As Redfield: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa escrita por LadyAristana


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Fui em Nárnia buscar as irmãs da Anne e voltei! E trouxe Sofia e Clarissa comigo!
Capítulo pra minha mana Elvish Song como presente de niver adiantado.
Beijos!
Boa Leitura!



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1

A pequena Sofia contemplou as lápides de seus pais.

Charles e Valerie Redfield, astutos em vida e audazes na morte.

Todos na pequena cidade de Bibury conheciam a história de como os Redfield morreram. Sua casa pegara fogo, e ambos morreram salvando suas filhas, uma de sete e a outra de dois anos. Agora ambas iriam morar em Cambridge com a irmã mais velha de Valerie, Polly Plummer.

A tia, uma mulher loira e geniosa beirando seus cinquenta anos, segurava a menina mais nova, Clarissa, em seus braços enquanto a mão livre segurava o ombro de Sofia.

— Vamos, Sofia. – chamou tia Polly.

A pequena continuava fixando os túmulos com os olhos castanhos arregalados. Encarou a tia e a acompanhou, os dedos segurando firmemente a corrente com pingente de diamante rosa em seu pescoço, uma das únicas coisas que restou de sua mãe.

Naquele inverno de 1932, Sofia soube que Clarissa era responsabilidade sua.

Enquanto isso, na Alemanha, um austríaco baixinho de cabelos pretos, olhos castanhos escuros e caráter duvidoso levantava seu país da crise que atingira todos desde 1929 quando a bolsa de Nova York caiu, mas seus planos iam muito além da fronteira alemã.

Os rumores começaram em 1936, quando judeus começaram a usar estrelas amarelas. Em 1939 o mundo declarou guerra contra Adolf Hitler e a Alemanha Nazista e tia Polly decidiu que não era mais seguro para Sofia e Clarissa ficar em uma cidade grande como Cambridge e as enviou para onde era seguro, no campo com o bom amigo da família Digory Kirque.

Sofia deixou seus estudos em seu ótimo internato em Londres e Clarissa sua escola fundamental para serem educadas em casa pelo Professor Kirque. Foi assim, sem uma alteração sequer, que a vida correu até o verão de 1940, quando as Redfield foram informadas de que mais crianças chegariam, os Pevensie.

Sofia era mais calma e aberta e ficou feliz, pois já conhecia os mais velhos de seu internato e pensou que se os mais novos fossem como Pedro e Susana Pevensie, iria gostar deles.

Clarissa era mais impulsiva, gostava das coisas do jeito dela e ficou uma semana fazendo careta para a ideia.

Então Sofia ameaçava Clarissa para que fosse boazinha com os outros e Clarissa brigava com Sofia dizendo que se comportaria como bem entendesse. Até o dia da chegada dos Pevensie os gritos das garotas de quinze e dez anos ecoaram pelo casarão, arrancando risos do professor e estressando D. Marta.

Mas se Clarissa era teimosa, Sofia era irredutível. Tal coisa foi provada na manhã em que os Pevensie chegaram.

— Clarissa Eileen Redfield, levante-se! – ordenou Sofia abrindo as cortinas.

— Sofia Eleesa Redfield, me deixe em paz. – resmungou Clarissa cobrindo os olhos com o edredom.

 - Vamos, Clare! Você precisa estar pronta quando os Pevensie chegarem. – falou Sofia firme.

— Não quero saber de Pevensie nenhum. Só quero dormir. – murmurou Clarissa.

— Clarissa, você vai se levantar agora ou vai ficar sem café da manhã! – ameaçou Sofia, e tinha toda a intenção de cumprir essa ameaça.

A mais nova levantou de um pulo e tirou os cabelos loiros dos olhos. Por mais magrela que fosse, o grande ponto fraco de Clarissa era a comida.

— Vai ficar ai me encarando? Já pro banho! – falou Sofia, que já estava alimentada, vestida e de banho tomado com os cabelos castanhos claros parcialmente puxados para trás e presos com grampos.

Quando Clarissa terminou de se vestir, deixou que Sofia lhe penteasse os cabelos.

— Não sei por que você está tão animada com a chegada desse bando de gente! Na minha opinião estamos muito bem sozinhas! – reclamou Clarissa.

— Susana Pevensie é minha amiga no internato. Sinto falta de lá. – falou Sofia dando de ombros.

— O fato de eu não estar com você no internato não te incomoda nem um pouquinho? – perguntou a mais nova estreitando os olhos azuis.

— Na verdade é um alívio não ter você por perto arruinando a minha vida. – brincou Sofia.

— Você é muito desnaturada, Sofia Eleesa! – ralhou Clarissa virando-se.

— Pare quieta, Clarissa Eileen! Vou embaraçar o seu cabelo todinho e vai ser um estorvo pra desmanchar os nós depois! – brigou Sofia.

Clarissa revirou os olhos e bufou. No fundo gostava do carinho que a irmã lhe dedicava, mas Sofia podia ser muito impertinente.

Algum tempo depois, Sofia parou de puxar os cabelos da irmã ao trançá-los e posou a mão nos ombros ossudos.

— Pronto, Clare. Mas não está boa como as da tia Polly. – declarou a mais velha.

— Ou as da mamãe. – murmurou Clarissa, então levantou o olhar. – Mas está linda. Eu adorei, Sofs.

A mais nova brincou de leve com a saia de seu vestido azul claro com florzinhas brancas que quase se confundiam à cor do fundo.

— A que horas eles chegam? – perguntou Clarissa.

— Por volta das quatro. – respondeu Sofia. – Vamos, sorria um pouquinho! Você era a audaz, não era?

— Bem colocado, senhorita astuta. – retrucou Clarissa com um sorriso leve.

Estavam há horas imergidas em livros na biblioteca quando ouviram a carruagem na estrada de cascalho.

— São eles! – exclamou Sofia deixando “Alice In Wonderland” aberto sobre a mesa ao lado e levantando-se empolgada.

— Já entendi tudo! Você tem uma queda por Pedro Pevensie! – riu Clarissa deixando de lado muito calmamente seu livro, “The Tale of Peter Rabbit”.

— Clarissa, se eu fosse você, guardaria essas asneiras para mim mesma. – respondeu Sofia puxando a irmãzinha pelas mãos até a escada. – Aposto que Dona Marta está fazendo O Discurso.

— Hum... Eu adoraria estragar esse discurso! – falou Clarissa, um olhar maroto e um sorriso malvado.

Ao longe, podiam ouvir perfeitamente a voz de D. Marta discursando uma série de regras para os Pevensie.

— Sem gritar, sem correr, nada de ficar brincando no elevador manual... – falava com sua voz grosseira e atróz.

A menina mais velha, Susana Pevensie, olhou impressionada um busto de Atena, e estava prestes a tocá-lo quando o grito de D. Marta, como giz em quadro negro, a impediu:

— NÃO toque nos artefatos históricos! – e recuperando um pouco de sua compostura, terminou. – E acima de tudo: jamais incomodem o professor.

— Agora! – sussurrou Sofia espreitando sobre a grade do último lance de escadas.

— Sofia, você é muito lerda! Ande mais rápido! – falou Clarissa projetando em sua voz toda a intensidade que ganhara nas aulas de canto que tivera no antigo colégio.

— Lerda? Eu? Por favor, Clarissa! Você está praticamente dormindo enquanto anda de tão devagar que vai! Uma tartaruga ganharia de você em uma corrida! – protestou Sofia, elevando bem a voz.

— Ah não... – resmungou D. Marta.

— Eu te desafio, Sofia Redfield! Quem chegar lá em baixo por último tira o pó da biblioteca! – falou Clarissa.

— Pode começar pela seção de geografia! – devolveu Sofia e disparou escadas abaixo, com Clarissa em seu encalço.

— Eu devo ter jogado pedra na cruz... – choramingou D. Marta enquanto os Pevensie observavam curiosos as duas meninas correrem escadaria abaixo.

— Ganhei! – anunciou Sofia ofegante, apoiando-se no final do corrimão.

— Não vale! Suas pernas são mais compridas! – bufou Clarissa apoiando as mãos nos joelhos.

— Senhoritas Redfield, expliquem essa bagunça imediatamente! – ordenou D. Marta.

— Sofia me desafiou! – acusou Clarissa empertigando-se e apontando a irmã mais velha.

— Clarissa vai limpar a biblioteca! -falou Sofia mostrando a mais nova como quem exibe uma mercadoria.

— Eu desisto! – bufou a governanta saindo a passos largos e resmungando de forma que todos entendessem. - Tantas crianças quietas, bem comportadas, sensatas e tinham que vir parar aqui as maiores pestinhas de toda a Inglaterra! 

As irmãs Redfield observaram D. Marta sumir dentro da casa, e quando tiveram certeza de que a governanta não poderia mais vê-las, fizeram um high five.

— Missão cumprida! – falou Sofia.

— Nossa, Sofia! Como você consegue correr tão rápido? – perguntou Clarissa sentando-se nos degraus da escada parecendo exausta.

— Clare, se só uma corridinha deixa você desse jeito, imagina quando tiver que atravessar o internato atrás da biblioteca? – perguntou Sofia arqueando a sobrancelha.

— Milhões de prazos atrasados. – falou Susana e abraçou Sofia. – Senti sua falta, Sofs!

— Imagina eu então? – perguntou Sofia correspondendo o abraço.

— E essa é a irmãzinha de quem você vive falando? – perguntou Susana sorrindo para Clarissa.

— A Sofs fala de mim? – inquiriu Clarissa com falsa incredulidade. – Estou questionando tudo o que sei neste momento!

— Diga olá, Clarissa. – falou Sofia incisivamente com um olhar ameaçador.

— Olá, Clarissa! – falou a menina animada acenando para os Pevensie.

Sofia bateu na própria testa, escorrendo a mão pelo rosto.

— Como foi que eu te suportei até hoje, sua peste? – grunhiu a mais velha.

— Você me ama! – desdenhou Clarissa.

— Às vezes eu queria não amar. – rebateu Sofia e avançou para cumprimentar os mais novos. – Oi. Sou Sofia.

— Lúcia. – respondeu a menor com um largo sorriso.

— Edmundo. – murmurou o menino de cabelos pretos com a cara fechada.

— Nossa, animação encarnada você, hein? – ironizou Clarissa.

— Clarissa, se não vai dizer nada de útil, não diga nada. – alertou Sofia.

— Chaaaataaaaa. – cantarolou a caçula olhando para qualquer lugar que não fosse a irmã.

Sofia estreitou os olhos para a irmãzinha, e diria alguma coisa se não fosse interrompida.

— Oi, Sofia. – falou Pedro Pevensie com um sorriso de canto.

— Ai meu Deus, eu não acredito na minha falta de educação! – choramingou Sofia escondendo o rosto nas mãos e então dando um abraço rápido no garoto mais velho. – Oi Pedro! Me perdoa! Essa peste me desprovê de bom senso!

— Ei! Me difamando pro meu cunhado logo de cara, sua irmã desnaturada? – perguntou Clarissa indignada.

Sofia ficou totalmente vermelha e Clarissa se levantou e começou a correr.

— PODE CORRER MESMO QUE A SUA VIDA ACABA AQUI, CLARISSA REDFIELD! – gritou Sofia partindo no encalço da irmã, os risos dos Pevensie ecoando atrás das duas.

O restante do dia foi gasto em amenidades, e as irmãs mostraram a casa para os Pevensie. Já de noite, Sofia e Clarissa  ajudaram as meninas a organizarem seu quarto.

— Sei que os lençóis são meio grosseiros, mas são quentes. – falou Sofia entregando dois lençóis para Susana.

Olhando pela janela, Pedro ouvia o rádio com notícias de onde estavam acontecendo os bombardeios enquanto Lúcia e Clarissa liam juntas outro volume de “The Tale of Peter Rabbit”.

As duas moças de quinze anos olharam pro rádio, e então uma para a outra, e Susana desligou o aparelho. Pedro as encarou confuso e Sofia sinalizou as duas meninas de dez anos distraídas com o livro.

Em pouquíssimo tempo, Lúcia se apegara bastante às Redfield, de forma que Sofia ajudou Susana a ajeitar a caçula na cama e logo todos estavam reunidos ao redor da menina.

— Os lençóis pinicam. – murmurou a menorzinha.

— Guerras não duram para sempre, Lúcia. Voltaremos logo. – consolou Susana com um sorriso.

— É, se a casa estiver lá. – falou Edmundo.

— Não seja tão desagradável! – reclamou Clarissa torcendo o nariz.

— Não era hora de você estar na cama? – perguntou Susana cansada da impertinência do irmão.

— Sim, mamãe! -falou Edmundo transbordando cinismo.

— Ed! – chamou Pedro com voz de alerta e Edmundo suspirou resignado enquanto todos encaravam o menino de cabelos pretos. Então o mais velho voltou a atenção para Lúcia. – Você viu lá fora. Esse lugar é enorme! Podemos fazer tudo aqui. Amanhã vai ser ótimo! Verdade.

Sofia puxou a mão de Lúcia para seu colo e sorriu.

— Vai ser legal, Lu. Tem um lago lá fora, e pôneis no estábulo. Montes e montes de campos floridos e grama verde! – incentivou a mais velha das Redfield. – Você vai adorar! Nos dias que tem bastante sol, há montes de borboletas!

— E se à noite continua quente, o professor deixa a gente estender cobertores lá fora, e ficamos observando as estrelas até dormir. – falou Clarissa.

— Até você dormir e eu te trazer pra cama, você quer dizer! – rebateu Sofia, e logo fez um carinho na bochecha de Lúcia. – Pode dormir tranquila. Vai ficar tudo bem. E tenha sonhos bonitos.

— Obrigada. -murmurou a pequena um pouco mais animada.

— Bem, então boa noite para vocês todos. – desejou Sofia. – Vem Clare. Já passou da hora de você dormir também!

Antes que pudesse sair, Pedro segurou a mão de Sofia e a olhou nos olhos.

— Obrigado. – agradeceu o rapaz.

— Não há de quê. – devolveu Sofia apertando de leve a mão dele, e logo se desvencilhando para puxar Clarissa. – Vamos, Clare.

— Boa noite todo mundo! – falou Clarissa acompanhando a irmã. Na verdade, já estava caindo de sono.

Ambas as meninas foram para o quarto da mais nova, e enquanto Clarissa colocava seus pijamas, Sofia lia em voz alta um capítulo de “Twenty Thousand Leagues Under The Sea”.

— O capitão Nemo é completamente maluco! – exclamou Clarissa subindo em sua cama, enquanto Sofia fechava o livro com um sorriso cheio de sono.

— Isso quer dizer que gosta dele, presumo. – comentou Sofia ajeitando os cobertores da irmãzinha.

— Gosto. Mas gostei mais dos Pevensie. – declarou a mais nova, dando um bocejo logo após.

— Ah, é mesmo? – Sofia soou levemente sarcástica enquanto arqueava uma das sobrancelhas.

— Sim. Lúcia e Susana são legais. Edmundo é meio chatinho, mas tudo bem. E o Pedro é totalmente apaixonado por você. – murmurou Clarissa, os olhos já pesando.

— É hora de dormir, Clare. – corando, Sofia mudou de assunto. – Vai dizer suas orações?

Clarissa juntou as mãos e encarou os olhos castanhos da irmã.

— Ore você, Sofia. – pediu a menina.

Lord in heaven. (Senhor nos céus.) – orou Sofia em pouco mais que um sussurro. – We thank thee, for thy have been good to us. We thank thee, for we are alive, safe and healthy. We thank thee for we are fortunate. For we have a family which loves us, and friends whom bring us joy. We ask thee for peace in the world, for bravery, wisdom and safety. In Jesus’ holy name, amen. (Te agradecemos pois tens sido bom para nós. Te agradecemos pois estamos vivas, seguras e saudáveis. Agradecemos pois somos afortunadas. Pois temos uma família que nos ama e amigos que nos trazem alegria. Te pedimos por paz no mundo, por bravura, sabedoria e segurança. No nome santo de Jesus, amém.)

Amen. (Amém) – concordou Clarissa baixinho. Então segurou a mão da irmã. – Sofs? Você é a melhor irmã do mundo. Amo você.

— Também amo você, minha irmãzinha audaciosa. – murmurou Sofia apagando a vela no criado mudo de Clarissa e saindo para seu próprio quarto.


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Notas finais do capítulo

Alice In Wonderland - no Brasil laçado como Alice No País Das Maravilhas é de autoria do inglês Lewis Caroll e teve sua primeira publicação em 26 de novembro de 1865.

The Tale of Peter Rabbit - no Brasil, As Aventuras de Peter Rabbit e Seus Amigos é de autoria da inglesa Beatrix Potter e foi publicado em 2 de outubro de 1902.

Twenty Thousand Leagues Under The Sea - publicado no Brasil com o nome 20mil Léguas Submarinas, é de autoria do francês Jules Verne e foi primeiro publicado em 20 de junho de 1870.

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Beijoooos!
Shazi



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