Murdock - O retorno e a queda de uma lenda escrita por Andrew Ferris


Capítulo 2
Perante o juíz não há inocentes


Notas iniciais do capítulo

Agora vou apresentar direito essa fic rsrs

A ideia é escrever como se fosse uma temporada de Daredevil, então me desculpem pelos capítulos extensos, não teve jeito!!!

Muitas teorias por vir, prontos para se deliciar?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753106/chapter/2

     O tribunal está lotado. Entre pilastras vermelhas e chão vernizado há dezenas de cadeiras ocupadas por pessoas públicas, civis. Homens e mulheres. Separados dessa maioria estão nobres advogados e um juíz de expressão séria, empenhado em acabar com aquela farça o quanto antes. Murmúrios contínuos agitam o recinto, enquanto os homens da lei analisam suas pastas repletas de documentos e dois seguranças trazem o réu para a bancada. Com uma roupa cinza pouco suja, Wilson Fisk olha para as pessoas pobres que o xingam e o difamam, enquanto outros zombam de seu peso elevado, que aumentara durante a estadia na cadeia. Um olhar rápido pelos advogados de acusação e o marginal encontra duas pessoas que por tempos foram pedras no seu sapato: Foggy Nelson e Karen Page. Ele não contém uma expressão intimidadora, mas prefere sorrir convencido de que o que teria de acontecer se sucederia, pois estava farto daquelas audiências exaustivas. Os dois, sentados de forma reclusa em suas cadeiras, embora Foggy demonstre uma aparência mais confiante que a secretária, ignoram a expressão de Fisk e simplesmente esperam o juíz far seu parecer.
     - Ordem no tribunal - Os murmúrios tumultuados cessam, então o homem negro, de barba rala e óculos curtos termina de ler alguns detalhes do processo antes de continuar com suas ordens - Estamos aqui para definir o processo de pedido de Habeas corpus para que o réu, Wilson Fisk, possa recorrer das trinta novas denúncias encaminhadas ao nosso fórum em liberdade até segunda ordem do estado. Os advogados de acusação podem fazer seu parecer - Uma mulher baixa, de olhos puxados, rosto redondo e roupa social azul escuro se apresenta ao juíz e começa a falar, enquanto Fisk dirige o olhar entediado ao relógio, cujos ponteiros balançam continuamente segundo após segundo. Em seguida move os olhos até um par de pernas de um jovem, que as balança com ímpeto enquanto aguarda ansioso pelo fim daquela agonia. Conforme outros advogados se intercalam no tribunal, Fisk move seu olhar por cada pessoa ali presente, como se estivesse memorizando seus detalhes, traços, perfil, estilo, cor de pele. Qualquer objeto de observação soava mais interessante do que desperdiçar seu tempo e ouvidos com o julgamento. Por fim, quando parece estar enjoado de olhar para tais pessoas, Wilson encara um policial de feições sérias, que lhe devolve o olhar com desconfiança, então move a cabeça à procura de observadores suspeitos, o que não lhe parece uma convenção daquele momento. Disfarçadamente, o policial sinaliza com a cabeça para Fisk, que volta-se para a frente sem compreender o gesto do indivíduo.
     Na ponta de uma bancada repleta de advogados, um homem na ponta direita arqueia uma das sobrancelhas ao mover seu olhar para Fisk, então faz um meneio simples com a cabeça antes de voltar sua atenção ao advogado que falava sem parar por alguns minutos arrastados. Novamente Wilson percebe a estranha gesticulação, mas a ignora se concentrando outra vez no advogado, que termina de falar para ceder a voz a Foggy. Fisk boceja sarcasticamente em um tom mais alto quando Nelson se levanta, prestes a iniciar seu pequeno discurso quando o juíz o interrompe.
     - O senhor pode voltar ao seu lugar, por favor.
     - Como assim, meretíssimo? Essa é minha vez de falar - Protestou Foggy olhando de Karen para a bancada do júri.
     - Houve um concenso entre os presentes. Esse processo está se arrastando por tempo demais, por isso os senhores que agora falaram se apresentaram, pois serviram como base da ação conjunta de acusação. O tempo dos advogados de acusação agora se encerra e começa o tempo dos advogados de defesa - Nelson volta contrariado ao seu lugar, discutindo com Karen em voz baixa antes do primeiro advogado iniciar sua defesa. Aos poucos o tempo passa. Uma hora. Duas horas. Fisk olha para o relógio a cada cinco minutos, preferindo retornar à sua cela do que ouvir aquelas besteiras por mais tempo, então o júri finalmente retorna à sessão com sua resposta. O juíz pega o papél e o lê para si mesmo, provocando a curiosidade de todos antes de promulgar a decisão do júri.
     - Foi concentido pelos presentes do júri a seguinte sentença em minhas mãos. O réu, "Wilson Fisk", deverá, a partir deste dia, responder em liberdade pelas acusações recentes que envolvem os crimes de extelionato, falsidade ideológica, ameaça, extorção, tortura e cárcere privado - Fisk levanta a cabeça com surpresa enquanto a maioria dos presentes protestam e Karen e Foggy ficam boquiabertos com a decisão. Um advogado se aproxima de Wilson com um ar vitorioso e esnoba Nelson com um olhar fechado.
     - Sei que foi demorado, senhor Fisk, mas acredito que a espera tenha valido a pena - Wilson encara seu subordinado com uma expressão de desprezo, a mesma com a qual enxerga o restante dos presentes.
     - Qualquer espera é válida quando você pretende mudar seu jeito de agir - Respondeu por fim.
     - E como o senhor pretende agir?
     - Exatamente como eles querem acreditar. É chegado o tempo dessa cidade conhecer o outro lado de Wilson Fisk.
     - Todos estávamos contando com isso - Afirmou o sujeito com um sorriso empolgado.
     - Todos? Além do seu colega de idade avançada e do policial?
     - Sim senhor. Falo do juíz, da secretária, do escriba, dos seguranças e do limpador do para-brisa - Fisk encara a confusão que se forma no recinto com um apetite voraz que lhe provoca um olhar feroz e cruél.
     - Parece que muitos ainda estão comigo.
     - Quem não quer estar ao lado do "Rei do crime"?
     - Não sei se sou digno ou se algum dia já fui digno desse título.
     - Senhor, acreditamos no seu trabalho.
     - Eu não terminei - Declarou Fisk levantando-se de sua cadeira com um sorriso de deboche - Agora quero ser tão merecedor desse nome que não quero mais ser lembrado como Wilson Fisk. Quero que esse nome apodreça com todos esses processos enquanto retomo o que é meu. Diga a todos que o "Rei do crime" os aguarda em seu escritório.

   -_-_-_Daredevil-_-_��-_-_

     Karen sobe as escadas do escritório, abre a porta cansada e se joga na cadeira, descarregando pastas e bolsa sobre a mesa antes de perceber alguém parado na outra sala.
     - Matt? - Ela se levanta com um ar de dúvida, aproximando a mão de onde esconde seu revólver quando o advogado surge à sua frente - Que susto. O que está fazendo aqui?
     - Eu acho que ainda trabalho aqui. Achei estranho chegar e não ter encontrado ninguém - Karen respira fundo antes de contar a verdade para Murdock.
     - Você teria de saber de qualquer forma. Estávamos em uma audiência de Wilson Fisk para julgar novas acusações - Matt balança o rosto pelos ares, perdido, tentando não se irritar com aquele fato.
     - Cadê o Foggy?
     - Disse que tinha algo para resolver - Respondeu a jovem sem entender a preocupação.
     - Ele não tem nada para resolver - Afirmou Matt vestindo seu casaco - Por quê não me chamaram? Por quê não disseram que haveria essa audiência?
     - Não queríamos atrapalhar suas núpcias - Ela para de arrumar as pastas por um instante, encarando o amigo de cima a baixo - Ou qualquer coisa do tipo.
     - Karen - Matt se aproxima receoso - Não precisa fingir que continua sendo minha amiga ou que liga para isso.
     - Sabe, ultimamente eu tenho vindo apenas para ajudar o Foggy. Não tem como te ajudar, além do mais você parece estar indo bem. Não se importa com mais nada, não aparece no escritório, Hell's Kitchen está uma merda e agora o Fisk saiu da cadeia.
     - O que acha que vou fazer? Vou tentar resolver isso - Declarou Murdock pegando sua muleta e se retirando do escritório apressado, mas logo volta ao se lembrar de um detalhe pendente - Da próxima vez que resolver guardar uma arma debaixo da mesa de um escritório, tente colocá-la um pouco mais perto da beirada e com o bocal virado para a porta.
     Claire passa por um corredor do hospital apressada, com alguns resultados de exame em mãos quando acaba esbarrando em uma mulher atraente, de lábios cheios, glúteos fartos e roupa social azulada de extrema formalidade. A mulher a ajuda a recolher os papéis, então a encara com curiosidade.
     - Claire Temple? - A mulher se corrige na mesma hora - Enfermeira Claire Temple? Me desculpe o incômodo, sou Victoria Hand.
     - Eu estou com um pouquinho de pressa, se importa se eu puder atendê-la logo mais? - Perguntou a enfermeira com pressa.
     - Tudo bem. Vou estar esperando aqui mesmo, obrigada - Enquanto Victoria se senta em uma poltrona da recepção, Claire anda apressada para entregar os documentos e receber a mulher que desconhecia na sequência. Ela se aproxima e encontra Hand folheando uma revista aleatoriamente sobre a mesa antes de deixá-la de canto e cumprimentar a enfermeira como se fosse o primeiro encontro.
     - Senhorita Hand, é isso?
     - Sim.
     - Em que posso ajudá-la?
     - Estou procurando minha prima. Meus tios ligaram há quase uma semana, então eu decidi vir até Nova York para procurá-la.
     - E ela deu entrada nesse hospital? - Questionou Claire interessada em ajudar a moça.
     - Sim, na verdade foi a senhorita que a atendeu.
     - Qual seria o nome dela?
     - Elektra. Elektra Natchios - Temple engole em seco, olhando de um lado para o outro na tentativa de engolir as lágrimas.
     - Eu não me recordo de nenhuma Elektra, sinto muito - A enfermeira se afasta aos poucos quando Victoria percebe a aliança em sua mão.
     - É casada? - A pulsação de Claire aumenta, então ela vira o rosto um pouco receosa.
     - Sou sim, casei há algumas semanas.
     - Meus parabéns, você deve estar muito feliz - Comentou a mulher, se aproximando como uma simpática despretenciosa.
     - Estou, mas não tenho muito tempo para passar ao lado dele.
     - Se eu fosse você, aproveitaria a chance, eu nunca tive um homem para poder chamar de meu. É triste, mas vou lidar com isso até ter meus trinta gatos e encontrar os primeiros fios brancos na cachola.
     - Obrigada pela dica, espero que consiga reencontrar sua prima - Desejou Claire voltando-se para um corredor agitado.
     - Obrigada, e boa sorte com seu casamento - Assim que a enfermeira segue seu caminho, Victoria balança a cabeça em negativa e segue para a saída do hospital, discando um número em seu celular enquanto pensa em seus próximos passos.
     Foggy termina outro copo de cerveja quando Matt entra no bar e o encontra decepcionado. Ele se dirige ao amigo com certa desconfiança, mas não tarda a se sentar ao seu lado.
     - Foggy, que merda pensa que está fazendo?
     - Hã? Oi Matt, quer uma cerveja?
     - Nós temos dinheiro para pagar cervejas? - Retrucou Murdock indignado.
     - Hora, se você tem dinheiro para pagar dívidas de lanche - Matt encontra a cadeira ao apalpar o ar e se senta ao lado do amigo.
     - Não, eu não quero uma cerveja quero que me explique o que aconteceu na audiência que vocês não avisaram que seria hoje - Pediu o advogado tirando o casaco e pendurando-o atrás da cadeira.
     - Não queríamos atrapalhar seu início de casamento - Esclareceu Nelson girando seu copo na mesa antes de revirar-se pela cadeira à procura da atendente - Daisy, mais cerveja.
     - Foggy, se fosse para escutar mentiras eu ainda estaria conversando com a Karen - Declarou Murdock enfurecido.
     - Ás vezes esqueço que você é um detector de mentiras humano - Comentou Nelson erguendo o copo para que a mulher o enchesse uma vez mais.
     - Não é bem assim e você sabe. Se trata de interpretação de dados, mas não precisei usar disso para saber que está mentindo. Agora me diz, por acaso estão me afastando? - Nelson se mantém em silêncio por algum tempo, intercalando seus olhares pensativos com os goles de cerveja descendo garganta abaixo.
     - A Karen pediu esse favor - Confessou Foggy tomando outro gole de cerveja - Ela ainda está aceitando você e a Claire, mas não conta pra ela por favor.
     - Quê isso cara, você me conhece. Queria que fosse mais fácil para ela aceitar.
     - Isso está afetando nossa sociedade de certo ponto de vista - Matt respira com atenção, levantando-se de sua cadeira e se aproximando do amigo - Matt? Está me ouvindo?
     - Desde quando está com esse casaco?
     - Sei lá - Respondeu Foggy sem entender a reação do amigo.
     - É sério Foggy - Ressaltou Murdock engrossando a voz.
     - Fui com ele ao trabalho todos os dias dessa semana - Revelou Nelson em baixo tom - Fala mais baixo, ninguém precisa saber que estou usando a mesma roupa todos os dias.
     - Quem foi ao escritório ante-ontem?
     - Como?
     - Quem foi ao escritório ante-ontem? - Repetiu Murdock aproximando seu rosto do amigo.
     - Um cara forte, louro, disse que era novo na cidade e que estava procurando emprego - Explicou Nelson se lembrando de trechos da conversa.
     - Ele disse onde morava?
     - Não. Matt, por que está interessado nesse cara? Karen te contou?
     - Não, o cheiro dele está nas suas roupas. Jornais velhos, hortelã e pasta de amendoim vencida.
     - O que você quer com esse sujeito? - Perguntou Foggy, mas Matt já havia pego o casaco e se retirado do bar, restando ao pobre Nelson pedir outra cerveja e continuar bebendo.
     Em seu escritório particular numa esquina domiciliar de Nova York, Wilson Fisk caminha por livros velhos, mesas empoeiradas e móveis clássicos. O cheiro de mobília de luxo é evidenciado conforme adentra os cômodos, mas ele não se dá ao trabalho de analisar o ambiente até chegar em uma área de serviço. Ele retira o pó da mesa e espera um segurança se apresentar para tomar a atitude de se sentar na cadeira mais próxima.
     - Senhor Fisk, tem uma mulher querendo falar com o senhor.
     - Diga que não quero falar com ninguém agora - Pediu Wilson sem interesse particular em comunicação, mas o segurança continua parado à sua frente.
     - Ela marcou hora.
     - Entendo. Mande-a entrar - O segurança se retira e a mulher entra sem esperar um segundo sequer por trivialidades formais.
     - Senhor Fisk, vejo que está se recuperando do tombo mais rápido do que esperávamos - Comentou Victoria Hand se apresentando com uma expressão cordial e ajeitando os óculos sobre o nariz arrebitado.
     - Senhorita Hand? O que faz aqui?
     - Nós o tiramos da prisão - Afirmou a mulher com arrogância.
     - Meus leais servos me tiraram da cadeia, não vocês - Afirmou Fisk organizando a ordem de alguns livros e cadernos enquanto dialoga com a mulher.
     - Estamos curiosos para saber como será sua participação em nossos negócios agora que nosso colaborador falhou.
     - Falhou foi? - Não fiquei sabendo de nada, estive preso por mais de dois anos e nenhum de vocês se dignou a me ajudar, mostrando o quanto estão se fodendo pra mim.
     - Veja bem Fisk, nosso capanga falhou em matar uma pessoa que pode trazer problemas para a organização a qual faço parte, o que significa problemas para você.
     - Problemas? Que problemas podem oferecer a um cara que perdeu tudo?
     - Você ainda é o dono de Nova York.
     - Mas minha mulher não pode pisar aqui, meu amigo está morto e minha pobre mãe está desfalecendo aos poucos.
     - Todos temos nossas perdas - Afirmou Victoria limpando as lentes de seus óculos.
     - Eu não voltarei para a prisão. Se quer alguém morto, faça você mesma.
     - É o que pretendemos, mas não podemos tomar essa decisão sem pedir sua permissão, Rei do crime - Fisk se levanta com ar de desconfiança, puxando a mão de Victoria com força para beijá-la carinhosamente.
     - Foi um prazer poder recebê-la, senhorita Hand. Diga aos seus superiores que eles tem permissão para matar esse péssimo agente que vocês contrataram - Hand sorri agradecida, mas sua expressão ganha um ar agonizante quando Wilson aperta seu pulso com força - É bom que pensem duas vezes antes de armar contra mim. Em caso de traição, pretendo ser menos gentil do que costumava ser - Depois de dar seu recado, Wilson solta o pulso de Victoria, que se dirige apressada rumo à saída do escrigório enquanto Fisk tira um pouco de pó com seu dedo agora encardido.
     Em uma delegacia de Hell's Kitchen, três policiais conversam assustados sobre o indivíduo preso na noite anterior.
     - Leonard Nate. Esse cara é um mestre em matar. Tem uma ficha com homicídios cujas armas dos crimes são simples objetos domésticos. Clipes, grampeadores, tubos de canetas, toalhas, pregadores. Tudo se torna uma arma letal em suas mãos.
     - Queria entender como esse sujeito esteve solto por tanto tempo - Exclamou o segundo policial incrédulo. No interior de sua cela, Leonard assobia uma música instrumental, irritando seu colega que está sentado há poucos metros dele.
     - Dá pra parar com essa porra? Esse lugar já é um saco sem babacas feito você para incomodar - Leonard continua assobiando sem dar atenção ao sujeito meio barbudo, o que o deixa ainda mais irritado - Você é surdo seu filho da puta? Eu mandei calar a boca - Nate continua assobiando, até que o homem se levanta e tenta esmagá-lo contra a parede. Nesse instante, Leonard apanha seu braço e o contorce, passando o membro por entre as barras de contenção e quebrando-o na junta divisória, prendendo o sujeito que berra em agonia antes de arrancar seu cinto fora e enrolá-lo na mão.
     - Não se manda um sujeito calar a boca quando ele escuta Ludwig Van, é um pecado contra a natureza.
     - Quem é você?
     - Sou o filho da puta que está te dizendo para calar a boca enquanto os policiais tentam tirar braço fodido da cela para enfim te levar ao hospital mais próximo - Explicou Leonard voltando para seu lugar fingindo não ouvir os gritos do companheiro de cela enquanto alguns policiais se aproximam para averiguar a situação e pegam uma chave para tentar tirar o braço entortado das barras. Um policial alto, robusto e com perfil intimidador se aproxima dos demais presos com olhos de águia, atento a cada detalhe nos presos, principalmente ao assobio irritante de Nate.
     - Quem foi que fez isso? - Leonard encara cada um dos presos com um olhar frio e ameaçador, então todos respondem negativamente para o policial, que se junta aos colegas para retirar o braço do preso da grade enquanto Nate sorri vitorioso, assobiando ao som dos gritos de dor promovidos pelo colega com o braço torto ao longo das barras da cela. Aquilo sim era música para seus ouvidos.
     Foggy sobe as escadas de seu escritório com o casaco entre as mãos e uma expressão acabada ao passar pela porta e ser encontrado por Karen.
     - Foggy, meu Deus, o aue aconteceu?
     - Eu estou bem, só acho que bebi demais - Brincou o advogado cambaleando perto da mesa antes de ser salvo pela amiga.
     - Espera aí, vou te ajudar - Page puxa uma cadeira para Nelson e logo ele se senta na mesma enquanto a jovem secretária corre para buscar um copo com água. Foggy ingere toda a aágua sem dificuldades, mas engasga com o último gole - Agora me diz o que aconteceu. Você encontrou o Matt?
     - Matt? Não, não o encontrei - Mentiu Foggy secando o excesso de suor.
     - Cretino. Ele disse que iria te procurar, para onde ele foi?
     - Não sei - Afirmou Foggy quase em seguida à pergunta ter sido feita.
     - Deve ter ido ver a Claire. É mais importante do que saber se o Fisk está atrás das grades - Comentou Karen sentindo um forte incômodo.
     - Não é por aí, essas são suas palavras, mas não seu desejo - Observou Foggy largando a maleta no chão.
     - Matt tem se importado com alguma coisa além dele próprio nesses últimos tempos?
     - Ele está fazendo o que acha melhor.
     - Mas as pessoas sofrem e ele não faz nada.
     - Você sempre foi a que menos apoiou essa ideia de Matt ser o Demolidor - Recordou Nelson se levantando da cadeira bastante tonto - Eu sei que esse momento está sendo difícil pra você, mas vai ter de superar.
     - Eu já superei o Matt, só não superei o que ele fez comigo. Eu me preocupei, cuidei, zelei, até limpei e arrumei essa porra de escritório por ele e tudo que ele fez foi me dispensar feito lixo - Desabafou a jovem tentando conter as lágrimas, mas Foggy a abraça carinhosamente, o que a deixa mais à vontade do que nunca.
     - Olha, eu sei que você está frustrada, então pode chorar. Chora vai. Alivie a pressão em si mesma. Eu sei que estou fedendo a cerveja mas pode chorar em cima de mim - Karen deixa suas lágrimas entristecidas correrem por seu rosto de encontro à camisa suada de Foggy, que dá tapas sutis nas costas da amiga antes de se desvencilharem renovados.
     - Obrigada por tudo - Confessou sorridente enquanto seca as lágrimas com as mãos avermelhadas.
     - Amigo é pra essas coisas.
     Do outro lado da cidade, um sujeito de expressões fechadas, cicatrizes pelo rosto, blusa azul escuro e cabelos louros caminha entre as pessoas desconfiado, e com razão. Ele entra no cubículo que é seu apartamento, trancando a porta como de costume e apanhando um de seus lançadores em forma de lua.
     - Soube que estava atrás de mim - Declarou o sujeiro com um sorriso vitorioso.
     - Eu conheço uma pessoa que você tentou matar - Afirmou o Demônio de Hell's Kitchen surgindo nas sombras com seu antigo uniforme preto.
     - E quem seria essa pessoa?
     - Matt Murdock.
     - Vamos falar a verdade? Eu jamais tentaria matar aquele advogadozinho, mas fui pago para matar outra pessoa.
     - Por que não completou o serviço?
     - Por que eu não conseguiria matar alguém em um casamento. Além do mais, estava farto de ser o matador deles.
     - Por que queria matar Claire Temple?
     - Por que ela sabe demais - Afirmou o homem sentando-se em uma cadeira e guardando seu dispositivo - Aquela mulher sabe de coisas que podem expor muita gente importante.
     - E por que mudou de ideia?
     - Por que não sou o que eles pensam que sou.
     - Mas você tira vidas.
     - Apenas as piores.
     - Você é o Fantasma da lua.
     - Fantasma não, Cavaleiro da lua.
     - Por que fazer isso? Se vestir de branco e sair por aí matando os criminosos?
     - Por que você sai por aí vestido de demônio?
     - Meu pai foi morto por não ter cumprido um acerto de contas com marginais - Revelou o Demolidor caminhando silenciosamente pela cozinha - E você?
     - Meu filho foi morto há três anos.
     - Então você não queria matar Claire Temple? - Questionou Matt aproximando-se do Cavaleiro.
     - Não, tudo que fiz foi para me infiltrar na organização.
     - Organização?
     - Pessoas que tem um plano que pode colocar em risco todas as pessoas desse mundo.
     - E você quer enfrentá-los sozinho?
     - Não. Não se enfrenta eles, ou se está com eles ou está morto. A partir do momento que desisti de matar sua mulher, eles me marcaram como um traidor, um cara que perdeu o direito de permanecer vivo - Os batimentos de Matt se aceleram, mas o sujeito o acalma brevemente - Não se preocupe. Quando quiser qualquer coisa, procure por Marc Spencer e, sua secretária é uma boa pessoa.
     - Como sabe quem eu sou?
     - Digamos que eu tenha a voz de um deus egípcio na minha cabeça. A cada ciclo lunar eu recebo habilidades aprimoradas. Tudo o que eu sei se amplifica e eu me torno um tipo de máquina sanguinária. Ele quer que eu mate, não importa quem seja, mas eu prefiro matar quem não deve viver. Gente como o assassino do meu filho.
     - Me desculpe por incomodá-lo, senhor Spencer e obrigado pelas informações.
     - Uma coisa Murdock, fique esperto com sua garota. Quem quer ela morta não vai demorar para mostrar as garras - O demolidor se retira do pequeno apartamento, deixando Marc sozinho nos dois cômodos escuros. Ele olha seu calendário com notória apreensão, toma alguns goles de sua cerveja barata, prepara seu equipamento, então ouve uma batida na porta. Pronto para atacar quem que estivesse ali, Marc abre a porta com o semblante fechado, se deparando com uma pessoa que definitivamente não queria ter visto.
     - Victoria, o que você quer?
     - Saudades de você Marc, não retorna mais minhas mensagens.
     - Nem as suas, nem as de ninguém da organização - Completou Spencer sem sentir-se ameaçado - O que você quer?
     - Deixamos uma tarefa em suas mãos e você não a cumpriu. Claire Temple está viva e com saúde.
     - Eu não pude matá-la - Afirmou Marc com seriedade.
     - Por favor, não finja que existe humanidade em você. Pelas leis da organização, você é um traidor.
     - Se vocês quisessem me matar, teriam enviado qualquer um no seu lugar.
     - Eles querem te dar uma chance de redenção. Já que você se considera um homem "convertido", faça o que achar melhor para forçá-la a revelar o que sabe sobre o paradeiro de Elektra Natchios. Você tem três dias.
     - Por que tanta pressão?
     - Outro de nossos colaboradores não cooperou como previmos e estamos apertando o orçamento. Mais gente pra morrer, mas desta vez tiramos você da jogada.
     - Se você está aqui, é por que há outros.
     - Sim, e eles estão por toda parte, aguardando o momento de agir. Infelizmente um deles foi pego e estamos tentando converter a situação a nosso favor.
     - Deixe-me adivinhar, Leonard está na cidade.
     - O que foi? o Fantasminha ficou com ciúmes? - Brincou Victoria com um sorriso debochado - Eles querem que prove que ainda faz parte do ideal, então deixarão você continuar com suas tarefas de bom samaritano.
     - Querem que eu prove? Pois bem - Marc pigarreia em alto e bom som antes de declarar - Salve o Martelo.
     - Assim que eu gosto, soa até excitante quando você fala - Exclamou Hand esfregando a mão no peitoral de Spencerv mas este se desvencilha da mulher e a empurra para fora.
     - Já tem o que você quer, agora caia fora - Victoria sorri com diversão enquanto segura o pulso dolorido.
     - Você costumava ser mais divertido, seu filho da puta desprezível.
     Em uma sala de interrogatório, cinco policiais se distribuem desarmados ao redor de uma mesa onde está Keonard Nate enquanto o mais alto, um negro de cabelo curto, se senta para conversar com o sujeito.
     - Aquilo que você fez com o coitado vai render uma pena perigosa para você - O psicopata ri com indiferença.
     - Acha que entrar nessa sala sem uma pistola muda alguma coisa pra mim? Matar é uma arte e eu a faço por hobby, embora às vezes isso me renda alguma grana. Mas sabe por que pagam tanto? Por que nenhum filho da puta me provém equipamento militar de última geração. Me considero um artista nato por que não preciso de nada além de uma carta de baralho para esfolar uma pessoa até seu último suspiro.
     - Está confessando seus crimes?
     - Não estou confessando porra nenhuma. Quero meu maldito telefonema e quero uma lista com os escritórios de advocacia dessa cidade.
     - Quem vai querer defender um aborto feito você? - Zombou um policial de corte militar, mas Leonard ignora o comentário.
     - Mas você já teve deu telefonema - Afirmou o policial negro intrigado.
     - Eles me ligaram, eu não liguei para ninguém.
     - Que seja, não fará diferença mesmo.
     A noite cai e um homem vaga sozinho pelos corredores de um hospital enquanto enfermeiros e pacientes passam por ele sem reparar sua presença. O sujeito entra em um quarto cujas luzes estão apagadas, fecha a porta sem emitir ruído, então pega uma almofada e a comprime contra o rosto do paciente, observando atentamente o decorrer do ritmo cardíaco até o aparelho mostrar um zero vermelho que serve de alerta ao sujeito. Rapidamente ele pega um carimbo com o formato de lua e marca a testa de sua vítima com uma lua, rasgando a pele onde o carimbo fora feito. Ele ouve passos de aproximação, mas antes que possam pegá-lo em flagrante, Marc Spencer está do lado de fora da janela com uma blusa branca, vestindo uma máscara tão clara quanto a lua e encarando a fase crescente com louvor.
     - Acho que não vou me esborrachar demais - Sem hesitação, o vigilante se joga do quinto andar e cai ileso no chão antes de seguir com sua fuga, deixando assim tanto o hospital quanto sua vítima.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam desta segunda parte? O que Marc pretende fazer? Quais as intenções de Victoria Hand e da organização que serve? O que mais esperar de Leonard?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Murdock - O retorno e a queda de uma lenda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.