Murdock - O retorno e a queda de uma lenda escrita por Andrew Ferris


Capítulo 1
Alvos certeiros


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindo a mais esta fic, caros leitores!!! Pensando em saciar-me um pouco da ansiedade pela terceira temporada da série, resolvi criar essa história pensando na continuação. Alguns eventos estão adiantados, mas fora isso verão as coisas tal como na série. Enfim, espero que gostem. Boa leitura!!!



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Um espaço para eventos dividido em diversos lotes está vazio naquela manhã de sol entre nuvens, exceto por uma ala próxima a um rio. No interior do salão, uma mesa coberta uma com uma bela toalha branca, costurada a mão e repleta de bordados circulares pelos caminhos de linha. Sobre a mesa há dezenas de salgados e doces, divididos entre bandejas de alumínio bem selecionado, cujo brilho indica o quanto são novas. Perto da porta há um bolo de quatro andares coberto com chantilly e doce de leite. No último e menor andar, dois bonecos encomendados que indicam os noivos da vez. Um homem cego e uma morena latina. No lado de fora do salão, os convidados estão sentados, acompanhando o decorrer da cerimônia enquanto Claire e Matthew trocam olhares e sorrisos determinados.
— O amor é uma semente que, quando germina, espalha-se por toda a parte, deixando vestígios por onde passa - Comparou o padre, olhando de um noivo para o outro - Um casal deve ser como a transformação de duas sementes em apenas uma para que possam, unidos, gerar frutos visíveis a todos - Na saída da ala de cerimônia, um homem encapuzado observa a cena. A blusa branca debaixo da jaqueta esconde uma face repleta de cicatrizes e com barba por fazer, além de um par de olhos verdes que encaram o casal com profundo remorso. A cerimônia segue sem que ninguém, nem mesmo Matthew, perceba algo, então Karen Page e Foggy Nelson se aproximam do cadsl e entregam as alianças a Claire, que coloca uma sobre a palma de Matthew enquanto a restante encaixa no dedo anular de seu futuro marido.
— Matthew Murdock, eu te aceito como esposo, para amá-lo e respeitá-lo agora e sempre. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza e em todos os momentos de minha vida - Matthew sorri para a mulher emocionado, então ela direciona sua mão para facilitar o serviço de Murdock, que coloca a aliança no dedo de Claire e contém o impulso de abraçá-la de uma vez. Londe da celebração, o sujeito observa o desenrolar dos eventos ao lado de uma árvore quando saca uma pistola, a qual mira com precisão na cabeça de Claire.
— Claire Temple, eu te recebo como minha esposa, para amá-la e respeitá-la. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza e em todos os momentos de minha vida - Matthew sente a arma apontada para a cabeça de Claire, o que o deixa aflito.
— Se alguém tem algo que possa atapalhar essa união, fale agora ou cale-se para sempre - Declarou o padre como de praxe dos casamentos. Silêncio total entre os convidados, o que leva o clérigo a prosseguir - Sendo assim - Matthew interrompe a cerimônia com receio. A mão do sujeito no lado de fora da ala de festas treme em um misto de receio e indecisão. Ele deveria atirar ou permitir que Claire continuasse viva?
— Senhor Murdock? - Questionou o padre confuso enquanto os convidados comentam intrigados sobre o comportamento de Matthew, então o homem ao longe abaixa a arma e ajusta seu capuz enquanto se retira daquele lugar. Matthew sente a mudança no ambiente, então se vira para onde estavam Foggy e Karen. A noiva encara o amigo de Matthew inconformada, mas Nelson dá de ombros antes de Murdock simplesmente se voltar ao padre que e pedir que continue com a cerimônia.
— A vida nos encaminha para a união, seja com o senhor ou com uma outra pessoa, mas ambas devem ser eternas e exigem o máximo de devoção das partes. Apesar do mundo em que vivemos, é bom lembrarmos do quanto é importante ter fé, pois o que Deus uniu, o homem não separa. Eu vos declaro marido e mulher - Matt sorri encantado e Claire sorri de volta, tomando seu esposo com braços, envolvendo-o e o beijando longamente enquanto todos aplaudem com alegria. Assim que suas bocas se separam, Matthew fica atento à saída dos salões de festa ao ar livre enquanto o homem misterioso se afasta dos lotes, arrumando o casaco onde um apetrecho pessoal em formato de lua escorrega para dentro do próprio casaco enquanto o sujeito cabisbaixo sorri com otimismo, apesar de imaginar o que estava por vir.

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Uma mesa cheia de objetos aleatórios, um vaso com flores azuis escupidas ao longo do corpo esbranquiçado, fotos de Claire e Matt ao longo de seu namoro e um óculos de sol com lentes avermelhadas perto da borda se estende em parte de uma parede em seu apartamento. Dormir com Claire ao seu lado era algo a se acostumar, pois sua casa não estava pronta para o casal, apesar da união ter se confirmado. O advogado caminha sem camisa pelo corredor, apanhando os óculos e colocando-os sobre os olhos inutilizados há muito tempo por um jato químico esverdeado. Matt sente a luz quente do sol aquecer sua pele enquanto seus pensamentos retornam ao casamento. Uma reconstituição básica atiça seus sentidos e ele recorda o que havia acontecido.
Um homem suado, cheirando a farinha de trigo fresca, tulipas rosas e carvão em brasa aponta uma arma para Claire, que nada percebe a respeito do criminoso. Seu odor mais antigo lembra jornal velho, sangue coagulado e um pouco de ferrugem.
— Eu já senti muito esse cheiro. Quando eu morava sozinho naquele apartamento - Afirmou Matt para Foggy, que o acompanha em um cafédentro de uma lanchonete próxima a seu escritório, ele com uma panqueca simples e Nelson com um hambúrguer.
— Por isso não quer contar pra Karen?
— Ela pode se preocupar - Argumentou Murdock com seriedade.
— Eu já estou preocupado, mas a parte boa é que contando para as pessoas, você não precisa se preocupar sozinho - Foggy olha de um lado para o outro, então abaixa o tom de voz - Além do mais, você disse que não deixaria de ser o Demolidor desde que pediu a Claire em casamento, o que significa que esse ato é provavelmente fora das normas.
— Eu não posso contar para Claire, mas também não penso em voltar com isso, eu prometi - Ele engole as palavras seguintes e se revela apreensivo ao aprofundar o assunto - Foggy, por que alguém iria querer matá-la? Não faz sentido.
— Está perguntando ao cara errado - Declarou Nelson despejando um pouco de maionese em seu hambúrguer enquanto Murdock cutuca o queixo pensativo. Havia uma pessoa com quem poderia conversar abertamente sobre o assunto, mas não tinha certeza de onde poderia encontrá-la.
Em um prédio residencial abandonado, onde dezenas de sem-teto se abrigam pelos pequenos e médios apartamentos, Frank Castle sobe uma escada com uma bolsa repleta de armas nas costas. Com a jaqueta zipada, não havia como ninguém reparar em sua condição deplorável, como olho roxo, queimaduras de diferentes graus, manchas escuras e um ferimento a faca que dificulta sua respiração por conta do tipo de pessoa que frequenta o lugar. Aquelas pessoas, algumas humildes e simples, outras desconfiadas e perigosas, estavam acostumadas a ver armas. Alguns dos próprios moradores andam pelos andares com armas à mostra na cintura, o que fazia de Castle um mero figurante. Ele empurra de leve a porta do apartamento que sempre deixa aberta, então se prepara para entrar quando um vizinho surge à porta.

— Eu fiquei de olho o tempo todo, Frank, mas não sei por que você insiste em deixar essa porta aberta.
— Bom dia pra você também, Loyd - Cumprimentou Castle em tom de aviso - O que iriam querer na minha casa? É mais difícil eu comprar comida do que um desses infelizes arrumá-la roubando.
— Vê se mantém a bola abaixada. Nada de tiroteios no prédio, essa gente é de bem - Alertou o sujeito com ar de preocupação.
— Eu conheço esse tipo de gente, mas relaxa, se eu quisesse matar alguém aqui, esse alguém estaria morto - Assim que termina de falar, Frank entra em seu apartamento e empurra três fechaduras antes de jogar a bolsa de armas sobre a mesa, abrindo a geladeira e tomando para si uma garrafa de vodka q deixa sobre a mesa antes de procurar seu kit de primeiros socorros. Ele para de caminhar no final da sala, desconfiando do ar de sua residência, então segue até o banheiro, pegando a caixa e levando-a consigo até a cozinha, onde se senta e tira o casaco, revelando a camiseta com símbolo de caveira branca enquanto se levanta para abrir a garrafa, uma pessoa surge do corredor escuro atrás da cozinha, então Frank apanha uma faca furtivamente quando o invasor se denuncia.
— Espere Frank, não precisa disso - O Justiceiro solta a faca, estrala as costas e o pescoço, então se vira para o Demônio de Hell's Kitchen, vestido em uma roupa diferente da que estava acostumado. Um traje simples preto sem qualquer tipo de proteção e uma máscara preta cobrindo a face e, principalmente, os olhos.
— Vermelho. Mudou um pouco - Observou Castle tomando um gole da vodka direto do gargalo - Quer um pouco?
— Não obrigado, esse é meu antigo uniforme - Esclareceu o Demolidor puxando a camiseta de manga comprida com boas e muitas péssimas recordações - Sofri muito com ele.
— Pensei que tivesse dito que iria abandonar a carreira de vigilante.
— E abandonei, por isso estou com essa roupa.
— Como me encontrou? Por acaso tem superfaro?
— Mais ou menos isso. Você tem cheiro de pólvora, charutos velhos e bebida em conserva.
— E podridão, não esqueça dessa parte. Sinto o fedor do meu corpo, me enoja só de lembrar - Frank puxa uma cadeira para si e, pegando uma gaze na qual despeja um pouco de água oxigenada, limpando o ferimento entre praguejos sussurrados e gritos contidos.
— Merda, puta merda. Por que essa porra sempre dói?
— Quer ajuda? Minha mulher é enfermeira, aprendi algumas coisas com ela.
— Não se estressa comigo, sou um morto no meio de uma praga incontrolável, agora em diz, isso tudo é saudade ou você tem uma razão para estar aqui?
— Eu me casei - Começou Murdock, caminhando de um lado para outro da cozinha.
— Parabéns.
— Obrigado, mas aconteceu uma coisa que quase atrapalhou tudo. Tinha alguém fora do quiosque de festas, alguém armado que tentou matá-la - Castle fica em silêncio, pensando sobre o fato enquanto engole mais uma dose de sua bebida ardente.
— Você disse que ela é enfermeira.
— Disse sim.
— Acho que essa história te envolve menos ou sequer envolve. Nunca pensou no que acontece no trabalho dela? Quem sabe ela ajudou quem "não devia" ou talvez tenha deixado de ajudar.
— Ela jamais deixaria de ajudar quem precisa - Afirmou o Demolidor com revolta.
— E se ela tentou ajudar e não funcionou? Seria mais fácil conversar com sua mulher do que vir aqui, não acha  não?
— Eu vim aqui para saber se você soube de alguma gangue nova por aqui ou algo do tipo, uma luz para minha investigação. Se eu perguntar para ela, é capaz que ela fique desconfiada, principalmente sobre eu estar cumprindo ou não minha promessa.
— E está? Está cumprindo sua promessa?
— Por enquanto - Frank respira fundo à medida que tenta lembrar de possíveis fatos relacionados à enfermeira, mas nada lhe vem à memória.
— Olha vermelho, não sei de nada novo na cidade além de um vigilante.
— Vigilante?
— Sim. Surgiu um mês depois de você ter abandonado os chifres. Ele gosta de brincar com luas e parece bem forte, além de não estar de brincadeira. Soube que está sendo tão peocurado quanto eu.
— Como o chamam? - Questionou Matt com curiosidade.
— Fantasma da lua.
— O que foi? Eles não tem mais nomes para arrumar?
— A maioria tem nome de inseto quando não é católico e gosta de se vestir de demônio ou adora andar com uma caveira no meio da camisa, um alvo fácil no meio da noite - Declara Frank debochando de si e do colega.
— Ele tem um padrão de ataque?
— Claro. Chega na primeira esquina lotada de marginais e acaba com quantos puder, depois some do nada.
— Já viu esse cara?
— Ninguém que o viu sobreviveu para contar, por isso o apelido de "Fantasma".
— Pois eu aposto que esse cara é de carne e osso como todo mundo.
— Eu não. Provavelmente minha composição de pólvora subiu nos últimos meses.
— Obrigado pela ajuda.
— Eu não fiz nada, você ainda terá de procurar o Fantasma da lua, se o encontrar em menos de um mês será muita sorte.
— Atualmente é com isso que estou contando - No escritório "Nelson e Murdock - Advogados", Karen arruma alguns documentos em pastas quando um homem entra na sala e espera a jovem terminar seus afazeres para se pronunciar, mas Page está imersa a ponto de se virar e assustar-se com a presença do estranho.

— Me desculpe, não queria incomodar.
— Não se preocupe com isso, eu que sou uma medrosa mesmo - Afirmou a jovem reparando no rosto cheio de marcas do sujeito, mas trata de mudar a direção do olhar para não deixar o possível cliente constrangido.
— Não se subestime. Todos temos medos, mas alguns são mais fortes do que parecem - Karen sorri em agradecimento, deixando uma pasta sobre a mesa antes de pegar uma agenda e uma caneta próxima.
— Quer se sentar?
— Não, assim está bom, obrigado.
— Em que posso ajudar?
— Gostaria de saber se estão contratando - Karen sorri sem graç ao perceber o estado em que o escritório se encontra.
— Eu sei que tudo está uma bagunça, mas ainda estamos nos reajustando.
— Férias coletivas? - Perguntou o homem despretenciosamente.
— Não, não, foi o casamento do meu patrão. Matt.
— Ele parece ser um bom sujeito.
— Ele é sim - Afirmou Karen olhando para a sala vazia dos amigos - Apesar do jeito como as coisas estão, não temos tanto trabalho quanto parece. Eu não recebo muito e não tenho certeza se os lucros poderiam ser divididos entre quatro pessoas. Vai acabar passando fome se trabalhar aqui - Os dois riam juntos antes do visitante perguntar:
— Então vocês são em três - Karen começa a fechar o semblante, desconfiando do comportamento do desconhecido, o que a leva a cutucar um revólver debaixo de sua mesa.
— Sim, o nome do escritório é Nelson e Murdock e bem, eu não nenhum dos dois como pode ver - A dupla entra em um silêncio perturbador. Os dois se entreolham em sinal de avaliação quando ouvem passos de aproximação, alguém subindo a escadaria do escritório.
— Foggy - Exclamou Page ainda com a mão sobre o revólver por precaução - Onde esteve?
— Fui tomar um café da manhã reforçado - Revelou o advogado mostrando um cachorro-quente com batata palha e molho em uma das mãos - E você seria o que? Um jovem cidadão nova iorquino precisando de uma ajuda com a lei? - Indagou dirigindo-se ao estranho.
— Na verdade eu estava à procura de emprego. Me mudei a pouco para Nova York e ainda não me adaptei bem - O sujeito olha de Karen para Foggy, então cumprimenta a ambos em sinal de retirada - Apesar da negativa, agradeço pela atenção. Espero que dê tudo certo para vocês - O homem deixa a sala enquanto Foggy o encara decepcionado e se volta ao escritório. Karen por sua vez solta o revólver e se senta apreensiva sobre a mesa.
— Que triste, achei que teríamos um novo caso nas mãos - Confessou Foggy claramente decepcionado - Há quanto tempo ninguém entra aqui? Meses?
— Mais do que isso, mas não fui com a cara desse sujeito. Ele me parece o tipo de pessoa que não cheira bem.
— Bem ele não cheira, mas passou muito tempo te observando, acho que conseguiu um admirador.
— Fez perguntas demais.
— Não seja tão paranoica, o homem só queria um emprego. É bom para os negócios saber que tem gente procurando a "Nelson e Murdock" para trabalhar - Foggy mastiga dois pedaços de seu cachorro-quente antes de mudar de assunto - O que precisamos nos preocupar é com o péssimo movimento que nosso escritório tem desde aquele caso com o Fisk.
— As pessoas ainda o temem. Por isso somos um lugar menos preferível. Querendo ou não, somos alvos do Fisk.
— Queria saber qual o plano do Matt para lidar com essa baixa de clientes. Poderíamos distribuir panfletos - Sugeriu Nelson sem muita criatividade.
— O que escreveríamos? "Estamos passando fome, venha resolver seus problemas com pessoas em crise financeira" - Foggy ri em concordância.
— Concordo que é uma péssima ideia, mas deve ter um jeito de chamar atenção positiva para esse lugar.
— Uma repaginada na fachada não seria uma má ideia depois de limparmos esse lugar.
— Então esse será nosso plano de negócios. Limpar o escritório e repaginar a fachada - Concluiu Foggy terminando seu cacjorro-quente.
— Tem ideia de onde está o Matt?
— Curtindo a lua de mel? - Sugeriu Nelson, mas logo se arrepende do que diz com a expressão que Karen solta ao ouvir suas palavras - Talvez ele... tenha ido pagar alguma dívida em lanchonetes. Mês passado compramos aqueles lanches e nunca voltamos ao estabelecimento para pagar nosso débito.
— Quantas contas esquecemos de pagar?
— Não sei, me diz você secretária - Os dois sorriam antes de Karen voltar a arrumar o escritório, logo acompanhada pelo amigo enquanto o estranho visitante finalmente sai da "Nelson e Murdock - Advogados", arrumando seu capuz branco sobre a face enquanto se infiltra no meio da multidão.

No hospital geral de Hell's Kitchen, Claire cuida de seus pacientes, hora ou outra secando o suor da testa antes de voltar às funções. Pegar insulina, injetar medicamento, mudar o posicionamento de pacientes, dar-lhes atenção e uma pausa no meio de tudo isso. Ela senta em um canto reservado, pega seu lanche, um sanduíche caseiro de frios com catchup e está prestes a mordê-lo quando recebe uma ligação que atende ao segundo toque.
— Alô?
— Claire, aqui é o Matt.
— Oi amor, tudo bem?
— Tudo, só ligar para saber como você está.
— Cansada, imersa em trabalho, e você?
— O mesmo - A linha fica muda por algum tempo antes de Murdock decidir continuar - Olha, me desculpa por não termos tempo juntos o suficiente desde o casamento. Prometo que as coisas mudarão.
— Eu sei amor, não se preocupe. Pense no seu trabalho, eu posso esperar por uma lua de mel - Matt ri sem conseguir se conter.
— Assim que tivermos o que comer - O casal ri intensamente antes de Murdock voltar a falar - Te vejo em casa?
— Se estiver acordado.
— Ou se você não estiver dormindo.
— Obrigada por ligar, te amo.
— Também te amo - Assim que desliga a chamada, Matt guarda seu aparelho e observa uma balada à frente do prédio em que se encontra. A noite está abafada, tanto quanto seu espírito. Ele queria respostas e as obteria de qualquer jeito, entretanto, apesar de horas observando a boate, nenhuma aparição estranha acontece, o que o leva a desistir daquela localização e resolver procurar o tal "Fantasma" em outro lugar. Por toda a noite, Matt observa diversas boates sombrias onde homens perigosos se encontram, mas nada de seu assassino misterioso dar as caras. Matt se senta à beira da laje, então recebe uma ligação que atende preocupado.
— Karen? Aconteceu alguma coisa?
— Sim, aconteceu - Murdock se levanta indignado.
— O que houve?
— Você não apareceu no escritório hoje, o que quer dizer que Foggy e eu limpamos tudo sozinho. Afinal de contas, quantas dívidas tínhamos pra você ficar tanto tempo fora?
— Dívidas?
— Sim, o Foggy disse que você saiu para pagar contas pendentes de lanchonete.
— Pois é, tive de arrumar dinheiro e ir pagar os caras. Sabia que o preço de tudo está um roubo?
— Te vejo amanhã?
— Na verdade me verão hoje.
— Não Matt, estamos fechando o escritório. Já está tarde - Afirmou a jovem com decepção.
— Me perdoe.
— Não precisa se preocupar, agora está casado. Precisa focar-se na Claire tanto quanto em qualquer um de nós.
— Você realmente está bem?
— Vou ficar - Page desliga o telefone e o joga na bolsa, como se tivesse soltado um grande peso e finalmente estivesse livre para seguir em frente.
— Vamos? - Perguntou Foggy apagando as luzes de seu escritório.
— Vamos - Respondeu decidida. No interior da boate que Murdock observa atentamente, um homem caminha entre os convidados. Usando chapéu para cobrir a face e um sobretudo marrom, ele parece estar desinteressado em tudo que acontece, sentando-se em um banco junto ao balcão quando um atendente se aproxima com uma garrafa na mão.
— O que quer?
— Quero uma dose da merda mais forte que tiver - Declarou o sujeito olhando para as pessoas ao seu redor pelos buracos de sua máscara.
— Aqui está - O homem bebe confortavelmente, retirando uma Magnum do bolso e a colocando em cima da mesa, o que deixa o atendente chocado - O que você quer?
— Só queria te mostrar. É uma ponto quarenta, me fascina a beleza de tal objeto. Seu formato me surpreende, sua agilidade, precisão, equilíbrio inigualável e, é claro, seu efeito. Uma cabeça explode sem dificuldades com um disparo simples feito a dez metros de distância. Uma belezinha dessas faz qualquer homem achar que tem pinto grande - O atendente seca as lágrimas que surgem repentinamente em seus olhos, o que leva o sujeito a dar risada em um tom debochado - Vamos, pegue-a.
— Como?
— Pega essa merda e sinta-se um homem de pinto grande - Repetiu o sujeito com impaciência.
— É sério isso?
— Pareço estar de brincadeira? - O atendente não consegue responder, pois assim que o cliente levanta o chapéu, o barman percebe a máscara cinzenta sobre a face. Ainda assim, ele pega a Magnum e a encara amedrontado.
— É bom, não é? Toda a confiança que ela te trás. Faz um zé-ninguém se sentir alguém em um piscar de olhos. O curioso é que as pessoas não percebem que a arma está muito além do buraco da agulha, do cano, do gatilho, da bala, da pólvora e do aço. A arma não passa de um objeto aleatório criado pelo homem, por homens covardes como você que não conseguem enxergar um mundo com múltiplas faces. Se pudessem ver o que eu vejo, não haveria uma lindeza dessas circulando por aí - O sujeito cutuca o atendente e aponta pra uma mesa distante - Aquela mesa precisa de reparos, um pé torto pode atravessar um crânio e expor miolos - Ele aponta para o teto, onde há tábuas soltas no meio das luzes de festa - Há um prego no teto que pode rasgar o corpo de uma pessoa sem clemência alguma, basta encontrar a força certa para erguer o corpo e arrastá-lo pelas tábuas soltas - Ele avista um homem entrando na boate com dezenas de anéis nos dedos das mãos - Aquilo ali é melhor do que um cinco socos ingleses. Cada anel tem uma borda laminada o bastante para perfurar jugulares desprezíveis. Entende? Qualquer coisa pode ser uma arma, até o corpo de um cretino qualquer feito você - O barman não entende a declaração até três seguranças apontarem suas armas para ele, que solta a Magnum completamente assustado enquanto o sujeito mascarado passa a mão no alvo branco sobre sua cabeça.
— O que está fazendo? - Perguntou o barman enquanto os seguranças o prendem, interrompendo o andamento da festa com o escândalo.
— Estou atraindo meus alvos e usando a criatividade - Um dos seguranças pega a arma e a verifica rapidamente.
— Está sem balas.
— É claro que está - Afirmou o sujeito tirando seu sobretudo e revelando sua roupa em tom cinza azulado, tomando a Magnum do sujeito e lançando-a na cabeça de um dos seguranças, que cai inconsciente no chão.
Os seguranças miram suas armas no estranho, que corre por entre os frequentadores da festa, quebrando a mão do homem cheio de anéis e pegando os pequenos objetos para si.
— Qualquer coisa - Com uma mira surpreendente, Mercenário arremessa os anéis na cabeça de todos os seguranças, fazendo buracos profundos antes de mirar suas gargantas e cortá-las com os poucos que restaram. Outro segurança vem em socorro aos demais, mas o criminoso sorri em tom de deboche, desviando dos disparos e atraindo o segurança para perto da mesa torta. Ele chuta a perna quebrada, derrubando o objeto no chão antes de virar o corpo do combatente de ponta-cabeça e esmagar sua cabeça contra a ponta torta. Outros seguranças aparecem, mas o Mercenário pula nas tábuas soltas e as separa do restante do teto, separando e arremesando os pregos expostos contra as testas dos oponentes, que caem mortos no chão. Um novo sorriso de deboche antes de pegar sua Magnum de volta e Mercenário se dirige à saída da boate sem problemas, pois todos se afastam de sua pessoa assustados, até que um par de mãos o agarram e o jogam no chão da boate. Sem se levantar, Mercenário arremessa a arma contra o Demolidor, que desvia do objeto, se aproximando com tamanha rapidez que resta ao bandido colocar-se de pé, quebrando copos que outros bebiam e jogando-os contra seu oponente, que desvia de cada estilhaço, reparando a mão cortada do adversário.
— Alvo é alvo - Mercenário puxa dardos de uma tábua e os arremessa friamente contra o Demônio, mas ele desvia de todos sem dificuldades, esmagando sua face com alguns socos e derrubando o oponente no chão com uma rasteira, pressionando seus dedos contra o chão de modo a propagar sua dor enquanto as sirenes indicam a aproximação da polícia.
— Esse alvo está fora de circulação - Afirmou o Demolidor se retirando da boate enquanto uma viatura para na porta do estabelecimento e recolhe o criminoso insano cujas mãos estavam cheias de sangue. Matt retira a máscara vermelha e a deixa embaixo do sofá de seu apartamento, tirando o resto do uniforme e colocando-o dentro de um armário atrás de dezenas de livros. Por receio de despertar Claire àquela hora, Matt respira fundo e se deita apenas de cueca no chão de sua casa, cobrindo-se com um lençol e deixando os pensamentos daquela noite se esvaírem junto ao cansaço, que não tarda para levá-lo ao sono.


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Notas finais do capítulo

Quem será o Fantasma da lua? O que ele quer com Claire? O que Mercenário planeja nessa história? Será que Frank terá uma grande participação daqui em diante? Qual o problema com Karen? Fique ligados!!!



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