Sanatório para crianças especiais escrita por Buraco


Capítulo 1
Meus remédios




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Eu me chamo Andelyne Stronger Monroy, tenho 16 anos e 1,54 de altura (Já sei, sou baixinha).

Meus cabelos são longos e ruivos, olhos azuis, nariz arrebitado, lábios rosados e diria que tenho um corpo com algumas curvas legais também.

Ao nascer, não vim sozinha. Isso mesmo! Tenho um lindo irmão para enfrentarmos a vida juntos.

Ele se chama Lysandre, cabelos avermelhados bagunçados, olhos heterocromáticos* sendo o esquerdo verde e o direito azul, nariz achatado e lábios carnudos (Que nunca beijaram ninguém).

Atualmente, residimos em um “acampamento de férias” totalmente permanente. O que acontece lá, vocês descobrirão no decorrer do drama.

Feitas as apresentações, vamos para a história!

Estava em um lugar mal iluminado, onde a luz falhava constantemente (Algo que seria bacana se estivéssemos em uma balada) e iluminava apenas o que estava embaixo dela, o piso era de madeira áspera e dando farpas de graça, além de fazer o joelho doer quando apoiado nela. As paredes e o teto estavam escondidos na escuridão impossibilitando a visão de si mesmos.

Meu querido onii* me olhava com pena enquanto meus olhos se mantinham ocupados demais encarando o chão.

Então o barulho do chicote estralou bem perto da minha bochecha quase acertando-a.

Sinceramente, recomendaria não testarem isso em casa... Na verdade, melhor evitar fazer qualquer coisa que acontecer nessa linda aventura na sua residência... Ou em outro lugar.

Aquele pedaço de couro desceu de maneira violenta sobre minhas costas nuas fazendo com que Lys e eu gritássemos.

Ah sim, nós temos aquela bizarrice de um sentir a dor física um do outro. Então, se acostumem com dois idiotas sofrendo juntos.

Revirei os olhos sentindo o sangue escorrer pela minha cintura e pingar no assoalho.

Não demorou muito tempo até sentir a dor insuportável novamente.

Olhei meu irmão e o vi se contorcer enquanto o objeto do demônio se afastava dele e se direcionava a mim.

O processo se repetiu duas vezes até não conseguirmos mais levantar nem um dedo diante do sofrimento em que nos encontrávamos.

Assim que acabou, fomos jogados para fora do galpão como se fossemos lixo.

—Vamos! Saiam da nossa frente! –Gritaram os homens sádicos conhecidos como seguranças por aqui. Me pergunto se fazem a mesma atrocidade com outros pobres coitados.

Assim que fecharam a porta, nossa amiga Luana veio ao nosso auxilio.

Ela é uma garota muito adorável, e não sei como ainda está disposta a nos ajudar toda semana.

Seus cabelos são loiros, longos e ondulados, sua estatura é bem alta, olhos com a cor azul igual ao oceano cristalino, bochechas com algumas sardas de leve e lábios pequenos. Costuma usar roupas coladas e alegres, sempre descoladas e chiques.

Bom, nossa salvadora nos levou para nosso dormitório da forma mais discreta possível tentando não chamar atenção (Não que isso funcionasse).

Nosso quarto era de paredes verde claro com toques de mofo por fora e porta de madeira apodrecida totalmente aconselhável para crianças, assim como todos os outros quartos.

Por dentro, era algo bem espremido. Após passar pela entrada era possível ver uma cozinha improvisada em um corredor nada largo com um fogão antigo, alguns armários de madeira e uma pia de porcelana com algumas rachaduras. Depois disso, duas camas paralelas com lençóis velhos estavam posicionadas contra as paredes de cor branca do cubículo quadrado sem janelas que mal comportava 4 pessoas. No chão, um tapete retangular gasto e surrado escondia um chão feito de puro cimento.

Quando chegamos, Mary já estava a postos com pano e um balde cheio d’água.

O que será que posso falar da minha amiga?

Bom, totalmente louca e imprudente, costuma se enrolar com muitos assuntos arriscados e nada recomendados.

Tem cabelos em um tom acastanhado presos sempre a uma trança, olhos verdes, baixinha e com lábios rosadinhos e ressecados.

Me arrastei até ela gemendo de dor para que pudesse ter minhas costas limpas do rio de sangue que insistia em escorrer.

—Parece pior do que das outras vezes –Comentou Luana enquanto analisava as costas do Lysandre.

—Sim, eles foram mais brutais desta vez –Respondeu meu irmão fofo.

—Até o homem que costuma ser cuidadoso parecia mais agressivo –Acrescentei.

—Sinceramente, eu acho que não tem sentido eles torturarem vocês, SÓ VOCÊS –Reclamou a morena.

Me mexi levemente na cama incomodada. Talvez vocês não estão entendendo muita coisa, então explicarei.

A violência toda que viram alguns parágrafos atrás, acontece toda semana conosco com a seguinte justificativa:

“O Acampamento deve curar as crianças que aqui residem, mas os gêmeos ruivos são um caso perdido que requerem um tratamento mais elevado do que o padrão, conforme o nível de sua perturbação”

—O que você sugere, teorista da conspiração? –Disse rindo.

—Ah qual é! Eles não nos deixam sair do nosso quarto todo dia sem tomar uma maldita injeção, que dizem que é remédio para nossa doença! –Respondeu totalmente contrariada.

—Mas não me sinto nem um pouco doente! –Acrescentou a loira concordando com a teoria maluca da amiga.

—Vamos, parem de falar bobagens –Repreendi as duas enquanto abraçava meu travesseiro com dor.

—Mas Andy, a Mary tem razão –Disse o ruivo indo contra a minha palavra.

—Vocês que estão mais tempo nesse inferno, então talvez já estejam acostumados e achando isso algo normal mas não é! Você já percebeu que não nos deixam ler livros? Nem estudar, nem nada.

—Não que eu esteja reclamando da parte do estudo –Falou a teorista se achando incrivelmente questionadora.

—Já sei ler, não é o bastante? –Retruquei sem interesse e ela pareceu mais ofendida ainda.

—Eu vou conseguir alguns livros pra você! Não se preocupe Andelyne! Você ainda tem salvação –Luana proferiu tais palavras de maneira desesperada antes de sair correndo pela porta.

—Vou junto! –Gritou Mary indo atrás da mais alta me deixando sozinha com meu irmão.

—Temos as amigas mais loucas –Ele comentou rindo e forcei um sorriso como forma de dizer que concordava.

Conversamos mais um pouco esperando o horário de almoço chegar e nos permitir comer alguma coisa.

Já havíamos nos acostumado com o fato de não conseguir andar pelo resto do dia assim que recebíamos nossa dose de “cura”, como gostava de falar o diretor do acampamento.

Como forma de não enlouquecer nesses anos, decidi que escreveria um diário sobre o meu dia, ou quando algo realmente relevante acontecesse.

Porém, o perdi uma semana depois de ter começado, então concluo que não valeu a pena desperdiçar um lindo caderno à toa.

Todavia decidi recomeçar, então se alguém um dia estiver lendo isso... Creio que no futuro devo tê-lo perdido, sendo assim não se decepcionem se os resumos dos acontecimentos não estiverem mais disponíveis no fim do capítulo.

Mas aí está o começo dele:

Este é o diário da Andy, por favor não toque!

 

Bom, sobrevivi mais uma vez no acampamento.

A manhã começou de forma maravilhosa, eu e meu irmão fomos para o galpão do terror onde levamos muitos castigos, logo depois nossas amigas nos levaram para o quarto e vegetamos ali o dia todo, foi bem divertido pois temos uns aos outros para diminuir o sofrimento de estar preso para sempre.

Costumo chamar esse lugar de sanatório, pois é o que realmente ele representa, apesar de toda alegria e segurança que aparenta ter quando apresenta-se aos pais.

Quando cheguei, tinha apenas 10 anos de idade e passei por muitos testes, castigos e fiz vários amigos que desapareceram com o tempo.

Alguns dizem que seus pais vieram busca-los, mas não acredito em nenhuma palavra, pois sei que estamos abandonados aqui. Já até perdi a esperança de sair alguma hora!

O jeito é continuar vivendo e nunca me render, principalmente à tristeza, porque aí a vida não terá mais sentido algum.

Sendo sincera com vocês, não sei como vivo nesse pesadelo, e muito menos quanto vou aguentar.

Guardei o caderno e a caneta embaixo da cama bem escondidos e me ajeitei para dormir.

Sorri para meu parceiro na vida e dei boa noite, logo deixando-me ser dominada pelo sono e sonhar com algum lugar longe daqui.


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Notas finais do capítulo

*heterocromáticos: Referente a heterocromia. Mutação onde um olho tem a cor diferente do outro.
*Onii: Irmão em japonês.

Eu sou a Buraco, mas podem me chamar de Bu.



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