Como não perder essa mulher escrita por Abelhinha


Capítulo 1
Reencontro.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A noite estava estrelada, com uma lua cheia brilhando para quem quisesse ver. Era bom observar o céu dessa forma, me dava a sensação de compartilhar com o universo todos os mistérios contidos nele. Felicity que me ensinou isso. Ela tinha uma ligação com a natureza da qual eu nunca tinha visto, nem sentido antes. Às vezes ela abaixava e colocava as mãos na terra, fechava os olhos e inclinava a cabeça para cima para sentir o vento. Eu consigo visualizar isso com tanta clareza na minha mente quanto vejo a lua acima de mim agora. Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto em toda a minha existência, e acredito que foi em uma dessas ocasiões que eu soube que a amava e sempre a amaria: ela era o amor da minha vida. Nós dois costumávamos deitar na grama e ficar observando o céu, somente nossas mãos unidas. Era como se nada no mundo pudesse nos atingir naqueles instantes e eu sentia um vínculo tão forte unido a ela. Como se nós tivéssemos sido feitos um para o outro. Naqueles momentos, eu quase passava a acreditar em almas gêmeas.

 

Então, nós terminamos.

 

O rompimento aconteceu um pouco antes das aulas acabarem e logo após isso, Felicity viajou para Itália para ficar na casa de seus avós durante um tempo e nunca mais falei com ela. Quase dois anos longe. Desde isso, engatei em um relacionamento com Laurel, mas eu nem podia classificá-lo como algo sério. Nos víamos frequentemente, mas, assim como eu, ela ficava com outras pessoas. Às vezes eu sentia saudades da minha ex namorada e ex melhor amiga. De ter alguém com quem eu pudesse contar. Para chamar de minha. Apresentar meus pais. Observar o céu. Enfim. Então, hoje eu a vi. Era aniversário de Tommy e eu estava sentado sozinho a beira da piscina quando ela apareceu. Eu quase não a reconheci; Fel estava com os cabelos mais curtos e descoloridos numa loiro bem claro, estava vestida de forma totalmente diferente do que eu estava acostumado – ela era o modelo perfeito de menina recatada, mas agora usava uma regata que deixava sua barriga a mostra e uma calça justíssima que delineava seu corpo, completando o visual com a única coisa que eu não estranhei: ela usava tênis. Fel nunca gostou de sandálias ou salto alto. E estava belíssima. Linda. Parecia cintilar.

 

De mãos dadas com um cara.

 

Com uma cara que, no mínimo, tinha 10 anos a mais que ela.

 

Eu demorei uns segundos para me habituar àquela visão. Era quase como se eu estivesse vendo algum padre beijando alguém. Era quase contra lei. Antinatural. Digna de um cartão vermelho, se estivéssemos jogando futebol. Jogo baixo, na luta. Como se o Tom tivesse conseguido comer o Jerry. Enfim, era errado. Na minha cabeça, a mão da Felicity era feita para se encaixar na minha. Então eu lembrei de que eu também achava o mesmo sobre a minha mão ser feita para a dela, mas tinha segurado a mão de várias outras garotas. Era justo que ela fizesse o mesmo. O problema é que saber isso não impediu que uma sensação de desconforto – quase dor – se abatesse sobre mim. Fel sorria para o cara com todos aqueles dentes perfeitos, seus olhos quase fechando.

 

E então o seu olhar se cruzou com o meu.

 

O sorriso dela falhou, mas ela se recompôs. Enquanto isso, eu me sentia como se estivesse respirando novamente depois 2 anos. Era como se antes eu estivesse mergulhado em águas sujas e estivesse emergindo em águas límpidas novamente. Eu estava vendo o Sol novamente, como se eu fosse o Superman magrelo no Flashpoint. Os raios solares para Clark era como o amor de Fel para mim: Me deixava mais lúcido, forte. Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim que eu quase me esqueci da presença do cara ao seu lado. Quase. Infelizmente eu lembrei dele quando o mesmo pôs as mão na cintura de Felicity e a puxou para um beijo. Um beijo que eu não pude evitar de olhar sem medo de ser pego. Uma sensação que estava adormecida em mim foi sentida como a energia de uma criança de 2 anos – com força, palpável e difícil de controlar: o ciúme. A grande questão era que eu tinha perdido esse poder há muito tempo. A única opção que me restou foi observar de longe minha ex namorado dando uns amassos encostada numa árvore com quem parecia ser seu namorado. As coisas entre estavam bem quente, com direito a mordidas no pescoço e mãos dentro da roupa. Por que eu estou narrando isso? Porque eu sou um idiota. Mas eu não conseguia parar de olhar. Parece que ainda não me recuperei do choque.

 

— Aqui não – Eu vi os lábios da Felicity dizer. Eu vi mesmo, você não leu errado. E o choque se intensificou: aquilo queria dizer mesmo o que eu acha? Fel e aquele cara queriam fazer...sexo?

 

Felicity? Aquela que tinha planos comigo de perder a virgindade?

 

Oh, meu Deus. Isso está pior do que eu havia imaginado.

 

Felicity.

 

Minha.

 

Então...eu tive que me intrometer. Eu provavelmente iria fazer papel de idiota, mas eu não ia deixar que aquilo acontecesse. Não sabendo que aconteceria.

 

— Felicity? - Me aproximei o mais rápido que pude deles e a chamei. Ela deu um sobressalto e empurrou o cara de leve, gentilmente demais pro meu gosto. Na minha cabeça, ela iria se afastar como quem estivesse sendo pega em flagra. Mas a sua postura denunciava que ela queria era me matar por ter interrompido. Eu acho que isso doeu mais do que o amasso deles. Mostrava que ela já tinha me superado. E isso era tão...errado. Desculpe ser repetitivo, mas eu não consigo achar outra palavra para isso.

 

— Oi, Oliver – O meu nome saiu de seus lábios de forma comum, como se estivesse falando as horas. Mesmo assim, depois de tanto tempo, ouvir sua voz fez com que eu soltasse um suspiro de alívio. Aquele som sempre seria reconfortante para mim.

 

— Humm...tudo bem? Quanto tempo – O que exatamente se dizia à sua ex quando se queria evitar que ela transasse com seu atual? Não tinha manual para isso – Você está bonita. Quer dizer, bonita é pouca. Linda como o Sol.

 

Ela fechou os olhos, acho que tentando demonstrar indiferença. Porém, foi inútil. O nosso elo era forte demais para a barreira do tempo e das circunstâncias quebrarem. Eu conhecia Fel como a palma da minha mão. Quando ela abriu os olhos, somente com esse olhar eu soube que havia falado algo desconfortável para ela. Era um olhar que dizia: “Para”. Eu sabia disso porque nós desenvolvemos uma ligação que nos permitia conversar sem precisar dizer uma só palavra. Burlamos várias regras e fizemos um monte de professores de idiotas por causa disso. Um levantar de sobrancelhas, comprimir de bochechas, mexidinhas no nariz podiam ser coisas banais para qualquer pessoa – menos para nós dois. Era nosso código Morse. Eu podia fazer minha sobrancelha levantar e querer dizer 10 coisas diferentes que eu sabia que ela entenderia o que eu quisesse dizer todas essas vezes – era desse tipo de vínculo que estou falando. Ninguém podia tirar isso de nós.

 

— Concordo com você – Pela primeira vez desde que me aproximei eu notei a presença do cara. Sério. Embora eu tivesse me aproximado justamente por causa dele, de certa forma, eu tinha esquecido totalmente dele quando cheguei perto de Fel. Foi estranho porque havia tempos que esse efeito que ela tinha sobre mim não era notável. Mesmo quando ainda estávamos namorando. Acho que esse foi exatamente o motivo do término: eu achei que o encanto tinha acabado. É sério que estou vivendo aqueles filmes clichês em que eu só sinto a falta quando perco? Fala sério. Mas voltando o babaca: Ele tinha porte alto e musculoso, cabelos do tipo Superman e uma barba ridiculamente bem-feita. Fel sempre quis que eu deixasse minha barba crescer. “Vai parecer um homem de verdade” ela dizia. E eu nunca quis tanto que minha barba estivesse grande como quero nesse momento. - A propósito, sou Jamie. Namorado da Lis.

 

Pela primeira vez eu noto um sotaque italiano em sua voz. Por isso Lis em vez do habitual Fel? Ela tinha permitido que ele a chamasse assim, sendo que sempre detestou? Bom. Quer dizer, péssimo! Não acredito que ela deu esse tipo de intimidade para um desconhecido. Mas ela tinha feito sexo com ele, então o que era um simples nome?

 

— Prazer, sou Oliver.

 

Voltei meu olhar para ela, que também me encarava. Ela estava pensando, medindo, absorvendo as consequências para o que ela pretendia fazer. Eu sabia que ela estava calculando, mas não previ o fato de que ela sairia do lado do seu namorado e me daria um abraço. Demorei um segundo para reagir, mas assim que o fiz, pus minhas mãos em sua cintura e coloquei meu rosto na curva de seu pescoço. Felicity sempre tivera um cheiro doce de lavanda do qual eu estava morrendo de saudades. Fechei meus olhos e absorvi aquele seu aroma suave o máximo que pude, porque, diferente das outras vezes em que fiz a mesma coisa, dessa vez eu sabia que provavelmente não faria isso novamente nem tão cedo. Ela fazia carinho em minhas costas e eu senti seu suspiro em meu pescoço.

 

—Senti sua falta, Fel. Você não faz ideia – Eu sussurrei, de modo que somente ela poderia ouvir aquilo.

 

— Eu também senti muita saudade de você, Oliver– Ela sussurrou de volta e eu sorri pela forma carinhosa com que falou meu nome. - Mas você sabe que eu tinha que ir.

 

— Eu fui um idiota, né? Não deveria ter deixado você ir embora – Falei, dando conta, pela primeira vez, de que em todas as vezes em que Tommy me dissera aquilo, ele estava certo.

 

— Não se sinta assim. Foi bom pra mim. Eu era muito dependente de você, Oliver. Eu precisava aprender a viver minha vida e de fato aprendi. De certa forma, deveria agradecer a você. - Ela disse e soltou do meu abraço, ficou parada na minha frente, ficou na ponta dos pés e me deu um beijo na bochecha.

 

Em todas as vezes que imaginei a volta de Felicity, ela sempre voltava com muita raiva e mágoa de mim. Não querendo me ver nem pintado de ouro, soltando ironias e deboches quando eu estivesse perto. Eu nunca imaginaria que ela viria com esse agradecimento todo. Era pior. Eu preferia que ela gritasse comigo, me batesse. Ela estava me agradecendo por ter encontrado aquele cara também? Se eu não tivesse terminado tudo, ela não iria para a Itália e nunca teria conhecido esse italiano idiota. Era isso que ela estava me dizendo?

 

Oh, não.

 

Isso é muito pior do que eu imaginava.

 

O italianinho de quinta categoria puxou Fel pela cintura de volta para ele e olhou para mim de forma vitoriosa. Eu fechei minhas mãos em punho e me controlei para não voar em cima dele. Quem era ele, afinal? O que ele queria com Felicity? Sinceramente, como o estúpido egoísta que sou, eu queria que ele fosse um babaca de verdade, que só estivesse brincando com a Fel. Não é um pensamente muito legal, mas eu queria isso de verdade. No entanto, era só ver a forma como ele a olhava. Seu rosto se acendia como as luzes de Natal. Era notável e palpável a forma como ele a amava. Uma parte minha realmente boa ficou feliz por ela. Mas isso, infelizmente, só tornava a situação ainda mais difícil. Eu realmente queria poder odiá-lo

 

— Vocês vieram pra ficar? No Brasil, quero dizer. Ou vieram só pelo Tommy? - Resolvi perguntar, mudando de assunto, e tentando saber mais sobre os dois.

 

Nesse momento, os dois olharam um para o outro, de forma automática mesmo, e sorriram. Foi um sorriso puramente feliz e eu vi que estavam tendo uma conversa muda para ver se falavam algo para mim ou não. De certa forma, queria que não tivesse dito nada, porque tudo o que saiu da boca de Felicity foi:

 

— Viemos para ficar. Nós vamos morar juntos.

 

 


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Notas finais do capítulo

Não deixem de dizer o que acharam! Beijnhos!



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