As Redfield: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa escrita por LadyAristana


Capítulo 10
Capítulo 10




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De um dos muitos bolsos de seu enorme saco, Papai Noel retirou o mais belo frasco no qual Clarissa já pousara os olhos. Era esculpido com lindos arabescos, a tampa tinha a forma de uma cabeça de leão dourada e vinha dentro de uma bolsa de couro vermelho feita para ser encaixada em um cinto. Ele o estendeu para Lúcia, que observou admirada a beleza do frasco cheio de um líquido de um rico tom de vermelho que lembrava morangos silvestres.

— O suco da flor de fogo. Uma só gota cura qualquer ferida. – disse Papai Noel abaixando-se para olhar Lúcia nos olhos entregando a ela o frasco com solenidade antes de pescar outro item de seu saco. – Apesar de torcer para que nunca use...

Dessa vez, Papai Noel entregou para Lúcia um cinto de couro vermelho combinando com o estojo do frasco. No cinto, em uma bainha um tanto mais escura, estava uma pequena adaga com punho revestido de vermelho escuro com discretos arabescos pintados em um tom ligeiramente mais claro, adornado no topo com a cabeça de leão dourada. Um presente de Aslam.

— Obrigada senhor, mas eu seria capaz de não ter medo. – disse Lúcia com um olhar determinado apesar da sempre presente gentileza em sua voz.

— Aposto que seria. – concordou Papai Noel. – Mas batalhas são brigas feias.

Lúcia sorriu e se afastou, e Papai Noel buscou um novo presente em seu saco, dessa vez sorrindo para Clarissa.

— Também torço para que nunca tenha que usar isso apesar da minha plena confiança em sua resiliência, minha querida. – disse o bom velhinho mostrando para Clarissa o presente dela.

— Oh! Genial! – exclamou a menina com um sorriso de orelha a orelha admirando seu presente.

Era um pequeno crossbow de pulso, leve e equilibrado, o metal revestido de couro vermelho, o gatilho do tamanho exato para o dedo de Clarissa, as linhas arredondadas e elegantes em arabescos moldados estrategicamente para que o pequeno arco automático se encaixasse perfeitamente e com firmeza no antebraço da menina. Não parecia nada difícil de usar, e as flechas deveriam sair pela boca aberta de um leão dourado. Junto com o crossbow veio um cinto com uma caixa retangular de couro vermelho endurecido que quando aberta revelou-se cheia de flechas tão pequenas que mais pareciam dardos.

— É mágica: as flechas nunca vão acabar. – explicou o Papai Noel e então entregou para Clarissa um estojo cilíndrico vermelho de bordas douradas. Esse, assim como o crossbow, tinha uma alça que permitia ser carregado às costas.  – Esse aqui eu espero que use bastante. Confie sempre nesse mapa para lhe mostrar o caminho, minha cara. Ele nunca está errado.

Dentro do estojo, havia um mapa de Nárnia feito com a maior precisão, absolutamente lindo, mostrando também os territórios ao redor. As Terras Agrestes do Norte, um reino chamado Arquelândia ao Sul, outro reino chamado Telmar à Oeste, depois de Arquelândia o Grande Deserto que levava ao reino de Calormânia. Mostrava também Cair Paravel e algumas ilhas no mar à Leste: Galma, Terebíntia, as Sete Ilhas e as Ilhas Solitárias.

— Muito obrigada! – exclamou Clarissa sorrindo largamente antes de guardar o mapa novamente. – Oh, é absolutamente lindo!

Com uma risada animada, Clarissa voltou para perto de Lúcia e juntas continuaram a observar com cuidado cada detalhe de seus presentes cochichando e rindo uma com a outra.

Na verdade, Clarissa estava doida para testar seu crossbow.

Papai Noel se abaixou e tirou do saco um lindo carcás branco com adornos dourados - formando as iniciais S.P. - cheio de flechas de penas vermelhas e um arco de madeira clara e avermelhada cujas pontas eram afiadas e rebrilhavam sob o sol revestidas de metal.

— Susana. – ele chamou estendendo para ela o presente. – Confie nesse arco. Ele quase nunca vai errar.

— Mas não disse que “batalhas são brigas feias”? – questionou Susana recebendo o arco e flechas mesmo assim, arrancando um riso do Papai Noel.

— Apesar de não ter problemas em se expressar... – ele agora mostrou uma linda trompa de marfim presa à uma correia de couro vermelho por adornos dourados, a boca sendo a bocarra aberta de um leão, como se qualquer som que viesse dela fosse um rugido. – Assopre isto e, onde estiver, o auxílio virá.

— Obrigada. – agradeceu Susana com um breve sorriso, compreendendo que não devia questionar o presente, apenas aceitá-lo.

— Pedro. – chamou Papai Noel curvando-se novamente sobre seu saco e voltando com uma espada em uma mão e um escudo na outra. – A hora de usar isso pode estar próxima.

O punho da espada era uma versão maior do punho da adaga de Lúcia, e a bainha era decorada de forma mais masculina e prática, não deixando de ser igualmente bela.

Uma espada digna de um rei, pensou Clarissa.

O escudo era do mais forte metal prateado, com a silhueta de um leão em pé e rugindo pintada em vermelho.

Não houve hesitação em Pedro ao receber os presentes. Com expressão solene, o rapaz desembainhou a espada e a observou, a lâmina reluzindo com o sol da manhã, um verso gravado em dourado gravado no centro: “Nos dentes de Aslam o inverno morrerá. Na Sua juba, a primavera voltará.

— Obrigado, senhor. – disse Pedro com um pequeno sorriso, ainda impressionado com os presentes. Era como o renascimento de um sonho de menino segurar aquela linda espada, que de alguma forma fora feita para suas mãos.

— Sofia! – Papai Noel chamou por fim, um novo presente em suas mãos.

A Redfield aproximou-se hesitante, nada confortável com a visão de um par de espadas em bainhas cruzadas que o bom velhinho tinha em mãos.

— Senhor, de modo algum quero ser rude, mas... Não acho que teria a coragem de usá-las para machucar alguém. – ela disse com os olhos baixos. Não queria olhar para as espadas pois sabia que se as olhasse, não poderia resistir a aceitar.

— São tempos difíceis, milady. E tempos difíceis nos colocam diante de decisões difíceis. Você tem um coração gentil e sonhos de paz, Sofia, e jamais deve perdê-los. Mas muitas vezes, não conseguimos paz senão através de guerra. – disse o Papai Noel voltando a oferecer as espadas, que dessa vez foram aceitas. – Lembre-se de que não será corajosa sozinha.

Um pouco do receio de Sofia sumiu com essas palavras e ela desembainhou uma das espadas. Eram como que réplicas da espada de Pedro, apesar de menores e mais leves, do desenho mais feminino dos adornos nas bainhas e punhos e das inscrições diferentes nas lâminas. Em uma “O mal será bem quando Aslam chegar” e na outra “Ao Seu rugido, a dor fugirá”. A inscrição fez com que Sofia atribuísse um novo significado para aquelas espadas: podiam ser usadas para ferir, sim, mas seu propósito era, acima de tudo, proteger.

— Mais uma coisa. – Papai Noel entregou um novo presente para Sofia assim que ela embainhou novamente suas espadas. Era um livro com capa de couro vermelho apoiado em uma bolsa do mesmo couro ao estilo carteiro. – Escreva aquilo que aprendeu, de forma que os futuros reis de Nárnia possam ter os seus conselhos mesmo que você não esteja mais aqui.

Sofia abriu o livro, cuja capa era pintada em traços leves e delicados de tinta dourada formando a imagem de um leão de olhos bondosos e sábios. As páginas estavam todas em branco. Ela sorriu e inclinou a cabeça em deferência:

— É maravilhoso. Obrigada.

— São armas, não brinquedos. – disse Papai Noel com solenidade. – Usem bem e com sabedoria. Agora, eu preciso ir! O inverno está quase no fim e tudo se acumula quando você some por cem anos! – com uma risada alta, ele colocou o saco de volta em seu lugar e subiu no trenó antes de se despedir com voz determinada. – Vida longa à Aslam! E feliz natal!

Papai Noel tocou o trenó e partiu ao som do coro de “feliz natal”, “obrigado” e “até ano que vem” da parte de todos.

— Eu disse que ele existia! – Lúcia falou para Susana com um olhar sério.

— Ele disse que o inverno está quase no fim. – disse Pedro ainda com os olhos fixos no horizonte antes de se voltar para a garota. – Não perceberam? Chega de gelo!

— Oh, finalmente! – Clarissa exclamou com um suspiro aliviado. – E sem mais correrias por favor!

Um coro de gargalhadas seguiu a fala de Clarissa e todos aproveitaram o momento para colocar seus presentes no lugar, ajudando uns aos outros com fivelas e casacos.

E, é claro, parando para admirar os presentes dos outros.

Clarissa deu um susto em todos ao testar seu crossbow atirando com precisão em uma árvore próxima e chocando a si mesma ao ver a pequena flecha se afundar até o fim no tronco.

— Ora, sua peste! Não ouviu o Papai Noel? – ralhou Sofia dando um peteleco na orelha da irmã. – Isso não é brinquedo! Agora trate de terminar de se ajeitar para chegarmos logo ao acampamento de Aslam!

— Eu só queria ver se funcionava. – replicou Clarissa com um olhar inocente.

— E é um bom ponto. – concordou Pedro com um sorriso para as pequenas sabendo muito bem que Lúcia fora cúmplice da travessura. – Infelizmente, não temos tempo de testar tudo.

— Não a incentive! – disse Sofia com um olhar suplicante.

— Eu gosto dele, Sofia! – comentou Clarissa com um sorriso sapeca. – Acho que deveriam namorar.

— Eu concordo! – Lúcia se apressou em acrescentar acenando com a cabeça.

Um silêncio desconfortável se instalou sobre eles no qual nem Sofia e nem Pedro sabiam para que lado olhar até que o Sr. Castor teve a misericórdia de dizer:

— Vamos andando. Temos que chegar ao acampamento de Aslam antes de anoitecer.

E assim todos voltaram a se mover, quebrando o clima constrangedor até certo ponto, pois antes que Sofia pudesse fugir, Susana agarrou o braço da amiga e foram andando de braços dados.

— Então... Você gosta do Pedro. – a Pevensie afirmou com um sorrisinho divertido.

— Não sei do que você está falando. – respondeu a Redfield apesar das faces queimando vermelhas.

— Ora, me poupe, Sofia! Está escrito na sua cara. – riu Susana. – E também está escrito na cara dele que ele gosta de você.

— Às vezes eu desejava que você não me conhecesse tão bem, sabe Su? – Sofia suspirou, desistindo de negar.

— Se quer minha opinião, acho que é muito bem feito. Vocês são parecidos de algumas formas, apesar de que você consegue muito melhor que ele, Sof. – disse Susana em um tom de brincadeira.

— Isso é terrivelmente malvado! Ele é seu irmão! – Sofia exclamou baixo com uma pequena risada. – E eu não acho que seja o momento certo para pensar nesse tipo de coisa...

— Sim... – Susana comprimiu os lábios e baixou os olhos. – Pedro tem sido um tapado desde o começo! Não tínhamos nada que ter ido explorar! Agora veja o que aconteceu!

— Pois eu acho que Edmundo teria ido atrás da Feiticeira de qualquer jeito. – opinou Sofia. – E então nada poderia ser feito para ajudá-lo. Talvez exista um propósito muito maior nisso tudo.

— Acho que tem razão como de costume, Sof. – a outra moça concordou após refletir sobre o que a amiga dissera. – Só penso que não temos tomado as decisões mais sensatas.

— Bom, não se pode esperar que todo mundo acerte o tempo tudo. – disse Sofia com um pequeno sorriso. – Nem mesmo nós duas.

Ambas compartilharam um risada genuína e perceberam finalmente o quanto sentiram falta uma da outra no tempo em que estiveram separadas. Por um momento, era como se estivessem novamente andando pelos corredores da escola conversando besteiras que meninas de escola normalmente conversam.

Susana e Sofia eram colegas de dormitório desde seu primeiro ano no internato, e se deram bem logo de cara. Fizeram outras amigas ao longo dos anos, mas sempre foram mais próximas uma da outra, sempre compartilharam mais gostos em comum entre si que com outras meninas. Liam os mesmos livros, assistiam as mesmas aulas, gostavam das mesmas matérias e tinham preferência pelos mesmos professores.

— Quando tudo isso acabar, só quero me deitar e ler um bom livro. Talvez o algum novo Agatha Christie. – Susana comentou sentindo-se um pouco melhor.

— Oh, o professor o prometeu para meu aniversário! Podemos ler juntas como na escola! – Sofia concordou animada e um tanto aliviada pela mudança de assunto.

— Perfeito! Faremos isso e deixaremos que os outros se virem sem nossa sensatez por perto! – a Pevensie riu, fazendo com que a Redfield gargalhasse também.

E então pararam pois finalmente haviam chegado ao Grande Rio – o mesmo que a Sra. Castor dissera que estava congelado há cem anos -, e acontecia que o gelo começava a se desprender em placas e ser arrastado pela forte correnteza em direção ao Leste e eles precisavam ir para o outro lado da margem.

— Vamos atravessar! Agora! – apressou Pedro após meio segundo de contemplação.

— Os castores não fazem diques? – perguntou Lúcia olhando para o Sr. Castor.

— Não sou tão rápido, querida. – desculpou-se o Sr. Castor.

— Vamos! – Pedro apressou novamente puxando Lúcia pela mão.

— Espere! Quer pensar no assunto um minuto? – gritou Susana se soltando de Sofia e se aproximando de onde Pedro puxava Lúcia e Clarissa já seguia.

— Não temos um minuto! – respondeu o rapaz.

— Eu só tentei ser realista. – Susana recuou claramente magoada.

— Não! Só tentou bancar a esperta! – disse Pedro ainda no mesmo tom. – Como sempre!

— Ei! Isso não é motivo para ser rude! – Sofia disse em defesa da amiga. – Estamos todos assustados, certo?

— Não temos tempo de discutir! – foi a resposta de Pedro antes de começar a descer em direção ao rio.

Lúcia suspirou cansada de todos estarem discutindo o tempo todo, principalmente Susana e Pedro, e seguiu o irmão.

Clarissa ficou para trás, não sabendo exatamente o que fazer, junto com Susana e Sofia, ambas se entreolhando magoadas até que lá longe ouviram um uivo.

Se apressaram em descer também, Sofia puxando Clarissa pela mão.

— Ora esse dia não se cansa de ficar melhor! – bufou a Redfield mais nova enquanto davam seu melhor para descer do pequeno penhasco o mais rápido possível sem se estatelarem lá embaixo. – Correrias, alarmes falsos, penhascos e um rio que depois de cem anos resolveu se descongelar justo agora! Sinceramente! Deveríamos todos simplesmente ir embora e o Edmundo que se vire!

— Exceto que não estamos aqui pelo Edmundo, Clare! Ou será que já se esqueceu do Sr. Tumnus? – perguntou Sofia, que já não estava no melhor dos humores.

Estava cansada, decepcionada com Pedro por ter sido rude, irritada com a necessidade de Susana de questionar absolutamente tudo, com medo do significado dos presentes que recebera, cansada de ouvir Clarissa reclamando o tempo todo e acima de tudo farta daqueles malditos lobos sempre em seus calcanhares.

— Claro que não me esqueci do Sr. Tumnus! Mas se Aslam é tão poderoso, pra quê Ele precisa de nós? – teimou Clarissa, que também não estava nada bem humorada.

— Não sei, Clarissa! Pergunte a Ele quando chegarmos lá! – explodiu Sofia e pelo seu tom, Clarissa sabia que era melhor ficar calada.

E calados chegaram lá embaixo. Susana não sentia tanto medo, era campeã da equipe de natação, e Sofia não era má nadadora ela mesma. A própria Clarissa era uma excelente nadadora para sua idade. Já Pedro e Lúcia não chegavam a se garantir.

Tentando ser corajoso, Pedro deu o primeiro passo e a placa de gelo de moveu e chiou sob seu peso, fazendo com que ele recuasse assustado.

— Espere. – pediu Sr. Castor erguendo a pata. – Talvez eu deva ir primeiro.

— É. É melhor. – concordou Pedro com um olhar amedrontado.

Sr. Castor avançou com cuidado, testando a firmeza do gelo com as patas traseiras e a cauda.

— Você anda comendo fora de hora não anda? – perguntou a Sra. Castor vendo a instabilidade do gelo em algumas partes em que Sr. Castor ia.

— Ora, nunca se sabe qual refeição pode ser a última! – defendeu-se o Sr. Castor. – Ainda mais com sua comida.

Uma vez que o Sr. Castor conseguira chegar longe o bastante, os humanos passaram a avançar com cuidado, levando alguns sustos ao longo do caminho de forma que Lúcia ficou praticamente pendurada em Pedro e Clarissa em Sofia.

— Se a mamãe soubesse disso... – comentou Susana.

— Mamãe não está aqui! – Pedro respondeu exausto da atitude da irmã.

— É, deve ser por isso que Edmundo resolveu ignorar a regra de não aceitar doces de estranhos. – Sofia murmurou baixinho de forma que apenas Clarissa ouviu.

— Ei, não é justo! Falar mal do Edmundo é o meu trabalho! – a pequena reclamou no mesmo tom, sentindo-se vitoriosa quando conseguiu arrancar um pequeno sorriso da irmã mais velha.

Ao lado deles, da cachoeira, um pouco de gelo caiu e ao olharem para cima lá estavam os malditos lobos.

— Essa não! – exclamou Lúcia.

— Mas será que eles não se cansam? – reclamou Sofia.

— Se dava pra atravessar por cima por que raios não fizemos isso em vez de ficar pulando amarelinha aqui embaixo? – perguntou Clarissa em tom de bronca para todos.

— Porque homens nunca escutam. Agora corre! – Susana respondeu correndo junto com as Redfield.

— Corram! – gritou Pedro.

— Não era mais fácil a gente simplesmente pular no rio e sair nadando? – sugeriu Clarissa.

— Eu não sou boa em nadar! – objetou Lúcia

— Rápido! – apressou Sofia vendo que os lobos já desciam do penhasco aos pulos.

Sr. e Sra. Castor estavam quase do outro lado quando foram alcançados e pararam todos em seus lugares amedrontados. Quiseram voltar atrás, mas estavam cercados.

Em um gesto intrépido, Sr. Castor rosnou em desafio aos lobos, e com um único gesto da parte de Maugrim foi derrubado por um dos lobos.

— Não! – exclamou a Sra. Castor.

— Pedro! – Lúcia gritou fazendo um sinal para a espada do irmão, que prontamente a desembainhou apontando para Maugrim, que se aproximava.

— Abaixe isso, rapaz! – rosnou Maugrim. – Alguém pode se ferir.

— É mesmo? Que tal você? – rebateu Sofia desembainhando as próprias espadas.

— Ora, ora, trocou as facas de cozinha, garotinha? O que vai fazer? Oh, já sei! – um sorriso sádico se formou nas feições do lobo. – Ensopado de castor!

— Não se preocupem comigo! – gritou o Sr. Castor lutando contra o lobo que o segurava. – Acabe com ele!

— Saiam enquanto podem e seu irmão vai com vocês. – disse Maugrim, e a cada passo que se aproximava os humanos recuavam mais para a borda do gelo.

— Parem, os dois! Melhor fazer o que ele mandou! – pediu Susana.

— Garota esperta. – Maugrim riu.

— Não acreditem nele! – gritou o Sr. Castor. – Matem-no! Matem-no agora!

— Ora, por favor, esta guerra não é sua! – continuou Maugrim, mostrando todos os dentes para eles. – Minha rainha só quer que peguem sua família e sumam!

— Ela se tornou uma tirana mentindo tão bem quanto você? – perguntou Sofia. No fundo, tudo o que ela queria era um motivo para acabar de uma vez por todas com aqueles lobos insistentes apesar de dizer a si mesma que não queria machucar alguém.

Atrás deles, o gelo já se desfazia.

— Olhem, só porque um homem de vermelho lhes entregou espadas, não podem se achar heróis! – gritou Susana desesperada. – Abaixem isso!

— Ora, Susana, cale-se! – bufou Clarissa sem paciência encaixando uma flecha em seu crossbow. – Eles nunca vão nos deixar sair vivos!

— Vamos, Pedro e Sofia! Nárnia precisa de vocês! Matem-nos enquanto ainda têm chance! – implorou Sr. Castor.

— Como é que vai ser, Filho de Adão? – Maugrim perguntou com o focinho já quase tocando a ponta da espada de Pedro. – Não vou esperar para sempre. E muito menos o rio!

Lúcia olhou para cima e se perguntou se quando Clarissa dissera para pularem no rio e nadarem logo ela já sabia o que iria acontecer.

— Essa não... – ela murmurou antes de chamar o irmão. – PEDRO!

Todos se voltaram para a cachoeira, que começava a livrar-se das paredes de gelo que a prendiam.

Pedro olhou ao redor tentando pensar no que fazer até que seus olhos pararam em Sofia, que formou “corajosos juntos” com os lábios embainhando uma espada e fincando a outra na placa de gelo, segurando Clarissa com o braço livre.

— Segurem-se em mim! – ele instruiu para as irmãs antes de fazer o mesmo.

Foi como se Pedro tivesse dado o golpe de misericórdia na geleira, que se desmontou, formando uma onda que carregou os humanos para longe e afogou a maioria dos lobos.

Prenderam a respiração a tempo de serem engolidos pela água e arrastados pela correnteza fria por alguns segundos antes de emergir novamente.

Apesar de sustos e corredeiras pelo caminho, foram arrastados em segurança para a margem para a qual precisavam ir, como se o rio estivesse do lado deles.

Não que o susto de todos tivesse terminado quando subiram para a margem encharcados de água gelada, porque quando Pedro virou, segurava o casaco de Lúcia, mas a garotinha não estava em lugar nenhum para ser achada.

— O que você fez? – perguntou Susana desesperada.

Clarissa tinha os olhos muito arregalados e tremia, não de frio, de medo.

— LÚCIA! – Susana e Sofia começaram a gritar na esperança de que a pequena tivesse conseguido nadar até a margem. – LÚCIA!

— Ora parem de ser bestas e vamos logo atrás dela! – exclamou Clarissa com os olhos cheios de lágrimas, começando a tirar o casaco e pronta para mergulhar de novo.

Mas foi interrompida:

— Alguém viu meu casaco? – e lá vinha Lúcia caminhando pela margem apertando o pequeno cardigã ao redor do corpo e causando suspiros aliviados em todos.

— Não se preocupe querida. Seus irmãos e suas amigas vão cuidar muito bem de você. – assegurou o Sr. Castor enquanto Pedro colocava o casaco de volta na pequena.

— E acho que não vão mais precisar de casacos. – comentou a Sra. Castor mostrando acima deles as árvores começando a florir.

Seguiram andando com o peso das roupas molhadas atrapalhando um pouquinho, Clarissa e Lúcia penduradas uma na outra.

Clarissa não tinha nada a dizer, só queria ter certeza de que a amiga estava ali e Lúcia entendia. A Redfield e a Pevensie estavam felizes de terem achado uma à outra, e nesse curto tempo que haviam passado juntas, consideravam-se melhores amigas.

Conforme foram andando, o cenário foi mudando em rápida progressão como se vissem um filme.

O branco e preto do inverno foi dando lugar aos múltiplos verdes e coloridos da primavera com folhas, musgos flores e grama macia sob seus pés cansados. O sol brilhava dourado e quentinho lá no alto, devia ser meio dia e assim que pararam para almoçar, a primeira coisa que fizeram fora livrar-se dos casacos pesados que já os deixavam com calor.

Lúcia até mesmo deixou de lado seu cardigã verde e Susana seu pulôver cinza.

— Oh, veja! Glicínias roxas! – disse Clarissa animada se aproximando das flores que caíam em belos cachos de uma árvore próxima. – Adoro glicínias, mas minhas favoritas mesmo são flores de lavanda.

— São esplêndidas! – Lúcia concordou e trataram de comes seus meios sanduíches rapidinho para que pudessem trançar flores nos cabelos uma da outra.

— Acho que o estojo do mapa de Clarissa e minha bolsa são encantados. Nem o mapa e nem o diário se molharam nem um pouquinho. – comentou Sofia sentada junto a Pedro e Susana guardando o diário de volta.

— Sabe, esse lugar não me parece tão ruim agora que a neve foi embora. – disse Susana observando a beleza ao redor.

— Nárnia já era um lugar lindo com a neve. Agora... Não tenho palavras para descrever a beleza desse lugar. – suspirou Sofia.

— Oh, por favor não comece a cantar como a Branca de Neve! – pediu Susana e as duas caíram na risada, nem parecia que meia hora atrás estavam uma irritada com a outra.

— Meninas eu... – Pedro começou sem jeito obtendo a atenção delas. – Eu quero pedir perdão por ter sido rude mais cedo.

— Está perdoado. – Sofia sorriu docemente.

— Tudo bem. Nenhum de nós está com a cabeça no lugar de verdade agora. – Susana concordou.

— Vamos andando, humanos! – chamou o Sr. Castor. – Pegamos uma bela carona no rio! O acampamento de Aslam não está longe!

***


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Notas finais do capítulo

Olha, os AUT Stans que lutem, porque eu estou completamente engatada em As Redfield!

E também: YAY DEZ CAPÍTULOS!

Espero que vocês tenham gostado dos presentes de Sof e Clare!

O motivo de eu estar postando esse capítulo sendo que postei ontem o capítulo 9 é que eu vou ficar um tempinho sem poder focar aqui pois preciso fazer um trabalho de faculdade.

Como a galera do Clarissa Fan Club provavelmente sabe, estou no segundo semestre de Bacharelado Em Relações Internacionais. Acontece que todo semestre eles nos pedem para fazer um artigo científico, e o tema do meu é como a literatura fantástica não só espelha como também influencia o cenário político, e eu estou usando Nárnia como base.

É isso mesmo que vocês ouviram: EU ESTOU ESCREVENDO UM ARTIGO CIENTÍFICO BASEADO EM NÁRNIA.

Sem mais delongas, saboreiem bem esse capítulo porque eu vou dar uma sumidinha!

Beijos de luz, Shazi



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