Sanatório para crianças especiais escrita por Buraco


Capítulo 2
Não enlouqueça!




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Estávamos na praça sentados no banco conversando, em uma bela manhã.

O lugar era lindo, cheio de grama brilhando, caminhos muito bem asfaltados com a cor branca, bancos de madeira com a melhor qualidade e em perfeito estado, uma brisa gostosa que balançava as folhas das arvores de ipê e por fim, uma estátua do diretor Francis com uma pose acolhedora totalmente polida e brilhando.

—Sabe, ainda bem que o dia não está nublado, amo pegar um bronzeado –Comentou Mary olhando o céu com a expressão serena.

—Discordo, eu prefiro o clima gelado e a umidade da chuva –Discordou Luana.

—Para mim tanto faz, desde que possamos ficar aqui fora –Disse enquanto brincava com os fios de cabelo do Lysandre.

—A conversa está realmente muito interessante, mas creio que temos que comparecer à nossas classes –Lembrou o ruivo, que acabou provocando um silêncio e três rostos completamente surpresos.

—Estou atrasada! –Gritamos juntas e cada uma correu para sua atividade enquanto o meu irmão caminhou calmamente para a dele.

Como o destino da minha rota era do outro lado do acampamento, eu corria de maneira desesperada. Porém um garoto colocou-se na frente me fazendo cair em cima do seu corpo.

—Desculpa! Eu não consegui frear a tempo! –Levantei já efetivando um pedido de desculpas e o ajudando a ficar de pé.

—Tudo bem... Pode dizer onde é a diretoria? –Perguntou o garoto com a voz calma e controlada, deu até gosto de ouvir.

Ele tinha cabelos loiros em um topete com a raiz mais escura, olhos azuis, nariz pequeno e uma covinha na bochecha esquerda.

—Bom, passando pelo caminho da perdição, você vai ver o portal maldito, virando a direita irá observar que tem uma estátua do diabo, é na frente –Expliquei sendo olhada com estranheza, o que me fez rir.

—Você é novo aqui, não? Te mostro onde é –Acrescentei indo até a base inimiga enquanto era seguida pelo loiro.

Obviamente, eu não desperdiçaria uma chance de chegar perto do diretor e perturbar sua vida (Aliás, podem ler isso com uma risada maligna).

Quando chegamos parei um pouco longe da entrada e olhei nos olhos dele sentindo pena. Mas o que a preguiçosa Andy poderia fazer?

Ele agradeceu sorrindo e entrou de forma inocente, sem perceber o sorriso sádico formar-se nos lábios dos seguranças.

Cuidadosamente andei até a janela e espiei curiosa para ver o que se passava naquela sala.

Um homem estava sentado em uma poltrona vermelha redigindo algo que não pude ver. Tinha cabelo cheio de gel e puxado para trás, olhos negros que dão muito medo, alto e sempre de terno. Seu nome? Vocês já sabem quem é.

—Então Tobby, você será muito bem cuidado aqui –Assegurou Francis com uma expressão falsa de afeto.

—Aqui, a chave do seu dormitório –Acrescentou e logo continuou –Aposto que ficará bem se seguir as regras e não ficar fora do quarto depois do toque de recolher, vandalizar propriedade do acampamento, rejeitar tomar suas injeções, perturbar a harmonia do lugar ou manter qualquer relação com os gêmeos Andelyne e Lysandre.

Ao ouvir a última parte, devo dizer que fiquei bem emocionada em estar envolvida em um regulamento do que “não fazer”.

—Todavia, para ser aceito precisará submeter-se a uma série de exercícios –Ao pronunciar a frase, um homem de jaleco segurou seus braços enquanto o diretor caminhava até o coitado com uma seringa na mão. Ao vê-lo se encolher de medo, não pude permanecer apenas observando, eu tinha que fazer alguma coisa.

Segurei uma pedra pesada com bastante força, para em seguida arremessa-la e acertar bem no rosto do desgraçado.

Antes que a minha pessoa pudesse fugir correndo, alguém extremamente forte segurou meu pescoço e levou-me para dentro da sala onde encontrava-se meu inimigo mortal furioso e com uma bolota roxa ocupando toda a área de sua bochecha esquerda.

O recinto era grande, com paredes cinzas repletos de quadros da família, momentos importantes e premiações que ele ganhou, teto de cor branca com um lindo lustre de cristais pendurado e chão de madeira, no final havia uma mesa grande de mesmo material que o piso e bem organizada com um laptop prateado, uma pilha de papéis do lado de um suporte de canetas cheio em formato retangular totalmente sem graça e uma placa escrita “Diretor Francis Corcino”. Um armário de metal estava preso à parede lotado de livros sobre psicologia infantil junto a diversos troféus de alguma coisa. Sem contar na janela em que eu estava à pouco, contornada de carvalho e com uma cortina de seda branca aberta, inclusive o vidro opaco que estava virado para fora deixando o vento refrescar o local.

—Você é uma ingrata miserável! Venho cuidado de sua pífia existência todos os dias e é assim que me agradece?! –Explodiu elevando a voz e cuspindo em minha face e infelizmente não parou de falar –Acho que terá que receber mais uma punição.

Mesmo com medo por dentro, eu não recuei nem estremeci negando-me a parar de encarar seus olhos ferozes e irados.

Seus dedos calejados seguraram o cabo de uma xícara de café branca, apontando o que me aguardava.

Os sapatos dele faziam a madeira ranger enquanto caminhava lentamente até mim.

Engoli em seco assim que seu rosto aproximou-se do meu, qualquer um conseguiria notar a expressão sádica fixada em sua cute e as pupilas expressando completa satisfação diante do sofrimento alheio.

Puxando cuidadosamente minha blusa branca com estampa de cachorro do FBI, ele derrubou todo o líquido quente em minhas costas me fazendo gritar alto.

Naquele momento só consegui pensar em uma coisa:

Esqueci do Lysandre!

Olá pessoa que está lendo, me sinto na obrigação de dizer que hoje foi um dia horrível.

Salvei um garoto da enrascada que eu mesma o coloquei, mas acabou não dando muito certo no final...

Fico pensando se agi certo. Provavelmente não.

Mas o Lys pagou pelo meu erro, e isso faz com que me sinta tão péssima!

Certamente a última coisa que desejava era o fazer sofrer, ou envolve-lo em uma das minhas imprudências desastrosas.

Preste atenção, só estou lhe falando essas coisas pois é o meu diário! E tenho certeza que ninguém irá ler essas porcarias sentimentalizadas então... Me ajuda a relaxar e não enlouquecer com meus próprios pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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