Eu realmente não entendo o motivo que a fez querer me acompanhar, toda essa situação é muito estranha, caminhamos boa parte do percurso caladas, até que ela resolveu quebrar o silencio:

— Então, com quem você vai sair hoje? 

— Não sei se você as conhece. – Digo.

— Diz o nome, talvez eu conheça. – Jennifer insiste.

— Jay, Melanie e Faith.

— Ah, só não conheço essa Jay.  

— Eu a conheci um dia desses, ela é...

— Mei, você viu o que aconteceu? – Jennifer altera o teor da conversa.

— Quando? - Pergunto, confusa com a mudança repentina.

— Quando você estava no telefone.

— Não vi nada. – Digo, me fazendo de desentendida.

— Tem certeza? Porque eu posso garantir que você estava olhando pra mim. – Ela fala firmemente.

Me viro para olha-la, sua expressão doce e compreensiva sumiu magicamente, agora só restava uma garota séria.

— O que você quer dizer com isso? – Pergunto, já deixando de jogar o jogo dela.

— Não se faça de desentendida, eu sei que você viu tudo.

— E se eu tiver visto!? – Pergunto.

— Vou te pedir educadamente para não contar as suas amigas.

— Então quer dizer que não posso contar a elas, mas posso falar para Katarina e pro Jack!?

— Você conhece o Jack? – Ela questiona, surpresa.

— Estudamos juntos há um tempo.

— Pois ele nem deve se lembrar de você, nunca me disse nada sobre esse passado.

— Claro que ele lembra, se não lembrasse não teríamos jantado juntos ontem. – Devolvo.

Ela ri sarcasticamente.

— Você pensa que eu vou acreditar nisso?

— Deveria, é verdade.

— Mesmo que seja, se você contar alguma coisa, eu tenho certeza de que não irá funcionar, ele não acreditou no pai, quem dirá em você.

— Não custa tentar. – Digo em tom de desafio.

Em um movimento rápido, ela segura meu pulso com força, enfiando suas unhas na minha pele, e me dá um forte tapa no rosto.  

— Você não vai contar nada, sabe por quê? Porque eu sei destruir a vida de quem se põe no meu caminho, e não é você que vai estragar meus planos. Se não acredita, pergunte ao Chad, ou melhor, pergunte as suas amigas, elas vão te dizer o que ninguém sabe e o que ninguém nunca vai saber. – Ela aperta meu pulso com muita força, como se me desse uma prova de suas capacidades, e então me solta. - Não sou o tipo de garota que você pensa. – Faz uma pausa curta, me fuzilando com olhar. - Eu sou bem pior.

Dito isso, ela me encarra severamente e sai caminhando, minha bochecha direita ainda está queimando, eu devia ter me defendido, devia ter batido nela também, entretanto, se eu tivesse feito, tenho certeza que ela daria um jeito disso se virar contra mim.

— Cretina. – Digo baixinho.

Após me recuperar desse susto, volto a caminhar, afinal, eu estou muito atrasada e não dei nenhuma justificativa para demorar tanto, as meninas já devem estar cansadas de esperar. Quando eu estou quase chegando, recebo uma ligação, atendo sem ver o nome:

— Alô?

— Mei, cadê você? Estamos esperando há séculos, aconteceu alguma coisa? – Faith pergunta preocupada.

— Aconteceu, mas eu conto quando chegar.

— É algo sério? Você tá bem?

— Tô, não se preocupe, já eu chego.

— Tá bom, mas venha logo.

— Ok, bye bye.

Ela desliga depois de se despedir, em pouco tempo chego no local combinado, elas estão sentadas juntas em um banco, em baixo de um poste de luz.

— Mei! – Faith grita, se levantando. – O que aconteceu?

— Jennifer foi o que aconteceu. – Respondo.

Mel se levanta imediatamente, com um ar sério, e se junta a mim, Jay faz o mesmo.

— O que ela fez? – Faith pergunta apreensiva.

— Podemos ir pra outro lugar? Não me sinto a vontade pra falar disso aqui. – Digo.

— Claro. – Faith começa. – Podemos ir para o clube do meu pai.

Olho para as meninas, todas estão com bagagens.

— Esqueci que íamos para o clube, não trouxe roupa e agora já não da mais para passar em casa.

— Tudo bem, a gente passa no shopping antes. – Jay fala, já com celular em mãos para pedir um taxi.

— Você trouxe dinheiro? – Faith pergunta. – Porque qualquer coisa posso te emprestar.

— Não, tudo bem, eu trouxe. – Respondo

— Jay, chama um taxi. – Mel pede e virando-se para mim continua: – Tem certeza que está tudo bem?

— Não muito, mas eu vou contar para vocês o que aconteceu.

Faith se aproxima de mim, cerrando os olhos, como quem desconfia de algo.

— Sua bochecha tá machucada. - Ela diz segurando meu rosto contra a luz que emana do poste.

— Jennifer bateu em você? – Mel pergunta arregalando os olhos. – Aquela filha da puta.

Todas olhamos assustadas para ela, é a primeira vez que a vejo xingar, tenho certeza que Jennifer deve ter feito algo muito ruim para que Mel nutra um ódio tão grande.  

— Ela é realmente uma vadia. – Digo.

— Assim que chegarmos no clube eu quero saber de tudo. – Faith começa.

— No caso, eu vou precisar que vocês expliquem do início, realmente não estou entendendo nada. – Jay se interpõe.

— Claro. – Concordo. – Eu ia mesmo fazer isso.

No mesmo estante o taxi para perto de onde estamos, tão rápido, engraçado que quando precisamos com urgência é sempre umas 20 horas de espera, mas, antes mesmo que eu me desse conta, Jay já havia chamado o taxi e em menos de 5 minutos ele chegou; entramos no carro, Jay no banco da frente e eu, Mel e Faith atrás e fomos em silencio até o shopping.