Dançando com o Mal escrita por GRC


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Pouso Forçado




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As garotas estavam saindo da Europa, de Dublin. " A tal cidade russa" não estava tão longe apesar das paradas que o avião teria que fazer. Depois que descobriu a traição do marido, Joyce ligou para a mãe instantaneamente. Depois de alguns dias elas - ou mais sua mãe- decidiram que era melhor que Joyce e Cora fossem morar com ela, na Rússia.

Joyce olhou a Europa pela janela e pensou que não ia mais lembrar daquela cena em que descobriu tudo, mas lá estava ela de novo remoendo as memórias. Remoeu as memórias até a madrugada, e enquanto lembrou do dia de seu casamento, adormeceu.

**********

Joyce sentiu uma névoa gélida cobrindo seu corpo. Por alguns segundos ela manteu os olhos fechados. O frio não diminuiu.

Abriu a fresta do olho esquerdo e viu muita claridade, mas não houve nenhum perigo por ali. Ela finalmente abriu os olhos por inteiro e sentiu o choque da luz. Voltou a fecha-los novamente e se sentou na grama. O sol estava escaldante mas Joyce ainda continuava com frio. Ela soube que aquele frio não vinha de fora mas de dentro. Alguma coisa muito sinistra estava acontecendo.

Depois de alguns minutos ruminando sozinha, não chegou a lugar nenhum. Ela se levantou e percebeu que estava esquecendo alguma coisa, mas não lembrou o quê. Olhou em volta e só via mato para todos os lados. Acariciou os cotovelos para diminuir o frio. De nada adiantou.

Começou a andar no caminho contrário a uma grande montanha no horizonte. Ao longo do caminho pode-se ouvir o barulho do vento batendo nas árvores e de vários pássaros cantando. Seria um ótimo lugar para férias se ela não tivesse numa situação tão bizarra. Mais a frente viu uma pequena cabana rústica e correu em direção a ela. Joyce chegou arfando na cabaninha.

 _Tem alguém aí?! - ela gritou. Não obteve resposta. Não obstante, continuou:

 _Alguém aí pode me ajudar!?

Ouviu num lampejo um barulho vindo do interior da cabaninha. Seu coração palpitou. Aproximou o ouvido da porta para ouvir, mas apenas obteve o som de três batidas ocas naquela mesma porta de palha e madeira. Joyce afastou sua cabeça com um impulso. A porta foi lentamente se abrindo. O interior estava escuro e Joyce muito assustada, mas também curiosa. De repente um pequeninho braço deitado no chão apareceu em meio a escuridão.

— Mamãe… - a figura murmurou - mamãe… mamãe… - a voz se engrossou a medida que a palavra era repetida mais vezes. Por fim, a voz grossa se tornou um riso estridente. Agora sim toda a curiosidade de Joyce se esgotou. Ela queria fugir, sair correndo, escapar de algum jeito. No entanto, algo a segurou. Não pode ver o quê pois seus olhos estavam vidrados na figura misteriosa dentro da cabana. Sentiu que se desviasse o olhar aquilo pularia e lhe mataria na hora.

A risada ficou mais fina até se tornar inteligível. Então o braço começou a avançar. Um rosto purpuro se revelou das sombras, o que quer que fosse, estava morto. As pernas de Joyce tremiam. Era sua filha, ou quase. Um enorme sorriso de ponta a ponta esboçou a cara da coisa. Um sorriso daquele tamanho e forma era humanamente impossível. Os olhos estavam loucos e cada pupila se direcionava a um lugar diferente, no entanto, direcionavam a atenção para Joyce.

— Mamãe… Como pode deixar eles fazerem isso comigo? - Cora falou numa voz masculina, e continuou aos berros - COMO PODE!?

Joyce continuou paralisada. Não houve que atitude tomar. No fundo soube que o que quer que fizesse iria ser morta por aquela coisa. O monstro emanava ódio.

 _Bem-vinda, mamãe. - uma outra coisa repetiu nos ouvidos de Joyce precedido por um enorme calafrio na nuca.

**********

Joyce acordou apavorada e pronta para dar um grito, mas se conteve. Não queria uma cena no avião e sequer assustar os outros passageiros. Cora esteve com a cabeça inclinada em seu ombro esquerdo e dormiu calmamente. Joyce tentou limpar um pouco do suor do rosto com o braço mas este também estava encharcado. Uma aeromoça que conversava com os passageiros a frente notou o estranho estado dela é se aproximou:

—A senhora está bem? - ela perguntou. Pareceu estar realmente preocupada.

—Oh não. Está tudo bem. Foi só um pesadelo - Joyce respondeu forçando um sorriso.

—Ah, claro. Mas gostaria de alguma coisa?

Joyce pensou bem na oferta, precisava se limpar e estava morta de fome.

—Você pode me trazer uma toalha e um café da manhã?

—Tudo bem, vou pegar a carta de café da manhã pra você.

Joyce tinha sorte de ter nascido em berço de ouro. Viajava na primeira classe e jamais podia imaginar uma vida fora daquela bolha. A aeromoça saiu e Joyce refestelou-se na poltrona. Ah! Que gostoso. Ela fechou os olhos para absorver o momento. Quase esqueceu todo o drama que estava vivendo.

Cora começou a se mexer muito e acordou. Joyce afastou um pouco a cabeça por causa do bafo da garotinha. A pequena fez o mesmo em relação a mãe. As duas sorriram.

— Mãe, a senhora trouxe remédio? - Cora perguntou enquanto se ajeitou na poltrona.

— Não, querida. Por que?

A aeromoça entregou a carta a Joyce e ela começou a avaliar o cardápio.

— Minha cabeça tá doendo muito, mamãe.

Isso era comum de Cora. A garotinha escondia muito bem o que sentia por trás de sorrisos e brincadeiras. Era uma figura muito introvertida e só conversava bastante com a mãe e uma amiguinha duvidosa que havia feito na escola.

—De novo, filha? Mas ontem eu já lhe dei os remédios necessários. - Joyce não desviou o olhar da carta.

—Eu sei, mas isso não para. Toda hora dói mais. - a garotinha deu pequenos batuques na cabeça para tentar resolver o seu problema. Não adiantou.

"_Senhoras e senhores passageiros, aqui quem fala é o seu piloto Wayne. Gostaria de informar que tivemos um pequeno problema com o percurso e teremos que fazer um pouso forçado por falta de gasolina. Estamos entrando em contato com a central mais próxima para mandar a ajuda necessária. Desembarcaremos numa pequena ilha chamada Misaki, que está logo a frente."

Nesse mesmo momento, até mesmo a primeira classe se tornou uma zona.


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