A consciência além do tempo. escrita por Julia Leicester Sotero


Capítulo 7
Sobrecarregado




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Harry encarava Riddle sem entender. Como o rapaz poderia ajudá-lo? Já menos estressado e mais interessado, o garoto tentava saber mais sobre o que Tom poderia fazer que fosse beneficiá-lo. Claro, Harry não estava pensando em ajudar o sonserino com seus planos maléficos, mas não custava nada fazê-lo dizer qual era a forma de viajar para o futuro. 

— Como exatamente isso seria possível? 

O rosto de Tom se iluminou: 

— Isso significa que a sua resposta é um sim? 

O jovem Potter bufou e revirou os olhos em resposta. Riddle realmente tinha esperança naquilo. 

— Não. Isso só significa que eu quero saber como seria possível viajar de volta para 1994. 

Tom arregalou os olhos. Ele parecia inspecionar Harry de cima a baixo, como se por reflexo: 

— Você viajou cinquenta anos no passado... não é à toa que diz coisas como “fuçou”. 

Harry suspirou irritado consigo mesmo. Havia falado mais do que devia. É claro, Riddle ainda estava sobre o efeito do soro da verdade mas quando perguntado sobre o que havia visto na mente do mais novo, ele não mencionou o ano em que o jovem Potter vivia antes de ir parar ali. 

— Riddle, apenas responda a minha pergunta por favor... 

Tom deu um sorriso cínico.  

— Se quiser saber como vai ter que aceitar a minha proposta. Não direi nada sem ouvir um ‘sim’ saindo da sua boca. 

— Bom, isso não vai acontecer. 

Com isso, o sonserino levantou-se do local pegando a xícara de chá que quase o sufocara anteriormente. Ele fez um aceno com a varinha e todo o seu material de poções se organizou em cima do sofá. Depois se direcionou até a estante de fotos e consertou o vidro com a ajuda de um feitiço não-verbal. Estava de costas para Harry e caminhou até as escadas. 

— Então pode tentar voltar para casa sozinho. Mas você não irá conseguir – Então Tom seguiu para seu dormitório, mas antes parou na porta e disse uma última coisa com seus olhos verdes semicerrados – É provável que Dumbledore venha vê-lo mais tarde. Caso sinta dor ou precise de alguma coisa, me chame. Se pedir, irei te ajudar. Diferente de sua “família”. 

E com isso fechou a porta. 

Harry ficou com tanta raiva que quase tacou sua xícara em direção a porta do quarto de Riddle. Contudo, ao invés disso, ele se levantou e novamente espalhou o material de poções no chão. Depois saiu da sala comunal da sonserina com passos furiosos. 

 

Tudo o que o jovem Potter desejava, era um lugar no qual pudesse chorar o quanto quisesse sem ser visto ou incomodado. O que era terminantemente difícil pois não era para ele estar perambulando pelo castelo. Ali, em 1942, Harry teria que fingir não conhecer nada, nunca ter pisado ali. Mas não importava, ele não aguentava mais ficar perto de Tom Riddle, a versão adolescente do monstro que assassinou seus pais. Ou ainda viria a assassinar, talvez fosse uma melhor colocação. Toda aquela história ainda era extremamente confusa. 

Já deixando algumas lágrimas caírem, Harry virou os corredores chegando perto das escadas, próximo ao quadro da mulher gorda. As pessoas das pinturas pareciam não se importar com sua presença e o ignoravam, porém ver tudo aquilo no passado, estar tão perto do salão comunal da Grifinória só contribuiu para deixá-lo mais depressivo. O menino-que-sobreviveu queria poder se refugiar na sala de sua casa, contudo não fazia ideia da senha. Ele teria que achar outro lugar. 

Harry precisava de um lugar quieto, sem que tivesse risco de Dumbledore ou o tal Slughorn o encontrarem. Ele sabia que Riddle ficaria nas masmorras por um bom tempo ainda. Mas que lugar nem mesmo os professores de Hogwarts entrariam de surpresa? 

Mas é claro” Harry pensou. Subiu as escadas e virou em direção ao segundo andar, percebendo de longe que a porta o qual pretendia entrar estava trancada. 

— Alohomora. 

Harry apressou o passo olhando rapidamente para os lados e tendo a certeza de que ninguém estava por perto. Assim que ele empurrou a porta e murmurou um feitiço que a trancou novamente, virou-se para a entrada do local que quase foi seu túmulo um dia. Rapidamente sibilou a palavra “abra” com a ajuda de sua ofidioglossia. Sem pensar direito, assim que viu o grande vão aparecer pulou para dentro da escuridão, deixando o banheiro feminino para trás. 

A câmara secreta continuava assustadora. Mas não havia tantos ossos como na última vez. O lugar parecia um pouco mais arrumado sem tantas pedras jogas no caminho. Harry lembrou-se do que Riddle lhe dissera quando foi parar ali pela primeira vez: 

“Eu gastara cinco anos inteiros para descobrir tudo o que podia sobre a câmara secreta e encontar a entrada (...)! 

Isso significava que Tom havia acabado de achar aquele lugar, ele ainda não havia tido tempo de brincar no local com seu novo bichinho de estimação. 

O jovem Potter estremeceu só de pensar no basilisco, mas logo se deu conta que se Riddle não estava ali, a cobra gigante ainda estava escondida em sua toca e não “viria a menos que fosse chamado”. Não havia perigo. 

Ao passar pela segunda entrada, Harry se viu diante do enorme corredor com as estátuas de cobras e a enorme face ofídica à frente. A água ao seu redor parecia incrivelmente calma e os diversos túneis vazios. Ele pretendia continuar andando até a última coluna que erguia-se no canto superior esquerdo, entretanto, devido à sua fraqueza e estado de espírito abalado, o rapaz desabou no meio do corredor. 

Harry gritou o mais alto que podia, expondo sua raiva, sua dor, seu medo, sua confusão, sua fraqueza. Ele despejou todas as lágrimas acumuladas. Desde a fuga mal sucedida, a surra desnecessária, os hematomas humilhantes, até estar preso em 1943 com Tom Riddle. O menino-que-sobreviveu também usava seu choro para aliviar o peso das palavras cruéis do outro rapaz. 

Quem queria enganar? Sabia muito bem que não iria conseguir voltar para casa sozinho. E mesmo que conseguisse tudo estaria diferente, só pelo fato de Riddle ter lido sua mente. E então, no futuro ele seria mais poderoso? Ele nunca terá desaparecido nas sombras? Tom seria invencível? Essas eram coisas que o jovem Potter queria muito não pensar. Afinal,o sonserino iria matar seus pais e tentaria o mesmo consigo, mas se ele soubesse que Harry iria sobreviver e atrapalhar seus planos futuramente, talvez nunca fosse atacá-los. 

Talvez eles fiquem vivos... ou talvez Voldemort os mate antes mesmo que Lílian possa engravidar de Harry. Fazendo assim com que ele nunca passe a existir... 

“Chega!” Harry não aguentava chegar as mais terríveis conclusões precipitadas. Contudo, o jovem Potter sabia que se ele tinha capacidade para pensar daquele jeito, sem dúvida o futuro lorde das trevas também tinha. Conforme os anos fossem passando, Tom se lembraria do garoto que viajou cinquenta anos no passado e quase o matou acidentalmente com uma poção em seu chá. Se ele soubesse que o pirralho que o enfrentou seria capaz de pará-lo quando fosse apenas um bebê, se asseguraria de não permitir que o mesmo nascesse para começo de conversa. 

Mas isso também não afetaria o tempo? Se Voldemort impedisse Harry de nascer, como ele viajaria ao passado permitindo que o lorde descobrisse sobre parte do futuro? 

 Aquilo já estava dando uma bela dor de cabeça para o jovem que acabou por deitar-se naquele chão imundo. Não se importou que ali fosse a câmara secreta, muito menos que um basilisco deve de ter rastejado várias vezes por aquele chão anteriormente. Só queria descansar e esquecer tudo aquilo. Acabou por adormecer no local em uma posição pouco confortável. Mas por causa de Válter Dusley, nenhuma outra posição seria diferente. 

Harry acabou tendo a falta de sorte de ter pesadelos. Em sua cabeça a surra que levara se repetia, mas com a figura feia de seu tio transformando-se na de Riddle. O discurso de ambos mesclava-se, como se o vira-tempo tivesse se quebrado ao ponto de prendê-lo naquele momento em um loop infinito. Ele podia ouvir vozes de pessoas familiares, como Hermione, Ron, os gêmeos, Sirius... Elas iam ficando mais baixas até desaparecessem por completo, até que Harry não fosse mais capaz de recordar quem eram. 

Ele ficou sendo torturado dentro de sua própria cabeça por horas, impossibilitado de acordar. 


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