A consciência além do tempo. escrita por Julia Leicester Sotero


Capítulo 8
E a minha decisão é...




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Harry acordou suando. Mal conseguia acreditar que estava em um pesadelo.
O jovem passou a mão em seus cabelos suspirando fundo, já mais calmo. Teria que ser bem mais forte e não podia se dar o luxo de achar que tudo estava perdido.
Se bem que eu nem sei o que fazer para consertar isso tudo... pensou, mas tratou de afastar essa energia negativa de si. Ou ao menos escondê-la no mais fundo que podia de sua mente.
Embora quisesse ficar ali mais um pouco, afastado do restante do mundo com sua preguiça, Harry tratou de levantar sentindo a dor de ter adormecido de qualquer jeito. Ele pegou o mapa do maroto do bolso da calça emprestada por Riddle e pronunciou a tão dita frase:
— Eu juro solenemente não fazer nada de bom.
Por só haver quatro pessoas no castelo, contando consigo mesmo, Harry não teve dificuldade em localizar o nome dos professores e do futuro lorde das trevas. Ele não queria responder nenhuma pergunta sobre onde esteve durante as últimas horas. Preferia voltar para as masmorras onde Dumbledore pretendia mantê-lo até que o diretor do tempo atual chegasse.
Para o alívio e desespero de Harry, Riddle havia saído da sala comunal da sonserina. Só teria que evitar encontrar com o rapaz e chegar nas masmorras antes dele. Seria como uma brincadeira de gato e rato, mas Harry tinha uma vantagem. O problema começou quando Riddle subiu para o segundo andar.
— Merda, será que o idiota está vindo para cá? – E para onde mais ele poderia estar indo?
Para sorte do jovem Potter, Dumbledore vinha na direção oposta na do rapaz. Ao julgar pelo fato de que Riddle parou de andar assim que o nome do outro homem apareceu a alguns centímentros de distância do dele, Harry deduziu que o velho professor o parou para conversar. Era a sua chance de sair dali.
Estando localizado um corredor a frente dos outros dois, o jovem precisava ser rápido. Ele tentou correr para deixar a sala com estátuas de cobras com mais rapidez, porém, todas aquelas pedras e túneis quase o fizeram se perder. Quando finalmente alcançou o buraco por onde entrara, pronto para lançar um feitiço que o faria flutuar e abandonar aquele local, Harry acabou tropeçando nas pedras e caiu por cima de seu braço cuja a mão estava machucada. Soltou um grito abafado e pequenos gemidos de dor. Sua mão começou a arder como se estivesse rasgada. Aquilo era quase insuportável. Além disso, por cair em cima de ossos e pedrinhas afiadas seu rosto acabou por ser ralar.
O garoto fez um tremendo esforço para se levantar e cambalear até a saída. Murmurou fracamente o feitiço que o fez levitar de volta para o banheiro feminino. Conferiu mais uma vez no mapa para ter a certeza de que Dumbledore e Tom continuavam conversando no mesmo local. O Outro professor permanecia em sua sala de poções. Rapidamente, Harry saiu correndo dali, tentando apagar qualquer vestígio de sangue que tivesse deixado no lugar acidentalmente.
Seu corpo protestou pelo esforço de correr, mas o rapaz continuou. Apoiava a mão contra o abdômen na tentativa de evitar mexe-la. O jovem garoto continuou a correr, descendo as escadas e torcendo para que elas não mudassem, seguindo direto para a masmorra. Quando já estava no corredor certo, Harry olhou o mapa novamente só para confirmar que ninguém vinha do outro lado.
— Que droga, Riddle... – Aparentemente o rapaz conseguiu se desvencilhar de Dumbledore pois ele estava apenas a alguns passos de virar no mesmo corredor.
Potter se adiantou e correu para dentro do salão comunal. Subiu apressado as escadas entrando no primeiro quarto que viu. Murmurou um feitiço que trancou o local e ficou deitado sobre uma das camas, a mais afastada da porta diga-se de passagem, esperando que Riddle entrasse na sala e fosse direto para o próprio dormitório.
— Harry, eu te vi entrar! Apareça, pirralho!
A personificação da sorte me odeia... E Pirralho, sério...? Ele precisa aprender a xingar melhor... aparentemente, o meu repentino desaparecimento o deixou de mal humor.
— Dumbledore me deu um esporro por não te ver sair sabendo que você estava “machucado e fraco” – disse o mais velho frisando as últimas palavras com ironia.
Ah, bom saber que ficar tendo um pesadelo por horas serviu de alguma coisa...
Harry ouviu passos nas escadas e o barulho estridente das portas dos quartos serem abertas com violência. Riddle estava se aproximando. Potter notou o padrão com que o sonserino abria os dormitórios e ao perceber que ele apareceria ali em questão de segundos, se jogou no vão entre a cama e a parede.
No mesmo instante, a porta foi escancarada. Tom adentrou o quarto e balançou sua varinha no ar fechando as janelas e voltando a trancar o cômodo:
— Sei que está aqui! Por favor, não me deixe procurar por você e apareça por bem! – O tom de voz do sonserino não escondia sua irritação.
Harry percebeu que não havia nenhuma outra escolha a não ser aparecer. Ele se levantou do chão e ficou de pé, segurando a própria mão e apoiando-se na parede. Riddle caminhou em sua direção furioso.
— Onde você se meteu?! Faz ideia de que o velho me obrigou a te procurar pelas últimas quatro horas por todo o castelo?!
Tom afastou a mão machucada de Harry de perto do abdômen do rapaz. Segurou o braço machucado do garoto com força, esquecendo-se que o mesmo havia levado uma surra.
— E qual era o tamanho da merda que tinha na sua cabeça – O sonserino segurou o queixo do mais novo, que retraiu-se com toda a brutalidade, fechando os olhos – quando você jogou todo o meu trabalho no chão?!
A força excessiva de Tom fez com que Harry gemesse de dor.
— Me responda!
— Então me larga!
Tom soltou o rosto do mais novo e aliviou o aperto no braço, porém manteve sua expressão séria e irritada:
— Riddle, eu só queria ficar sozinho. Saí e fiquei rondando algumas salas. A gente deve ter se desencontrado, só isso! Ninguém me disse que eu deveria ficar trancado aqui!
— Ninguém disse porque se presumiu que você chegasse a essa conclusão sozinho! E não estou convencido de que esteja me falando a verdade!
— Bom, mas eu estou! Eu não queria ficar aqui pois você me disse coisas bem cruéis! Aliás, admito que baguncei suas anotações e frascos pelo chão! O motivo foi esse!
Tom finalmente soltou o garoto. Harry voltou a segurar a própria mão e escorregou até o piso. A dor havia piorado com a violência de Riddle.
O sonserino passou a mão na cabeça respirando fundo.
— Ah, olha, eu não quero te machucar... – não ainda. Tom precisava da ajuda do garoto. – mas por favor não saia sem me avisar. E nunca mais desconte sua raiva nas minhas coisas.
— Não foi você que insinuou que eu deveria tomar as devidas providências sobre o tratamento que recebo? – disse Harry ofegante.
— Eu deixei bem claro que falava de seus tios.
— Ué, e daí? Qual foi a diferença entre o modo como eles me trataram e a crueldade das suas palavras? O que é diferente disso que acabou de fazer? – Harry indicou o braço insinuando o aperto de Riddle sobre seus hematomas.
Tom percebeu o jogo do mais novo. Harry estava se aproveitando de sua exaltação para tentar provar que ele estava errado, em uma tentativa de demonstrar que ele podia ser tão cruel quanto seus tios. Que um bruxo podia se igualar a um trouxa.
— Bom, não vou culpá-lo. Apesar de eu ter dito tudo para o seu bem, é normal que você veja com maldade.
— maldade? A palavra certa é realidade.
— Não, você quer me comparar com seus tios abusivos porque está magoado comigo. Quer dizer que sou repugnante igual a eles.
— Meu braço agradece o tratamento.
Tom encarava o rapaz que permaneceu de olhos fechados por conta da dor:
— Eu não sou igual ao seu tio, Harry.
O moreno de óculos abriu os olhos pronto para responder quando Riddle ergueu seu rosto com os dedos e apoiou seu braço machucado no seu próprio para deixá-lo mais confortável:
— Me desculpa, Harry. Eu não tinha o direito de piorar seu estado psicológico. Realmente pensava no seu bem, me dói saber que uma criança como você já sofreu tanto na mão de trouxas e mesmo assim insiste em defendê-los. Eu também não tinha o direito de te assustar e ser tão abusivo... às vezes me exalto desnecessariamente. Não queria te machucar.
O olhar e o tom suave do sonserino demonstravam carinho, empatia e arrependimento. Todas as coisas que Harry sabia que Voldemort não tinha. E apesar de saber que era tudo um jogo de ilusão, a sensação que Riddle lhe estava causando era de tranquilidade e proteção.
O jovem Potter nunca vai admitir mais sentiu uma enorme admiração do futuro lorde. Toda aquela capacidade de manipulação, desde os gestos até a escolha de palavras, demonstravam o tamanho do poder e da inteligência do garoto. Só o fato do rapaz ter admitido estar errado e se desculpar já anulavam as comparações de Harry entre ele e Válter Dursley. Tom sabia exatamente o que dizer para ganhar uma discussão e virar o jogo a seu favor. E foi pensando nisso, que Harry percebeu que apenas alguém que tinha aquelas habilidades seria capaz de descobrir um meio de fazê-lo voltar para seu tempo.
— Harry eu realmente sinto muito... não vou pedir que me perdoe pelo meu comportamento agressivo, mas me escute quando peço para que não saia andando pelo castelo. Pode ser?
Toda aquela tranquilidade devastadora... Harry sabia o quão brilhante era, quando apesar de saber toda a manipulação, não conseguia contradizer o sonserino em voz alta.
— Tom.
Aquela fora a primeira vez que Harry chamou Tom pelo primeiro nome e ele percebeu. O maior estava sorrindo vitorioso por dentro, sabendo que havia vencido mais uma vez.
— O quê, Harry?
Potter endireitou-se apoiando melhor suas costas na parede antes de falar:
— Eu tinha voltado para cá com uma resposta para a sua proposta. Mas depois de toda essa situação, eu a repensei internamente várias vezes.
Tom queria sair comemorando do quarto. Ele foi tomado por uma onda imensa de alegria. Entretanto, forçou uma cara triste e desviou o olhar do de Harry:
— Se eu fosse você pensava mais um pouco e – Não completou a frase, sendo interrompido pelo mais novo.
— Eu aceito. Vamos tentar do seu jeito.


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