Diana mexeu na cama. Bruce olhou para a figura adormecida da esposa. Seu dia foi difícil, e talvez por causa disso, as visões estranhas persistiram. Nada que atrapalhasse seu trabalho, mas ainda perturbador. Não contou nada a Diana, tentando preservá-la. No entanto, se continuasse, seria obrigado a contar-lhe, em seguida buscar ajuda.

Sabia que Diana o apoiaria em tudo. Era uma das qualidades que mais admirava nela. Diana era forte, muito mais forte que ele. Diana era mais mulher do que ele era homem. Talvez por isso a amasse tanto. Porque ela era a única que sabia lidar com ele.

Olhou dela para a aliança em seu dedo. Um ano. O melhor ano de sua vida desde que a conheceu.

Um ano antes...

Como o dia foi exaustivo! Ser o CEO de uma empresa era desgastante. E com o carro quebrado, não era seu dia. Bruce deu uma boa olhada ao redor. Estavam ainda longe de casa e o estresse só fazia aumentar.

Havia um bar do outro lado da rua. O letreiro de neon vermelho chamou sua atenção, e, por algum motivo, decidiu ir até lá. Jonathan ficara com o carro, esperando o conserto.

Abriu a porta simples e foi recebido pelos acordes de jazz. O local encontrava-se quase vazio. Estava cedo e deveria ter aberto a pouco. Algumas mesas espalhavam-se ao redor, abrindo o caminho do centro que ficava abaixo de um palco. Atravessou a pista e foi direto ao bar.

No momento, não havia ninguém para atendê-lo. Pensou em ir, porém acabou sentando em uma das muitas cadeiras disponíveis. Seus pensamentos muito distantes de suas ações. Cobriu o rosto com as mãos, suspirando alto. Ele notou alguém se aproximar, mas não ergueu os olhos até ouvir o som de um líquido sendo derramado.

Para sua surpresa, uma mulher bonita e muito sorridente colocava uísque em um copo. Ela tinha cabelos compridos e escuros e olhos azuis. Vestia calça jeans simples e regata branca. Depositou a garrafa a seu lado e estendeu o copo a ele.

─Por conta da casa. ─Disse. ─Me parece que seu dia foi péssimo.

─Você não tem noção do quanto. ─Tomou um gole. O líquido descia queimando por sua garganta. Estendeu a mão a ela. ─Sou Bruce Wayne.

─Eu sei, vejo você nos jornais. Sou Diana. O que faz num lugar como esse, senhor Wayne?

Ele deu de ombros. A moça entendeu e não perguntou mais, limpando a bancada. Deixou Bruce tomar sua bebida em paz, e ele lhe observava por cima do copo. Tempos depois, Jonathan apareceu.

─Senhor Wayne. ─Chamou. ─Está pronto.

Bruce assentiu e ficou de pé. Fitou Diana, abriu sua carteira para tirar algumas notas, mas ela recusou o dinheiro, repetindo que era por conta da casa. Respondeu com um “obrigado” e caminhou para a saída. Mas parou e voltou para a perto da moça. Ela colocou as mãos na cintura, interrogando-o com o olhar.

─Quando é sua folga?

─Terça. Por quê?

─Gostaria de sair comigo?

─Desculpe, mas não sou dessas.

Ele piscou, perplexo. Nenhuma mulher nunca recusou sair com ele. Diana continuou.

─Conheço sua fama e sinceramente não pretendo fazer parte da sua lista de amantes.

─Você me ofereceu uma bebida. ─Retrucou. Era seu único argumento no momento.

─Não significa que desejo o senhor.

Deu-lhe um sorriso debochado antes de se embrenhar na parte de trás do bar. Que garota!

*****

As semanas seguintes foram gastas com Bruce pensando em Diana, a garota do bar. Ela era linda, de personalidade forte e conseguiu cativá-lo como ninguém. Estava louco para ter uma desculpa para revê-la, mas não conseguia pensar em nada. Assim, se passou quase um mês, até que a vontade falou mais alto.

Era um fim de semana, assim não teria que trabalhar no dia seguinte e poderia ficar o tempo que fosse naquele bar, esperando a garota dos seus sonhos. Ela sorria, mas fechou a cara quando o viu se aproximar.

─Ah, senhor Wayne. Pensei que não voltaria a um lugar como esse.

Bruce deu de ombros, sentando em uma das cadeiras desocupadas.

─O que vai querer? ─Indagou, tentando ser cordial. Ela ainda estava em seu local de trabalho.

─Uísque. E você.

─Sincero. Eu gostei.

Tanto Bruce quanto Diana se voltaram na direção da voz. Uma mulher estava parada, de braços cruzados e sorrindo. Era ruiva, parecia ter uns trinta anos. Usava calça jeans e camiseta do Ramones, com a camisa xadrez amarrada na cintura.

─Me desculpa, Shay, mas... ─Diana abriu a boca para falar, mas foi cortada pela ruiva.

─Está tudo bem. Vai lá, Di. Eu cuido do movimento.

─Eu sou Bruce Wayne. ─Estendeu a mão para a ruiva, que aceitou o cumprimento.

─Sou a Shay. Como chefe, eu a libero pela noite, se ela quiser.

─E Diana quer? ─Indagou.

─Posso responder por mim mesma. ─Diana disse, ríspida.

─Acho que ela pode responder.

Os dois se voltaram para a garçonete, esperando uma resposta. Ela cruzou os braços e balançou a cabeça.

─Não!

O sorriso de Shayera se apagou e Bruce continuava sem entender. Mas Shayera entendia, e puxou a amiga para um canto atrás do balcão. Diana olhou por cima do ombro da ruiva, para Bruce, que ainda as observava.

─Eu não vou sair com ele, Shay! ─Bruce não queria, mas era impossível evitar ouvir a conversa, afinal as garotas falavam dele. ─Não quero.

─E por quê? Ele é bonito, rico, gostoso. Se eu não fosse casada, aceitaria na hora.

─Ele está praticamente noivo daquela socialite. Não quero ser a amante outra vez.

─Você cometeu um erro, Di. Não quer dizer que vai se repetir.

Diana cruzou os braços, encarando a amiga. Ela nunca teve sorte para homens, e não pensava que com o Wayne seria diferente.

─Nem todos têm a mesma sorte que você. ─Disse. ─Tenho 30 anos e já desisti do meu príncipe encantado.

─Se eu procurasse um príncipe, acha que estaria há tanto tempo com o Wally? Ele é um chato de galocha. ─Fez uma pausa. ─Mas é o meu chato. Tudo bem, você está certa. Mas se dê uma chance com ele. Um encontro, sei lá. Deixa ele tentar.

Diana soltou um suspiro pesado. Alguma vez Shayera estava errada? Nunca. A ruiva sempre tinha os conselhos certos, e sabia quando um homem não prestava. E, pela primeira vez em muito tempo, parecia aprovar Bruce como um futuro namorado da amiga. Decidiu ouvi-la, ao menos dessa vez.

─Ok, você me convenceu. Eu saio com ele, mas com uma condição.

─Qual?

─Você vai comigo.

*****

Assim, na semana seguinte, Diana se olhava no espelho, tentando ver se o vestido azul simples era bom o bastante para um encontro com Bruce Wayne. Estava tão nervosa, que nem parecia não querer o encontro uma semana antes. A campainha tocou e ela sabia que era a hora. Pegou o casaco jogado sobre o sofá e abriu a porta.

Para sua surpresa, não era Bruce. Era Shayera. A ruiva usava uma blusa de lã vermelha sobre suas calças jeans. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e ela abriu um grande sorriso.

─Decepcionada que não é o bonitão?

─Ele está atrasado. Acho que desistiu.

Diana ouviu a risada de Wally, antes do rapaz aparecer atrás de Shayera puxando Bruce. Wally era ruivo, com os cabelos vermelhos um pouco bagunçados. Estava de jeans, tênis e casaco de couro. Já Bruce destoava do casal, e embora não usasse um terno, sua calça marrom e a camisa amarelo claro eram mais elegantes que os três amigos juntos.

─Eles me obrigaram a isso. ─Disse. ─Sinto muito.

─Shayera!

─Foi idéia minha, Di. ─Wally abraçou a amiga, antes de abraçar Shayera. ─Não culpe minha gata.

─Nem sei por que ainda sou amiga de vocês.

─Talvez porque você ama a gente. ─Wally respondeu.

─Vamos?

Todos concordaram. Bruce agora tinha sua chance de impressionar Diana.