A consciência além do tempo. escrita por Julia Leicester Sotero


Capítulo 2
Uma não fuga... Duda... Vira-tempo quebrado.




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Uma semana já havia se passado desde que Harry voltou a morar com os Dursley. Desde então, ele permaneceu quieto, na maioria das vezes em seu quarto, evitando chamar a atenção do tio.

Era domingo e ele havia acabado de acordar cedo, o sol mal havia nascido. O garoto permaneceu deitado olhando a gaiola vazia de Edwiges. Sempre soltava a coruja durante noite para que ela pudesse caçar. Seus olhos então foram de encontro com o vira-tempo de Hermione em cima da cômoda.

Depois da surra que levara no primeiro dia ali, Harry sentiu um incômodo na nuca quando finalmente seu tio deixou o quarto, trancando-o ali, sem o deixar tomar um banho ou comer alguma coisa depois de voltar de viagem. O jovem não apanhara no pescoço por isso estranhou, e, ao tocar o local, sentiu o colar ainda em si. Chegando à conclusão óbvia de que tanto ele quanto Hermione haviam esquecido de que o vira-tempo estava com o moreno, Harry suspirou cansado e levantou para escrever uma carta avisando à amiga:

Querida Hermione,

Esqueci de devolver seu vira-tempo. Não se preocupe, eu vou tomar cuidado para que os meus tios e o Duda não o acharem. Eu te devolvo na casa do Rony, quando formos para a copa mundial. Sim, isso significa que eu vou.

Mas e você? Chegou em casa bem? E o bichento? Acho que no fim das contas teria sido uma boa ideia termos deixado ele comer aquele rato (risos).

Sinto sua falta, então por favor me responda logo.

Com amor, Harry.

Harry enviou a carta pouco tempo depois sabendo que Hermione estaria se descabelando por provavelmente achar ter perdido o colar.

Harry não havia perguntado se poderia ir ou não à copa mundial. Ele pretendia simplesmente sair daquela casa e fugir para a toca o quão antes pudesse. Seu tio o enrolou as férias anteriores inteiras para assinar a permissão para visitar Hogsmeade e no fim Harry foi como clandestino. Dessa vez não seria diferente. Tudo que o menino precisou fazer foi avisar a Rony, sem dúvida eles e o gêmeos poderiam elaborar um plano de fuga.

Ao escutar passos do corredor à cozinha, Harry percebeu que sua tia já havia levantado. Logo era destrancaria sua porta e o mandaria fazer todas as tarefas daquela casa.

Todo domingo, Harry tinha que arrumar todos os cômodos daquela casa, exceto o seu próprio. Tio Válter fazia questão que tia Petúnia arrumasse para ter certeza de que “o pivete estranho” não estivesse escondendo nada de anormal. No ano anterior, o trouxa quase quebrara o caldeirão que usava nas aulas de Snape. Harry, lembrando-se disso, tratou de pegar o mapa do maroto, ainda em sua mala, e o escondeu dentro das calças. Dirigiu-se à cômoda e colocou o vira-tempo de volta no pescoço dentro da camisa. Vestiu um casaco por precaução. Sua varinha não precisava de um esconderijo já que tio Válter a confiscara depois da surra.

A porta é aberta abruptamente:

—  Vá se lavar e comece a arrumar o quarto do Duda! – Petúnia deu o recado e saiu.

Harry rapidamente foi ao banheiro e lavou o rosto. Ao olhar-se no espelho e ver a cicatriz em sua testa, pensou em seus pais e na saudade que sentia deles a todo momento. Ele suspirou triste por estar sozinho naquela casa. Sentiu também um nó na garganta ao lembrar-se que aquilo tudo era culpa de Voldemort. Ficou enjoado com tal pensamento. Já havia enfrentado o monstro duas vezes, uma delas ele não passava de um parasita patético e a outra era um adolescente. E isso não o tornava menos perigoso. Agora que Pettigrew estava à solta, Harry sabia que teria que ter mais cuidado dali em diante. Ele voltaria para o mestre e o menino-que-sobreviveu recusava-se a deixar que seus pais tivessem morrido em vão. Faria de tudo para sobreviver. Seja a Voldemort ou aos Dursley.

Assim que Harry terminou sua higiene, ele pegou todos os utensílios trouxas que iria precisar e foi para o quarto de Duda enquanto todo o resto tomava café da manhã na cozinha. Ele subiu as escadas e adentrou no cômodo já aberto.

Pobre Harry, se quisesse comer teria que se livrar de toda aquela imundície primeiro.

— Merda, Duda... – sussurrou.

De fato, parecia que Duda guardava a bagunça do ano inteiro apenas para Harry limpar quando voltasse de Hogwarts. A cama estava coberta de embalagens abertas, salgadinhos e roupa suja. O chão parecia ter esquecido de algum dia ter visto uma vassoura, com a poeira mais visível do que a cor do próprio piso. As paredes estavam manchadas de molho de pizza e... alguma outra coisa que Harry não soube identificar. Alguns dos objetos estavam quebrados e espalhavam algumas peças por ali. O bruxo nunca soube compreender como Duda podia encher tanto o saco por um videogame e deixá-lo quebrar menos de um ano depois. Ainda mais permitir que o objeto ficasse jogado entre o criado-mudo e cama e com suco derrubado por cima.

Se ele ao menos pudesse usar um feitiço... mas não. Bruxos menores de idade não podem fazer magia fora da escola. E mesmo que pudessem, Harry não estava com a sua varinha.

Então, sem muita alternativa, começou a arrumar aquele lugar. Aos poucos, ele conseguiria se livrar de toda a sujeira do porc...ah, quer dizer do Duda. Depois de um tempo, já dava pra saber que o piso era amadeirado e que existia uma lata de lixo vazia, soterrada pelas (eca) cuecas usadas do Duda.

Enquanto se livrava dos restos de comida, Harry achou uma sacola preta debaixo da cama. Ele a colocou em cima da cama e abriu querendo saber se era para guardar de volta ou jogar fora. Ela acabou revelando várias revistas.

— Mas o que é que... – Então o jovem Potter olhou novamente para o monte de cuecas usadas de seu primo. E depois para as revistas. E depois para as cuecas outra vez.

E então ele quis vomitar.

Mas é claro, que aquela pilha de revistas eróticas tinha que servir para alguma coisa. Harry simplesmente devolveu a sacola bem fechada para debaixo da cama e tentou esquecer os pensamentos que se formaram em sua mente. Provavelmente, tia Petúnia não sabia disso. O jovem bruxo tratou de continuar a limpeza do quarto como sempre fazia e sem mais imprevistos.

Duas horas mais tarde, quando Harry finalmente acabara de ajeitar o quarto de Duda, ele finalmente pôde sentar e comer alguma coisa. Seus tios não o deixavam comer na mesa e o mandavam subir. Ele até preferia assim.

Logo que se sentou na cama, Edwiges entrou voando pela janela, acompanhada de uma outra coruja.

— Arrow?

O moreno reconheceu a coruja dos Weasley, rapidamente deixou a comida de lado e se pôs a pegar a carta amarrada à pata da ave. Assim que desenrolou o pedaço de pergaminho tratou de ler, ao mesmo instante que Edwiges pousou em seu ombro:

 Caro Harry,

Fred e Jorge pensaram em um jeito de trazer você para cá. Apenas esteja na entrada da casa dos seus tios hoje a partir das seis. Eu não sei bem que horas vamos conseguir sair sem a mamãe ver, mas será entre às cinco e às sete. Lembra da última vez que pegamos o carro voador e ela descobriu? Bom, faça as malas e dê um jeito de pegar sua varinha de volta.

Não posso escrever muito agora, eu tenho que expulsar alguns gnomos do jardim. E escrever para Hermione também se não ela reclama. Às vezes ela é insuportável não concorda?

Ah cara, não responda essa carta, enquanto eu escrevia Percy apareceu e quase descobriu tudo. Eu disse que estava escrevendo para Hermione, o Arrow sempre erra o caminho da casa dela e por isso demora a voltar. Se essa coruja aparecer aqui hoje com uma mensagem sua já era. Não esqueça, mamãe só pode te ver no dia seguinte, caso contrário ela vai saber que fomos buscar você.

Nos vemos logo, Rony.

Harry quase pulou de alegria e abriu um sorriso de excitação. Ele só precisava de sua varinha.

Ele voltou para a cama e terminou o café da manhã enquanto pensava em um plano para recuperá-la. Sua mala teria que esperar até que fosse feita a arrumação da tia Petúnia

Já perto das cinco horas, Harry tinha acabado de arrumar todos os cômodos restantes e foi direto tomar um banho enquanto a família Dursley assistia televisão na sala. O moreno procurou pela casa, enquanto a arrumava, o lugar em que tio Válter poderia ter escondido sua varinha. Ele logo a achou dentro do pote de biscoitos “secreto” de tio Válter.

Ele dizia secreto porque acreditava que Harry não sabia onde ficava escondido e assim não poderia roubá-lo. Entretanto, o moreno sempre soube e nunca roubou nenhum biscoito, ao contrário de Duda. Justamente por ser supostamente secreto, Válter Dursley achou que seria um bom lugar para esconder o “graveto possuído” da “aberração” de seu sobrinho. O pote ficava escondido atrás do armário do quarto dos tios, tudo que Harry precisava fazer era pegar, abrir, retirar e esconder a varinha, guardar o pote de volta e sair dali.

Como os Dursley tinham o costume de assistir televisão até a madrugada durante o fim de semana, Harry decidiu que sairia pela janela de seu quarto para se encontrar com os Weasley já que tia Petúnia sempre o trancava à noite. O problema era que ele teria que esperar até às oito para que sua tia o trancasse e assim não correr o risco de alguém aparecer e estragar tudo. Então decidiu ficar vigiando a janela até bater o horário de sua tia o trancar.

Harry desligou o chuveiro e rapidamente se enxugou. Escondeu novamente o mapa do maroto e o vira-tempo consigo e terminou de se arrumar. Não tentou arrumar seus cabelos, eles sempre arrepiavam.

Subiu até o quarto dos tios e para a sua sorte a porta estava aberta. Harry espiou a sala para ter certeza de que todos estavam ali. Duda se levantou em direção às escadas. Harry entrou rapidamente no quarto e encostou a porta, espiando o que o primo queria. Felizmente, Duda passou reto o quarto dos pais e entrou no seu próprio.

Harry suspirou aliviado e correu para o armário. Enfiou seu braço pelo estreito espaço e puxou o pote.

— Tio Válter tem que repor os biscoitos – disse dando uma risadinha e pegando a varinha. Só de segurá-la, Harry sentia sua magia agitando seu corpo.

O menino-que-sobreviveu fechou e guardou o pote no mesmo lugar novamente. Escondeu sua varinha sob o casaco que usava e saiu do cômodo.

Harry já estava segurando a maçaneta de seu próprio quarto quando Tio Válter gritou:

— Pivete! Venha aqui imediatamente!

Harry congelou no local. Não era possível que tivessem visto ele saindo do quarto. Era?

— Eu não vou te chamar outra vez! Venha aqui!

Harry sem muita escolha seguiu o som da voz até chegar ao quarto de Duda. Toda a família Dursley estava lá. E tio Válter segurava o cinto.

“Não, por favor...eu só quero ir embora” pensou o jovem Potter antes de adentrar no quarto.

— Foi ele papai! Só pode ter sido! – A voz irritantemente acusadora de Duda soou. – Me devolva o que roubou de mim agora!

Harry ficou surpreso. Esperava ser acusado de roubo sim, mas de sua varinha e não de algum dos pertences de Duda.

— Eu não roubei nada. –  Disse olhando o tio, e depois direcionando seu olhar para seu primo – Eu não mexo nas suas coisas Duda!

Tia Petúnia deu um passo à frente:

— Como não? É você que arrumou o quarto! Se meu Dudinha está dizendo que alguma coisa está faltando é porque realmente está! E você, sua aberração, deve ter roubado!

— Sim, eu arrumei. Mas isso não significa que eu peguei alguma coisa! Eu faço isso há anos, não acham que eu já teria roubado alguma coisa antes? É provável que o Duda só tenha perdido uma de suas coisas.

Tio Válter se aproximou, com seu rosto inchado e vermelho, e segurou o braço do sobrinho com força desnecessária.

— Está nos chamando de mentirosos, pivete?! Como ousa responder sua tia que te cria desde que as aberrações que você chama da pais morreram?! – Válter jogou o menino para o lado, fazendo o cair no chão e bater com as costas na cama.

Harry tentou levantar, mas foi empurrado novamente:

— Nós, temos que te aguentar há 12 anos e é isso que nós ganhamos como agradecimento?! – O homem gira o cinto no ar e o desce no corpo do sobrinho indefeso. Fora tão rápido que Harry não pôde nem pensar em se proteger.

— Vou te ensinar uma lição, ladrãozinho!

Mais uma cintada, dessa vez Harry cobriu sua cabeça com as mãos. Porém isso não protegeu suas pernas e braços com as cintadas que vieram a seguir.

— Levanta, pivete, levanta! Apoie as mãos naquela cômoda, agora!

O garoto se levantou mas não foi em direção à cômoda. Ficou parado perto da cama, atordoado com o seu azar. Ele já tinha feito as malas, tinha pego a varinha de volta e os Weasley estariam ali dentro de algumas horas. Tudo estava indo bem até aquilo acontecer. O que naquele quarto poderia ser tão importante para Duda acusá-lo de roubo?

E então Harry lembrou.

— Duda – olhou para o primo com amargura e irritação – Eu não roubei nenhuma das suas revistas playboy. Pare de me acusar, só porque você perdeu e tem medo que sua mãe ache!

— Como é?! – Petúnia olhava de Harry para Duda com uma expressão de nojo – Meu filho nunca teria uma dessas...revistas indecentes!

Se tio Válter já estava com raiva, agora parecia a ponto de explodir Ele segurou o sobrinho pelo casaco e aproximou o seu rosto. Harry conseguia sentir o hálito fedorento do homem gordo.

— Como ousa acusar o Duda de algo assim! – Ele deu um tapa no rosto de Harry que levou o magrelo de volta ao chão. O homem chutou o estômago do sobrinho e o menino se contorceu. Válter se abaixou e deixou o garoto de bruços com a camisa e o casaco levantado, já iniciando as cintadas. Com esse ato a varinha escondida saiu rolando para perto do pé do Dursley.

— VOCÊ ROUBOU ISSO TAMBÉM! – Disse o velho gordo ao ver a varinha. Harry rapidamente a pegou, fazendo com que o tio do rapaz pisasse em sua mão até ele largar.

— Não há mais como você se defender! Esse graveto possuído é a prova de que você é um ladrão.

Harry gritou com o peso do homem sobre a sua mão. Seu tio esfregava o pé na tentativa do menino ceder, o que não aconteceu. Em uma distração de Válter, o garoto conseguiu se desvencilhar e esconder sua mão e a varinha debaixo de seu corpo. Isso só fez Válter voltar a golpear o rapaz em suas costas expostas. Harry começou a gemer com a dor, mas recusava-se a chorar. Sempre o fazia depois da surra, quando estivesse sozinho.

Válter Dursley puxou o menino e o jogou na parede. Harry conseguiu se sentar, ofegante e completamente dolorido. Suas costas reclamaram com esse esforço. O moreno esticou as mãos para a frente, como que dizendo "já chega". Ao fazer isso, ele sentiu algo em seu pescoço escorrer pelo resto de seu corpo.

O garoto puxou o vira tempo deparando-se com uma rachadura por onde a areia escorria da ampulheta. Mas o pior não era isso. Se seu tio não o matasse, Hermione o faria.

O colar estava dando várias voltas e muito rápido.

Harry viu o Dursley se aproximar de si novamente e então se afastar por efeito do vira-tempo. Tudo retrocedia tão rápido que Harry mal conseguia acompanhar. Ele conseguiu visualizar alguns frames, que o preocupavam: Ele viu Duda escondendo uma das milhares de cartas que Hogwarts enviou para o seu primeiro ano... Ele viu Tio Válter e tia Petúnia entregando a pilha de presentes do aniversário de seis anos de Duda... Viu dois bebês chorando, mas apenas um deles recebia atenção enquanto o outro, com uma cicatriz, estava sozinho...

Certo, Harry estava voltando anos no passado. O cenário então virou um misto de cores sem mostrar mais o quarto e nem nenhum outro lugar específico. Talvez esteja parando pensou o garoto. Mas não, as cores demoraram a se dissipar e quando o fizeram, o cenário se transformou em um lugar que Harry conhecia muito bem.

Hogwarts.

Tonto com tudo aquilo, Harry fechou seus olhos. Chegou a pensar que não iria parar em hora nenhuma, que ficaria retrocedendo para todo o sempre. Esse pensamento foi o suficiente para amedrontar o rapaz. Contudo, para seu alívio, Harry sentiu seu corpo batendo no chão e a sensação de tontura diminuiu.

Ao abrir novamente os olhos, Harry percebeu que estava de volta a um dos corredores do castelo, perto das escadas. Sem entender como voltou a Hogwarts, o garoto tenta levantar do chão percebendo a pequena quantidade de areia com alguns cacos de vidro. Levou a mão ao pescoço e percebeu que o vira-tempo de Hermione se quebrara por completo.

O moreno fica de pé abruptamente, e por estar atordoado não notou que outra pessoa vinha em sua direção e acabou por trombar no indivíduo e voltar para o piso.

— Me descul – mas Harry não completou a frase, pois assim que viu de quem se tratava, sua cabeça já dolorida começou a girar.

E tudo ficou escuro.


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