aquilo.

Chegamos ao apartamento de Tommy e tocamos a campainha, mas tive uma surpresa porque quem atendeu a porta não foi ele, mas sim Oliver.

 

Oliver.

 

Nos reencontramos no mês anterior, na festa do Tommy. De certa forma, não tinha sido tão constrangedor para mim. Confesso que estava com medo de vê-lo, com medo de todo aquele sentimento que habitava em mim renascesse com sua presença. Mas não foi isso que aconteceu. Eu fiquei um pouco balançada sim, mas acho que é normal você ficar assim depois de reencontrar o cara que namorou durante tantos anos. Eu sentia falta dele, sim. E podia admitir isso para quem quisesse ouvir. Ele foi o meu melhor amigo durante toda a minha vida, sempre estando ali por e para mim. Ele se afastou nos últimos dois anos antes do rompimento, mas esses 2 anos não apagaria o que ele fez por mim durante os outros 16. Ele sempre seria o meu melhor amigo, só era...complicado. Uma parte de mim ainda se sentia magoada pela forma como as coisas aconteceram. Eu ainda me sentia traída e ainda estava chateada com ele. No entanto, eu dizia a mim, todos os dias, que aquilo não importava: Eu tinha um homem maravilhoso do meu lado agora.

 

Mas era difícil não sentir nada quando o cara que você foi apaixonada durante tanto tempo aparece na sua frente somente vestido uma bermuda. Eu desci meus olhos por todo o seu corpo e, por mais que eu tentasse evitar, foi impossível não sentir uma expectativa. Que não seria cumprida, nunca. Eu estava ciente disso. Ele sempre fora lindo e eu sempre pude lidar bem com isso. Não era agora que eu falharia.

 

—Oi, Oliver.

 

Sorri. E ele também. Maldito sorriso.

 

—Oi, Fel.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de me dizer o que acharam! Beijinhos :)



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